sábado, 21 de dezembro de 2013

O Mistério d’ Aquele Olhar - por Nuno Serras Pereira



20. 12. 2013

Casado há 35 anos tinha uma ranchada de filhos que eram o seu orgulho, o seu tesouro. Sentia-se profundamente reconhecido à sua mulher a quem amava mais do que a si mesmo, tal como Cristo que deu a vida pela Sua esposa, a Igreja. Ela era o seu fascínio, aquela que o fazia sair de si mesmo, que o centrifugava e o arrojava para as ignotas e aventurosas periferias, a que nunca se aventuraria por si mesmo e onde se prodigalizava derramando-se em generosidades que pensaria não só improváveis mas mesmo impossíveis. Era um milagre! Já há muitos anos, quando ainda era noivo, um Padre a quem tinha feito uma confissão geral, num santuário internacional, lhe dissera exactamente isso: “Tu, és um milagre!!”.  

Tempos houve na sua juventude em que tinha renegado a Fé na qual tinha sido baptizado, educado e crescido, tanto em família como na Paróquia e nos colégios que frequentara. Esta abjuração fora precedida, acompanhada e seguida de influências emburrecidas, abestalhadas, mesmo malignas, quer por companhias quer por leituras a que então não poucos prestavam uma veneração imbecil; e, pior ainda, pelos pecados multiplicados, não só correspondentes como excedentes das bestiagas que acenderam o rastilho daquela explosão bronca e demoníaca. “Desprogramou-se” então a si mesmo de modo a desmanchar sofregamente a sua identidade como pessoa, que tinha recebido do Criador ao ser gerado (a Moral Natural, segundo a razão), e a expulsar as Graças que lhe tinham sido comunicadas, ao longo dos anos, principalissimamente, pelos Sacramentos, mas também pelo ambiente familiar e colegial.

Esse frenesim vertiginoso a que se entregara era pois uma inversão inteira – a generosidade transformou-se em latrocínio; a castidade em promiscuidade, a luxúria mulheril em verriondez com machos quase tão lúbricos como ele; a sobriedade mutou-se em embriaguez quotidiana; o amor familiar em ódio entranhado; a Fé em esoterismos e ocultismos diabólicos; a modéstia numa soberba desmedida; a adoração a Deus em idolatria de si mesmo, ávida de sequazes fanáticos que lhe prestassem latria, não se coibindo de recorrer ao hipnotismo para subjugar as mentes e vontades alheias, subjugando-as aos seus propósitos luciferinos.

Um viripotente mulherico, por ele totalmente dominado, satisfazia-lhe, quando mais ninguém estava disponível, várias vezes ao dia, a sua volúpia libidinosa e desenfreada. Ora, os pais dessa vítima corrompida, tinham em casa, onde às suas ocultas sucediam estas orgias asquerosas, um quadro a cores do Sagrado Coração de Jesus. Era uma daquelas cópias de uma pintura ou desenho que se encontram às centenas senão mesmo aos milhares espalhados pelos lares cristãos das gentes pobres deste país. Enfim, uma possidoneira intolerável para quem tinha sido educado segundo os padrões estéticos próprios dos mais sofisticados museus e Catedrais. E, no entanto, tinha dificuldade em evitar aquela doçura mansa e humilde que se lhe apresentava à vista quando distraidamente calhava pousar o olhar naquela gravura. Incomodado com aquele esguardo, cravava então num desafio rebelde, insubmisso, os seus olhos naqueles olhos, provocatoriamente desfiando mentalmente afrontas, impropérios, mesmo blasfémias. Para seu enorme espanto e desconcerto aqueles olhos que pareciam verdadeiramente vivos conservavam, ou melhor, como que intensificavam o Seu amor por ele. E isto permaneceu ao longo de muitos meses, pelo menos de um par de anos. Supunha então que aquele quadro aparentemente reprodução de tantos outros manifestamente pirosos tinha sido dotado, por algum artista matreiro e gerigoto, de subtilezas magnéticas destinadas a endrominar as almas simples e incautas.

Sucedeu, entretanto, que uma cascata de acontecimentos galopantes totalmente imprevisíveis, como se se tratara de um Misterioso desígnio, ou “conspiração”, sobrenatural, o reconduzira a Deus, a Jesus Cristo, à Virgem Maria, à Igreja. Sentiu-se e soube-se completamente renovado e restaurado pelos Sacramentos da Confissão e da Eucaristia – matara o “homem velho” e renascera o “homem novo”. Quase sem se dar conta foi transformado num ardente apóstolo (enviado) arrebatando, para sua grande confusão, uma multidão de almas ao demónio e ganhando-as para Jesus Cristo. Foi transfigurado numa brasa, num engatatão fascinante, num sedutor, não como antes, que o fora primeiro de moças e depois de mancebos, mas de almas para Cristo.

Por engano, confundindo-a com a recente namorada, que mal conhecia, de um amigo, acolheu exuberantemente uma jovem vinda em camioneta de um retiro. Esse equívoco passageiro foi porém suficiente para se deixar encantar por aquela fádica imprevista que correspondeu efusivamente ao seu acolhimento festivo. Depois veio uma amizade que prestes se tornou namoro, mais tarde em noivado e veio a dar em casamento. Este foi abençoado com uma fecundidade abundante patente não só nos oito filhos gerados mas também na influência benigna exercida sobre os amigos deles, e na repartição generosa de bens espirituais e materiais por todos aqueles necessitados que podiam socorrer.

