sábado, 16 de novembro de 2013

Illinois bishop plans exorcism ritual as Illinois recognizes same-sex marriage

SPRINGFIELD, IL, November 15, 2013 (LifeSiteNews.com) – The bishop of Springfield, Illinois will lead prayers of exorcism “in reparation for the sin of same-sex marriage” at his cathedral on November 20 as Governor Pat Quinn signs a state law redefining marriage.

Bishop Thomas Paprocki says he was inspired by Pope Francis, who had condemned same-sex “marriage” as a “machination of the Father of Lies” in 2010 when Argentina was preparing to redefine marriage.

“Pope Francis is saying that same-sex 'marriage' comes from the devil and should be condemned as such,” said Bishop Paprocki in a statement Thursday.

Illinois’ House of Representatives passed the same-sex “marriage” bill in a 61-54 vote on November 5, sending it to Quinn’s desk for approval. The governor had already pledged to sign it.

The day after the vote, the Chicago Tribune quoted two Catholic state representatives who cited Pope Francis’ famous “who am I to judge?” quote in explaining their decision to support the measure.
"As a Catholic follower of Jesus and the pope, Pope Francis, I am clear that our Catholic religious doctrine has at its core love, compassion and justice for all people,” said Rep. Linda Chapa LaVia.
In his statement, Bishop Paprocki called out those Catholic politicians who “twisted the words of the pope” and said Catholics who voted for the bill are "morally complicit as co-operators in facilitating this grave sin."

"It is scandalous that so many Catholic politicians are responsible for enabling the passage of this legislation and even twisting the words of the pope to rationalize their actions despite the clear teaching of the church," he said. "All politicians now have the moral obligation to work for the repeal of this sinful and objectionable legislation. We must pray for deliverance from this evil which has penetrated our state and our church."

The bishop also pointed that, because same-sex “marriage” violates God’s plan, anyone who contracts such a union is “culpable of serious sin.”

To explain the prayer event, the bishop’s statement quoted from the introduction to the Church’s rite of exorcism, which says that the Church recognizes the devil’s presence “not only in the tempting or tormenting of persons, but also in the penetration of things and places in a certain manner by their activity, and in various forms of opposition to and persecution of the church.”

“If the diocesan bishop, in particular situations, judges it appropriate to announce gatherings of the faithful for prayer, under the leadership and direction of a priest, elements for arranging a rite of supplication may be taken from [the texts provided in these appendices],” it reads.

The prayers of exorcism will take place at the Cathedral of the Immaculate Conception in Springfield on November 20 from 4:00 to 5:00 p.m.

Concluding his statement, Paprocki said, "Pope Francis has also urged us to be mindful of God's mercy, so it is good to recall the profound expression of divine mercy uttered by Jesus as he was dying on the cross to save us from our sins, 'Father, forgive them, for they know not what they do' (Luke 23:34).”

Bishop Paprocki is known for his strong stand on moral issues.

Last month, after a group of homosexual activists from the Rainbow Sash Movement planned a prayer vigil for same-sex “marriage” inside the Cathedral, he issued a strong video statement warning them that they would be guilty of “blasphemy.”

In June, the bishop debated dissident nun Sister Jeannine Gramick on gay “marriage” before a largely gay-friendly crowd. In his opening remarks, he revealed that his former secretary had been murdered by a homosexual activist after she suggested he change his lifestyle. “[Mary Stachowicz]’s murder was widely ignored by the media, despite the fact that she died as a martyr for her faith,” he said.

Leading up to the 2012 national election, Paprocki slammed the Democratic Party’s platform for endorsing the “intrinsic evils” of abortion and same-sex “marriage”.

“My job is not to tell you for whom you should vote. But I do have a duty to speak out on moral issues,” he said. ”I would be abdicating this duty if I remained silent out of fear of sounding ‘political’ and didn’t say anything about the morality of these issues.”

In the Republic Party platform, on the other hand, “there is nothing in it that supports or promotes an intrinsic evil or a serious sin,” he said.

PREC no Vaticano - por José Maria C. S. André



In «Correio dos Açores», 17-XI-2013

Os Meios de Comunicação Social estão a acompanhar um PREC (Processo Revolucionário em Curso) no Vaticano. Quase todos afirmam que o Papa Francisco está a ganhar a revolução, embora a situação ainda seja confusa. Neste momento, é absolutamente certo que muita gente, fora e dentro da Igreja, está profundamente abalada com os primeiros meses de pontificado.

