sábado, 9 de janeiro de 2010

8 de Janeiro 2010 . Uma Página (triste) da História da Humanidade

Hoje dia 8 de Janeiro de 2010, foi um dia tão importante para a nossa História como todos os outros. Com a diferença de que ficou marcado pelas piores razões. E são justamente marcas deste tipo que diagnosticam como a Humanidade está doente. Já aconteceu noutras épocas, e não muito longe de nós. Se olharmos o sec. XX, onde qualquer pessoa que sabe ler, pode sublinhar acontecimentos tristes que marcaram essa época. Acontecimentos ditados por Homens com poder, “responsabilidade” e determinação: Hitler e Estaline. Ambos responsáveis pela morte de milhões e milhões de pessoas e sempre em nome de uma qualquer razão “moderna” para a época. Essas vidas perderam-se, mas a sua memória continua viva, não pelas mesmas razões dos seus assassinos. Em linguagem cristã poderíamos dizer que foram mártires inocentes e involuntários (acrescento eu). Estes factos chegam-nos porque alguém os registou, os deixou escritos e ilustrados para que nunca mais ninguém se esquecesse. Também agora cada um de nós devia pôr num papel o que sente neste preciso momento da sua história na História. Não precisamos ser escritores consagrados ou intelectualmente instruídos para conseguir escrever em poucas palavras como pessoalmente se envolveu, viveu e se deu, por um valor tão importante e fundamental como o “casamento”. Será que tem a consciência de que o Casamento existe por causa da família? Escrever o que podia ter feito e não fez. Escrever: o que é para si família, casamento? Quais os seus graus de parentesco, para trás, para os lados e para a frente na sua própria família? Olhar o para a frente pensar o que vai dizer aos seus descendentes? Escrever para si: O que é que está mal? Onde estou eu nesta “cena”?

Hoje dia 8 de Janeiro, estive nas Galerias da Assembleia da Republica, em silêncio, silêncio que era preenchido pelo barulho de uns tantos senhores deputados que parecem não conhecer, nem estar interessados no que se passa no seu País, salvo raríssimos excepções. Uns senhores que foram eleitos por um Povo que é quase obrigado a votar no escuro, onde lhe é negado todo e qualquer direito de escolher em consciência e liberdade, porque os programas políticos, não são feitos para ele, o Povo. Façamos um exercício e experimentemos todos ler os programas dos vários Partidos. Atenção de todos os Partidos. Vamos imaginar conversar sobre esses programas com os sem-abrigo, os cegos, os presos, os que trabalham desde a alvorada até à noite e ainda tem que fazer todo o trabalho de casa. Vamos pedir aos desempregados que leiam tudo, que se sentem numa cadeira como a dos senhores deputados e linha após linha se “cultivem” com esses programas e não se preocupem como vão dar de comer aos seus filhos ou aos seus pais. Peçam aos velhinhos que estão em casa cheios de frio e carentes de amor para lerem os ditos programas. Peçam a cada português para ler os programas e finalmente perguntem-lhes se perceberam, se compreenderam, se ficaram esclarecidos, sobre tudo e assim em consciência assinaram todo e qualquer desvario do Governo ou deputado eleito? Ou pensam os senhores Governantes que alguma destas pessoas votou, por causa do casamento entre pessoas do mesmo sexo?