Tinham passado dez anos das bodas de prata, celebradas pelo Padre que tinha presidido ao seu matrimónio, quando alguns dias antes do Natal foi convidado com os seus para um jantar em casa daquela família que tinha numa das divisões o quadro, acima referido, representando o Sagrado Coração de Jesus. Os pais do seu antigo amigo e vítima, felizmente também ele recuperado em Cristo para a sua verdadeira humanidade, já tinham sido chamados à presença do Senhor. Os cinco irmãos com as famílias respectivas estavam todos. A anfitriã era a irmã mais nova, a única que quis ficar com a casa. Ficou contente ao ver um grande e maravilhoso presépio musgoso que dava o tom ao tempo que se celebrava. O Menino Jesus, desproporcionadamente grande em relação a todas as outras figuras, olhava-os de braços abertos, como que a pedir colo. Durante os aperitivos pretextando uma lavagem das mãos dirigiu-se em direcção à casa de banho que ficava perto do quarto onde estava dependurada a imagem. Acendeu a luz, olhou-a, nela atentou, remirou-a de ângulos e perspectivas diferentes, observou-a novamente. Não havia dúvida, não passava de uma reprodução igualzinha a milhares de outras disseminadas pelos casarios deste pequeno país. O olhar não tinha nada de especial, não havia doçura ou amor particular nem tinham a vida que neles topara tão repetidamente tantos anos antes - aquela Vida que, apesar da sua recusa obstinada em aceitá-la, teimou em derramar o Seu Amor sobre ele…

Regressado à sala, a mulher espantada do seu ar absorto e macambúzio dá-lhe uma ligeira cotovelada e dispara: que tens tu para estares assim tão demudado? Ainda agora estavas tão alegre e extrovertido… 

- Não é nada, filha, adiantou ele forçando um sorriso. Só que me dói um pouco a cabeça, deve ser deste ar pesado. Isto já passa.

No seu alheamento, chegada a hora da refeição, deixou-se ficar para trás contemplando o presépio. No peito do Menino surgiu num repente um coração abrasado em fogo vivo, palpitando de amor, e os Seus olhos faiscaram uma enorme benignidade. Estremecendo de alegria pensou é o Senhor! Foi também Ele então para me preparar para o Seu renascimento, o Seu Natal em mim.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Merry Christmas? This year Belgian children get euthanasia in their stockings - by Michael Cook

December 13, 2013 (MercatorNet) - The outcome was expected, but observers overseas were astonished at the margin of victory. By a vote of 50 to 17 yesterday, the Belgian Senate approved euthanasia for children. When the bill finally passes – which now seems quite certain – there will be no age limit for choosing to die at the hands of Belgian doctor. The next step is a vote in the lower house, which will probably take place in May.

The conditions for euthanasia are vague. Children who are under 18 but who are of sound mind can request death if their situation is “medically hopeless” and if they are experiencing “unbearable physical suffering that within the foreseeable future will result in death."

Supporters of the bill have argued that there will only be about 10 or 15 cases each year. They contend that terminally-ill children are already being euthanased and it is better for the practice to be regulated.

How will the doctor know if the child is of sound mind? He or she must be examined by a psychiatrist or psychologist. The parents or the legal guardian must also consent.

In November 16 paediatricians urged lawmakers to approve the legislation in an open letter in the press. "Why deprive minors of this last possibility? Experience shows us that in cases of serious illness and imminent death, minors develop very quickly a great maturity, to the point where they are often better able to reflect and express themselves on life than healthy people." 

Christian, Muslim and Jewish leaders rejected this reasoning. "We express our deep concern at the risk that such a grave subject will be increasingly trivialised," they said in a joint statement. "The euthanasia of fragile people, be they children or incapable, is totally inconsistent with their condition as human beings. We cannot accept a logic which will lead to the destruction of society's foundations."

A British barrister and medical ethicist, Charles Foster, has listed four misconceptions involved in extending euthanasia for children. He was especially critical about the issue of informed consent.

“Death, so far as we know, is terribly final. And if you’re opting for death, you need to be sure that you’ve got it right. This demands an understanding of many complex facts (such as prognosis – how your disease or condition is going to pan out – and your therapeutic and palliative options), and an evaluation of their significance. It’s hard for anyone; it’s likely to be impossible for children.

“There’s lots of evidence to show that when we find ourselves in the situations we have most feared (for instance severe disability), we find that those situations are nothing like as unbearable as we anticipated. When we are stripped of much, we value all the more what is left. Try explaining that to a child.”

Unfortunately, there seems to be nothing to restrain euthanasia bracket creep in Belgium. Just over the past year, some appalling revelations have failed to curb support for euthanasia in Parliament and among voters.

Last December, two deaf and dumb brothers chose euthanasia at the age of 45 because they were going blind. In February, a 44-year-old woman with anexoria nervosa chose euthanasia after she had been sexually abused by her psychiatrist (who is still working in private practice). In September, a 44-year-old woman who was unhappy with her life and physical appearance as a transsexual man chose euthanasia.

Patients have volunteered to be euthanased so that their kidneys and other organs can be used. At least one prisoner has been voluntarily euthanased; others have requested it.  

The Belgium-based European Institute of Bioethics (IEB, link to English translation) published a report late last year how euthanasia has expanded since legalisation in 2002. It was scathing.

Its central theme was the ineffectiveness and bias of the government body which monitors and controls euthanasia. After 10 years and about 5,500 cases, not one case has ever been referred to the police. It is illusory, says the IEB, to expect doctors to denounce their own failings.   

Furthermore, nearly half of the statutory 16-member Commission for Control and Assessment are members or associates of the leading Belgian right-to-die society. This is sufficient to explain, according to the IEB, “the absence of any effective control and the ever‐widening interpretation which the Commission intends to give the law”. A law which permits euthanasia is bad enough, the IEB suggests, but the government is not even enforcing its application.

“As is the case in all penal laws, this law has to be strictly interpreted lest it be of seeing it stripped of any substance. It is not for the Commission, appointed to control and assess the law, to provide an ever‐widening interpretation of its terms, with this going so far as to negate the initial spirit of the text and of doing away with the control of decisive legal criteria.”

