sábado, 23 de abril de 2011

"Ajuda devia ter sido pedida há mais tempo" - Entrevista a D. Manuel Clemente

"Não faltou quem avisasse para esta crise"

D. Manuel Clemente, bispo do Porto, diz que os portugueses têm de viver de forma mais modesta e acredita que ainda estão para chegar os sacrifícios

por Janete Frazão/João Pereira Coutinho

In Correio da Manhã

Correio da Manhã - Portugal vive actualmente uma das crises mais graves da sua democracia. Na sua opinião, qual deve ser o papel da Igreja neste contexto?

D. Manuel Clemente - Costuma dizer-se - e é também um mandato - que o papel da Igreja é alimentar a esperança, e não alimentá-la de uma maneira muito exterior às coisas, mas exactamente por dentro delas. Não encontramos melhor radicação da vida portuguesa do que esta rede de paróquias que temos espalhadas de norte a sul. Portanto, é uma proximidade muito grande, que é mais do que uma proximidade, é uma presença, uma inserção, e alimenta-se a esperança do dia-a-dia, porque as coisas, como aparecem, são sempre muito macro, muito standard, ao passo que, nesse acontecer das comunidades, coisas difíceis, coisas boas estão lá todos os dias.

- Mas tem defendido que tem de haver uma maior intervenção.

- A este nível, até por uma razão muito simples: se formos a qualquer comunidade cristã, encontramos lá praticamente todas as simpatias ideológicas e partidárias, umas mais do que outras. De maneira que é muito difícil concretizar isto, e sempre que se tem tentado encarreirar a pertença eclesial para um significado político específico não dá, e as desilusões são muito grandes.

- Há um sentimento de fracasso na sociedade portuguesa que pode, inclusive, levar a actos de violência?

- É a tal história da decadência. Que em Portugal tem tendência a agudizar-se porque todos nós transportamos na nossa memória colectiva - às vezes muito pouco explicitada, mas está cá - a lembrança de que já fomos muito grandes. E, portanto, custa mais ser pequeno para quem tem essa lembrança. E vivemos mal connosco. Nunca nos conseguimos realizar.

- Somos eternos insatisfeitos?

- Creio que sim. Isso é irremediável para a tal alma portuguesa.

- Voltando à crise: tem sido um crítico particularmente perspicaz da cultura pós-moderna, ou, como diz o Papa Bento XVI, da "ditadura do relativismo" no Ocidente. Qual foi o contributo desta cultura para os descontentamentos económicos e financeiros que vivemos?

- É muito grande porque dessolidariza. O que é típico da pós-modernidade, falando muito em geral, é que, sobretudo a Europa, deixou de acreditar nos grandes colectivos, nos grandes desígnios universais, já não tanto do ponto de vista religioso, mas do ponto de vista ideológico. Estamos a pagar facturas da Segunda Guerra mundial e do que aconteceu depois.

- O Estado, as empresas e as famílias foram-se endividando para lá de tudo aquilo que é sustentável. Acha que os agentes políticos, as elites, deviam ter tido um outro comportamento?

- Com certeza. E vamos lá ver, não faltou quem avisasse. Tenho alguns amigos na área da economia que, conversássemos o que conversássemos, pelo menos de há dez anos a esta parte, a conversa ia sempre parar a ‘nada disso é possível se não resolvermos o défice', constantemente.

- Então porquê esta aberta caminhada à voragem do crédito e para o abismo?

- Não sei, isso aí não sei responder, tão patente era a situação. Também para mim isso é um enigma e gostaria de ter a resposta completa. Julgo que era tão insistentemente dito e repetido por tanta gente, mas demorou tanto a ser referido por quem devia.

- Provavelmente, não sei se concordará, porque as pessoas estavam mais interessadas em ouvir--se a si próprias e ao seu umbigo do que propriamente...

