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sexta-feira, 21 de março de 2014

A grande dívida - por Nuno Serras Pereira



21. 03. 2014

Portugal tem uma dívida muito maior do que aquela de que se fala habitualmente. E é de justiça que tome consciência disso. Mais ainda, somente aproveitará e se recomporá se a reconhecer, agradecer e corresponder a quem tanto fez por nós.

Deus suscitou entre nós um generoso guerreiro que, como S. Paulo, combateu o bom combate – um valente, um bravo, cheio de Fé e de audácia – com uma inteligência perspicaz, uma capacidade de liderança singular e uma habilidade organizadora exímia. Exemplar na luta pela Justiça, um modelo de Caridade e de Misericórdia. Não só cuidou dos feridos como intrepidamente, na linha da frente, se opunha aos exércitos do Maligno para que não fizessem mais vítimas.

Num tempo em que tantíssimos poderosos se têm empenhado feroz e encarniçadamente contra a vida, o matrimónio, a família, a liberdade de educação, o cristianismo (e outros tantos covardes ou indiferentes se demitem da sua humanidade e da sua Fé), raros, se é que alguém, como ele se entregou com tamanha generosidade e competência à defesa, consolidação e promoção destes princípios inegociáveis que são os fundamentos do Bem-comum, da sociedade e da política, no seu sentido mais nobre.

Deus que tanto lhe deu para acudir a tantos não o poupou, como a Seu Filho, à Cruz. Assim como durante a maior parte da sua vida o fez participante dos Mistérios da Sua vida pública, nos últimos tempos quis fazê-lo participante da Sua Paixão em favor da nossa Salvação. Nestes tempos de grande configuração ao Crucificado poderíamos aplicar-lhe, analogicamente, o que o P. António Vieira disse de Cristo crucificado: “Nunca fez tanto, como quando nada fez”. 

Tenho para mim, sem a pretensão de me antecipar ao juízo da Igreja, que o Fernando Castro, que Deus ontem chamou a Si, participa já da Sua Glória; e que com a sua intercessão nos fortalecerá para continuarmos a missão que com tanta bondade e verdade desempenhou.

Deus compadecido das nossas misérias deixou-nos a Leonor (das Dores), sua mulher, e uma trezena de filhos para nos continuar a favorecer com as Suas Graças. À honra e glória de Cristo. Ámen.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O poder das palavras - por Nuno Serras Pereira



01. 01. 2014

Já escrevi por mais de uma vez que se tem que dizer das coisas aquilo que elas são, e se agora torno a insistir no mesmo é por me parecer que muitos, incluindo eu mesmo, ainda não se dão conta da importância do assunto. De facto, abalizados e argutos sociólogos têm vindo a declarar cada vez mais repetidamente que a transformação da cultura não depende tanto da persuasão ou mesmo conversão individual mas sim do poder de nomear as coisas e de se organizar e trabalhar em rede.

Não tratarei agora da “rede” mas limitar-me-ei a dar algumas dicas sobre alguns termos que julgo deverem ser usados não somente para nós ganharmos uma consciência maior dos problemas com que nos defrontamos mas também para desmascarar as manipulações dos inimigos da Família e da pessoa humana, impedindo-os assim de induzirem as mentes em erro.

Não dizer:

Embrião, nem embrião humano (o que já é melhor), mas sim: pessoa humana na sua fase (ou etapa ou estado) embrionária.

Feto, mas sim criança ou bebé nascituro (ou em processo de nascimento).

IVG, mas sim aborto propositado (ou provocado). Com a banalização que impera nos dias de hoje a palavra aborto perdeu muito do horror que evocava. Por isso, ao falar do aborto provocado deve-se dizer homicídio/aborto ou homicídio na forma de aborto (cf. S. João Paulo II, Evangelium vitae, 58).

Grávida ou mulher grávida, mas sim Mãe grávida.

Vou ser pai, ou mãe (ou avô ou avó), quando sabem da concepção de um novo filho/a, mas sim sou pai ou mãe, ou sou de novo pai e mãe, etc.