As a result, there are on-going abuses in several areas. Here are a few of those which the EIB singles out for criticism:
  • A written declaration of a desire for euthanasia is required, either by the patient or a surrogate. However, the Commission often waives this obligation.
  • Initially patients had to have a life‐threatening and incurable illness. Nowadays, the illness need only be serious and debilitating.
  • The pain is supposed to be unbearable, unremitting and unrelievable. However, a patient can refuse medication to relieve the pain. The Commission, says the IEB, has “decided not to carry out its mission ‐ so central to the law ‐ of verifying the unbearable and unrelievable nature of the suffering”.
  • The ambit of “psychological suffering” is ever-expanding.
  • Doctor-assisted suicide is not authorised by 2002 legislation. However, the Commission has ignored this and regularly signs off on such cases.
  • If a patient is to be euthanased at home, the doctor himself is supposed to fetch the lethal medications at a pharmacy from a registered pharmacist and to return left-over drugs. In practice, family members often get the drugs; unqualified personnel hand them over; and no checks have ever been made about surplus drugs. 
In a climate like this, will Belgian children be able to resist pressure from their parents to agree to the idea of euthanasia if they are suffering from a serious illness? It’s not likely. And when the system breaks down, it’s not likely that we will ever learn about it.

Pope Francis' Missionary Church - by James V. Schall, S.J.

In CWR
 
“Each Christian and every community must discern the path that the Lord points out, but all of us are asked to obey his call to go forth from our own comfort zone in order to reach all the ‘peripheries’ in need of the light of the Gospel.”
— Pope Francis, The Joy of the Gospel, #20.

“The kingdom is here, it remains; it struggles to flourish anew. Christ’s resurrection everywhere calls for the seeds for that new world, even if they are cut back, they grow again, for the resurrection is already secretly woven into the fabric of this history, for Jesus did not rise in vain. May we never remain on the sidelines of this march of living hope?”
— Pope Francis, The Joy of the Gospel, #278.

I.

When I finished Pope Francis’ first encyclical, The Light of Faith, I concluded that Francis’ pontificate would concentrate on the parish, on local communities and dioceses as centers of worship, belief, and charity. The Church would be less in the public eye. This example of a vibrant local life would be the basis of the attraction of Christianity to the Gentiles. 

On finishing Pope Francis’ Apostolic Exhortation, The Joy of the Gospel, however, I have to conclude differently. Francis is concerned with an active, “missionary” Church that is very much involved with everything else through its attention to and delight in its own communal life. Time Magazine’s making Francis the “Person of the Year” is enough to tell us that Pope Francis’ short pontificate so far has not been a quiet affair to which few have paid attention. From the moment of his election, Francis came on not so much as a tiny seed but as a full grown mustard tree, to adapt a famous parable. 

Since the day of his election, Francis has often, sometimes daily, made headlines of one sort or another throughout the world. Most everyone has an opinion about him. No one can ignore him, not even those who would like to. He is obviously likeable. He appreciates community life. One of the Renaissance popes (Leo X, d. 1521) quipped to his brother: “God has given us the papacy, let us enjoy it.” I have the impression that, in the best sense, Francis has enjoyed being pope. He seeks to know everyone. He drives his security forces crazy. But he has an exuberance that is catching. And he has something to say and he says it; let the chips fall where they may. He tells everyone he loves them. He tells us that he is a “sinner.” He does not think he is always right. He thanked Archbishop Marchetto for correcting him on the issue of the continuity of the Church before and after Vatican II. 

Aside from The Light of Faith, which had Benedict XVI in its background, we have seen very little of Francis’ overall thought. He has a sparse paper-trail. He gives short, familiar homilies in Santa Marta’s chapel, each with three points. His Wednesday audiences and talks in L’Osservatore Romano are generally short and homey. He affirms every settled doctrine of the Church, but wants to present it gently, in a new context. What he says is always full of personal comment. We know much of his experiences in Argentina. They loved him in Rio at World Youth Day. Several of his interviews have gained worldwide attention and sharp controversy. 

The Pope clearly wants to shift the attention of the Church to a missionary, outgoing mode. He does not want anyone to stay at home. We not only are to experience the joy of the Gospel ourselves, but its contagion is to be brought to others. The Pope prods those who stay at home or in bureaucratic offices to get out in the streets. He wants bishops and priests to have open doors. Somewhere he commented that churches should be unlocked—which makes one smile because of the experience of many parishes: if they do not lock their doors, they are constantly vandalized. But he speaks from his own experience where doors of churches can be left open. This is the goal of any peaceable society. 

The Pope has many ideas about economics and politics. He does not hesitate to tell us about them. To many, they sound very “south of the border,” even beyond Mexico way. Pope Bergoglio admits that he is not an expert in these matters. But he insists that attention to the poor is part of his and everyone else’s job. He wonders why we cannot find politicians who can figure this problem out. Actually, a good part of the world’s poor in recent decades have passed out of extreme poverty (see “Towards the End of Poverty,” The Economist, June 1, 2013). Many people at least seem to know how to accomplish this goal. But this Pope will not be content with less than everyone. This insistence is both refreshing and a little frustrating. No one can mind too much to be reminded of things yet to be figured out. St. Thomas, whom the Pope cites frequently in The Joy of the Gospel, however, said that such things often can only be done “gradually.” 

II.

But if I am asked what is the overall impression left by this Exhortation, I have to say that it is very much “this-worldly” oriented. It points horizontally, not vertically. The inner life of the Godhead is not much spoken of. When the Father is mentioned, it is always in the context of the love of the neighbor whom God loves in Christ. Unlike Benedict in Spe Salvi, there is little attention given to “eternal life.” When Francis mentions the “kingdom of God,” he does not, as one would expect, cite Augustine. He mentions actual cities and is rather surprised by them. When Augustine talked of “the City of God,” he said that it began among us, but could not be achieved in this world. No existing city would ever be this Kingdom. Augustine, with good reason, was leery of the ambitions of the cities of this world. 

