quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Congresista advierte esfuerzos de Obama por incluir aborto en cita ONU


WASHINGTON D.C., 23 Sep. 10 / 08:19 am (ACI)

En un artículo publicado por The Washington Post, el congresista Christopher Smith advirtió que la reunión de las Naciones Unidas sobre las Metas de Desarrollo del Milenio podría terminar con un documento a favor de la promoción del
aborto en el mundo.

Smith sostiene que la noble finalidad de las metas "es la reducción de la pobreza global" con una significativa reducción de la mortalidad maternal e infantil en todo el mundo pero esto seria socavado "si la administración del Presidente Obama, ya sea abierta u ocultamente, logra incluir el aborto en el documento final".

"La Secretaria de Estado Hillary Clinton ha declarado públicamente que cree que el acceso al aborto es parte de la salud materna y reproductiva, idea que contraría la posición de más de 125 Estados miembros de la ONU que prohíben o, al menos, restringen el aborto en sus leyes y constituciones soberanas", recuerda Smith.

El congresista explica que "la Meta para el Desarrollo del Milenio número 4 sostiene la reducción de las tasas de mortalidad infantil en 2/3 a partir del nivel del año 1990. Resulta claro que una gran cantidad de costosas y efectivas intervenciones requieren ser expandidas a fin de salvar la vida de los niños".

"El aborto es, por definición, mortalidad infantil, y atenta contra el logro de la Meta para el Desarrollo del Milenio número 4. No hay nada bueno o compasivo en procedimientos que desmembran, envenenan, inducen el parto prematuro o dejan morir de hambre a un niño. De hecho, el confuso término ‘aborto seguro’ no tiene en cuenta el hecho de que ningún aborto –legal o ilegal– es seguro para el niño y de que todos están llenos de consecuencias negativas para la salud, incluyendo daños emocionales y psicológicos para la madre", aclara.

Asimismo, precisa que "hablar de ‘niños no deseados’ reduce a los niños a meros objetos, sin dignidad humana inherente y cuyo valor depende de su utilidad percibida o de cuánto han sido deseados. Uno sólo tiene que mirar al azote del tráfico humano y la explotación de los niños en trabajos forzosos o a los niños soldados, para ver adónde nos conduce este desprecio por el valor de la vida".

Smith recuerda que la Meta de Desarrollo del Milenio número 5 "desafía al mundo a disminuir las tasas de mortalidad materna en un 75% desde los niveles de 1990".

"Sabemos desde hace sesenta años qué es lo que realmente salva la vida de las mujeres: la atención experta a los nacimientos, el tratamiento para parar hemorragias, el acceso a bancos de sangre seguros, los cuidados obstétricos de emergencia, antibióticos, la reparación de fistulas, nutrición adecuada y cuidados pre y post natales. El objetivo de la próxima Cumbre debería ser un mundo libre de abortos, no el aborto libre en todo el mundo", sostiene.

Smith cita un estudio, financiado por la Fundación Bill y Melinda Gates y publicado en la revista científica inglesa "The Lancet" en abril que "subraya que muchas naciones que tienen prohibiciones legales al aborto, poseen incluso algunas de las más bajas tasas de mortalidad materna en el mundo –Irlanda, Chile y Polonia entre ellos".

"La inclusión del aborto en el documento final de este encuentro de la ONU o en sus implementaciones socavaría las Metas de Desarrollo del Milenio. Las acciones y los programas para alcanzar las mismas deben incluir a todos los ciudadanos del mundo, especialmente a los más débiles y vulnerables. Debemos afirmar, respetar y asistir tangiblemente las preciosas vidas de las mujeres y de todos los niños, incluyendo los que no han nacido", concluye Smith.


