03.
06. 2014
1. Eu
confesso que não estava habituado (culpa minha, ou dos outros Papas que
conheci?) a declarações e gestos papais improvisados que se prestam
invariavelmente grandes ambiguidades.
Um dos
mais recentes foi o da concelebração e do beija-mão de Francisco a um sacerdote
activista marxista e promotor de depravações sexuais de homens com homens e de
mulheres com mulheres. O que me provocou maior perplexidade não foi, nem por
sombras, o facto do Papa beijar a mão a um sacerdote, coisa, de resto, que S.
Francisco de Assis fazia, por reverência à Santíssima Eucaristia, a qualquer
Padre, por maior pecador que fosse. Nestes gestos de enorme devoção ao
Santíssimo Sacramento, que naquele tempo só podia ser tocado por mãos
sacerdotais, S. Francisco afirmava contra os hereges cátaros e albigenses a
validade da Eucaristia, com a consequente presença real de Jesus Cristo em
Corpo, Alma e Divindade, na aparência do pão e do vinho, independentemente da
virtude e santidade do sacerdote que a celebrava. Deus que se quis e quer dar a
nós não podia, não queria, ficar dependente das disposições do ministro do
Sacramento para o fazer – tanto mais que assim o fiel nunca saberia se tinha
participado ou não do Sacrifício único do Redentor, que se torna presente na
celebração da Missa, se tinha ou não comungado com o Senhor (isto não
significa, de modo nenhum, que o sacerdote que celebre em pecado mortal o deva
fazer; pelo contrário, comete um gravíssimo sacrilégio se assim procede). Era,
pois, muito clara a razão pela qual S. Francisco de Assis procedia desse modo.
Hoje, porém, as circunstâncias são muitíssimo diferentes. O activismo da
ideologia “gay”, congénere da do “género” é poderosíssima, dominando e
manipulando a política, as finanças, a cultura, a comunicação social, a
educação, a jurisprudência e uma parte significativa de membros da hierarquia
da Igreja. De modo que inclinar-se e beijar a mão (ou
a pata? Se a “mão” promove coisas próprias de brutos irracionais, deverá adquirir
a designação própria desses) de um padre que tem dedicado o seu
ministério à promoção dessas ideologias, sem uma palavra que esclareça o
sentido ou o propósito desse acto, certamente se prestará às interpretações
mais desvairadas e até à propaganda fotográfica/internética para o avanço da
tirania e do totalitarismo “gay”. Isto, independentemente da vontade de quem o
fez, cujas intenções podiam ser as melhores, ou cuja ignorância, sobre o
sujeito, objecto das mimosices, podia ser supina – o que é de estranhar
grandemente. Como não há esclarecimentos mas tão só um silêncio enigmático
podemos supor que o Santo Padre quisesse desse modo prestar a sua homenagem a
quem tanto tem feitos pelos enfermos de sida/aids e outras maleitas, frutos do
estilo sodomita e afins que essas gentes têm. No entanto, não se pode deixar de
reparar que o tal padre com uma mão (ou pata) promove isso mesmo que principalmente
provoca as tais doenças enquanto com a outra se mostra “caridoso” com os que as
contraíram. É, de facto, extraordinário; imaginem-me de cacete na mão (ou pata,
neste caso) rachando cabeças a torto e a direito enquanto que com a outra
construía um hospital para tratar de crânios traumatizados... Não creio, posso
evidentemente estar enganado, como em tudo o mais, que Francisco me beijasse a
pata por uma atitude tão reles e hipócrita.
Mas
o mais inquietante, para mim, não é, como já referi, o beija-mão, ou o
beija-pé, ou o que mais quiserem. O que não acabo de entender é como é possível
que há tantos anos um sacerdote que contradiz a Revelação transmitida pela
Sagrada Escritura e pela Tradição, constantemente e unanimemente ensinada pelo
Magistério da Igreja, desde há dois milénios, tem licença do seu Bispo para
exercer o seu ministério, não é alvo de nenhuma sanção canónica e é admitido
pelo Papa a uma concelebração eucarística, dando-lhe ainda por cima a ler o
Evangelho. Não há dúvida de que o mistério da iniquidade é mesmo um grande
Mistério. Claro que eu parto do princípio de que o Santo Padre de nada sabia e
foi, digamos assim, armadilhado. Não entendo todavia porque é que agora,
seguramente já ciente da situação, não determina um esclarecimento que a todos
sossegue. Mas importa muito advertir que a minha incapacidade de compreensão
não é evidentemente a medida das decisões de Francisco.
2.
Há poucos dias, no regresso da sua viagem à terra santa, o Papa Francisco deu uma
conferencia de imprensa a bordo do avião. Segundo as agências o Santo Padre
terá dito que o celibato sacerdotal não é um dogma e que por isso, apesar de
ser um dom para a Igreja, uma regra de vida, que ele muito estima, há uma
abertura para uma possível mudança.