Of course, this emphasis on actual cities is Aristotelian. We are social and political animals. What concerns Francis, if I might put it that way, is the second great commandment. He obviously does not deny the first, the love of God. But Francis’ attention is given to God’s love as it exists among us. But he thinks not enough response is given to it. He wants to improve the world by emphasizing the joy of Christianity that we can experience in our lives and worship. The love of neighbor is an active thing. This pope believes in action. He talks of contemplation at times, but with overtones of Ignatius of Loyola’s simul in actione contemplativus; we behold God’s action in the doing of what needs to be done. 

Pope Bergoglio is much more oriented to modernity, to modern culture, than the previous two popes. He cites John XXIII, and sometimes Paul VI, though he certainly cites John Paul II and Benedict—and de Lubac, Guardini, Newman, Bernanos, and the various documents of episcopal conferences. He is open to modern science. He is aware of skepticism, relativism, and atheism, but he has a certain sympathy for their adherents. 

So what do I think the Pope is doing with his strong emphasis on missionary activities? He lightly touches the difficulty of political obstacles in most nations of the world to allow for much real missionary work. He mentions the basic right of religious freedom and its lack in many nations. He does not name many names. So his missionary activity first begins at home. The “joy” of the Gospel is designed to be a beacon of light in the world. It can only be seen if believers themselves see it. 

Modernity is, briefly, the position that no truth is found in things or in ourselves. We are free because we are liberated from all religion or philosophy that would limit our freedom, individual or corporate. Religion of any kind is an enemy to this liberty. Once this freedom is established, man can go forward, as Benedict pointed out, to create a world in his own image. Man is not made in any image of God. He makes himself in his own image. Once free of any transcendent claim, man is free to create a truly “human” world that has no outside demands of a god or nature. Science and politics with this background will be able to make man into what he ought to be. 

What Pope Francis seems to be doing in this Exhortation is, as it were, to present an alternative to modernity within modernity. This alternative is itself inner-worldly. That is, the emphasis is on the effects of Christianity as it truly ought to be lived in the here and now.
Another legitimate version of this living as Christians ought to live would be the admonition in Scripture that Christians will often be hated precisely because they do live as Christ asked them to live. At the end of time, it seems possible that there will be little faith. But we are dealing here with what is in fact a legitimate approach, as far as I understand it. There has always been a question of what is, in fact, the “inner-worldly” purpose of revelation. Granted that it can and often is rejected, still what would the world look like if the famous ancient phrase “see how they love one another” were practiced as a missionary endeavor? 

As far as I can see, Pope Bergoglio is bent on proposing for us a way to put into effect what the Didache once said about Christians wanting to live quietly and peacefully in the world. But this would initially involve not only Christians themselves with a life of joy in their communities, but also of intelligently confronting issues of sin, economic and political disorder, self-love, and other aberrations that prevent us from helping others. 

In the process, we do not cease to be sinners. Hence, the Pope has much to say about forgiveness and mercy. His particular proposals may be debated. Nietzsche’s complaint was that Christians did not live like Christians—so why worry about them? Pope Bergoglio’s exhortation is that we will all “worry” about them when they live in love and display the joy that Christ showed them. This love is not just a personal thing, though it that too. The Pope speaks of “structural” impediments and cultural habits that prevent us from living as we should. 

But at bottom, what this Exhortation seems to be is, indeed, an answer to classical modernity that, when spelled out, does everything modernity hopes for, only better and more securely because it is rooted in the real nature of man and is open to the gifts that have come to us in revelation. The Pope’s impatience has its charm. It also has its dangers. After all, most men who have ever lived on this planet have lived in very imperfect circumstances. The Church was for them too. Few lived in really fully developed economic and political orders with scientific and technological support that enabled man the leisure and time to create a civilization. Paul VI called it a “civilization of love,” and Pope Francis would probably call it the same. 

So while the function and inspiration of the Church is surely to stand for joy and fulfillment in this life, it never forgets that we save or lose our souls in the societies in which we live, whatever their condition. Some societies are better than others. And we are fortunate if in our lifetime we have lived in one of the better ones. One does not know this—“who are we to judge?”—but it is quite possible that more souls reached their transcendent end from the gulags and concentration camps than from the fashionable addresses of our culture. 

But that is no argument for setting up concentration camps. That is the Pope’s point. We must try with all our energy and strength for something better. Pope Bergoglio’s impatience is “this-worldly,” if you will, but it is not “utopian” or modernist. That, I think, is what this detailed Exhortation really has to teach us.

Vatican Cardinal Burke interviewed on Pope Francis: says ‘we can never talk enough’ about abortion - by John-Henry Westen

Note: The relevant section of the interview with Cardinal Burke begins at 14:54 in the video.

ALABAMA, December 13, 2013 (LifeSiteNews.com) - Vatican Cardinal Raymond Burke has spoken publicly about remarks by Pope Francis that have been interpreted in the media to mean that the Church should focus on "essentials" rather than abortion or homosexual "marriage."

“What could be more essential than the natural moral law?” said Burke in an interview which aired yesterday on the EWTN flagship program the World Over Live. 

“We can never talk enough about that as long as in our society innocent and defenceless human life is being attacked in the most savage way,” the cardinal told EWTN’s Raymond Arroyo. “I mean it’s literally a massacre of the unborn.”  

Arroyo told Cardinal Burke that he has received emails from priests over the last few months who relate that people are demanding they “stop talking about this abortion and the gay marriage thing” because, “the Pope explicitly said stick to essentials, that’s what we need to do.’” 

Asked how he’d interpret that, Cardinal Burke, the head of the Vatican’s highest court, the Apostolic Signatura, responded that that the Pope "doesn't state that," admitting however that the Pope’s statements are “not altogether easy to interpret.” 