Pensador ateo admite que catolicismo es la religión más atacada en Europa


MADRID, 23 Sep. 10 / 05:29 am (ACI)

Bernard-Henri Lévy
es un pensador ateo considerado como referencia intelectual de la llamada nueva izquierda. En declaraciones al diario ABC aseguró que el catolicismo es de lejos la religión más atacada en Europa y lamentó que se cometan tantas injusticias contra el Papa Benedicto XVI.

"La voz del Papa es extremadamente importante. Y somos muy injustos con este Papa. Yo no soy católico, pero creo que hay prejuicios. Sobre todo un anticatolicismo primario que está tomando proporciones enormes en Europa", afirmó.

Según el pensador, "en Francia se habla mucho de las violaciones de los cementarios judíos y musulmanes, pero nadie sabe que las tumbas de los católicos también son profanadas habitualmente. Hay una especie de anticlericalismo en Francia que no es sano en absoluto. Tenemos derecho a criticar las religiones, pero la religión más atacada hoy en día es la religión católica".

Para Lévy, que dice estar a favor de la construcción de una mezquita cerca de la Zona Cero en Nueva York y se opone al uso de la burka, el catolicismo sufre más ataques que el islam. "Los musulmanes, en el terreno intelectual, se defienden. Los católicos, mucho menos", admitió.


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Papa Bento XVI, desculpe-nos - Jornais ingleses moderam seu tom depois da visita papal


Por Inma Álvarez, Zenit, 2010-09-21

LONDRES, terça-feira, 21 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - A revista satírica britânica Private Eye costuma publicar hipotéticas cartas de desculpas da imprensa quando a opinião que transmite sobre uma pessoa é desmentida pela realidade.

"Isso poderia ser aplicado à visita de Estado do Papa Bento XVI", afirma Dominic Lawson, editorialista de The Independent, em sua coluna de hoje, "Pope Benedict... an apology".

"O Papa. Uma desculpa. Queremos pedir desculpas por descrever Sua Santidade como o líder tirânico com botas militares de uma instituição corrupta empenhada no estupro de crianças e no extermínio de todo o continente africano. Agora aceitamos que é um homem idoso e doce, que fica feliz da vida quando beija os bebês e que este país tem muito a aprender da sua humanidade e preocupação pelos mais fracos da sociedade."

Com ironia, Lawson constata a mudança generalizada de tom da imprensa inglesa após a visita do Papa. O próprio Independent, constata, publicou comentários editoriais que "seriam impensáveis há uma semana".

"Quando alguém é qualificado como um monstro (ou ‘um velho vilão lascivo de batina', como disse Richard Dawkins) e surge como uma modesta figura acadêmica visivelmente incômoda com a grandiloquência política de uma visita de Estado, os opinadores percebem que seus leitores prefeririam um tom mais amável", afirma Lawson.

"Suspeito que é precisamente o caráter apolítico do Papa Bento XVI que lhe dá certo atrativo popular, inclusive àqueles que não são membros da Igreja Católica e que sem dúvida se sentem obrigados a seguir seus inamovíveis pronunciamentos doutrinais."

O colunista que foi diretor do Spectator conclui: "A humildade talvez seja a mais difícil das virtudes; os mais presuntuosos críticos laicistas do Papa poderiam aprender do seu exemplo".

Este não foi o único comentário. No "dia depois" da visita, segundo constata um informe de Catholic Voices, é evidente a moderação da imprensa inglesa de todos os âmbitos de opinião, assim como o unânime reconhecimento do êxito da visita, contra quase todos os prognósticos.

Repassando um a um os 5 principais cabeçalhos ingleses, em sua edição de segunda-feira, 20 de setembro, o informe mostra como foi a cobertura da beatificação do cardeal Newman no Cofton Park.

Os da esquerda

Assim, The Guardian, representante da esquerda liberal, dedica duas página a uma reportagem sobre a beatificação, assinada pelo seu correspondente religioso, Stephen Bates.

