sábado, 28 de março de 2009

Uma Peregrinação Absurda?

1. Neste torpor eclesial nacional em que habitualmente vivemos surgiram 3 mães e uma amiga das mesmas com a ideia rara de promover uma peregrinação nacional a Fátima, numa quarta-feira à noite, mais precisamente ontem, com o lema Acorda Família, em acção de graças pelos 50 anos da Consagração de Portugal ao Sagrado Coração de Jesus e 25 da Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, com o propósito de as renovar e de reparar pelas ofensas feitas a ambos ao longo destes anos. Ideias de mulheres beatas e irrealistas!, foi a reacção de muitos. Uma coisa feita em cima da hora, num dia de semana em que ninguém pode ir, sem coordenação com as Dioceses ou pelo menos com as Paróquias, nem a presença de qualquer Senhor Bispo. Não se percebe o ímpeto, a vertigem precipitada, a corrida desacompanhada.

Eu confesso que acho admirável este tipo de saídas estilo Astérix que irrompe contra as imensas centúrias romanas que cercam a sua aldeia para a destruir, acabando afinal por serem elas destroçadas. Claro que o segredo está no elixir, isto é na Graça de Cristo, que nos imuniza e fortalece contra toda a espécie de inimigos espirituais. No entanto, elas ao que parece não foram aí buscar a sua inspiração; dar-se-á até, talvez, o caso de não conhecerem este “santo” da minha particular “devoção”. Acharam muito simplesmente que tinha sido o Céu, isto é, Nosso Senhor a marcar a data. De facto, dia da Anunciação, ou melhor, da Encarnação do Deus Filho no seio da Virgem Maria, e 25º aniversário da Consagração feita pelo Papa João Paulo II, em união com os Bispos de todo o mundo, diante da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, em Roma… Era, pois, preciso obedecer, isto é, entrar em comunhão com o Amor de Deus. E vai daí avançarem com Fé inabalável.

A vida, a família, as liberdades de educação e religiosa são objecto de agressão violenta, sistemática e planificada por todo o mundo, e em Portugal também. Hoje pendem sobre nós graves ameaças, em parte diferentes, mas de modo nenhum menores do que as de há 25 anos. E, como então, só o Sagrado Coração de Jesus e o Coração Imaculado de Maria, que são um só (como gosta de repetir o Professor Armindo Neves da Silva) nos podem salvar. São realmente um só no Amor, que é Deus, pois Aquela Mãe quer de tal modo a Seu Filho, que se despojou, por virtude do Espírito Santo, irreversível e totalmente de si mesma para completamente se deixar apropriar e identificar com Aquele que deu à luz.

2. Confluíram à Capelinha das Aparições cerca de mil pessoas vindas um pouco de todo o país. As belíssimas meditações do mesmo, feitas pelo P. João Tavares, da Diocese de Setúbal, foram lidas por casais e alguns dos mistérios rezados por crianças. Depois da Procissão das Velas, 3 sacerdotes concelebraram na Basílica que estava cheia de gente cheia de Fé. Presidiu o P. Gonçalo Portocarrero, que não conheço, um Prior do Entroncamento e um sacerdote suíço. A esplêndida homilia abordou muito certeiramente o essencial, tocou os corações dos presentes e confirmou-nos na fidelidade a Jesus Cristo. No final fez-se um belíssimo acto de Consagração ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria. A Graça desse momento só quem lá esteve a pode balbuciar, que a mais não chegam as capacidades humanas. Foi como um abrir de uma porta ao Céu, que entrou a jorros de Luz e Verdade, inundando todos de imensa confiança e Amor. A intensidade do momento é indizível. Mas ficou a certeza da actualidade e perenidade da Mensagem de Fátima, ou melhor, do Evangelho explicado e comunicado pela Virgem Mãe de Deus naquele lugar sagrado. A segurança de que por fim o Seu Imaculado Coração sempre triunfará.

3. Não era necessário que Portugal inteiro acorresse ontem ao Santuário de Fátima, mas era essencial que lá estivesse representado por aqueles que lá foram, para que a Graça superabundante que lhes foi dada transborde para todos. Quem quiser dispor-se ao acolhimento dessas bênçãos e dons especiais medite a homilia e reze o acto de Consagração, de preferência em família.

Nuno Serras Pereira

26. 03. 2009

sexta-feira, 27 de março de 2009

Acorda, Família Cristã!