The latest round of media focus relates to one paragraph within Pope Francis’ 220-page exhortation called the Gospel of Joy, released November 26, 2013. “Pastoral ministry in a missionary style is not obsessed with the disjointed transmission of a multitude of doctrines to be insistently imposed,” the document said.  Rather, the message must “concentrate on the essentials, on what is most beautiful, most grand, most appealing and at the same time most necessary.” 

Cardinal Burke said that the “Pope can’t be saying” - or at least that Burke “can’t interpret that phrase of [the Pope] as saying” - that the Church’s truths on life and family matters “are not essentials.” 

“What could be more essential than the natural moral law?” asked Burke.  Speaking of abortion, gay "marriage" and contraception, he added, “these are these acts that are always and everywhere evil.” He added that “the first commands of our conscience” are “to respect human life, to respect the integrity the family and respect conscience.” 

The media’s interpretation of those remarks flows from the first of Pope Francis’ off-the-cuff interviews, which was published in all Jesuit magazines and also on the Vatican website. “We cannot insist only on issues related to abortion, gay marriage and the use of contraceptive methods,” Pope Francis said at the time.  The pope added, “I have not spoken much about these things, and I was reprimanded for that. But when we speak about these issues, we have to talk about them in a context. The teaching of the church, for that matter, is clear and I am a son of the church, but it is not necessary to talk about these issues all the time.” 

Cardinal Burke told EWTN he wasn’t “exactly sure why” Pope Francis “thinks we’re talking too much about abortion, too much about the integrity of marriage as between one man and one woman but we can never talk enough about that as long as in our society innocent and defenceless human life is being attacked in the most savage way. I mean it’s literally a massacre of the unborn.”

Cardinal Burke concluded, saying, “We can never talk enough about that because if we don't get this straight, that human life, innocent defenseless human life has an inviolable dignity, how are we going to understand anything else correctly with regard to care for the sick or whatever it might be?”

domingo, 15 de dezembro de 2013

La lobby gay imbavaglia i giornalisti - di Massimo Introvigne

In NBQ

Credevate che l'UNAR, l'Ufficio nazionale antidiscriminazioni razziali del Ministero delle Pari Opportunità ce l'avesse solo con gli insegnanti, imponendo loro d'insegnare obbligatoriamente l'ideologia di genere? Sbagliavate. Ora se la prende con i giornalisti, pubblicando il 13 dicembre un documento tecnicamente incredibile, intitolato «Linee guida per un'informazione rispettosa delle persone LGBT» (in fondo all'articolo si può scaricare il documento). Il modesto titolo «Linee guida» non inganni. Si precisa subito infatti che i giornalisti che non si piegheranno ai diktat dell'UNAR violeranno le norme deontologiche, per cui la denuncia all'Ordine dei Giornalisti è dietro l'angolo. Inoltre il testo - tutto bastone e poca carota - spiega anche che è solo questione di tempo: «l'Italia si sta adeguando» ai Paesi più civili, presto il Parlamento introdurrà una «legislazione specifica» contro l'omofobia e il giornalista che sbaglia rischierà non solo il deferimento all'Ordine ma la galera.

E che cosa si deve fare per adeguarsi? Occorre rispettare dieci comandamenti, redatti dagli esperti - quasi tutti di organizzazioni LGBT - che hanno preparato le linee guida. Primo: non confonderai il sesso con il genere. Il sesso è una caratteristica anatomica, ma ognuno sceglie se essere uomo o donna «indipendentemente dal sesso anatomico di nascita». È davvero il primo comandamento dell'ideologia di genere, ma ora diventa obbligatorio.

Secondo: benedirai il «coming out». Vietato parlare di «gay esibizionisti»: il giornalista porrà invece attenzione a sottolineare gli aspetti positivi della «visibilità» degli omosessuali e il coraggio di chi si rende visibile.

Terzo: riabiliterai la parola «lesbica».  «Dare della lesbica» non è un insulto: è un complimento. Ma attenzione a non esagerare, promuovendo il «voyeurismo» dei maschietti. Quarto comandamento: attenzione agli articoli. Se un transessuale si sente donna il giornalista deve scrivere «la trans» e non «il trans». Per Vladimir Luxuria, per esempio - è esplicitamente citato (o citata?) nelle linee guida - vanno sempre usati articoli e aggettivi al femminile. Non importa - al solito - l'anatomia: se qualcuno «sente di essere una donna va trattata come tale». Quinto: non associare transessuali e prostituzione. E comunque mai parlare di prostitute o prostituti. Il giornalista userà invece l'espressione «lavoratrice del sesso trans».

Come è giusto per materie di questo genere, molto si gioca sul sesto comandamento: il giornalista dovrà educare i suoi lettori a considerare cosa buona e giusta il «matrimonio» omosessuale, «o almeno il riconoscimento dei diritti attraverso un istituto ad hoc» . Farà notare che «il matrimonio non esiste in natura, mentre in natura esiste l'omosessualità». Fuggirà come la peste «i tre concetti: tradizione, natura, procreazione», sicuro indizio di omofobia. Ricorderà ai suoi lettori che il «diritto delle persone omosessuali ad avere una famiglia è sancito a livello europeo».

Il sesto comandamento dell'UNAR basta a mettere nei pasticci qualunque giornalista che per avventura fosse d'accordo con il Magistero cattolico. Se qualcuno sfuggisse al sesto, incalza però il settimo comandamento: vietato parlare di «matrimonio tradizionale» e, per converso, di «matrimonio gay», che il giornalista dovrà invece qualificare come «matrimonio fra persone dello stesso sesso» per non rischiare, anche involontariamente, di diffondere la pericolosa idea secondo cui si tratterebbe di «un istituto a parte, diverso da quello tradizionale».