À espera de um filho deficiente ou portador de deficiência, mas sim gerei ou gerámos, ou, melhor, Deus deu-nos um Seu predilecto, um amigo particular de Jesus, participante de uma missão especial.

PMA – procriação medicamente assistida, quando referido à fecundação extracorpórea, mas sim procriação tecnicamente substituída – os pais são substituídos pelos médicos, pela técnica, no acto de fecundação. Deverá também usar-se a expressão de Ortega y Gasset, a este propósito, “terrorismo dos laboratórios”.

Embriões excedentários, mas sim pessoas humanas na sua fase mais vulnerável, totalmente indefesas e inocentes, que são condenadas ao horror de um concentracionário inferno gelado.

Experimentação embrionária, mas sim cruéis experiências mortais em pessoas, em debilidade extrema, no início das suas vidas. 

Abstractamente, defesa da vida, mas sim defesa da vida de cada pessoa humana desde a sua etapa unicelular até à morte natural.

Dignidade da pessoa, mas sim dignidade, isto é, valor excepcional e transcendente, de cada pessoa.

Uniões homossexuais, mas sim emaranhados (depravados) homossexuais (ou melhor sodomitas).

Casais homossexuais ou do mesmo sexo, mas sim cumplicidades depravadas (legalmente reconhecidas); ou simetrias sexuais incompatíveis.

Divorciados recasados, mas sim pessoas em estado objectivo (independentemente da culpabilidade subjectiva) de adultério. De facto, ou houve casamento rato e consumado ou não o houve; se existiu é impossível contrair novo matrimónio; se pelo contrário não existiu, não houve recasamento nenhum.

Claro que havia muito mais a acrescentar mas não vos quero cansar, prolongando maçudamente a lista. Espero, no entanto, que não só fique claro o que no início dizia, a recordar, a guerra cultural em que nos encontramos será vencida por quem diz a verdade sobre a realidade, nomeando-a adequadamente, mas também que tem sido uma enorme falta de Caridade e de Misericórdia deixarmos que este magnetismo mentiroso a que os nossos inimigos recorrem submeta as multidões e os próprios que a ele recorrem.

À honra e glória de Cristo. Ámen.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

2ª parte: Florinhas de Frei Junípero - improvisos, por Frei Nuno Allen




ERRATA: Por lapso manifesto frei Nuno em vez de dizer "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" diz "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque verão a Deus", ora esta última "Bem-aventurança", como saberão, reza, correctamente, assim "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus."

domingo, 28 de abril de 2013

Frei Nuno Allen - por Nuno Serras Pereira



28. 04. 2012


Tenho recebido mensagens de correio electrónico, desde que comecei a enviar ligações para as intervenções do meu confrade frei Nuno Allen, no youtube, queixando-se de que estas são demasiado longas e que por isso ninguém as ouvirá. Na minha solicitude fraterna, de cada vez que isso acontece, logo lhe transmito as queixas ou recados recebidos. Mas, para meu grande espanto, responde-me sempre: “Que alívio!”; “Ainda bem!”.