Há dias, o Papa Francisco dizia ao Conselho Pontifício para a Nova Evangelização que, para fazer chegar este anúncio «a tantas pessoas que se afastaram da Igreja, é um erro culpar uns ou outros; sobretudo, não é altura de falar em culpas. (...) A nova evangelização, ao mesmo tempo que chama à coragem de avançar contra-corrente (...), só pode usar a linguagem da misericórdia». Francisco repete isto continuamente — para pavor de uns e surpresa de quase todos.

Alguns pró-vida norte-americanos irritam-se, porque o Papa não desmascara os abortistas ou propagandistas homossexuais que começaram a mostrar simpatia pela Igreja. Os apoiantes de Mons. Marcel Lefebvre protestam contra as recentes canonizações de mártires, porque o Papa não achou necessário referir que os assassinos eram muçulmanos...

Ao mesmo tempo, chegam elogios das origens mais improváveis. Até entre nós. O colunista Daniel Oliveira, habitualmente hostil, reconhece que se sentiu tocado pelo que ele chama «a reenvangelização benigna de Francisco» (5 de Novembro, no «site» do «Expresso»). Até se desculpa: «dirão que, sendo eu ateu, nada que diga respeito à Igreja Católica e ao Vaticano me deveria interessar grandemente. Mas interessa-me muito». Daniel Oliveira não tem ilusões acerca da doutrina, «o que é novo neste Papa não são as suas posições», mas percebe que algo se passa: «a postura deste Papa pode vir a ser um terramoto» e, de argumento em argumento, deixa-nos sem palavras: «Por mais estranho que vos pareça, não considero, por isso, negativo que a Igreja Católica (...) recupere, na Europa e na América do Norte, um pouco do poder que perdeu». Como a doutrina da Igreja não muda, ele não acredita que a Igreja se transforme «no que ela não pode, por natureza, ser (...). Mas [o Papa] cria pontes mais sólidas entre ela e as sociedades democráticas. E são essas pontes que poderão contrariar a sua decadência no Ocidente». Um ateu a dizer ao mundo que preste atenção à voz da Igreja?! Desejoso de contrariar a sua decadência no Ocidente?! Quando Daniel Oliveira vê aspectos positivos na Igreja católica, já não sei se concordo com ele ou não. Ele próprio não sabe bem se concorda com o Papa ou não. Mas claramente algo mudou e estamos a assistir àquela reevangelização pacífica, benigna, como lhe chama Daniel Oliveira.

Para o Papa Francisco, o centro desta pastoral da misericórdia é o sacramento da confissão. Aí é que se trava a suprema batalha entre a inércia do mal e o abraço de Deus.

Nalguns países, a descoberta da confissão foi uma coisa tão súbita e tão profunda que teve honras de jornais e lançou em campo os especialistas das sondagens. Já se fizeram duas: uma nos primeiros meses de pontificado e outra mais recente, para ver se o fenómeno estava a abrandar. Só em Itália, registaram-se «centenas de milhar de conversões directamente relacionadas com os apelos do Papa Francisco». E na segunda sondagem o ritmo não diminuiu. «Um efeito maciço e até mesmo espectacular», segundo Massimo Introvigne, director da equipa de sondagem.

Este Papa não gosta de fugas: «Alguns dizem: “Ah, confesso-me com Deus”! É fácil, é como confessar-se por email, não é? Deus lá longe, eu digo as coisas e não há um face-a-face, não há um olhos-nos-olhos».

Vergonha? — «Envergonharmo-nos perante Deus é uma graça». «O cristão deve lidar com o seu pecado de uma forma concreta, honesta, e ter a capacidade de se envergonhar perante Deus, de pedir perdão e se reconciliar confessando os seus pecados».

Há dias, a Santa Sé enviou aos bispos um exame de consciência, acerca da pastoral familiar, pedindo-lhes para responderem se são corajosos a propor a doutrina da Igreja, se o fazem com todo o respeito e simpatia para com as pessoas, se as famílias cristãs rezam suficientemente, se têm uma mentalidade saudavelmente aberta à natalidade... Não está fácil ser bispo.