Hoje dia 8 de Janeiro, tive uma sensação curiosa: De que não sou deste Mundo, mas estou neste Mundo. Senti uma imensa Paz por me saber de Cristo! De “fora” percebi que o problema é que eles rejeitam Aquele que lhes pode dar o verdadeiro sentido das suas vidas. Como se estivesse a olhar aquele “Circo” e apenas ver uma confusão tremenda onde não há uma “Equipa” definida. Todos chutam para a mesma baliza, mas ao mesmo tempo pregam rasteiras uns aos outros, magoam-se, insultam-se. Não se percebe quem ganha este Jogo onde não há regras, não há verdadeiramente objectivos de sociedade. Ali defende cada um, a sua posição. O 1º Ministro, decorou uma cassette, repete-a vezes sem conta, sempre falando dos coitadinhos dos gays e das lésbicas. O Sócrates da nossa era, ficará na Historia pelas mesmas razões que ficaram os dois homens "furiosos" atrás mencionados. Fala de modernidade e sente-se o “farol” do Modernismo. Mas não serve nem de treinador, nem de árbitro, nem sequer de presidente. Ali misturam-se “afectos” com amor ou com sentido de responsabilidade. Para eles sexo não tem consequências e casamento não quer dizer o que sempre quis, mas o que um punhado de individualistas quer que seja. Cá fora enquanto esperávamos para entrar na AR e quando estávamos nas Galerias, pares de lésbicas e gays impunham-se entre beijos insinuantes e gestos provocadores, ao ponto de escandalizarem uma senhora de 70 anos que até chorou com aquele espectáculo. E assim insistem em impor uma igualdade que é impossível. Porque é impossível tornar igual uma coisa que é diferente. Este nosso 1º Ministro e estes senhores deputados querem obrigar a AR a qualquer coisa como : o preto agora é branco, as paralelas a partir de hoje cruzam-se e a soma de 2+2 = 1. E que Liberdade é Libertinagem. Isto é de loucos!! Mas vamos escrever no nosso “bloco de apontamentos”: aceito isto ou levanto-me e recuso estas afirmações? Afinal quem é o meu Mestre? Para onde vou?

Hoje dia 8 de Janeiro de 2010, foi um dos picos de uma caminhada que um pequeno grupo de “loucos” começou há pouco mais de um mês, num almoço de trabalho e reflexão, de análise e de decisão , que realiza há anos todas as 3ªs feiras e que tendo criado um povo que já não é pequeno, se estende por todo o País e que em 21 dias conseguiu 92.000 assinaturas. Estas assinaturas vieram de gente esclarecida e de gente que se quer esclarecer. Estivemos ao frio, fomos muitas vezes mal entendidos. Fomos Humilhados pela comunicação social que embora sabendo da nossa determinação, da verdade com que o fizemos, nos silenciou, fingindo estar presente, ouvindo-nos, filmando-nos, fotografando-nos e no final não davam noticias verdadeiramente nossas. Gastamos dinheiro que nos faz falta, deixamos os estudos para ir pedir assinaturas, desdobramos-nos, largamos as famílias para ir para a rua. Enfim condições características de quem vai à luta!

Hoje dia 8 de Janeiro, foi mais um dia de Graça para os verdadeiros cristãos. Estes leigos que em nome de Cristo e dos irmãos , deram mais um dia das suas vidas. É isto que se chama dar a Vida. Nós não morremos, porque em Cristo não se morre, mas dá-se a vida como Ele nos ensinou. É por isso que embora tristes, porque se não estivéssemos éramos uns inconscientes, não estamos desanimados, estamos sim prontos para continuar o Bom Combate, e os nossos filhos e netos, hão-de se orgulhar porque algumas das mais belas páginas da História do sec. XXI foram escritas por nós.

Um enorme abraço comovido e cheio de Vida

Sofia Guedes

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Um punhado de Arrojados


São poucos. Alguns estudantes, outros avós, a maioria, porém, são pais e mães de famílias numerosas, e empregados; fazem voluntariado em diversas instituições caritativas e sociais. Desconchavados não se conformam com as avalanches de podridão que submergem esta nação. Rebeldes, guiados por um instinto espiritual, respingam com audácia imprevisível as investidas alucinadas do poder dominante. São incompreendidos e desprezados, tidos como fanáticos, caturras e fundamentalistas. A comunicação social censura-os, distorce as suas mensagens e acções; comentadores e políticos desprezam-nos, chacoteiam-nos, levantam falsos testemunhos. Membros da Hierarquia pródigos em lisonjas e elogios à alcateia são de uma contenção tumular para com eles, têm pânico serem vistos na sua companhia ou de que os associem a eles. Não obstante, eles permanecem de uma fidelidade perene e indestrutível aos Bispos que estão em comunhão com o Santo Padre.

Arremetem contra os inimigos do género humano fiados na Providência Divina. Vários endividam-se para pagar as despesas dos combates. Dormem pouco, suam muito, não param, senão para dormir algumas horas e rezar nalguma Igreja. Multiplicam-se, como outrora os pães e os peixes, em mil gestos e actividades. São injustamente prejudicados nas suas carreiras profissionais por causa das posições que tomam.

