quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Espero que o Infovitae acabe o mais depressa possível

P.e Duarte da Cunha


As pessoas humanas são sempre um Mistério. Não me refiro apenas ao facto de serem imprevisíveis, e capazes de surpreenderem, mas ao facto de cada pessoa participar de modo especialíssimo do Mistério de Deus porque é criada por Deus à Sua imagem e semelhança. E assim cada um tem um valor que é muito superior até às próprias capacidades. No estado de desevolução em que parece que nos encontramos, quando o homo sapiens que se espanta perante o mundo e procura saborear e melhorar a vida, que procura o sentido e faz a experiência do amor, dá lugar ao velho homo faber que só pensa em fazer coisas e consumir, é urgente alguém recordar que o homem tem um valor que nenhuma técnica pode anular. Que não é só por se poderem fazer coisas com os embriões que é lícito matar, produzir ou destruir pessoas que já o são mas ainda não conseguem defender-se.


Podem matar as crianças, os idosos, os criminosos, os vizinhos, podem destribuir drogas, divulgar pornografia, equiparar o casamento a outras uniões de duas pessoas mas nada disso passa a ser bom porque é possível ou sai no Diário da República. Hitler decretou que era possível matar os judeus, Estaline que era possível matar os opositores, os terroristas que é possível matar os inimigos, etc. nem por isso passa a ser legítimo, moralmente falando, matar. Não é porque agora em Portugal é legal matar a criança que uma mulher deixa de sentir a dor do aborto, ou um médico pode passar a achar que é indiferente fazer abortos ou partos.


Por tudo isto, é mesmo uma missão duríssima recordar continuamente o mal do aborto; não permitir que as consciencias adormeçam diante do drama do fim da vida para não se tornar também normal e legal a eutanásia; contrariar o pensamento dominante que não vê mal em equiparar uniões homosexuais a casamentos, ou que se divulguem os contraceptivos como se fossem coisas inofensivas; ou que se conviva confortavelmente com a pornografia e a prostituição sem perceber que se tratam de pessoas que estão a ser vendidas. O Infovitae, ao longo de 10 anos, tem assumido esta missão sem desanimar, mesmo quando parece sozinho. E mesmo quando o faz com expressões que tem que ver com o estilo do director.


As coisas na vida nem sempre são a preto e branco, nem sempre são claras e límpidas, porque no meio de muito mal se mistura muito bem e há sempre muito trigo mesmo onde parece haver mais joio. Infelizmente, porém, as consciências estão muito adormecidas. Custa muito nos nossos dias ficar horrorizado com um aborto. Tudo parece normal, “limpo”, sem efeitos para terceiros. Mas o Infovitae, com muitos outros que em Portugal e no mundo inteiro que não conseguem aceitar este estado de adormecimento, não pára de remar contra a maré. Penso que vai profeticamente à frente nos tempos (porque não acredito que daqui a alguns anos não se envergonhem os que hoje defendem o aborto – é tão estranho matar uma criança que de certeza que haverá um grito que vai acordar a sociedade – depois outros males virão, mas este de certeza que passará e nessa altura os abortistas ficaram envergonhados).


As pessoas são todas diferentes e uns são mais sensíveis a uma boa notícia outros ao horror das más notícias. O que não podemos é ficar a discutir se a luta contra o aborto deve ser desta ou daquela maneira. Uns e outros são necessários e não podemos perder tempo em discussões internas. Podemo-nos corrigir mutuamente, mas não podemos justificar a inactividade por causa de discordarmos com este ou aquele artigo do Infovitae, com esta ou aquela forma de se dizerem as coisas ou de se proporem acções. Isto vale, antes de mais, para mim, mas julgo que vale para muitos outros. Quando o aborto for escandaloso, poderemos dizer que os Papas nunca se calaram, que a Igreja nunca se calou, que o Infovitae tinha razão, mas de muitos cristãos se dirá que ficaram diluídos na massa e se “adaptaram” em vez de mudarem o mundo. Agradeço ao Infovitae porque é “chato” e não deixa que nos esqueçamos do que se está a passar. Mas atrevo-me a sugerir uma secção das boas práticas e das boas notícias. Porque também as há.


Espero sinceramente que o Infovitae acabe o mais depressa possível. Será sinal que já não há perigo para as crianças e para a sociedade.