Segundo o Papa, a conversão é já. A revolução é para ontem. E o Papa não quer ninguém de fora.

Um verdadeiro milagre no Portugal de hoje!! - por Nuno Serras Pereira



16. 11. 2013


Parece inacreditável, mas é verdade.


Ontem, dia 15, foi lançado, pela fct, na ucp, um livro absolutamente extraordinário que reúne todas as condições para operar uma transformação radical e global em Portugal e nos países de língua portuguesa. Parece uma grande exageração. Mas não o é.


Esta obra que pode ser usada para consulta, para ler sofregamente, ou para considerar quotidianamente um breve trecho devia ser possuída não só por todos os fiéis, quer Leigos quer Religiosos quer Ordenados, mas também por todos os cristãos que pertencem a outras confissões, que não à Igreja Católica, e ainda por membros de outras religiões ou também agnósticos e ateus que queiram conhecer as razões da nossa Fé.


Este tesouro precioso contribuirá muitíssimo quer para o diálogo ecuménico e inter-religioso, quer para a catequese e o catecumenato, quer para os movimentos eclesiais.


Acresce que todos os que se empenham com as questões da Justiça e da Paz, da defesa da Vida e da Família, com a verdadeira Educação e formação dos filhos, dele sorverão energias insuspeitas e portentosas que neles operarão verdadeiros prodígios. Ponto é, que o aproveitem.


Se eu fosse dotado de alguma respeitabilidade e credibilidade sugeriria que não somente oferecesse este livro a seus familiares e amigos, mas também que o ofertasse a si mesmo. Essa dádiva, sendo essencialmente Espiritual, tem um valor muitíssimo maior do que qualquer donativo material; e, surpreendentemente para muitos, multiplicará este último, que acabará por render, para quem o fizer, 100 vezes mais.


Poderá suceder que de início alguém encontre dificuldade numa ou noutra passagem, mas a verdade é que os esplêndidos textos são globalmente simples, profundos, tocantes, luminosos, carregados de Graça. Por isso se tropeçar com algum embaraço não ligue e passe adiante que tudo acabará por se tornar claro, alegre, vivo, deslumbrante.


Ah! que me esquecia…, a obra é a seguinte: Isidro Pereira Lamelas, Sim, cremos: O Credo comentado pelos Padres da Igreja, pp. 399, ed. Universidade Católica Editora, Lisboa, 2013 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Carta Pastoral da CEP: A propósito da ideologia do género



Difunde-se cada vez mais a chamada ideologia do género ou gender. Porém, nem todas as pessoas disso se apercebem e muitos desconhecem o seu alcance social e cultural, que já foi qualificado como verdadeira revolução antropológica. Não se trata apenas de uma simples moda intelectual. Diz respeito antes a um movimento cultural com reflexos na compreensão da família, na esfera política e legislativa, no ensino, na comunicação social e na própria linguagem corrente.

Mas a ideologia do género contrasta frontalmente com o acervo civilizacional já adquirido. Como tal, opõe-se radicalmente à visão bíblica e cristã da pessoa e da sexualidade humanas. Com o intuito de esclarecer as diferenças entre estas duas visões surge este documento. Move-nos o desejo de apresentar a visão mais sólida e mais fundante da pessoa, milenarmente descoberta, valorizada e seguida, e para a qual o humanismo cristão muito contribuiu. Acreditamos que este mesmo humanismo, atualmente, é chamado a dar contributo válido na redescoberta da profundidade e beleza de uma sexualidade humana corretamente entendida.

Trata-se da defesa de um modelo de sexualidade e de família que a sabedoria e a história, não obstante as mutações culturais, nos diferentes contextos sociais e geográficos, consideram apto para exprimir a natureza humana.
           
            1. A pessoa humana, espírito encarnado
Antes de mais, gostaríamos de deixar bem claro que, para o humanismo cristão, não há lugar a dualismos: o desprezo do corpo em nome do espírito ou vice-versa. O corpo sexuado, como todas as criaturas do nosso Deus, é produto bom de um Deus bom e amoroso. Uma segunda verdade a considerar na visão cristã da sexualidade é a da pessoa humana como espírito encarnado e, por isso, sexuado: a diferenciação sexual correspondente ao desígnio divino sobre a criação, em toda a sua beleza e plenitude: «Ele os criou homem e mulher» (Gn 1,27); «Deus, vendo toda sua obra, considerou-a muito boa» (Gn 1,31).