Sempre movidos pelo amor verdadeiro a cada pessoa concreta e pela aversão a tudo o que agride a humanidade do próprio homem.

Deus os confirme na fidelidade e perseverança até ao fim. E quando chegar aquele dia terrível e rigoroso do Juízo final enquanto muitos poderosos, altos dignitários, abastados, vedetas e opulentos forem arremessados para o “fogo eterno preparado para Satanás e os seus anjos” eles depararão com o rosto aprazível de Jesus Cristo glorioso que lhes dirá: “vinde benditos de Meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo”.


Nuno Serras Pereira

08. 01. 2010

A Alcateia


A alcateia de lobos, esse terrível conjunto de predadores, é dotada de um poder de coordenação e precisão implacáveis, como se fora um só organismo, na persecução do seu objectivo, a saber, dizimar as ovelhas. A matilha com o evoluir do tempo, não deixando de ser o que era, sofisticou-se dispersando-se por várias entidades mas mantendo a sua unidade e ordenamento. Assim encontramos vários desses espécimes nas Prelaturas, no Sacerdócio, nas mais variadas organizações e instâncias eclesiais, na comunicação social, inclusive a da Hierarquia, nos partidos políticos, nos vários poderes – legislativo, executivo e judicial, todos cobertos de peles de ovelhas. Eles farejam-se de longe uns aos outros e, reconhecendo-se como idênticos, aproximam-se, entreajudam-se, premeiam-se, lisonjeiam-se, promovem-se, conluiem, organizam-se e desferem os seus ataques desfechando, com as suas múltiplas garras e bocarras, os seus golpes mortais. Foi assim na contracepção, na “educação” sexual, no aborto, na reprodução artificial, no divórcio, no impiamente denominado “casamento” entre pessoas do mesmo sexo, será assim na eutanásia e na perseguição à Igreja e às pessoas de boa vontade. Só não vê isto quem não o quer. Que mais é preciso que aconteça para se perceber a evidência?

Nuno Serras Pereira

08. 01. 2010

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Não tratemos os Lobos como Ovelhas Perdidas

A doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo está cheia de verdades aparentemente antagónicas que, entretanto, examinadas com atenção, longe de reciprocamente se desmentirem, reciprocamente se completam formando uma harmonia verdadeiramente maravilhosa. É este o caso, por exemplo, da aparente contradição entre a justiça e a bondade divinas. Deus é ao mesmo tempo infinitamente justo e infinitamente misericordioso. Sempre que para compreendermos bem uma destas perfeições fecharmos os olhos a outra, teremos caído em grave erro. Nosso Senhor Jesus Cristo deu, em Sua vida terrena, admiráveis provas de Sua doçura e de Sua severidade. Não pretendamos “corrigir” a personalidade de Nosso Senhor segundo a pequenez de nossas vistas, e fechar os olhos à suavidade para melhor nos edificarmos com a justiça do Salvador; ou pelo contrário fazermos abstracção de Sua justiça para melhor compreendermos Sua infinita compaixão para com os pecadores. Nosso Senhor se mostrou perfeito e adorável tanto quando acolhia com perdão inefavelmente doce Maria Madalena, quanto quando castigava com linguagem violenta os fariseus. Não arranquemos do Santo Evangelho quaisquer destas páginas. Saibamos compreender e adorar as perfeições de Nosso Senhor como elas se revelam em um e outro episódio. E compreendamos enfim que a imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo por nós só será perfeita no dia em que soubermos, não apenas perdoar, consolar e afagar, mas ainda no dia em que soubermos flagelar, denunciar e fulminar como Nosso Senhor.

Há muitos católicos que consideram os episódios do Evangelho em que aparece o santo furor do Messias contra a ignomínia e a perfídia dos fariseus como coisas indignas de imitação. É ao menos o que se depreende do modo de que eles consideram o apostolado. Falam sempre em doçura, e procuram sempre imitar essa virtude de Nosso Senhor. Que Deus os abençoe por isto. Mas por que não procuram eles imitar as outras virtudes de Nosso Senhor?

