terça-feira, 7 de julho de 2009

Puro Farisaísmo


Os grandiloquentes meneios e palavras de indignação da generalidade dos políticos e jornalistas portugueses pela truanice do ministro Manuel Pinho no parlamento não são mais do que refinada hipocrisia. Como muitos dos fariseus do tempo de Jesus coam mosquitos e engolem tubarões.

Um trejeito como aquele, não sendo acompanhado de palavras que o expliquem, é, naturalmente, ambíguo e, por isso, susceptível das mais diversas interpretações. Algo de semelhante pode inclusive acontecer com as palavras desacompanhadas da expressividade de quem as diz e da circunstância em que são proferidas. Estas, aliás, são algumas das razões porque a Igreja sempre reivindicou a Tradição a par das Sagradas Escrituras como fonte de Revelação. Quando o Senhor, no Evangelho de S. João, promete o Espírito Santo que recordará aos apóstolos e seus sucessores tudo o que é necessário para inteligência da Revelação, refere-Se, também, precisamente ao que não foi dito, nem escrito, à comunicação não verbal mas existencial, às atitudes, aos actos, aos comportamentos, aos sinais e prodígios, etc.

O que provocou o abespinhamento dos deputados, do governo e do presidente da república foi, assim transparece da generalidade das declarações e interpretações, uma falta de respeito ao parlamento, na pessoa de um deputado, que teria sido dado, insultuosamente como cornudo. Se fosse comigo, contrariamente aos políticos que ali viram uma injúria, provavelmente, sentir-me-ia indigno do cumprimento elogioso que me apontava como um novo Moisés. De facto, as Sagradas Escrituras narram que quando ele desceu com as tábuas da Lei do Monte Sinai vinha com cornos de glória, de luz, de poder de Deus. Quem é que não conhece a famosíssima estátua do mesmo esculpida por Miguel Ângelo que apresenta o Profeta com dois cornos que lhe encimam a fronte?

No entanto, confesso, a impressão com que fiquei ontem ao enxergar as imagens na tv e que confirmei hoje ao ver as fotografias nos jornais foi a de uma manifestação ou revelação singular - independente, porventura, da vontade subjectiva do próprio -, de uma presença maligna naquele hemiciclo. Como que uma fotografia do essencial destes quatro anos. Aquilo, por mais que lhe queiram atribuir outro significado, é uma figuração do Diabo. E, quanto a mim, somente o facto de isso que era oculto se tornar assim patente a todos é que explica a fúria geral e a pressa na remodelação.

Já sei, é o costume, que me vão acusar de falta de caridade, censura nunca feita a quem a ela falta sistematicamente mas como modos elegantes e polidos. Não importa, estou habituado, e o Senhor nos julgará. Mas como explicar a conjura contra vida e igual dignidade de todos os seres humanos, a tirania e o totalitarismo de excluir uma classe inteira de pessoas da protecção da lei, distorcendo esta de tal modo que o estado executa à morte, por si próprio ou por apoio a terceiros, uma multidão de pessoas inocentes? Este bando de malfeitores que decide arbitrária e injustamente quem é digno de viver e quem o não é, que é senão, consciente ou inconscientemente, agente do Maligno? Este bando de malfeitores que decide a corrupção e a perversão das crianças e dos jovens através de uma “educação” sexual obrigatória, que é senão, consciente ou inconscientemente, sequaz do Diabo? Este bando de malfeitores que legisla a promoção do divórcio e se preparara para instituir o “casamento” entre sodomitas, que é senão, consciente ou inconscientemente, sectário do Demónio?

Depois de todas estas prostituições (no sentido bíblico) criminosas os seus membros apresentam-se, como virgens impolutas e pudicas, indignados com a imitação boba de dois cornos?

Casa da democracia chama-lhe o presidente? Boca do Inferno é o qualificativo mais adequado.

Nuno Serras Pereira

03. 07. 2009