A corporalidade é uma dimensão constitutiva da pessoa, não um seu acessório; a pessoa é um corpo, não tem um corpo; a dignidade do corpo humano é corolário da dignidade da pessoa humana; a comunhão dos corpos deve exprimir a comunhão das pessoas.

Porque a pessoa humana é a totalidade unificada do corpo e da alma, existe necessariamente, como homem ou mulher. Por conseguinte, a dimensão sexuada, a masculinidade ou feminilidade, é constitutiva da pessoa, é o seu modo de ser, não um simples atributo. É a própria pessoa que se exprime através da sexualidade. A pessoa é, assim, chamada ao amor e à comunhão como homem ou como mulher. E a diferença sexual tem um significado no plano da criação: exprime uma abertura recíproca à alteridade e à diferença, as quais, na sua complementaridade, se tornam enriquecedoras e fecundas.

            2. Confrontados com uma forte mudança cultural
            Reconhecemos, sem dúvida, que, no longo caminho do amadurecimento cultural e civilizacional, nem sempre se atribuiu aos dois âmbitos do humano (o masculino e o feminino) o mesmo valor e semelhante protagonismo social. Especialmente a mulher, não raramente, foi vítima de forte sujeição ao homem e sofreu alguma menorização social e cultural. Graças a Deus, tais situações estão progressivamente a ser ultrapassadas e a condição feminina, antigamente conotada com a ideia de opressão, hoje está a revelar-se como enorme potencial de humanização e de desenvolvimento harmonioso da sociedade.

            No desejo de ultrapassar esta menoridade social da mulher, alguns procederam a uma distinção radical entre o sexo biológico e os papéis que a sociedade, tradicionalmente, lhe outorgou. Afirmam que o ser masculino ou feminino não passa de uma construção mental, mais ou menos interessada e artificial, que, agora, importaria desconstruir. Por conseguinte, rejeitam tudo o que tenha a ver com os dados biológicos para se fixarem na dimensão cultural, entendida como mentalidade pessoal e social. E, por associação de ideias, passou-se a rejeitar a validade de tudo o que tenha a ver com os tradicionais dados normativos da natureza a respeito da sexualidade (heterossexualidade, união monogâmica, limite ético aos conhecimentos técnicos ligados às fontes da vida, respeito pela vida intra-uterina, pudor ou reserva de intimidade, etc.). É todo este âmbito mental que se costuma designar por ideologia do género ou gender.

            A ideologia do género surge, assim, como uma antropologia alternativa, quer à judaico-cristã, quer à das culturas tradicionais não ocidentais. Nega que a diferença sexual inscrita no corpo possa ser identificativa da pessoa; recusa a complementaridade natural entre os sexos; dissocia a sexualidade da procriação; sobrepõe a filiação intencional à biológica; pretende desconstruir a matriz heterossexual da sociedade (a família assente na união entre um homem e uma mulher deixa de ser o modelo de referência e passa a ser um entre vários).

            3. Os pressupostos da ideologia do género
Esta teoria parte da distinção entre sexo e género, forçando a oposição entre natureza e cultura. O sexo assinala a condição natural e biológica da diferença física entre homem e mulher. O género baliza a construção histórico-cultural da identidade masculina e feminina. Mas, partindo da célebre frase de Simone de Beauvoir, «uma mulher não nasce mulher, torna-se mulher», a ideologia do género considera que somos homens ou mulheres não na base da dimensão biológica em que nascemos, mas nos tornamos tais de acordo com o processo de socialização (da interiorização dos comportamentos, funções e papéis que a sociedade e cultura nos distribui). Papéis que, para estas teorias, são injustos e artificiais. Por conseguinte, o género deve sobrepor-se ao sexo e a cultura deve impor-se à natureza.