Homília na Basílica do Santuário de Fátima, na Solenidade da Anunciação do Senhor - 25 de Março de 2009

P. Gonçalo Portocarrero de Almada

1. Introdução. Depois de termos recitado o terço de Nossa Senhora, na Capelinha, e de termos acompanhado a sua veneranda imagem pela esplanada da Cova da Iria, abençoada pelas repetidas aparições de Maria e pela oração e penitência de milhões de peregrinos, reunimo-nos agora nesta Basílica, junto às sepulturas dos três Pastorinhos, para a celebração da Eucaristia e o acto da consagração das famílias ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria.

Fazemo-lo no âmbito desta jornada de oração pela família, nesta hora difícil para tantas gentes portuguesas, não apenas pelas carências materiais que experimentam no seu dia-a-dia, mas também e principalmente pelas muitas dificuldades que a cultura dominante opõe à dignidade e santidade da família cristã.

E fazemo-lo numa data especialmente feliz, porque cumprem-se hoje vinte e cinco anos sobre a consagração do mundo inteiro ao Imaculado Coração de Maria, realizada pelo saudoso João Paulo II em Roma, diante da imagem de Nossa Senhora do Rosário que se venera na Capelinha deste santuário. A essa consagração, há tanto tempo pedida por Maria e finalmente realizada pelo anterior Papa, seguiu-se, quase de imediato, a pacífica revolução do Leste europeu que, depois de várias décadas de opressão e de perseguição religiosa, recuperou a liberdade pela mão da Mãe do Céu.

É com análoga esperança que hoje nos dirigimos a Nossa Senhora, na certeza de que a nossa prece não deixará de ser atendida pela Senhora mais brilhante do que o Sol e de que, mais uma vez, Ela irá fazer brilhar a sua luz sobre esta noite de trevas por que passa a nossa sociedade. Cremos em Maria; cremos no seu amor misericordioso; cremos na sua poderosa intercessão junto de Deus!

Acreditamos que esta nossa consagração ao seu Imaculado Coração e ao Sagrado Coração de Jesus é prenúncio de um novo tempo, a aurora de uma nova evangelização, de um renascimento espiritual do mundo inteiro, de uma autêntica conversão de todas a cada uma das nações, das nossas famílias e dos nossos corações!

2. O poder da oração. Fátima é o lugar em que a Omnipotência suplicante, título que alguns autores espirituais atribuíram muito certeiramente a Maria, escolheu para nos ensinar a lição do verdadeiro poder.

Quando, há quase um século, a Europa debatia-se numa impiedosa luta fratricida, a primeira guerra mundial, Nossa Senhora marcou aqui, na Cova da Iria, um encontro com três crianças analfabetas que, despreocupadamente, pastoreavam as suas ovelhas por estas paragens. A Mãe do Céu não apareceu aos poderosos deste mundo, não se fez ver nos campos de batalha, não se dirigiu aos Estados-Maiores nem aos parlamentos, não convocou os governantes, nem chamou os ricos. Preferiu aquelas três crianças, que escolheu para suas interlocutoras, para que depois fossem elas as portadoras da sua mensagem para o mundo inteiro e as primeiras fiéis executantes dos seus ensinamentos. Elas, que mal sabiam rezar as contas que seus pais lhes tinham vivamente aconselhado; elas, que viviam alheias à guerra em que também se vertia sangue português; elas, que na sua ignorância desconheciam a existência da Rússia, bem como a impiedade da sua tirania; elas, que na sua inocência pensavam que os pecados da carne fossem a omissão da abstinência, foram, não obstante a sua objectiva insignificância, as escolhidas para confidentes da Senhora do doce nome!

E, porque responderam afirmativamente ao chamamento mariano, como dois mil anos antes o fizera a donzela da Nazaré (cf. Lc 1, 26-38), foram os instrumentos fiéis da divina Providência para derrotar o materialismo ateu. A elas, à sua oração e penitência, se ficou também a dever a mudança realizada por essas datas no nosso país, a braços com um regime manifestamente anticristão. Com efeito, pouco tempo depois, foram restabelecidas as relações diplomáticas da Santa Sé com esta nação fidelíssima, que o foi sempre no seu povo e em alguns dos seus chefes, permitiu-se de novo que a Igreja cumprisse a sua missão pastoral e autorizou-se o regresso da quase totalidade dos nossos Bispos, então exilados pelo poder político.