Outra correspondente, Riazat Butt, afirma que "o êxito real desta viagem histórica não foi Bento XVI, mas seu rebanho, que desafiou as expectativas e a publicidade negativa para dar as boas-vindas ao Papa".

Na seção de comentários do jornal, um dirigente recorda aos leitores por que The Guardian apoiou a visita, "apesar do conservadorismo intransigente e às vezes cruel de Bento XVI", pois "se tratava de um assunto diplomático sério".

O editorial não acredita que o Papa tenha superado "a divisão religioso-leiga", mas tem algumas palavras críticas contra os manifestantes, que "talvez não vejam nenhuma conexão entre eles e as turbas antipapistas do passado, mas há um fracasso em dar à fé o respeito sincero que lhe é devido".

Na seção do defensor do leitor, destaca-se a crítica de muitos leitores com relação ao que consideram a "hostilidade instintiva da religião" por parte do jornal, ainda que o ombudsman alegue a extensa cobertura dada pelo The Guardian à visita.

Talvez a mudança mais sintomática tenha sido, como foi comentado no início desta notícia, o caso do The Independent, jornal que, durante o período anterior à visita, tornou-se porta-voz do setor laicista mais agressivo.

Em seu editorial de ontem, Benedict spoke to Britain, o jornal admitiu que a visita "foi melhor, inclusive muito melhor do que se poderia esperar", graças sobretudo "ao que o Papa disse e como disse", mostrando "que tem um lado mais cálido, mais humano e menos rígido do que parece de longe".

"E com relação às suas alusões a quão arriscado é para a tolerância desterrar a religião às margens, talvez ele tenha deixado uma Grã-Bretanha com a mente um pouco mais aberta que quando a encontrou", conclui o editorial de forma surpreendente.

Conservadores

Por sua parte, o Daily Mail, conservador, publicou um comentário assinado por Stephen Glover, no qual afirma que a visita "foi muito além" de um êxito que a própria hierarquia católica não esperava: "O Papa falou à alma do nosso país, afirmando as verdades morais eternas que nossos próprios líderes políticos e religiosos preferem evitar".

Um dos êxitos surpreendentes destacado por Glover foi o "rosto jovem" da Igreja Católica britânica; o editorial do jornal também critica os ateus radicais, contrários à visita: "Não têm nada a oferecer como caminho de esperança para os jovens nem para ninguém".

The Times não dedica um editorial, mas publica uma reportagem de Richard Owen, seu correspondente em Roma, que se surpreende com a ênfase do Papa no "pluralismo sadio" e nas "diversas tradições religiosas" da sociedade britânica, assegurando que "este não é o homem que foi eleito papa há 5 anos".

Por último, o Daily Thelegraph apresenta um Papa sorridente na capa e afirma que ele "parecia muito mais preocupado em reconduzir o diálogo entre a Igreja e a sociedade civil do que provocar conversões", ao mesmo tempo em que cita os "exageros laicistas".

O informe pode ser lido no blog de Catholic Voices.


Investigación financiera es ataque contra el Vaticano, denuncia presidente de IOR


VATICANO, 22 Sep. 10 / 11:43 am (ACI)

El presidente del Instituto para las Obras de Religión (IOR), el economista Ettore Gotti Tedeschi, deploró que se use "un error de procedimiento" en esta institución para
atacar a la Santa Sede con una investigación por supuesto blanqueo de dinero contra los responsables del llamado banco vaticano.

En una entrevista publicada hoy por el diario financiero Il Sole 24 ore, Tedeschi declaró que "se está usando un error de procedimiento como una excusa para atacar al instituto (IOR), a su presidente, y al Vaticano en general".

El economista dijo que la transacción que consistía en transferir en total 23 millones de euros, incautados por orden de la jueza María Teresa Covatta, "fue una operación normal de tesorería e implicaba una transferencia desde cuentas del banco del Vaticano a otras cuentas del banco del Vaticano".