Como, para esta ideologia, o género é uma construção social, este pode ser desconstruído e reconstruído. Se a diferença sexual entre homem e mulher está na base da opressão desta, então qualquer forma de definição de uma especificidade feminina é opressora para a mulher. Por isso, para os defensores do gender, a maternidade, como especificidade feminina, é sempre uma discriminação injusta. Para superar essa opressão, recusa-se a diferenciação sexual natural e reconduz-se o género à escolha individual. O género não tem de corresponder ao sexo, mas pertence a uma escolha subjetiva, ditada por instintos, impulsos, preferências e interesses, o que vai para além dos dados naturais e objetivos.

O gender sustenta a irrelevância da diferença sexual na construção da identidade e, por consequência, também a irrelevância dessa diferença nas relações interpessoais, nas uniões conjugais e na constituição da família. Se é indiferente a escolha do género a nível individual, podendo escolher-se ser homem ou mulher independentemente dos dados naturais, também é indiferente a escolha de se ligar a pessoas de outro ou do mesmo sexo. Daqui a equiparação entre uniões heterossexuais e homossexuais. Ao modelo da família heterossexual sucedem-se vários tipos de família, tantos quantas as preferências individuais, para além de qualquer modelo de referência. Deixa de se falar em família e passa a falar-se em famílias. Privilegiar a união heterossexual afigura-se-lhe uma forma de discriminação. Igualmente, deixa de se falar em paternidade e maternidade e passa a falar-se, exclusivamente, em parentalidade, criando um conceito abstrato, pois desligado da geração biológica.

            4. Reflexos da afirmação e difusão da ideologia do género
A afirmação e difusão da ideologia do género pode notar-se em vários âmbitos. Um deles é o dos hábitos linguísticos correntes. Vem-se generalizando, a começar por documentos oficiais e na designação de instituições públicas, a expressão género em substituição de sexo (igualdade de género, em vez de igualdade entre homem e mulher), tal como a expressão famílias em vez de família, ou parentalidade em vez de paternidade e maternidade. Muitas pessoas passam a adotar estas expressões por hábito ou moda, sem se aperceberem da sua conotação ideológica. Mas a generalização destas expressões está longe de ser inocente e sem consequências. Faz parte de uma estratégia de afirmação ideológica, que compromete a inteligibilidade básica de uma pessoa, por vezes, tendo consequências dramáticas: incapacidade de alguém se situar e definir no que tem de mais elementar.

Os planos político e legislativo são outro dos âmbitos de penetração da ideologia do género, que atinge os centros de poder nacionais e internacionais. Da agenda fazem parte as leis de redefinição do casamento de modo a nelas incluir uniões entre pessoas do mesmo sexo (entre nós, a Lei nº 9/2010, de 31 de maio), as leis que permitem a adoção por pares do mesmo sexo (em discussão entre nós, na modalidade de co-adoção), as leis que permitem a mudança do sexo oficialmente reconhecido, independentemente das caraterísticas fisiológicas do requerente (Lei nº 7/2011, de 15 de março), e as leis que permitem o recurso de uniões homossexuais e pessoas sós à procriação artificial, incluindo a chamada maternidade de substituição (a Lei nº 32/2006, de 26 de julho, não contempla a possibilidade referida). 

Outro âmbito de difusão da ideologia do género é o do ensino. Este é encarado como um meio eficaz de doutrinação e transformação da mentalidade corrente e é nítido o esforço de fazer refletir na orientação dos programas escolares, em particular nos de educação sexual, as teses dessa ideologia, apresentadas como um dado científico consensual e indiscutível. Esta estratégia tem dado origem, em vários países, a movimentos de protesto por parte dos pais, que rejeitam esta forma de doutrinação ideológica, porque contrária aos princípios nos quais pretendem educar os seus filhos. Entre nós, a Portaria nº 196-A/2010, de 9 de abril, que regulamenta a Lei nº 60/2009, de 6 de agosto, relativa à educação sexual em meio escolar, inclui, entre os conteúdos a abordar neste âmbito, sexualidade e género.