3. O sinal de Fátima. Queridas famílias cristãs! Neste nosso tempo trava-se uma guerra mundial contra a santidade da vida humana e contra a natureza e dignidade da família e do matrimónio cristão, ignobilmente equiparado a uniões que repugnam até ao mais elementar bom senso! É verdade que poderosíssimas organizações internacionais e não poucos Estados, alguns até de nações com tradição cristã, com a cumplicidade de múltiplos órgãos de comunicação social, estão empenhados em destruir a família e a Igreja. Não vos deixeis contudo desalentar pela vossa fraqueza e exiguidade, nem olheis com temor para o poder de tantos e tão poderosos inimigos, porque o Senhor «dispersa os homens de coração soberbo, depõe do trono os poderosos e eleva os humildes, enche de bens os famintos e aos ricos despede de mãos vazias» (cf Lc 1,51-53).

Agora, como em 1917, ou como há dois mil anos, Deus quer servir-se de vós, como o fez há dois milénios com aquela pobre e humilde virgem de Nazaré (cf Lc 1, 26-27) ou, mais recentemente, com aquelas três crianças que aqui foram as confidentes da Rainha do Céu!

Em pleno Ano Paulino, vem a propósito recordar o ensinamento do Apóstolo das Gentes aos cristãos de Corinto, também eles ínfimos, em quantidade e qualidade, sobretudo se comparados com as hostes que os acossavam e perseguiam: «entre vós – constatava Paulo de Tarso – não há muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres; mas as coisas loucas, segundo o mundo, escolheu-as Deus para confundir os sábios; e as coisas fracas, segundo o mundo, escolheu-as Deus para confundir as fortes; Deus escolheu as coisas vis e desprezíveis segundo o mundo e aquelas que não são nada, para destruir as que são, para que nenhuma criatura se glorie diante d’Ele. É por Ele que estais em Jesus Cristo, a Quem Deus tornou, para nós, em sabedoria, justiça, santificação e redenção» (1Cor 1, 26-30).

Eis o verdadeiro milagre de Fátima: a sabedoria dos ignorantes, a força dos fracos e o poder dos humildes - numa palavra, a eficácia sobreabundante da graça de Deus! Há porventura coisa mais maravilhosa do que o feito daquelas três crianças?! Houve porventura alguém que ganhasse uma tão espantosa batalha como a que os videntes alcançaram com a derrota do totalitarismo que, durante décadas, oprimiu todos as nações da Europa do Leste?!

Conta-se que um poderoso dirigente da Rússia soviética, ao ser advertido da previsível oposição do Papa a uma sua medida contrária à liberdade e à justiça, teria comentado:

- Mas onde estão os exércitos do Papa?!

Se pensava em tanques e em armas de destruição, razão tinha para se rir da diminuta força de segurança que tem a seu cargo a defesa do minúsculo Estado do Vaticano. Mas não são os guardas suíços o exército do Santo Padre, porque o verdadeiro exército do Papa somos nós, todos os cristãos, todos os membros vivos da Igreja militante, cuja principal arma é a oração e o sacrifício, nomeadamente a recitação do terço de Nossa Senhora! Foram estas as divisões e os blindados que venceram o tenebroso regime soviético! Foi a oração dos Pastorinhos, e de quantos seguiram o seu exemplo, a força que venceu o ateísmo e alcançou, imprevisivelmente, a conversão de tantos povos e nações! As nossas balas são as contas que desfiamos ao rezar o terço de Nossa Senhora e é com a força do amor a Deus e a intercessão maternal de Maria que declaramos guerra ao ódio e à injustiça! Porque «esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé!» (1Jo 5, 4).

4. Apelo à conversão. Não é possível vir a Fátima e não ficar gratamente espantado com o espectáculo habitual das multidões ingentes que ininterruptamente acorrem a este santo lugar. Como explicar a sua presença se aqui, na Cova da Iria, não há outros milagres do que a edificante penitência dos peregrinos, nem outra sabedoria do que a das suas singelas preces?! Mas é este, precisamente, o verdadeiro milagre de Fátima, que permanece oculto para os néscios e poderosos, mas que para nós, pela graça de Deus, brilha mais do que o sol dançante daquele 13 de Outubro de 1917!

Se nos enaltece a recordação das aparições de Nossa Senhora e nos anima a generosa resposta dos Pastorinhos e de quantos aqui reencontraram o caminho do Céu, não esqueçamos que também nós, aqui e agora, somos interpelados por Deus, através de Maria: «Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a Minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua morada, cearei com ele e ele comigo» (Ap 3, 20).

Esta é a conversão que agora importa, mais do que a conversão de longínquos Estados ou nações: o milagre da nossa conversão pessoal, o milagre da nossa fé em Deus, o milagre sempre renovado da nossa esperança filial em Maria, o milagre do amor que se abre à vida e se dá sem condições, como Nossa Senhora neste dia da Anunciação: «Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38).