Tedeschi explicó que en los últimos diez meses el banco "ha estado adaptando todos sus trámites internos para estar en armonía con los estándares de transparencia internacional".

Sobre este tema, el diario vaticano L’Osservatore Romano publica hoy un artículo en primera plana titulado "La transparencia del IOR" en el que explica detalladamente los procedimientos que este organismo financiero realiza para adaptarse a los mencionados estándares.

El artículo señala que la Unidad de Información Financiera de la Banca de Italia advirtió en las transferencias investigadas "una posible violación de las normas contra el blanqueo. Sin embargo, desde el inicio del año los órganos de la Banca de Italia y el IOR trabajan en estrecha colaboración para adecuar las operaciones del IOR a los procedimientos contra el blanqueo".

Con este fin se ha creado dentro del IOR una oficina de información financiera bajo el control del Cardenal Attilio Nicora; y en ese sentido se entiende las constantes colaboraciones del IOR con la OCSE (Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico) y el GAFI (Grupo de Acción Financiera Internacional contra el blanqueo de capitales).

"A los dos organismos se les entregó documentación para la inscripción de la Santa Sede en la llamada White List, que reúne a los países que se adhieren a las normas contra el blanqueo", añade el texto.

Seguidamente explica que "para la adecuación a las exigencias que nacen de la inclusión de la Santa Sede entre los estados que operan contra el blanqueo y el terrorismo, el Secretario de Estado, Cardenal Tarcisio Bertone, también creó una comisión presidida por el mismo Cardinal Nicora. Además la dirección del IOR se esfuerza desde hace tiempo –y sobre esto la Banca de Italia está bien informada– en adecuar las estructuras informáticas a las reglas vigentes en materia de lucha contra el blanqueo".

Así, indica el artículo, "el IOR busca avanzar por la misma línea de los bancos italianos. Por todos los motivos ya mencionados, es fácil comprender que la naturaleza y el marco de las operaciones ahora objeto de investigación pueden esclarecerse con simplicidad y rapidez. Se trata, de hecho –como ya se ha subrayado– de operaciones de tesorería cuyo destinatarios era el mismo IOR en cuentas de su pertenencia en otros bancos".

"El inconveniente ha sido causado por una incomprensión en vía de aclaración, entre el IOR y el banco que recibió la orden de transferencia. Con la certeza de que ninguna nueva cuenta se ha abierto sin la estricta observancia de las reglas dictadas por Bankitalia, vale la pena reiterar que el IOR no puede considerarse un banco en la acepción corriente ya que administra bienes de instituciones católicas a nivel internacional, y estando ubicada en el Estado de la Ciudad del Vaticano, está fuera de las jurisdicciones de los distintos bancos nacionales".

Finalmente, el artículo recuerda que "la integridad y la capacidad del profesor Gotti Tedeschi son bien conocidas en los ambientes financieros italianos e internacionales".


terça-feira, 21 de setembro de 2010

M. Manuel Serras Pereira – a perspectiva de um sobrinho


Maria Manuel Serras Pereira foi dada à luz em Abrantes no dia 11 de Fevereiro de 1917. O dia do seu nascimento é o de Nossa Senhora de Lurdes e o ano, do mesmo, o das aparições de Fátima e da revolução comunista na Rússia. Todos saberemos que a Virgem Maria, revelando-Se como a Imaculada Conceição, apareceu a Bernardette em Lurdes fazendo desse santuário um lugar de acolhimento e cura de enfermos. Maria Manuel foi toda a vida doente parecendo ter-lhe sido concedida a Graça de participar nos sofrimentos de Cristo em favor da salvação do mundo. Foi sempre muito devota de Nossa Senhora e uma acérrima inimiga do comunismo. Deus chamou-a para Si no dia da Natividade de Maria Santíssima, 8 de Setembro do corrente ano, no hospital de Abrantes, dando a impressão que a Virgem a veio buscar. Nasceu para o Céu no dia em a Mãe de Deus nasceu para este mundo.