            5. O alcance antropológico da ideologia do género
Importa aprofundar o alcance da ideologia do género, pois ela representa uma autêntica revolução antropológica. Reflete um subjetivismo relativista levado ao extremo, negando o significado da realidade objetiva. Nega a verdade como algo que não pode ser construído, mas nos é dado e por nós descoberto e recebido. Recusa a moral como uma ordem objetiva de que não podemos dispor. Rejeita o significado do corpo: a pessoa não seria uma unidade incindível, espiritual e corpórea, mas um espírito que tem um corpo a ela extrínseco, disponível e manipulável. Contradiz a natureza como dado a acolher e respeitar. Contraria uma certa forma de ecologia humana, chocante numa época em que tanto se exalta a necessidade de respeito pela harmonia pré-estabelecida subjacente ao equilíbrio ecológico ambiental. Dissocia a procriação da união entre um homem e uma mulher e, portanto, da relacionalidade pessoal, em que o filho é acolhido como um dom, tornando-a objeto de um direito de afirmação individual: o “direito” à parentalidade.

No plano estritamente científico, obviamente, é ilusória a pretensão de prescindir dos dados biológicos na identificação das diferenças entre homens e mulheres. Estas diferenças partem da estrutura genética das células do corpo humano, pelo que nem sequer a intervenção cirúrgica nos órgãos sexuais externos permitiria uma verdadeira mudança de sexo.

É certo que a pessoa humana não é só natureza, mas é também cultura. E também é certo que a lei natural não se confunde com a lei biológica. Mas os dados biológicos objetivos contêm um sentido e apontam para um desígnio da criação que a inteligência pode descobrir como algo que a antecede e se lhe impõe e não como algo que se pode manipular arbitrariamente. A pessoa humana é um espírito encarnado numa unidade bio-psico-social. Não é só corpo, mas é também corpo. As dimensões corporal e espiritual devem harmonizar-se, sem oposição. Do mesmo modo, também as dimensões natural e cultural. A cultura vai para além da natureza, mas não se lhe deve opor, como se dela tivesse que se libertar.


            6. Homem e mulher chamados à comunhão
A diferenciação sexual inscrita no desígnio da criação tem um sentido que a ideologia do género ignora. Reconhecê-la e valorizá-la é assegurar o limite e a insuficiência de cada um dos sexos, é aceitar que cada um deles não exprime o humano em toda a sua riqueza e plenitude. É admitir a estrutura relacional da pessoa humana e que só na relação e na comunhão (no ser para o outro) esta se realiza plenamente. 

Essa comunhão constrói-se a partir da diferença. A mais básica e fundamental, que é a de sexos, não é um obstáculo à comunhão, não é uma fonte de oposição e conflito, mas uma ocasião de enriquecimento recíproco. O homem e a mulher são chamados à comunhão porque só ela os completa e permite a continuação da espécie, através da geração de novas vidas. Faz parte da maravilha do desígnio da criação. Não é, como tal, algo a corrigir ou contrariar. 

A sociedade edifica-se a partir desta colaboração entre as dimensões masculina e feminina. Em primeiro lugar, na sua célula básica, a família. É esta quem garante a renovação da sociedade através da geração de novas vidas e assegura o equilíbrio harmonioso e complexo da educação das novas gerações. Por isso, nunca um ou mais pais podem substituir uma mãe, e nunca uma ou mais mães podem substituir um pai.

            7. Complementaridade do masculino e do feminino
É um facto que algumas visões do masculino e feminino têm servido, ao longo da história, para consolidar divisões de tarefas rígidas e estereotipadas que limitaram a realização da mulher, relegada a um papel doméstico e circunscrita na intervenção social, económica, cultural e política. Mas, na visão bíblica, o domínio do homem sobre a mulher não faz parte do original desígnio divino: é uma consequência do pecado. Esse domínio indica perturbação e perda da estabilidade da igualdade fundamental, entre o homem e a mulher. O que vem em desfavor da mulher, porquanto somente a igualdade, resultante da comum dignidade, pode dar às relações recíprocas o carácter de uma autêntica communio personarum (comunhão de pessoas).

A ideologia do género não se limita a denunciar tais injustiças, mas pretende eliminá-las negando a especificidade feminina. Isso empobrece a mulher, que perde a sua identidade, e enfraquece a sociedade, privada dum contributo precioso e insubstituível, como é a feminilidade e a maternidade. Aliás, a nossa época reconhece – e bem! – a importância da presença equilibrada de homens e mulheres nos vários âmbitos da vida social, designadamente nos centros de decisão económica e política. Mesmo que essa presença não tenha de ser rigidamente paritária, a sociedade só tem a ganhar com o contributo complementar das específicas sensibilidades masculina e feminina.