Naquela hora bendita da encarnação do Verbo, tudo mudou na realidade, mas quase ninguém se apercebeu da chegada do Rei do Universo, já feito homem verdadeiro no seio virginal de sua Mãe. Na aparente monotonia da vida sempre igual daquela pequena localidade da Galileia, quase ninguém foi capaz de compreender que as tão desejadas promessas messiânicas já se tinham cumprido, não ao jeito de um novo império terreno, como alguns erradamente pensavam, mas na discreta intimidade da alma e do bendito ventre da «cheia de graça» (Lc 1, 28), a virgem, desposada com São José, que concebe do Espírito Santo o Filho unigénito de Deus e em cuja família, humana e divina, se inicia a salvação da humanidade! Só Aquela que, pela graça de Deus, se entregou ao mistério e nele viveu pela fé, pela esperança e pela caridade, viveu a experiência daquele Amor que em si tudo renova.

5. Conclusão.

Família cristã, sê fiel à grandeza da tua vocação!

Sê fiel ao desígnio de Deus que, na unidade da sua única essência e na trindade das suas Pessoas é a família por excelência, o paradigma da verdadeira comunhão de vida e de amor!

Família cristã, sê fiel à tua missão evangelizadora e grita a beleza do verdadeiro amor, que se realiza na doação a Deus e aos outros até ao fim, e não na mentira precária do prazer, que mais não é do que expressão do mais cruel egoísmo.

Família cristã, sê fiel à tua condição de igreja doméstica, santuário da civilização do amor, segundo o bendito exemplo de Jesus, Maria e José, a Sagrada Família de Nazaré!

Família cristã, converte-te e consagra-te ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, que será o teu refúgio e o caminho que te levará até Deus!

Famílias cristãs, em nome de Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos abençoo, porque vós sois verdadeiramente o «sal da terra» e a «luz do mundo»! (cf. Mt 5, 13.14).

Benditas sejais!

terça-feira, 24 de março de 2009

A prostituição eclesiástica e a Paixão do Papa


1. Haverá aí alguém que não tenha ouvido falar num Bispo, até há pouco desconhecido, chamado Williamson? Creio que ninguém ignorará o grande clamor que se levantou por todo o mundo e mesmo na Igreja a propósito das suas disparatadas, ingénuas ou imbecis, maliciosas ou simplesmente apatetadas, afirmações sobre o holocausto perpetrado pelos nazis ao povo judeu. É fácil de compreender a grave apreensão que esse pronunciamento público provocou, principalmente nos sobreviventes e familiares dos que padeceram e morreram vítimas daquela monstruosa injustiça. Se hoje é ponto assente, não subsistindo dúvidas, sobre a enormidade e extensão daquele genocídio maquiavélico, entende-se também, muito bem, a perigosidade de tais declarações, uma vez que poderá contribuir, em certa medida, para gerar ou incrementar movimentos anti-semitas que advoguem que tudo não tenha passado de um delírio ou de uma propaganda dolosa, por parte desse povo, com objectivos inconfessáveis. Concebida a suspeita, a desconfiança, e com esta a hostilidade, tende a crescer dando à luz desentendimentos, discórdias, agressividades, perseguições, etc.

No entanto, tanto quanto nos é dado saber, este Bispo, que recordemo-nos está suspenso a divinis, nunca promoveu a ideologia nazi, aceitando plenamente as pesadas e implacáveis condenações que da mesma fizeram os Papas Pio XI e Pio XII, e nunca matou nenhum judeu.

Nos dias de hoje há um outro holocausto – a palavra é do Papa João Paulo II – o do aborto. Este genocídio foi advogado, propagandeado, promovido e votado por muitos que várias instituições católicas, desde a RR à UCP, têm como colaboradores ou convidados a debater e palestrar sobre os mais variados assuntos, inclusive acerca da licitude deste crime que João Paulo II classificou como o mais perverso e abominável.

O Bispo Williamson nunca, mas mesmo nunca, seria convidado ou autorizado a palestrar sobre qualquer tema, mesmo que fosse o do amor aos inimigos, como o são os promotores do holocausto contemporâneo.

Parece-me, pois, que isto só poderá significar o seguinte: quem manda na Igreja em Portugal não se rege por princípios e valores, mas pela popularidade e benefícios que pode ganhar. O que me leva a concluir que se o anti-semitismo estivesse de moda, contasse com maiorias, tivesse a comunicação social a seu favor e mandasse no estado, o Bispo Williamson e outros como ele, talvez mesmo Goebbels, caso fosse vivo, seguramente teriam as mesmas atenções e gozariam da mesma presença na RR, na UCP e em outras instituições da Igreja. As Sagradas Escrituras ao indicarem este tipo de comportamento chamam-lhe prostituição.