Filha de David e de Maria Guilhermina Serras Pereira, viu-se órfã de pai pelos vinte anos de idade. Tinha como irmãos mais novos a Maria de Jesus (Májú) e o João Nuno. A irmã partiu muitos anos antes dela, o irmão é vivo e conta 90 anos.

Desde cedo amou a vida com intensidade, vendo nela um dom precioso de Deus, e foi dotada de um espírito de aventura, talvez raro para uma mulher naquele tempo. Gostava muito de equitação, cavalgando por montes e vales, e aos 18 anos já a vimos feliz voando naqueles aviões como os da primeira guerra mundial (1925).

Na sua mocidade dedica-se ao apostolado e evangelização tendo liderado a juventude católica feminina em Abrantes. Quando vai a férias em Coimbra a casa do tio João Serras e Silva, Lente da Universidade, trabalha com as noelistas e as criaditas dos pobres, ajudando no cuidado dos mesmos e dos enfermos.

Durante a segunda guerra mundial funda a “Malta Brava” organizando acampamentos, na quinta de família na Venda Nova, perto do Sardoal, acompanhada de uma amiga e do seu irmão João Nuno. A malta brava era composta de rapazes, mais novos, que ela procurava educar na Fé cristã. Como alguns eram dotados de forte agressividade uns para com os outros ensinou-os a dirigi-la para o demónio, de modo que em vez de se escavacarem entre si, exerciam um autodomínio, uma contenção, que significava um espancamento do diabo. Cada vez que não faziam o que ele queria mas sim a vontade de Deus isso correspondia a uma tareia no mafarrico. Como era dotada de uma autoridade natural, sem ponta de autoritarismo, nunca precisou, para pôr a malta na ordem, de bater em algum. Lembro-me de há alguns anos caminhando com ela nas ruas de Abrantes, quando a sua memória já se delia e tinha dificuldade em reconhecer algumas pessoas, de alguns homens se aproximarem cumprimentando-a e dizendo “Eu sou fulano, da malta brava”. Descobri depois, acompanhando como sacerdote peregrinações de jovens a Fátima, que numa terra entre Alcanena e Minde, Moitas Vendas, existia um grupo denominado com o mesmo nome, seguramente organizado por um desses rapazes que tinha passado pelo original.

Maria Manuel matrimoniou-se com Fernando Côrte-Real Alves Amaro, oficial de cavalaria, vindo a enviuvar aos 13 anos de casada, devido a uma acidente de automóvel, perto de Almeirim. Para grande desgosto dos dois não puderam ter filhos. Aconteceu, por isso, que nós os sobrinhos viemos a ser tratados como se fôramos tais.

Quando a tia Maria Manuel tentava ensinar a sua sobrinha mais velha, a Margarida (Begui), com pouco menos de dois anos, a pronunciar o seu nome esta não conseguia senão articular a palavra Mená, pelo que a partir daí a Maria Manuel, em família, passou a ser tratada por esse nome.

Foi a Mená que me preparou, juntamente com o filho mais velho do jardineiro, o Armando, para a primeira Comunhão. Lembro a Fé o carinho com que o fez e em especial o facto de me ter dito que quando comungasse a minha alma ficaria mais branca do que o Sacrário, o que me pareceu algo de verdadeiramente extraordinário e só possível por milagre. Naquele tempo o Sacrário era reconhecido como tal, isto é, como o lugar onde verdadeira e realmente está Deus humanado e, por isso, era imponente como o Santo dos Santos de um templo e rodeado de todas a reverências e adorações. Hoje, com o que para aí anda de pechisbeque, irreverências e indiferenças parece quase impossível que os católicos ainda acreditem na Presença real de Jesus na Eucaristia.