            8. O "génio feminino"
Nesta perspetiva, há que pôr em relevo aquilo que o Papa João Paulo II denominou "génio feminino". Não se trata de algo que se exprima apenas na relação esponsal ou maternal, específicas do matrimónio, como pretenderia uma certo romantismo. Mas estende-se ao conjunto das relações interpessoais e refere-se a todas as mulheres, casadas ou solteiras. Passa pela vocação à maternidade, sem que esta se esgote na biológica. Nesta, entretanto, comprova-se uma especial sensibilidade da mulher à vida, patente no seu desvelo na fase de maior vulnerabilidade e na sua capacidade de atenção e cuidado nas relações interpessoais.

A maternidade não é um peso de que a mulher necessite de se libertar. O que se exige é que toda a organização social apoie e não dificulte a concretização dessa vocação, através da qual a mulher encontra a sua plena realização. É de reclamar, em especial, que a inserção da mulher numa organização laboral, concebida em função dos homens, não se faça à custa da concretização dessa vocação, e se adotem todos os ajustamentos necessários.


            9. O papel insubstituível do pai
Não pode, de igual modo, ignorar-se que o homem tem um contributo específico e insubstituível a dar à vida familiar e social, cumprindo a sua vocação à paternidade, que não é só biológica, assumindo a missão que só o pai pode desempenhar cabalmente. Talvez o âmbito em que mais se nota a ausência desse contributo seja o da educação, o que já levou a que se fale do pai como o “grande ausente”. Isto pode originar sérias consequências, tais como desorientação existencial dos jovens, toxicodependência ou delinquência juvenil. Se a relação com a mãe é essencial nos primeiros anos de vida, é também essencial a relação com o pai, para que a criança e o jovem se diferenciem da mãe e assim cresçam como pessoas autónomas. Não bastam os afetos para crescer: são necessárias regras e autoridade, o que é acentuado pelo papel do pai.

Num contexto em que se discute a legalização da adoção por pares do mesmo sexo, não é supérfluo sublinhar a importância dos papéis da mãe e do pai na educação das crianças e dos jovens: são papéis insubstituíveis e complementares. Cada uma destas figuras ajuda a criança e o jovem a construir a sua própria identidade masculina ou feminina. Mas também, e porque nem o masculino nem o feminino esgotam toda a riqueza do humano, a presença dessas duas figuras ajudam-nos a descobrir toda essa riqueza, ultrapassando os limites de cada um dos sexos. Uma criança desenvolve‑se e prospera na interação conjunta da mãe e do pai, como parece óbvio e estudos científicos comprovam.

            10. A resposta à afirmação e difusão da ideologia do género
            A ideologia do género não só contrasta com a visão bíblica e cristã, mas também com a verdade da pessoa e da sua vocação. Prejudica a realização pessoal e, a médio prazo, defrauda a sociedade. Não exprime a verdade da pessoa, mas distorce-a ideologicamente.
As alterações legislativas que refletem a mentalidade da ideologia do género -concretamente, a lei que, entre nós, redefiniu o casamento - não são irreversíveis. E os cidadãos e legisladores que partilhem uma visão mais consentânea com o ser e a dignidade da pessoa e da família são chamados a fazer o que está ao seu alcance para as revogar.

Se viermos a assistir à utilização do sistema de ensino para a afirmação e difusão dessa ideologia, é bom ter presente o primado dos direitos dos pais e mães quanto à orientação da educação dos seus filhos. O artigo 26º, nº 3, da Declaração Universal dos Direitos Humanos estatui que «aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação dos seus filhos». E o artigo 43º, nº 2, da nossa Constituição estabelece que «o Estado não pode atribuir-se o direito de programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas».

De qualquer modo, a resposta mais eficaz às afirmações e difusão da ideologia do género há de resultar de uma nova evangelização. Trata-se de anunciar o Evangelho como este é: boa nova da vida, do amor humano, do matrimónio e da família, o que corresponde às exigências mais profundas e autênticas de toda a pessoa. A esse anúncio são chamadas, em especial, as famílias cristãs, antes de mais, mediante o seu testemunho de vida.

Fátima, 14 de novembro de 2013