Nesta nação em que nos foi dado
nascer e viver a maioria da sociedade, que se confessa católica, está
inteiramente desnorteada pela propaganda quotidiana do que lhe é incutido pela
maior parte dos políticos, de grande parte da comunicação social e a espaços
por não poucos prelados. De facto, todo o mundo está persuadido de que o maior
problema do nosso país, e quiçá do mundo, é a crise económico-financeira. Sem
negar, de modo algum, a seriedade desta e a urgência de a ultrapassar deve-se,
no entanto, afirmar que há assuntos bem mais graves, que passam ao lado
daqueles que controlam o que devemos saber, os assuntos em que devemos pensar,
as conversas que devemos ter.
Há aí alguém que tenha
consciência de que no mundo de hoje, de cinco em cinco minutos, se assassina um
cristão por causa da sua Fé? Quem se detém em noticiar e
aprofundar a matança de cento e cinco mil cristãos exterminados, por causa da sua Fé, só no ano passado?
E, todavia, sabemos que se tratasse de um punhado de irmãos judeus, ou
muçulmanos, ou, mesmo, de um só “gay” (ou lgbt) o alarido seria interminável,
com declarações solenes de repúdio, ao mais alto nível, com movimentações e
manifestações de rua, “debates” unanimemente escandalizados nas televisões e
nas rádios, comunicados e abaixo-assinados por tudo quanto é redes sociais e
inter-rede, enfim, um clamor estriduloso.
Claro que empedernidos num
egoísmo indiferente podemos ignorar, em contradição flagrante com a nossa Fé -
que opera pela Caridade -, e mesmo a simples solidariedade humana, os
sofrimentos e as injustiças que padecem esses nossos irmãos, cuidando que estamos
a salvo numa pacífica segurança norte-ocidental.
A verdade porém é que se algum
cristão ou qualquer outra pessoa de boa vontade se julga seguro, ou é
ignorante, ou é ingénuo, ou é lorpa. A enorme insensatez ou cegueira da maioria
dos cristãos e dos católicos, incluindo altos prelados, tem consistido em não
quererem ver, ou então em cumpliciarem-se com uma minoria extremamente activa
que de ano para ano, imparável, determinada, persistente, imbatível, tem vindo
a conquistar as mentalidades, a sugar as almas, a inverter a moral, a corroer o
bem comum, a cancerar a subsidiariedade, a derrancar a solidariedade, a torpedear
a eminente dignidade transcendente de cada pessoa humana, a minar as
instituições, a dominar a comunicação social, a controlar a justiça, a manipular
a política, a ludibriar os Pastores.
A decisão obstinada de muitos
prelados em “trabalhar” nos “bastidores” com as autoridades tem, ao contrário
de tantos outros países, deixado o povo de Deus ignaro da Doutrina, privado de
defesas, rendido à mentalidade dominante, incapaz de resistência, entorpecido numa
modorra, entibiado por uma identidade desmaiada, se não mesmo moribunda, inábil
para o combate espiritual, seguidor de lobos vorazes, abandonado aos
predadores.
Contra os falsos profetas de um
optimismo vão, tantas vezes desmascarado nas Sagradas Escrituras, é imprescindível
tomar consciência da realidade, dos factos, para que cooperando com a Graça de
Deus se dê lugar à Esperança verdadeira.
Se não despertarmos e não “combatermos
o bom combate” seremos cruelmente perseguidos, impiedosamente lançados às
enxovias, obscenamente abusados, implacavelmente entregues ao matadouro.
É inteiramente verdade que Nosso
Senhor Jesus Cristo nos avisou das perseguições e da Cruz, em especial aos
primeiros cristãos, que, sendo uma minoria minúscula, tinham de conquistar a
imensa massa de povos idólatras. Mas o Senhor não disse que fossemos
esparvoados, imbecis, cobardes, indiferentes, atoleimados, que nos deixássemos
enredar pelas subtilezas astuciosas do Inimigo. Não nos mandou que fossemos
passivos diante da injustiça, da mentira, da manipulação, do desamor. Pelo
contrário, imperou-nos que amássemos radicalmente guerreando o mal e o pecado
com a fortaleza que nos comunica pelo Seu Espírito. Se os cristãos, em
particular os católicos, assim o tivessem feito aquando dos repetidos alertas
de Pio IX, de Leão XIII, de Bento XIV, de Pio X, de Pio XI, de Pio XII, teriam impedido
as monstruosas tragédias do comunismo, do nazismo, do fascismo. Quanta catástrofe,
quanta hecatombe, quanto flagelo, quanta calamidade, quanta assolação, quanta
violentíssima crueldade se teria evitado; quantas vidas poupadas, quantas almas
salvadas, quantas famílias mantidas, quantas cidades inteiras, quantas nações
em pacífica harmonia!
A alucinação geral contemporânea em
que estamos mergulhados leva muitos a suporem que nos dias de hoje não existem,
nem de longe nem de perto, perigos, mais ou menos, semelhantes. Esta enorme ilusão
é já, evidentemente, uma consequência da programada mesmerização colectiva a
que temos vindo a ser submetidos. Os alertas, então, do Bem-aventurado João
Paulo II e os, agora, do Papa Bento XVI foram e são frequentes. Quereremos nós
imitar a irresponsabilidade ou a insensatez das gerações que nos precederam
deixando que as minorias malignas provoquem novas calamidades?
25. 01. 2013