Difficilissimo poi per il giornalista cattolico - o, che so, per il collaboratore di questa testata - evitare di violare l'ottavo comandamento, il quale in tema di adozioni vieta di sostenere che il bambino «ha bisogno di una figura maschile e di una femminile come condizione fondamentale per la completezza dell'equilibrio psicologico». Il giornalista che sostenesse questa tesi si renderebbe responsabile della propagazione di un «luogo comune», smentito dalla «letteratura scientifica». Vietatissimo, poi, parlare di «utero in affitto», espressione «dispregiativa» da sostituire subito con «gestazione di sostegno».

Il nono comandamento sembra scritto apposta per il caso di Giancarlo Cerrelli, il noto vicepresidente dell'Unione Giuristi Cattolici Italiani colpevole di rappresentare troppo efficacemente le ragioni di chi ė contrario alla legge sull'omofobia in televisione e quindi dichiarato persona non gradita nei programmi RAI. «Quando si parla di tematiche LGBT - si legge in un passaggio delle linee guida che sarebbe esilarante se non ci fosse la minaccia di gravi sanzioni per chi sgarra - è frequente che giornali e televisioni istituiscano un contraddittorio: se c'è chi difende i diritti delle persone LGBT si dovrà dare voce anche a chi è contrario». Sembrerebbe il minimo sindacale del pluralismo e della democrazia, specie se parliamo della RAI e di servizio pubblico.

Ma le linee guida ci dicono che questo «non è affatto ovvio». Il caso Cerrelli insegna. «Cosa deve accadere affinché il contraddittorio fra favorevoli e contrari ai diritti delle persone gay e lesbiche non sia più necessario?». La risposta corretta sarebbe che deve accadere l'instaurazione di una dittatura, per dirla con Papa Francesco, simile a quella del romanzo «Il padrone del mondo» di Benson. La risposta delle linee guida invece è che basta una «scelta puramente politica» - che l'UNAR si arroga l'autorità di fare - per dire basta a questi dibattiti fastidiosi e pericolosi. Il buon conduttore televisivo avrà cura che sia espressa solo un'opinione, quella corretta. «Non esiste una soglia di consenso prefissata, oggettiva, oltre la quale diventa imprescindibile il contraddittorio». Quindi su questi temi se ne deve prescindere. Tornatene a casa, avvocato Cerrelli - in attesa magari di sentire anche per televisione il ritornello scandito da certi simpatici attivisti: «e se saltelli muore anche Cerrelli».

Non si salvano, infine, neanche i fotografi. Il decimo comandamento li invita a fare attenzione a che cosa fotografano nei gay pride, evitando immagini di persone «luccicanti e svestite». L'obiezione secondo cui se chi partecipa ai gay pride non si svestisse non correrebbe il rischio di essere fotografato nudo non sembra essere venuta in mente agli esimi redattori del testo.

Che però hanno pensato a una possibile difesa del malcapitato giornalista, il quale potrebbe sostenere che lui la pensa diversamente, ma per dovere di cronaca ha ritenuto di riportare anche le strane idee di chi si oppone al «matrimonio» omosessuale, e che magari ha radunato in una sala centinaia di persone. Difesa debole, sentenzia il documento. Il giornalista che riporta dichiarazioni, anche «di politici e rappresentanti delle istituzioni», contrarie alle linee guida può farlo per «dovere di cronaca» ma deve «attenersi ad alcune regole»: «virgolettare i discorsi», spiegare che sono sbagliati, contrapporre dichiarazioni di rappresentanti delle organizzazioni LGBT, che andranno tempestivamente intervistati,  usare «particolare attenzione nella titolazione». Non sono forniti esempi, ma il bravo giornalista capisce al volo. Se per esempio un vescovo si dichiara contrario al «matrimonio» omosessuale, il titolo dovrà essere «Fedeli scandalizzati dal discorso omofobo del vescovo» e non «Il vescovo ricorda: la Chiesa non accetta il matrimonio omosessuale».

Giornalista avvisato, mezzo salvato. Ma anche italiani e parlamentari avvisati, mezzi salvati. Perché le linee guida per i giornalisti rendono involontariamente un enorme servizio. Spiegano esattamente, nero su bianco, che cosa sarà davvero vietato dalla legge contro l'omofobia. Altro che proteggere le persone omosessuali - com'è giusto che sia, e come già affermano le leggi in vigore - da insulti, minacce e violenze. Qui si tratta della dittatura del relativismo, senza sottigliezze e senza misericordia. Fermiamo questa macchina impazzita prima di ritrovarci tutti in un GULag gestito da militanti LGBT.




Liberdade de expressão e juízo sobre a prática homossexual - por Pedro Vaz Patto



In Brotéria
           
 São várias as notícias, umas mais antigas e outras mais recentes, que fazem temer que a pretexto do respeito pela dignidade e não discriminação das pessoas de orientação homossexual, se pretenda limitar, de uma forma generalizada, a liberdade de expressão quanto ao juízo moral sobre a prática homossexual (não sobre a pessoa em si mesma, com a orientação sexual que não escolheu, mas sobre uma conduta e uma prática voluntárias).

            Vejamos algumas dessas notícias.

            O caso que em primeiro lugar suscitou mais clamor foi o da condenação do pastor pentecostal sueco Ake Green. Por ter declarado publicamente, evocando as referências à prática homossexual no Antigo Testamento e nas cartas de São Paulo, que essa prática representa “uma perversão” e um “tumor na sociedade”, e que a tendência homossexual não era inata e era suscetível de mudança, sem ter deixado de afirmar que não condenava as pessoas, pois Jesus nunca inferiorizou ninguém, Ake Green foi judicialmente condenado pelo crime previsto no artigo 16.6, 8 do Código Penal sueco (ameaça ou injúria para com um grupo de pessoas com referência à sua raça, cor, origem nacional ou étnica, confissão, fé ou orientação sexual). Em recurso, veio a ser absolvido, já em 2005 [1].