Desta última vez, em que a sua peroração ultrapassou as duas horas, afoitei-me a perguntar-lhe por que é que, se não queria que as suas palestras fossem vistas e ouvidas, as gravava e as colocava no “teucanal”. Com enorme pasmo, ouvi a sua resposta que transmito sinteticamente (uma vez que com os desvios, as dispersões, as hesitações, as emendas, a muito custo me mantive desperto), pois tive o cuidado de a gravar discretamente, dando-lhe depois conhecimento disso mesmo e pedindo-lhe a licença para a transcrever: “Tu bem sabes como sou um grande trapalhão a falar e a incapacidade que tenho para preparar qualquer discurso.”; até aqui, não me deu novidade nenhuma, pois o que dele conheço, me diz do acerto da sua resposta; o grande desconcerto em que me deixou foi quando adiantou: “Sabes muito bem que há uns anos era continuamente solicitado para isto, para aquilo e para aqueloutro, enfim, para tudo o que era anúncio da Palavra de Deus, andando num grande rodopio. Deus sabe quantas asneiras terei dito, em quantas incorrecções terei induzido os que me escutavam… Tudo isso acabou há muito. Agora, certamente por desígnio Divino, não há, com raríssimas excepções, quem a mim recorra. A verdade é que daí tiraria grande sossego, não fora a gravíssima obrigação moral, que recai principalmente sobre nós Ordenados Sacerdotes, de exercitarmos sem desfalecer a Pregação, pois é por esta que vem a Fé, é por ela que se desenvolve, se consolida e empuxa e nutre a Caridade. Terei, seguramente, de prestar muitas contas a Deus, aquando do Juízo, mas tenho terror de ser acusado desta falta de anúncio da Verdade, pois a sua proclamação, assim o dizia o Papa Paulo VI, é uma forma eminente de Caridade. Que aqueles que podem escutar-me, clicando num computador, não estejam dispostos a fazê-lo, por muitas e boas razões que tenham para isso, já não é responsabilidade minha. Sucede que a grandíssima falta de humildade que tenho, leva-me a sentir-me aliviado por ninguém assistir às misérrimas prestações nessas alocuções.”; Mas, adiantei eu pressuroso, recordo-me perfeitamente de te ouvir em práticas Dominicais que demoravam entre três a seis minutos, não poderias fazer o mesmo no “teucanal”? Ao que ele prontamente retorquiu: “Uma coisa é sermonear diante de uma assembleia, outra bem distinta é falar para uma máquina.”


Espero poder ter contribuído para elucidar os porquês, ou se calhar sem-razões, deste excêntrico (?) confrade. De qualquer modo, mesmo sem sua autorização, aqui deixo o seu endereço electrónico, caso haja alguém que a ele se queira dirigir: FreiNunoAllen@netcabo.pt .

terça-feira, 16 de abril de 2013

Um esclarecimento sobre “Terrível emergência pessoal (Carta aos amigos)” - por Nuno Serras Pereira



16. 04. 2013

Muitos se recordarão, ainda que vagamente, como eu, de uma narrativa de Eça de Queirós, que nos descreve uma família escutando um dos seus membros lendo em voz alta as notícias relativas a desastres e catástrofes relatadas pelo jornal. Nessas páginas de aguda perspicácia mostra-nos o autor como as reacções e intensidade das comoções de cada um não dependem da dimensão real da tragédia nem da profundidade do sofrimento alheio mas sim da proximidade geográfica e do maior ou menor conhecimento que se tem das vítimas. Assim, uma cheia diluviana que afogou centenas de milhares de chineses é encarada com a maior das indiferenças, talvez um leve bocejo, enquanto o torcimento de um tornozelo da vizinha provoca grande aflição e um enorme sobressalto.

Tão calejado e empedernido que estava, e ainda estou (ou estamos?), pela torrencialidade quotidiana de calamidades noticiadas por grandes meios de comunicação social, há uns anos atrás, morando eu no convento de S. José, em Campo de Ourique - poiso e remanso de grandes Missionários franciscanos, quando vinham recuperar forças, restabelecer a saúde e tratar de assuntos úteis e necessários às Missões africanas -, rebentou mais uma das inúmeras guerras, ou guerrilhas, a que a Guiné-Bissau nos acostumou. Confesso que não me deu grande cuidado a não ser o de rezar pelas vítimas e também pela Paz – era, tão só, ajuntado às orações usuais.

Ora sucede que por esse tempo tinha vindo a esmolas, para socorro das suas ovelhas, a cujo cheiro tresandava, o benigníssimo e provecto Bispo daquelas gentes, o franciscano D. Settimio Ferrazeta. Escusava-se à hora do jantar para ansioso escutar os telejornais sobre o que se passava com o seu povo. Como era mouco, em virtude da diminuição das capacidades auditivas e a sua vista estava muito enfraquecida, permanecia de pé com a cara praticamente colada ao ecrã, não ao centro, mas do seu lado esquerdo. A sua angústia e o seu sofrimento eram visíveis, a sua dor patente, a expressão do seu rosto comovia até às entranhas, era manifesto que experimentava a tragédia que se abatia sobre a sua Igreja, sobre cada um dos seus e dos que estavam destinados a conhecer Jesus Cristo, como sua. Os padecimentos daquele povo, eram os seus. Parecia mesmo vivê-los com maior intensidade do que aqueles que lá se encontrava. Aquele rosto era transparência do Amor de Jesus Cristo. A ele me rendi tão completamente, que aquilo que me era estranho e mais uma catástrofe entre muitas outras se transformou numa vivência existencial, num cuidado empenhado, numa preocupação constante, num comprometimento oracional mais sério e frequente. 