A
propósito destas declarações (não se trata de um
comentário às mesmas, mas tão só de um apontamento que a ocasião proporciona)
aproveito o ensejo para dizer o seguinte, uma vez que uma ingente multidão o
ignora.
a)
Na Igreja existem muitas verdades irreformáveis, infalíveis, que não foram até
agora definidas dogmaticamente. Por outras palavras, não é suficiente afirmar
que uma coisa não é dogma de Fé para poder concluir que pode ser mudada.
b)
Não é verdade que os Padres ortodoxos podem casar. O cristianismo ortodoxo, no
século VIII, rejeitou a Tradição ao admitir que os varões casados, Ordenados
Sacerdotes, podiam manter relações conjugais com as suas esposas. Uma coisa é
Ordenar Sacramentalmente um varão casado, outra, que nunca foi admitida quer
nas Igrejas ortodoxas quer na Católica, muito diferente é admitir um varão, já
Ordenado Sacerdote, ao Sacramento do Matrimónio (só o admitem desde que o Padre
seja “reduzido ao estado laical”; isto é, que nunca mais possa execercer o
sacerdócio a não ser na assistência a um moribundo.). Pelo que é erróneo falar
de se vir a admitir o casamento dos Padres.
c)
Muito antes da Igreja decidir conferir a Ordenação Sacerdotal somente aos
varões celibatários, desde o início exigiu que todo aquele que fosse casado
renunciasse à comunhão de casa, ou não sendo possível à comunhão de leito, com
a esposa e a passasse a tratar como irmã. Com o passar das épocas, para
combater abusos, fruto da fragilidade humana ou até da pura ignorância
invencível, se começou a permitir tão somente a convivência com a mãe ou com
uma filha que se tivesse Consagrado na Ordem das Virgens. S. Pedro e outros
apóstolos que eram casados deixaram profissão, propriedades, mulher e filhos
por causa do Reino, isto é de Jesus. Mais tarde, muitos outros como, por
exemplo, S. Paulino de Nola ou S. Gregório de Niza, fizeram o mesmo. E assim
ininterruptamente até que a Igreja teve por bem escolher e admitir somente
varões celibatários.
d) É
preciso dizê-lo com toda a clareza e frontalidade: a Igreja Católica, a Igreja
de Cristo, desde sempre reconheceu - esta é a minha convicção baseada nos
estudos que tenho feito (confesso que quando era jovem sacerdote estive
baralhado sobre o assunto em virtude do que me foi erroneamente ensinado) -,
como Tradição Apostólica, principiada no próprio Jesus Cristo, a castidade na
forma de continência absoluta como essencial para o ministério sacerdotal.
Aliás, o mesmo era exigido aos diáconos e, evidentemente aos Bispos. A questão
não tinha tanto a ver com o precedente da pureza ritual exigida ao Sumo
Sacerdote aquando do sacrifício anual e com a entrada no Santo dos Santos, mas
sim com o Sacrifício da Eucaristia e com o exemplo de Jesus Cristo. O
Sacramento da Ordem, de facto, configura o Padre com Jesus Cristo Sumo
Sacerdote, Cabeça da Igreja e Esposo da mesma para agir na Pessoa do próprio
Cristo, na celebração dos Sacramentos, e para ser uma Sua presença sacramental
junto a todos.
Se
de facto se trata como julgo de Tradição dos Apóstolos, então não vejo como
será possível modificar esse depósito da Fé que nos foi transmitido. Há coisas
sobre as quais a Igreja não tem poder porque assim dispostas e determinadas
pelo Seu fundador.
e)
Há relativamente pouco tempo, tendo em conta os dois milénios de da sua
existência, a Igreja tem não só Ordenado Diáconos casados, sem lhes exigir
qualquer mudança de comportamento em relação às suas esposas, como tem
conferido o Sacerdócio a Pastores protestantes casados, convertidos ao
Catolicismo, sem lhes pedir qualquer alteração na relação sexual com as
esposas. Se a memória não me atraiçoa o argumento para assim proceder será o de
que a questão do celibato Sacerdotal é de lei eclesiástica e não Divina. E, de
facto, se assim é a Igreja tem obviamente a faculdade de conceder essas dispensas.
Não saberei garantir se esta é uma questão disputada ou se está bem enraizada
na Tradição. Na longa história da Igreja houve tempos em que a hierarquia tomou
decisões, durante períodos mais ou menos longos, hoje reconhecidas como
inválidas porque não concordantes com o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
f)
Para quem quiser aprofundar este tema sem ter que ler uma grande quantidade de
textos, já aproveitará muito lendo este livro: Celibacy
in the Early Church: The Beginnings of Obligatory Continence for Clerics in
East and West .