Esta “catequese” que então me proporcionou continuou com o exemplo da sua vida, pois ia diariamente ao hospital da Misericórdia ajudar as Irmãs enfermeiras, levando-me algumas vezes consigo, e não poucas vezes a acompanhei a visitar enfermos pobres a quem levava consolo e cabazes de alimento.

Uma das vezes em que me levou ao hospital obrigou-me a ver, com grande repugnância minha, o tratamento nas urgências de uma moça, mais ou menos da minha idade, com o corpo todo queimado devido ao descuido com uma lareira. Foi um verdadeiro acto de amor não me deixar ir embora nem virar a cara porque tanto eu como meus irmãos tínhamos o costume temerário de brincar com o fogo da lareira quando apanhávamos os adultos desprevenidos. Ora naquela região havia muitas crianças que morriam por causa dos descuidos com as lareiras. Ficou-me de lição.

A tia Mená, juntamente com a sua mãe e minha Avó, e durante algum tempo o tio Fernando, educou e formou, durante largos períodos, nove sobrinhos e uma catrefada de sobrinhos netos. Na nossa meninice, adolescência e parte da juventude ora por motivos de dificuldades de emprego do pai ora pelas férias de Natal, da Páscoa e as intermináveis (mais de três meses) de Verão passávamos o tempo em Abrantes.

A sua relação connosco embora fosse de grande afectividade nunca teve nada de lamechas, coisa aliás a que era completamente alérgica. Dotada de uma imaginação prodigiosa e de um “magnetismo” singular contava-nos narrações coloridas, cromáticas, embevecedoras, cheias de peripécias e graças que nos faziam mergulhar num mundo outro, fantástico. A mais das vezes eram histórias dos “nossos amigos” - um grupo de animais - de fazer inveja ao Walt Disney, ou do castelo dos anões que havia na Venda Nova, outras vezes “delírios” que nos faziam susto com os seus fantasmas, como o “Padre das batatas”, assim chamado pelos altos que tinha na cabeça, antigo vizinho, já falecido, mas cujos passos e rumores se ouviam ainda por noite dentro, ou o lobisomem que corria sete serras vagueando por Alcaravela, Vila de Rei e mais além.

Sendo uma entusiasta de S. Francisco de Assis com quem se identificava muito no seu amor à natureza e aos animais (pelo contrário, tinha uma dificuldade grande com a espiritualidade de S. João da Cruz) tinha com estes uma relação extraordinária. Parece que não havia bicho que ela não encantasse ou “hipnotizasse”. Os cães mais ferozes e bravos amansavam diante da sua voz maviosa e do seu olhar doce, para grande espanto dos seus donos que a precaviam com sérias admoestações. Domesticou, e teve em casa, raposas, ouriços-cacheiros, mochos, corujas, coelhos, gatos, cães e, para grande horror da minha avó, um rato – no jardim, e as aranhas do quintal a que dava festinhas sem que elas fugissem ou a picassem. Sempre que íamos a Abrantes era certo haver uma ninhada de gatinhos que nos deliciava e com que brincávamos. Uma vez que morreu a mãe de uma ninhada a tia Mená conseguiu que a bigodaças, uma coelha que se passeava pela casa em companhia de um cão fox-terrier e dos gatos, amamentasse a ninhada órfã, e assim esta sobreviveu.

Connosco tinha um enorme bom humor, até nos ralhetes ou castigos que nos dava. Às vezes, para nos pôr na ordem, dizia pausadamente, com voz grave uma frase de Aquilino Ribeiro: olhem que “eu bato com o malho no talho, deito a carvalhosa abaixo e como melros e melráchos.” Na sua voz nunca havia agressividade ou desdém embora raramente pudesse haver alguma irritação. Se nos portávamos mal à mesa mandava vir um alguidar da cozinha, virava-o ao contrário e punha-nos a comer no fundo do alguidar, como se fora uma grande humilhação, mas sempre temperada de muito bom humor. Tinha uma vergasta com que nos ameaçava mas que só usava quando ultrapassávamos todos os limites. Então dava-nos com ela na barriga das pernas de modo a que doesse um bocadinho mas não magoasse verdadeiramente. Que limites eram esses? Dou dois exemplos para que se perceba: uma vez deu connosco debaixo da cama do nosso pai, que estava para Lisboa, fazendo uma fogueira, a brincar aos índios…; outra: como tantas vezes acontecia avisaram que a água ia faltar por dois ou três dias. Como era costume enchiam-se jarros, alguidares, lavatórios e banheiras. Pois foi dar connosco esvaziando alegremente as águas armazenadas – eu tinha dois anos e já ajudava à festa.

