quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Grande Balbúrdia na Igreja - por Nuno Serras Pereira


27. 02. 2014

Para quem não saiba, desde já adianto que tempos houve na história da Igreja em que a grande maioria dos Bispos e, por pouco tempo o Papa Libério, eram hereges, mais concretamente arianos, não reconhecendo a Divindade de Cristo e advogando que não era da mesma substâncias do Pai. Para defender e salvar a Fé suscitou Deus a Santo Atanásio, Bispo (e um relativamente pequeno grupo de outros Pastores), que, para usar uma expressão do Papa Francisco, tinha “uma teologia vociferante”, a ponto de ter sido exilado por 5 vezes da sua Diocese.

O Papa Libério não foi o único, na história do Papado, a vacilar ou escorregar na Doutrina da Fé, mas Graças a Deus todos acabaram por se retractar. Esta crendice moderna de opinar que o Santo Padre sempre que fala é um oráculo, vozeando o Espírito Santo, nunca foi Doutrina da Igreja.

Aliás, que um Papa possa cair em heresia é uma teoria teológica comum, que se encontra inclusive em S. Tomás de Aquino. No caso de isso acontecer deixaria de ser aquilo que era, perdendo toda a autoridade. Mas não é disso que este artigo trata.

Posto isto (sendo manifesto e indubitável a todos os que me conhecem que não sou Santo, esclareço a quem não o saiba que na minha certidão de nascimento não consta de modo nenhum o nome de Atanásio), passo ao tema deste texto. 

O Santo Padre Francisco, Bispo de Roma, Pastor Universal e Vicário de Cristo, tem entre outras características a de ser um excelente comunicador e também a de ser um péssimo comunicólogo. As homilias quotidianas em Santa Marta, as Audiências Gerais, os “twitter”, os textos Magisteriais dizem respeito à qualidade, enquanto as entrevistas e não poucos dos improvisos se podem classificar como imperfeitos. De facto, desde a entrevista no avião aquando do regresso das JMJ, no Brasil, passando pela concedida a Antonio Spadaro, S.J. e aos elogios descomedidos ao Cardeal Kasper, depois de um convite aparentemente surrealista para que preleccionasse no consistório sobre uma dita misericórdia absurdamente contraposta à Verdade, tudo tem concorrido para uma enorme confusão e perplexidade. Umas vezes é patentemente anti-relativista, defensor e guardião da verdade, outras suscita a impressão exactamente contrária. Mas será, interrogo-me, assim tão difícil falar com a clareza meridiana do Cardeal Muller, que não deixa espaço a qualquer dúvida ou ambiguidade?

Quando os Cardeais Maradiaga e Marx, depois de terem sido escolhidos a dedo pelo Papa Francisco para o chamado C8, dão como adquirido a admissão aos Sacramentos dos impropriamente chamados “divorciados recasados”, que não renunciam à relação adúltera, sem que o Santo Padre os chame à pedra, que devemos pensar? Quando o Cardeal Kasper, depois de ter sido convidado a pregar no consistório, se pronuncia publicamente no mesmo sentido, que devemos concluir? Quando após o sermão, por ele pronunciado, com o mesmo objectivo, aos confrades Cardeais, o Papa lhe faz um panegírico afirmando entre outras coisas que aquela é verdadeiramente uma teologia feita de joelhos, isto é verdadeiramente orante e, por isso, fica subentendido, inspirada por Deus; poder-se-á ainda duvidar que apesar de todas as declarações de rejeição da mundanidade e de fidelidade à doutrina da Igreja, Francisco esteja manifestando o propósito de pressionar, influenciar ou encaminhar os católicos e em particular o Episcopado no sentido de aderirem e acolherem as teses dos mencionados Cardeais? (as quais, suspeito que sejam heréticas porque contrárias à Revelação manifestada na Sagrada Escritura e na Tradição interpretadas solenemente no Concílio de Trento e proclamadas colegialmente no Concílio Vaticano II e no Catecismo da Igreja Católica). Eu não afirmo que assim seja - e acresce que há quem diga que a questão é meramente disciplinar, o que na minha miserável opinião é um completo desatino -, mas que o efeito, embora não desejado, tem sido de total desorientação e confusão afigura-se-me tão claro como a água límpida.

Seja como for, os motivos invocadas pelo Cardeal Kasper e outros, tal como foram publicitadas pela comunicação social, denotam uma irracionalidade, uma ausência de Fé e de confiança na Graça de Deus pasmosas. Contrapor o Juízo ao Amor e a Verdade à Misericórdia, não é somente uma volição presunçosa de separar aquilo que Deus uniu, mas ainda uma tentativa de introduzir uma desunião e discordância, ou pelo menos uma dialéctica de pendor hegeliano, no Deus Uno e Trino. À honra de Cristo. Ámen.