Muito frequentemente, quando se propõe em matéria de apostolado um ato de energia qualquer, a resposta invariável é de que é preciso proceder com muita brandura “a fim de não afastar ainda mais os transviados”. Poder-se-á sustentar que os actos de energia têm sempre o invariável efeito de “afastar ainda mais os transviados”? Poder-se-ia sustentar que Nosso Senhor, quando dirigiu aos fariseus suas invectivas candentes, fê-lo com a intenção de “afastar ainda mais aqueles transviados”? Ou porventura se deveria supor que Nosso Senhor não sabia ou não se preocupava com o efeito “catastrófico” que suas palavras causariam aos fariseus? Quem ousaria admitir tal blasfémia contra a Sabedoria Encarnada, que foi Nosso Senhor?

Deus nos livre de preconizar o uso de energia e dos processos violentos como único remédio para as almas. Deus nos livre também, entretanto, de proscrever estes remédios heróicos de nossos processos de apostolado. Há circunstâncias em que se deve ser suave e circunstâncias em que se deve ser santamente violento. Ser suave quando as circunstâncias exigem violência, ou ser violento quando as circunstâncias exigem suavidade, há nisto sempre um grave mal.

* * *

Toda esta ordem de ideias unilateral que vimos denunciando, decorre de uma consideração também unilateral das Parábolas. Há muita gente que faz da parábola da ovelha perdida a única do Evangelho. Ora, há nisto um erro gravíssimo que não queremos deixar de denunciar.

Nosso Senhor não nos fala somente em ovelhas perdidas que o Pastor vai buscar pacientemente no fundo dos abismos, ensanguentadas pelos espinhos em que lamentavelmente se feriram. Nosso Senhor fala-nos também em lobos rapaces, que circundam constantemente o redil, à espreita de uma ocasião para nele se introduzirem disfarçados com peles de ovelhas. Ora, se é admirável o Pastor que sabe carregar aos ombros com ternura a ovelha perdida, que dizer-se do Pastor que abandona suas ovelhas fiéis para ir buscar ao longe um lobo disfarçado em ovelha, que toma o lobo aos ombros amorosamente, abre ele próprios as portas do redil, e com suas mãos pastorais coloca entre as ovelhas o lobo voraz?

Quanto católico, entretanto, se desse aplicação efectiva aos princípios de apostolado unilateral que professa, agiria exactamente assim!

* * *

Para que se compreenda melhor que a imitação perfeita de Nosso Senhor não consiste apenas na doçura e na suavidade, mas ainda na energia, citaremos alguns episódios ou algumas frases de certos Santos. O Santo é aquele que a Igreja declarou, com autoridade infalível, ser um imitador perfeito de Nosso Senhor. Como imitaram os Santos a Nosso Senhor? Vejamos.

Santo Inácio de Antioquia, mártir do século segundo, escreveu várias cartas a diversas Igrejas, antes de ser martirizado. Nestas cartas, ocorrem sobre os hereges expressões como estas: “bestas ferozes (Eph. 7); lobos rapaces (Phil. 2,2); cães danados que atacam traiçoeiramente (Eph. 7); bestas com rosto de homens (Smyrn. 4,1); ervas do diabo (Eph. 10,1); plantas parasitas que o Pai não plantou (Tral. 11); plantas destinadas ao fogo eterno (Eph. 16,2)”.

Este modo de tratar os hereges, como se vê, seguia de perto os exemplos de São João Batista que aos escribas e fariseus chamava de “raça de víboras”, e de Nosso Senhor Jesus Cristo que aos mesmos apelidava de “hipócritas” e “sepulcros caiados”.

Assim também procederam os Apóstolos. Refere Santo Ireneu, mártir do século segundo e discípulo de São Policarpo, o qual por sua vez fora discípulo de São João Evangelista, que certa vez indo o apóstolo aos banhos, retirou-se sem se lavar pois aí vira Corinto, herege que negava a divindade de Jesus Cristo, com receio, dizia, que o prédio viesse abaixo, pois nele se encontrava Corinto, inimigo da verdade. O mesmo São Policarpo, encontrando-se um dia com Marcião, herege docetista, e perguntando-lhe este se o conhecia, respondeu o santo: “Sem dúvida, és o primogénito de Satanás”.