No seu quarto tinha guardado, numa gaveta, a “trela russa” que era uma espécie de correia ou chicote entrelaçado reservada para os “grandes” castigos. Quando acontecia apanharmos, coisa raríssima, com ela era com a mesma debilidade com que nos dava com a vergasta, nem uma mínima marca ficava, nem ligeiro rubor, mas a solenidade do nome dava um peso maior ao acontecimento. Mas o pior dos castigos era a “sova fora do rabo”. Isso sim era terrível. Combinada com as empregadas domésticas ameaçava-nos com a sova fora do rabo e elas numa aflição gritada e gesticulada clamavam: “Ó minha senhora, isso não! Tudo menos isso! Dê-lhes antes com o cavalo-marinho!” Mas a tia Mená implacável punha-nos em cima da sua cama de rabo para o ar e com quantas forças tinha batia rijamente no colchão palmadas medonhas. E nós chorosos pela crueldade dos tormentos e dos tratos…

Quando nos armávamos em inteligentes com a idiotia presunçosa da adolescência logo nos desarmava dizendo “Ai que tenho um sobrinho estaburro (sic), animal de cabresto, habitante do pocilgo”.

Mas uma vez dado o raspanete ou o castigo não voltava ao assunto, nem repisava, nem humilhava, mas dava-nos rédea solta para andarmos à vontade.

E tantas vezes nos acompanhou na doença e a mim na quase morte quando estive em coma por vários dias.

A Mená foi o único jornalista português presente no Concílio Ecuménico Vaticano II – escrevia crónicas para o jornal A Voz e o Diário da Manhã. Aí conheceu e entrevistou muitos Bispos e Cardeais, entre os quais, Karol Wojtylia, futuro Papa João Paulo II, o Irmão Roger, fundador de Taizé, com quem depois se carteou, o então jovem teólogo Joseph Ratzinger, agora Papa Bento XVI, o Patriarca de Alexandria que lhe falou num português correctíssimo, para grande espanto dela, pois era um admirador e leitor assíduo do Eça de Queirós, etc. Ouvi-lhe muitas histórias muitas vezes sobre esses tempos que passou em Roma, o que viu, as conversas que teve, as personagens e prelados que conheceu, tantas coisas que soube interessantíssimas. (Há vários anos, creio que há oito, falei a uma jornalista de RR nesta minha tia. Pelos vistos não houve interesse em conhecê-la e ouvi-la sobre esses tempos, agora é tarde.). Ficou fascinada com Roma e com a Itália em geral: Assis, Sena, Florença, Veneza, etc.

Depois como aventureira que era viajou por França e pela Suíça de onde nos trazia uns chocolates magníficos – naquele tempo não havia nem por sombras a variedade de chocolates que agora se encontram em qualquer hipermercado, tanto quanto me lembro havia duas ou três das quais só uma era comestível.

Mais tarde, devido aos desmandos pós Conciliares, feitos em nome do Concílio Vaticano II mas cujo intuito real era o de destruir a Igreja, ignorar a Tradição e subverter as verdades de Fé insere-se, para além da Acção Católica, a que já pertencia, em grupos e movimentos de resistência e fidelidade a Santo Padre, à Igreja, a Fé verdadeira.