            Em 2006 o deputado francês Christian Vanneste foi condenado, pela Cour Corretionelle de Lille, por “injúrias públicas contra grupo de pessoas em razão da orientação sexual”, por ter afirmado que o comportamento homossexual é moralmente inferior ao comportamento heterossexual, uma vez que, segundo a máxima kantiana, não pode tornar-se regra universal sem dano para a Humanidade. Em recurso, veio a ser absolvido pela Cour de Cassation, por acórdão de 12 de Novembro de 2008[2].

            Mais recentemente, foi noticiado que o deputado britânico Edward Leight apresentou um projeto de lei (Bill for the protection of freedom of speech and conscience) que pretende a proteção da liberdade de expressão no âmbito das relações de trabalho, de modo a evitar casos como o do Adrian Smith, punido pelo seu empregador por ter manifestado no facebook a sua oposição à legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo[3].

            Em Março deste ano, o Ministro da Educação do Estado canadiano de Yukon, invocando a legislação que proíbe a discriminação em função da orientação sexual, proibiu o ensino do catecismo da Igreja Católica no que à homossexualidade diz respeito nas escolas católicas que recebem fundos públicos[4]

            Consta desse catecismo o seguinte:

            «Apoiada na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (Gn 19, 1-29; Rm 1, 24-27; 1 Co 6,10; 1 Tim 1,10), a Tradição sempre declarou que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados (CDF decl. Persona humana 8). São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva e sexual, não podem, em caso algum, receber aprovação» (n. 2358)

            Mas faz-se a distinção entre o pecado e o pecador, entre o erro e a pessoa que erra, pois há que condenar o erro e amar a pessoa que erra:

            «Um número não desprezível de homens e mulheres apresenta tendências homossexuais profundas. Eles não escolhem a sua condição de homossexuais; essa condição constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer discriminação injusta» (n. 2359)

            Pois bem, foi este o ensinamento proibido nas escolas católicas que recebem fundos públicos do Estado canadiano de Yukon. Proibição que se noticia ter sido acatada[5].

            A questão da distinção entre a condenação do erro e o respeito pela pessoa que erra (“hate the sin, love the sinner”) foi suscitada num outro caso judicial recente, também relativo ao Canadá.

            O Supremo Tribunal canadiano confirmou, em recurso, a condenação, por parte da Comissão de Direitos Humanos da Província de Saskatchewann, de uma pessoa que distribuiu panfletos que condenavam a prática homossexual, apelando aos ensinamentos bíblicos que a apresentam como uma “abominação”, condenando a propaganda da homossexualidade nas escolas, afirmando que esta não é inata e a sua prática representa um comportamento aditivo e envolve uma maior probabilidade de contaminação da SIDA e de abusos sexuais de crianças. Estava em causa a aplicação do artigo 14º, 1, b), do Código de Direitos Humanos dessa Província, que pune o chamado “discurso de ódio” (“hate speech”). Uma punição análoga à do artigo 240º, nº 2, b), do Código Penal português, que, sob a epígrafe “discriminação racial, religiosa ou sexual”, pune a conduta de quem «difamar ou injuriar pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional, religião, sexo ou orientação sexual…».

            A defesa argumentou que os textos em questão conciliavam a condenação do erro com o respeito para com a pessoa que erra (“hate the sin, love the sinner”). Mas o Tribunal não aceitou a relevância desta distinção, considerando que existe uma forte conexão entre a orientação sexual e a conduta sexual, e que quando a conduta visada pelo discurso é um aspeto crucial da identidade de um grupo vulnerável, os ataques a esta conduta são equiparáveis aos ataques ao próprio grupo. Será assim se o ataque a essa conduta provocar objetivamente o ódio e o desprezo pelo grupo[6]

            Situações semelhantes a estas são apresentadas no Relatório de 2012 do Observatório sobre a Intolerância e a Discriminação contra os Cristãos na Europa[7].

            Todos estes episódios estiveram presentes na mente de quem, em Itália, manifestou o receio de que o projeto de lei, recentemente aprovado, sobre a “homofobia” e a “transfobia” (que pune a discriminação e agrava as penas dos crimes cometidos em função da orientação sexual e da “identidade de género”), possa representar um perigo para a liberdade de expressão. Afirmou a propósito o Observatório Internacional Cardeal Van Thuan (dedicado ao estudo e difusão da doutrina social católica)[8]:

            «As notícias que nos chegam de outros países da Europa, onde leis semelhantes já estão em vigor, são alarmantes. Dizer que a família é somente aquela que é constituída por um homem e uma mulher pode ser qualificado como homofobia e perseguição. A leitura pública do livro do Génesis, sobra a criação do homem e da mulher, ou das passagens de São Paulo sobre a imoralidade do ato homossexual, pode ser considerada crime. Ensinar numa escola qua a família é apenas uma pode ser considerado ato de discriminação por ódio homofóbico».

            Também alertou para este perigo, por exemplo, o Forum das Associações Familiares, organismo que agrupa um grande número de associações católicas de apoio à família[9]

            Em atenção a estes alertas, foi proposto por um grupo de deputados católicos um aditamento ao projeto inicial, que por várias pessoas veio a ser denominado “cláusula de salvaguarda”, com o seguinte teor: «Não constituem discriminação as opiniões assumidas no interior de organizações que desempenhem atividades de natureza política, sindical, cultural e sanitária, de instrução, de religião ou de culto, relativas à atuação dos princípios e dos valores de relevo constitucional que caraterizam tais organizações». Este aditamento foi aprovado, mas se há quem considere que com ele fica garantida a liberdade de expressão, esta opinião não é, porém, unânime[10].