Aliás, nisto se seguiam o conselho de São Paulo: “Ao herege, depois de uma e duas advertências, evita, pois que já é perverso e condena-se por si mesmo”(Tit. 3,10).

O mesmo São Policarpo se casualmente se encontrasse com herege, tapava os ouvidos e exclamava: “Deus de bondade, porque me conservaste na terra a fim de que eu suportasse tais coisas?” E fugia imediatamente para evitar semelhante companhia.

No século IV narra Santo Atanásio que Santo António eremita chamava aos discursos dos hereges venenos piores do que o das serpentes.

E, em geral, este é o modo como os Santos Padres tratavam os hereges, como se pode ver de um artigo publicado na “Civiltà Cattolica”, periódico fundado por S. S. Pio IX, e confiado aos padres jesuítas de Roma. Nesse artigo citam-se vários exemplos que transcreverei:

Santo Tomás de Aquino, que apresentado às vezes como invariavelmente pacífico para com seus inimigos, numa das suas primeiras polémicas com Guilherme de Santo Amor, que ainda não estava condenado pela Igreja, assim o trata e aos seus sequazes: “inimigos de Deus, ministros do diabo, membros do Anticristo, inimigos da salvação do género humano, difamadores, semeadores de blasfémias, réprobos, perversos, ignorantes, iguais ao Faraó, piores que Joviniano e Vigilâncio (hereges que negavam a Virgindade de Nossa Senhora) ”. São Boaventura a um seu contemporâneo Geraldo chamava: “protervo, caluniador, louco, envenenador, ignorante, embusteiro, malvado, insensato, pérfido”.

O melífluo São Bernardo, a respeito de Arnaldo de Brescia que levantou cisma contra o clero e os bens eclesiásticos disse: “desordenado, vagabundo, impostor, vaso de ignomínia, escorpião vomitado de Brescia, visto com horror em Roma, com abominação na Alemanha, desdenhado pelo Romano Pontífice, louvado pelo diabo, obrador de iniquidades, devorador do povo, boca cheia de maldição, semeador de discórdias, fabricador de cismas, lobo feroz”.

Mais antigamente, São Gregório Magno, repreendendo a João, Bispo de Constantinopla, lança-lhe em rosto seu profano e nefando orgulho, sua soberba de Lúcifer, suas palavras néscias, sua vaidade, a escassez de sua inteligência.

Nem de outra maneira falaram os Santos Fulgêncio, Próspero, Jerónimo, Sirício Papa, João Crisóstomo, Ambrósio, Gregório Nazianzeno, Basílio, Hilário, Atanásio, Alexandre, Bispo de Alexandria, os santos mártires Cornélio e Cipriano, Antenágoras, Ireneu, Policarpo, Inácio Mártir, Clemente, todos os Padres enfim da Igreja que se distinguiram por sua heróica virtude.

Se se quiser saber quais as normas que dão os Doutores e Teólogos da Igreja para as polémicas com os hereges leia-se o que traz São Francisco de Sales, o suave São Francisco de Sales, na Filotea, cap. XX da parte II: “Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado.

Até aqui citações do artigo da “Civiltà Cattolica”, vol, I, ser. V, pag. 27).

Se o “Legionário” publicasse contra os modernos inimigos da Igreja apenas a metade do que ficou dito, que protestos entretanto teria de ouvir!


Plinio Corrêa de Oliveira

1941

O PSD quer o “casamento” entre homossexuais



O partido social-democrata (psd) ao propor a “união civil registada” de pessoas homossexuais, sem possibilidade de adopção, decidiu deliberadamente enveredar por um caminho que só pode conduzir à legalização do “casamento” entre essas mesmas pessoas e à consequente adopção de crianças bem como ao recurso à reprodução artificial. Quem quer os meios que conduzem necessariamente a um fim quer forçosamente esse mesmo fim.

Este estilhaçado partido político em putrefacta decomposição acelerada escolheu manhosamente iludir os eleitores com esta manobra de prestidigitação. Finge rejeitar o impropriamente apelidado “casamento” homossexual para agradar ao povo que o repugna e simultaneamente, de um modo sonso, escancara as portas ao mesmo satisfazendo os eleitores contaminados pela ideologia “gay”.