Impelida por um desejo missionário resolveu-se a ir a Moçambique onde passou largos meses ajudando as freiras nos seus trabalhos. Em outra altura foi também a Angola. Como o dinheiro lhe escasseava não o tinha para pagar essas viagens como um passageiro normal. Mas uma vez que era viúva de militar concediam-lhe que apanhasse boleia nos aviões militares a hélice. Apanhou alguns sustos com grandes poços de ar e tempestades, mas como sempre foi muito corajosa não se deixou atemorizar.

Mais tarde virá a ser crítica de programas da então Emissora Nacional. Embora ganhasse um magro ordenado servia-lhe de ocupação e entretenimento.

Depois que Deus chamou a si a sua mãe e minha Avó resolveu-se a ir morar no Sardoal. A casa era mais pequena, mais aconchegada, e em virtude da população ser menor sentia-se mais em família, tanto mais que ali tinha muitas raízes.

Para prover ao seu sustendo, começou a meter-se em negócios de venda e urbanização de terrenos que por aqueles sítios tinha herdado. Ao princípio a família temeu, uma vez que, exceptuando um dos meus irmãos, parecia que havia como que uma sina genética, de ambos os lados, para o desastre em matéria de negociações. Depois, a sua idade era tão avançada que esperava-se o pior. Para surpresa geral teve bom sucesso assegurando a autonomia, que sempre muito estimou.

As suas enfermidades que a acompanharam toda a vida foram-se agravando e as suas forças debilitando. Apesar disso teimou sempre em continuar a viver sozinha. Que não lhe falassem em ir viver com a família para Lisboa e em lares muito menos. No entanto, pelo Natal vinha de boa vontade e com muita alegria passar essa festa em casa do irmão ou da sobrinha Marta.

Como ela outrora correu levando-nos ao hospital, normalmente por cabeças partidas, nestes últimos anos de vida também nós a levámos inúmeras vezes ao hospital e consultas, pois sempre que cá vinha apanhava alguma pneumonia ou outra maleita.

No último ano de vida, para além da sua Anabela que a servia como fosse sua filha, com enorme dedicação, muito lhe valeu o seu primo António João e sua mulher Pilar, que foram incansáveis e de uma generosidade sem limites. Também vários sobrinhos e sobrinhos netos a acompanharam com muito amor nos últimos tempos.

Depois de uma queda no Sardoal a sua decadência física foi-se agravando velozmente. Ainda foi ao jantar dos 90 anos do seu irmão meu pai a 16 de Julho. Os últimos tempos, passou-os quase sempre no hospital de Abrantes, onde foi muito bem tratada.

Confessei-a, e o seu Pároco, o Padre Carlos, deu-lha a Santa Unção. Mais tarde rezei com ela, dei-lhe de novo a absolvição e a indulgência plenária. Nunca desistiu da vida apesar de tanta maleita mas aceitou com grande paz quando Nossa Senhora a veio buscar. Sempre soube e nos ensinou que a vida, esse esplêndido dom de Deus, vale a pena ser vivida, mesmo com sofrimento e tribulações, mas que ela é sinal e caminho para aquela Vida eterna, que Deus quer para todos, onde encontraremos a felicidade absoluta e reencontraremos os nossos que nos precederam. “À medida que o exterior se vai degradando o interior se vai renovando”, poderia ela repetir com S. Paulo.

Teve os seus pecados, defeitos e limitações. Mas arrependia-se, confessava-se e andava para a frente não desistindo nunca. Agora, como dizia numa carta que nos deixou para ser lida após a sua partida, está junto a Deus com a “trela russa” olhando por nós e se for preciso pedirá ao Senhor que a deixe usar para nos corrigir. É sem dúvida alguma a tia a que todos estamos mais ligados, a que mais estimamos e a que deixa mais saudades. Foi a melhor tia do mundo.

Nuno Serras Pereira

21. 09. 2010