2. O Papa Bento XVI tem aquele traço que caracterizava Jesus Cristo, de Quem é vigário na Terra. Quando ensina, pela palavra ou pelo exemplo, desencadeia vendavais. Foi o que aconteceu agora, mais uma vez, a propósito de preservativo. Porque disse a verdade, a comunidade internacional, constituída por políticos, grandes multinacionais farmacêuticas, comunicação social, membros da hierarquia da Igreja, movimentos de controlo demográfico, instituições eugenistas, etc., formaram furacões, cuja característica parece ser a de, por incapacidade de se abrirem para irem ao encontro do outro, rodopiarem sobre si mesmos levando a destruição e desolação a toda a parte. O Santo Padre foi, de novo, flagelado pelos grandes deste mundo, acusado injustamente, condenado na praça pública. O semanário português Expresso ultrapassou ignobilmente em infâmia os algozes que coroaram Cristo de espinhos, ao encapuzar o representante do mesmo Cristo com aquele látex posto ao serviço da promiscuidade imunda que domina grande parte do mundo.

O Norte e o Ocidente rasgaram hipocritamente as faustosas e luxuriosas vestes arguindo o Papa de ser responsável por um genocídio sexual, como se a castidade e a fidelidade no matrimónio pudessem liquidar alguém! Este mesmo multimilionário Noroeste que atulha África de preservativos mas que é incapaz de auxiliar esse continente num verdadeiro combate à malária que mata muito mais que a sida; que ignora as mães que têm de andar 40 quilómetros a pé para arranjarem uma aspirina para o seu filho doente, ou 10 quilómetros para irem buscar água; que assistiu impávido e sereno aquele tenebroso e imenso genocídio do Ruanda. Este Noroeste que censura a informação verdadeira e cientificamente comprovada do incentivo à promiscuidade que as suas campanhas do látex imundo têm promovido com o consequente aumento exponencial das doenças sexualmente transmissíveis, algumas incuráveis e outras mais mortais que a sida. Em 20 anos, por exemplo, nos USA elas subiram de três para cerca de vinte. O preservativos é incapaz de deter o vírus do papiloma humano (HPV) que é responsável por muito mais mortes que a sida. E o vírus desta, com o decorrer do tempo, acabará inevitavelmente, mesmo com o uso consistente do preservativo, em virtude do chamado “efeito roleta russa”, por contagiar quem o usa. Isto quem o afirma não é a Igreja mas sim a IPPF a maior organização não governamental do mundo que se dedica ao incentivo do aborto, da promiscuidade sexual, da contracepção e do preservativo.

Não por acaso Edward C. Green, Director do projecto de investigação sobre a sida do Centro de Estudos, da Universidade de Harvard (USA), para a População e Desenvolvimento veio a terreno defender o Papa Bento XVI: “O Papa tem razão, ou dito de outra maneira, as melhores provas que temos estão de acordo, suportam, as palavras do Papa”. E continuou “ os nossos estudos, incluindo o US – funded Demographic Healt Surveys’, mostram uma associação consistente entre a maior disponibilidade e uso de preservativos e uma taxa mais alta (não mais baixa) de infecção por HIV.”[1]

Os médicos que trabalham em África sabem-no bem. Em entrevistas, por estes dias, ao Avvennire afirmaram categoricamente que não é possível diminuir o contágio sem uma alteração radical dos comportamentos. E que só onde ela se deu é que se verificou uma diminuição substancial do mesmo. Sendo porventura os exemplos mais eloquentes o Uganda, em África, e as Filipinas, no Pacífico.

Acima falei de vendaval e logo a seguir dos furacões. Espero que não se tenha entendido que eu atribuía a responsabilidade por estes últimos ao Santo Padre. Não! Estes devastadores como são devem ser atribuídos ao império que as potestades malignas exercem sobre os grandes deste mundo. Os vendavais, pelo contrário, são causados pelo Espírito Santo, como no Pentecostes, e suscitam conversões e adesão a Jesus Cristo e à Sua Igreja. É isso mesmo que verificamos com o Papa Bento XVI. Bem podem as autoridades mundanas e algumas eclesiásticas arreganhar-lhe o dente e rosnar-lhe impropérios que o povo simples está com ele e segue-o avidamente, como outrora seguia Jesus.

Nuno Serras Pereira

23. 03. 2009