Talvez ainda se venha a conseguir realizar o referendo sobre o satânico “casamento” entre sodomitas. Se assim for e houver um empenho geral e esforçado das pessoas de boa vontade conseguiremos certamente rebatê-lo. Se assim for verificaremos então que o perigo verdadeiro está na “união civil registada”. Uma vez que a generalidade das impugnações ao invertido “casamento” sodomita se centraram quase exclusivamente nas questões da adopção e da reprodução artificial, como consequência desses emparelhamentos, “ninguém” oferecerá qualquer resistência a esse tipo de legalização. Esta praticamente por si só, quase sem necessidade de auxílios ulteriores, irá operando a reengenharia social que desembocará inevitavelmente no “casamento”.

Esta estratégia, de sabor maçónico, foi aliás descrita com todas as letras pelo pseudo-católico Paulo Rangel numa entrevista ao jornal de propaganda “gay” i, antes das eleições europeias do ano passado.

Nuno Serras Pereira

05. 01. 2010

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O Venerável Ancião das Sabedorias Primordiais


Quando entrei para o Seminário da Luz, a um mês de fazer 25 anos, desafiava-me regularmente, após o jantar, a jogar xadrez com ele na sala da comunidade. Os olhos sempre a sorrir e grandes exclamações bem-dispostas acompanhavam habitualmente esse exercício de pensamento. Quando não ia a pé para a UCP e acompanhava os restantes na carrinha da casa via-o sempre a ler, durante o percurso, quase sempre, as obras de Santo Agostinho, soltando de quando em vez a palavra genial!

Foi meu professor, primeiro, de Ontologia, depois de Teologia Filosófica Tive dificuldades com a sua sebenta da primeira cadeira – era densa, árida, numa linguagem exigente, alheia ao linguajar normal. Mas era essencial. Li-a repetidamente e o que não entendia nas primeiras leituras vim a compreender nas sucessivas. Não deixei, no entanto, porque com ele estávamos sempre à vontade, de o remoquear dizendo-lhe que tinha sido a cadeira mais penitencial que alguma vez tinha tido. Não se atrapalhou e logo perguntou, retoricamente, se tinha gostado de cerveja da primeira vez que a provei para logo concluir: agora gostas, não é verdade? Percebendo onde queria chegar e reconhecendo que tinha razão respondi que sim. Porém não tive coragem de lhe confessar que a primeira vez que me deram a beber cerveja foi a caminho de um acampamento, no Algarve, organizado pelo Colégio S. João de Brito, tinha eu então 11 anos. Numa das paragens, os mais velhos apanharam o Padre desprevenido e mandaram vir uma caneca para mim. Estranhei o sabor mas não poderei assegurar que não gostei. Triste e desarranjado traste este que sempre fui…

Com a disciplina de Teologia Filosófica fiquei maravilhado e devorei a sua sebenta com grande gosto. Como é que a mesma pessoa pôde escrever dois textos tão diversos e distantes entre si no estilo só se explica pela versatilidade do seu autor.

Quando o ia consultar à sua cela ficava sempre fascinado. Olhando para a sua secretária não o via a ele mas somente a uma luz que dali irradiava e ouvia uma voz cordial que se sobreerguia num crescente de alegria. Os livros empilhados eram como uma espessa floresta misteriosa que o abrigava. Depois, as estantes que cobriam todas as paredes, alçando-se pelo alto pé direito até ao tecto, eram montanhas e cumes de erudição e sabedoria. O seu leito afundava-se cercado de grande tomos amontoados que lhe serviam de consolo nas longas noites escuras. Para chegar perto da sua mesa de trabalho tínhamos de caminhar com mil cuidados, como numa gincana, para não embater nas pilhas entremeadas no soalho apinhoado. Contígua à sua cela, uma outra de igual extensão, mas sem os estorvos da habitação, acumulava em sólidas estantes outra imensidade de volumes para sua consulta habitual. Pegando ao acaso em variadíssimos livros, verificava que estavam sublinhados, com notas, cheios de papelinhos cortados a assinalar uma multidão de páginas. Deus do Céu, perguntava a mim mesmo, como é possível ter tanta informação naquela cabeça.

