terça-feira, 3 de novembro de 2009

As Megeras


1. Uma das primeiras vezes que Deus me concedeu a Graça de salvar uma criança nascitura andava pelos 23 anos de idade. Tenho agora 56. A experiência pessoal e a de outros que partilham comigo confirmam cada vez mais a falsidade das generalizações abstractas ou pseudo-científicas que ilibam “as mulheres” de qualquer responsabilidade e malícia no aborto provocado. Os culpados são sempre os outros, geralmente os homens. O varão, aos olhos de muitos celibatários, que tendem a idealizar a mulher como incapaz de qualquer malvadez ou pecado, é o monstro medonho, capaz de todas as patifarias, causador único de todas as desgraças que sucedem às mulheres. Estas, pelo contrário, são entes etéreos, indefesos, acossados, manipulados, coagidos, vítimas de todas as indignidades, canalhices, sordidezes e ignomínias.

Não se pode negar que com alguma frequência assim é. Mas não o é sempre. E Nosso Senhor Jesus Cristo veio Redimir e Salvar não só a varões mas também a mulheres.

Deixando agora de parte aqueles casos, não raros, em que a mulher grávida, contra tudo e contra todos e por motivos fúteis, é a única responsável na eliminação violenta do seu filho consideremos, exemplificando com um caso recentíssimo, aquelas situações e circunstâncias em que se dá uma rede de cumplicidades femininas que concorrem à uma para a matança da criança nascitura.

2. São casados. Ele, em virtude da sua profissão, tem, por vezes, de andar por fora. Ela, durante a sua ausência, embeiçou-se de um estrangeiro. Arroubada entregou-se a ele em fornicações adúlteras. Naturalmente, apesar das prevenções e cautelas hormonais e mecânicas que a propaganda milionária garante que são eficazes, ficou pejada.

Quando o marido regressa, aparentemente arrependida, conta-lhe tudo e comunica-lhe a decisão de abortar o bebé em gestação. Que não!, diz-lhe o esposo peremptório. Deixe-se de sustos e desvarios, pois ele, diz-lhe com ternura, acolherá a criança como a um filho, dando-lhe o melhor de si.

Como a avó e a tia (mulheres!), da esposa – órfã de mãe – soubessem do caso, vai de instigá-la a matar a criança. Por mais que o marido instasse com ela, no dia a dia, para que não desse tal passo e a sossegasse pintando-lhe na fantasia um futuro risonho e cheio de alegrias teimou na obsessão homicida alimentada pela avó!, e pela tia!, que não perdiam oportunidade de lançar achas para fogueira. Pobre criança inocente e indefesa alvo de uma perseguição demoníaca de três mulheres tuas familiares que te odeiam ainda antes de teres nascido e conjuram o teu aniquilamento!

Antes que ultrapassasse as dez semanas de idade, dirigiu-se a mãe grávida ao abortadouro dos Arcos, propriedade de uma mulher, tratou da papelada numa recepção dirigida por mulheres e, passado o tempo exigido por lei, foi anestesiada por uma mulher médica… e entregou o filho (ou filha?) a uma morte violenta e cruel.

3. Exerceu, como hoje se diz eufemísticamente, o seu “direito à autodeterminação sexual e reprodutiva”, consciente e livremente, a conselho e com o auxílio de mulheres, a expensas dos serviços de saúde do estado português, pagos com os impostos de todos. Deve estar feliz, sorridente, orgulhosa de si, verdadeiramente realizada. Pois não teve o que queria!? A verdade, porém, é que está uma lástima… Emocionalmente esbodegada, inteiramente derreada, derramando lágrimas infinitas, numa desconsolação de quebrar o coração, prenhe de moléstias interiores, desgarrada de si mesmo, num pasmo de alienada. Quem a abraça agora? Quem a acompanha? Quem lhe deita a mão? Quem a aconchega do seu coração? Quem infunde Esperança naquele abismo de desespero? Quem lhe impede o suicídio? Quem lhe alivia a depressão? Quem desassombra aquela angústia? Quem aplaca aqueles urros do coração dilacerado? Quem!? Quem!? Quem!? QUEM!!? QUEM!!!? QUEM!!!!!??

Onde está a corja dos que advogavam o aborto em nome das mulheres!? Onde estão os partidos homicidas que batalharam a favor do “sim” no referendo do aborto!? Onde está a Odete idolatrada pela comunicação social que dançava em concursos televisivos enquanto reivindicava o holocausto de crianças nascituras? Onde estão os canalhas que o votaram favoravelmente!? Onde estão os covardes inqualificáveis e os preguiçosos safardanas que se abstiveram!? Onde está o maléfico primeiro-ministro que orquestrou a liberalização da matança!? Onde estão os deputados necrófilos que a aprovaram no Coliseu da república!? Onde está o presidente da república que infamemente promulgou a nefanda e iníqua “lei”, a abominação horrenda!? Onde está a cambada, a súcia!? Onde!? Onde!? Onde!?

Estão gozando, estão sorrindo, estão dando entrevista, estão sendo recebidos e elogiados pelos príncipes da Igreja, estão jurando a bondade e incorruptibilidade dos seus caracteres, estão sendo adulados, estão fazendo marketing comunicacional, estão prometendo mundos de felicidades para a república, estão comungando nas Missas televisionadas, estão seduzindo o povo incauto sem que alguém tenha uma pouca de misericórdia para com os infelizes e os desmascare e chame as coisas pelo nome e se disponha a enfrentá-los e a dizer-lhes, sem titubeios os seus crimes e os seus pecados.

E ela, a criança? Desfeita, decapitada, esfrangalhada, dilacerada, esquartejada, triturada, lançada ao lixo, como escória da humanidade ou feita cobaia em investigações ignóbeis. Nem o estado nem a Igreja lhe fazem funeral, lhe celebram as exéquias, a entregam à Misericórdia de Deus. Esquecida de todos, de todos menosprezada, diante dela todos viram o rosto, ninguém faz caso, é reputada como uma amaldiçoada, não tem graça nem beleza para atrair os nossos olhares, o seu aspecto não nos seduz.

Nuno Serras Pereira

03. 11. 2009