Quando na meditação imaginária(uma verdadeira forma de oração), que ontem redigi, falo de padecimentos que não são fruto de doença psiquiátrica nem de possessão demoníaca, uma vez que os tratamentos efectuados se mostraram impotentes para os remediar ou simplesmente aliviar, refiro-me a algo mais profundo, ou melhor Misterioso, que indico com as expressões “participante nos sofrimentos de Cristo” e, no final, “todas as injustiças que eles padecem se abatem sobre mim”. “Eles” são os que aparecem no sítio para que remete o link “Socorram-me, por Caridade”, isto é os embriões humanos, quer dizer as pessoas na fase inicial da sua vida, aqueles que tanto o Papa João Paulo II como Bento XVI afirmaram categoricamente ter o mesmo valor transcendente que qualquer um de nós. Eles são eu, eles são tu, são o teu melhor amigo, o teu mais querido familiar, melhor e mais ainda, eles são Jesus Cristo, que os Criou, por Eles Se fez homem, sofreu a Paixão e foi ignobilmente Crucificado. Por cada um deles, como por ti. Incorporados pelo Baptismo em Jesus Cristo, “completámos na nossa carne o que falta à Sua Paixão”, isto é, a ela somos associados para que a Redenção, em si completa e perfeita, se torne efectiva em nós e nos outros.

Quem socorre, pois, aos entre todos mais “periféricos”, para usar uma expressão do Papa Francisco, aos mais esquecidos, ignorados, abandonados, que não têm voz para se defender nem presença na comunicação social para se manifestarem e reivindicarem os seus direitos, acode-me a mim, muito mais, acode ao próprio Jesus Cristo.

Mas reconhecer a pessoa humano no seu estado embrionário, respeitá-la, protegê-la e amá-la é uma enorme Caridade que se faz também a todos aqueles que estão envolvidos, como perpetradores, nesta raivosa hecatombe, sem precedentes na história da humanidade. As horribilíssimas penas inomináveis que lhes estão destinadas, caso não se arrependam e se convertam, após o Juízo pessoal e universal, podem, de algum modo, ser carregadas por nós vicariamente (substituidamente) como uma Cruz que possa, sobrenaturalmente, influir nas suas liberdades escravizadas de modo a transformá-las em liberdade de tender para o Amor, para Deus. Também a esses sofrimentos me refiro na meditação de ontem.

Pelos vistos, não me expliquei bem no texto de ontem, pois deixei algumas pessoas em grande alvoroço preocupadas tão só por mim – creio que a sua excessiva amizade os detiveram nas feridas do dedo sem toparem que ele apontava a lua ensanguinhada. A culpa evidentemente foi minha que não revi o texto (confesso que também não o farei com este, pois custa-me tanto escrever que fico de tal modo esbodegado de cada vez que redijo qualquer insignificância, que não tenho forças, nem disposição, nem vontade par o fazer) e conclui-o abruptamente.

Mas não peço desculpa, porque estou confiado que Deus aproveitou o vosso susto e as vossas orações para tudo reverter em favor das pessoas no seu estado embrionário e dos grandes pecadores frios e implacáveis que as subjugam impiedosamente.

Estou verdadeiramente persuadido, em virtude da grande estima que me têm e do grande amor que nutrem por Jesus, que todos não só assinarão a petição Um de nós, como se empenharão em fazê-la chegar a muitos outros para que todos possam participar da infinita alegria de Deus.

À honra e glória de Cristo. Ámen.