Nas homilias e nas conferências, creio que por timidez, assumia um ar e uma voz demasiado formais, algo artificiais. Tudo o que dizia tinha o maior rigor, não se permitia fantasias nem “liberdades de pregador”. Mas era quando o apanhávamos desprevenido que a sua chispa, a sua verve vinham à superfície. Por isso, com frequência, depois das refeições, quando descontraidamente caminhávamos pela mata do convento, lhe colocava dúvidas ou contrapunha argumentos só para o ouvir discorrer sobre filosofia e teologia. Então era brilhante, sentindo-se à vontade e sem uma plateia à frente tinha tiradas geniais, frases lapidares, respostas surpreendentes, argumentações admiráveis, ensinamentos excelsos. Era uma aliança viva entre a Fé e a razão.

Muitas vezes insisti com ele que quando se retirasse do ensino deveria completar a sua vasta obra de artigos com algum livro que fosse a síntese do seu pensamento ou um guia para os textos que deixava. Mas via-o reticente e por isso comecei a insistir que publicasse então em livro os seus artigos dispersos pelas várias revistas e enciclopédias. Pedi inclusive a outros confrades que instassem com ele nesse sentido e, seguramente, que muitas outras pessoas lhe terão sugerido o mesmo. Foi, pois, com enorme alegria que quando voltei para este convento ele me ofereceu os dois volumes da sua obra, intitulada O Ser e os seres.

O seu olhar bondoso procurava atentar sempre no melhor como que “ignorando” tudo o mais. Estou persuadido de que se deparasse com uma ratazana em putrefacção só veria a brancura dos seus dentes! Era assim, mesmo para com filósofos que trouxeram grandes males à humanidade. Procurava o que de bom e verdadeiro neles havia, mesmo que fosse muito pouco, e salientava-o. Não é que fosse destituído de espírito crítico, pelo contrário, a sua grande sensibilidade e a sua inteligência arguta detectavam com grande lucidez e desgosto as insuficiências, limites e perversões das doutrinas malsãs, mas a sua cortesia e delicadeza não suportavam a crítica desassombrada. Apesar de as reconhecer como tais, era de uma grande compreensão, compaixão e misericórdia para com as misérias humanas respondendo cristãmente com enorme paciência e Esperança a todos os que a ele acorriam em busca de auxílio.

Connosco, seus confrades, era jovial e “alinhava” nas brincadeiras e graçolas dos mais novos intervindo com espírito e bom humor. Sempre senti da sua parte apoio e incentivo quer em relação à vida franciscana quer em relação às leituras e estudos particulares a que me dedicava.

Nestes últimos anos em que convivemos aqui neste convento da Luz comecei a chamar-lhe, com carinho e boa disposição, venerável ancião das sabedorias primordiais. Referia-me, é óbvio, não à antiguidade da sua pessoa, pois é evidente que nunca conheceu Adão, mas ao acesso àquele saber incontaminado que pré-existiu a queda original, àquela sabedoria onde se bebe a verdade na Sua fonte, que é o fundamento que sustenta toda a realidade. É claro que, em virtude da sua humildade, torceu o nariz a este cognome. Mas eu persisti com carinho continuando a referir-me a ele de esse modo.

Como a enfermidade ruim o abocanhasse participou dos trabalhos de Cristo, da Sua Paixão, até que S. Basílio Magno e S. Gregório Nazianzeno, por incumbência de Deus, vieram buscar a sua alma no dia em que a Igreja os celebra, a saber, a 2 do mês de Janeiro deste ano de 2010.

Seguramente, assim o creio, partiu com grande alegria interior na companhia destes Santos a quem ele muito venerava não só pela santidade mas também pelo saber.

Padre Manuel Barbosa da Costa Freitas, da Ordem dos Frades Menores, venerável ancião das sabedorias primordiais, aos 81 anos de idade, cumprida, com generosidade e humildade, a sua missão na Terra foi chamado pelo Seu Criador e Redentor, que o tinha feito para Si. Morreu um Homem.

Nuno Serras Pereira

04. 01. 2010