            O que a respeito desta questão e de cada um dos casos assinalados me parece de salientar é a importância de traçar uma fronteira que salvaguarde a liberdade de expressão consagrada no artigo 19º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo 37º da Constituição da República Portuguesa e no artigo 10º da Convenção Europeia dos Direitos Humanos. A punição do chamado “discurso de ódio” (“hate speech) não pode servir de pretexto para impor um “pensamento único” e para punir “delitos de opinião”. Não é aceitável que o comportamento homossexual seja imune à crítica ou a um juízo ético, quando a tal crítica ou juízo não são imunes quaisquer outros comportamentos ou atitudes. Num contexto social e cultural tão cioso do valor da liberdade de expressão (por vezes, até em excesso), não é aceitável que se usem “dois pesos e duas medidas”.

             E essa fonteira há de passar, precisamente, pela distinção entre o erro e a pessoa que erra. É lícito criticar o erro (pode até ser um dever moral fazê-lo), sem que isso permita desrespeitar a dignidade da pessoa que erra (numa perspetiva cristã, não é só o respeito que a essa pessoa é devido, é também o amor). Não nos cabe agora analisar cada um dos casos referidos e verificar se em cada um deles as expressões usadas são as mais adequadas ou oportunas, e se em cada um deles foi respeitada esta distinção. Ela foi, indubitavelmente, respeitada nos excertos do catecismo da Igreja Católica acima mencionados, os quais, como vimos, já foram, mesmo assim, considerados contrários ao respeito devido às pessoas de tendência homossexual. 

            A distinção referida (entre a crítica de uma conduta e o respeito pela pessoa em causa) deve servir também noutros âmbitos em que se suscita a necessidade de concordância prática entre a liberdade de expressão e o respeito pela dignidade da pessoa.

            A crítica a determinada ideologia não pode, obviamente, ser vedada em nome do respeito pelas pessoas que aderem a essa ideologia. O respeito pelas pessoas que aderem ao comunismo, ao fascismo ou ao liberalismo não impede a crítica a qualquer destas ideologias.

            No âmbito da atividade política, a crítica de atos e opções concretas (mesmo que em termos duros, agressivos ou injustos) é livre e deve compatibilizar-se com o respeito pela dignidade das pessoas que aí atuam. Esta distinção (entre a livre crítica dos atos e o respeito pela dignidade das pessoas) não pode ser esquecida, para que se evitem dois extremos: um, o de considerar que na vida política “vale tudo”, a dignidade das pessoas não conta e a injúria e difamação de crimes passam a direitos; outro, o de limitar o direito de crítica (base da vida democrática) em nome da tutela da dignidade e honra das pessoas que atuam na política.

            A distinção vale noutros âmbitos. O respeito pelas pessoas que professam determinada religião (cristã, muçulmana ou outra), pela sua dignidade e pelos seus sentimentos religiosos (o que supõe o respeito por figuras e símbolos tidos por sagrados) não pode impedir a crítica à religião, à religião em geral, ou a uma religião em particular. E é possível alcançar a conciliação entre estas duas exigências se a crítica se situar no plano da discussão racional e argumentada e do debate de ideias (a que se pode responder no mesmo plano), não se confundindo com o escárnio e a ofensa gratuita (a que não pode responder-se no plano da discussão racional e do debate de ideias).

            E assim também no âmbito da crítica literária, artística ou desportiva. Pode criticar-se o valor de uma obra ou de uma prestação (até de modo fortemente depreciativo, eventualmente injusto), salvaguardando o respeito devido à pessoa autora dessa obra ou prestação.

            A punição do chamado “discurso de ódio” também há de ter em conta esta distinção. Deve salientar-se que entre os fatores que, de acordo com a generalidade das legislações que punem o “discurso de ódio”, identificam a vulnerabilidade de um grupo carente de especial proteção, estão alguns (como o sexo, a raça, a origem étnica, ou a deficiência, este habitualmente esquecido pelas legislações) em relação aos quais não se suscita a questão da distinção que vimos referindo. Mas não assim em relação a outros: o respeito devido às minorias religiosas não impede a crítica à religião por elas professada. Do mesmo modo, o respeito devido às pessoas de tendência homossexual, particularmente importante por se tratar de uma minoria tradicionalmente marginalizada, não pode impedir a crítica à prática homossexual, ou um juízo ético negativo a respeito dessa prática. 

            Nesta linha, não me parece aceitável a argumentação do Supremo Tribunal canadiano a que acima aludi, segundo a qual ao criticar uma conduta que é constitutiva da identidade de um grupo estaremos a criticar (e ofender) o próprio grupo. Em coerência com este raciocínio, aplicando-o a outros âmbitos, chegaremos a consequências inaceitáveis para quem preze o valor da liberdade de expressão: não seria possível a crítica a determinada religião ou ideologia porque elas fazem parte da identidade de um determinado grupo (como o faria a conduta homossexual) e esse grupo sentir-se-ia ofendido com a crítica a essa religião ou ideologia.

            É sempre possível, em qualquer destes casos, responder à crítica no plano da discussão racional e argumentada, sem recurso a proibições e condenações judiciais. Há quem pretenda aceitar o recurso a essas proibições e condenações no âmbito da crítica à conduta homossexual, quando ele não é aceite em qualquer outro âmbito.

            Deve, pois, manter-se a distinção entre a livre crítica de um comportamento e o respeito pela pessoa que adote esse comportamento, para que sejam simultaneamente salvaguardados, em quaisquer âmbitos (sem “dois pesos e duas medidas”), a liberdade de expressão e o respeito pela dignidade das pessoas.


[1] Pode ver-se informação sobre o caso em www.akegreen.org.
[3] Ver www.mercatornet.com /conjugality/ 29/1/2013).
[4] Ver www.lifesitenews.com,21/3/2013, e www.lastampa.it, 28/3/2013
[5] Ver www.lifesitenews.com, 18/10/2013
[8] Ver www.zenit.org, 18/7/2013.

[9] Ver Avvenire, 25/7/2013

[10] Ver Avvenire, 24/7/2013, e Adriana Cosseddu, Riscrivere l´ Umanità dell´Uomo?, in Città Nuova, nº 20, 25/10/2013, pgs. 20 e 21.