- Isso em qualquer época, até por razões pessoais. Ninguém está disposto a descer assim abruptamente de um patamar que foi alcandorado. Criou um certo tipo de vida e um certo tipo de parecença, portanto, uma maneira de estar na sociedade, da qual não se desiste rapidamente.

- Os excessos de que fala levaram--nos, sem grande surpresa, a ter de recorrer à ajuda externa. Tendo em conta os exemplos da Irlanda e da Grécia, que consequências é que antevê a nível económico e social para Portugal num futuro próximo?

- Há algo em que, mesmo não sendo economista - mas estou minimamente atento àquilo que as pessoas dizem -, se repara: teremos todos de viver mais modestamente, e isso terá de ser mesmo global, porque se não for, e se não nos incentivarmos mutuamente nesse sentido com mais convicção, então as tais discrepâncias sociais podem agudizar-se. Julgo que toda a gente percebe que temos um caminho estreito, que os meios são muito menos e, por isso, não pode ser da mesma maneira, a poupança tem de crescer com aquilo que houver para poupar - já não sei bem onde - mas os gastos têm de ser muito menos.

- Os sacrifícios até agora pedidos não foram feitos com equidade?

- É muito difícil responder. Creio que ainda estamos no princípio no que diz respeito aos tais sacrifícios. Há muitas carências, mas essas já existiam há dois, três ou quatro anos. Agora, os sacrifícios novos, passe o termo, esses estão para vir.

- O pedido de ajuda externa já deveria ter sido feito há mais tempo?

- Atendendo àquilo que nos vão dizendo, chega-se a essa conclusão. Mas a este propósito queria abrir mais o horizonte. Hoje, fala-se em crise, mas dá-me ideia de que a crise define o País e a sociedade portuguesa. Tenho dificuldade em acreditar num tempo ou verificar uma época em que a crise não tenha estado aberta ou latente.

- Viremo-nos agora para alguns dos casos de pedofilia que envolveram membros da Igreja Católica. Deveria ter havido, por parte da hierarquia da Igreja, mais intransigência e transparência na punição destes casos?

- Toda a definição e toda a prevenção são poucas. São questões particularmente complicadas quando acontecem em instituições que a verdade que transportam é exactamente o contrário disso, ou seja, é o respeito pela pessoa humana. Por isso, se pergunta se deveria haver mais prevenção, está aí o facto, devia.

- De que forma?

- Estando mais atento, tanto quanto se pode estar, o que nem sempre é fácil definir, nem muito menos definir imediatamente.

- As últimas legislaturas trouxeram a liberalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. É uma herança demasiado pesada?

- Por outro lado, demasiado frágil. Não acho de maneira nenhuma que a questão do aborto esteja resolvida em Portugal, pelo contrário. Temos um preceito constitucional de promoção da vida. A vida é entendida em si mesma como um processo, desdobramento de potencialidades. Portanto, dizer três dias e tal não é legítimo, três meses e cinco dias já é, no outro dia toca o sino já é um dia a mais, não pode ser, é completamente arbitrário.

- Não é difícil imaginar que nas próximas legislaturas se vai discutir a adopção de crianças por casais do mesmo sexo. Como vê esta possibilidade?

- Creio que, como já aconteceu em relação ao casamento de pessoas do mesmo sexo, precisamos de ser claros no que estamos a dizer. É completamente arbitrário o facto de a humanidade se manifestar complementarmente entre masculino e feminino? Se isto é essencial, não é a mesma coisa um casamento entre pessoas de sexo diferente e, naturalmente - é uma palavra que hoje não está muito em moda -, segundo a natureza das coisas, como elas se manifestam, depois terão filhos, e não é a mesma coisa entre pessoas do mesmo sexo, não é. Não sendo a mesma coisa, vai-se usar a mesma palavra? Então as palavras já não querem dizer nada.

- É apenas um problema de terminologia?

- Não, depois é um problema jurídico. Porque se não é a mesma coisa não deve ter o mesmo tipo de ordenamento.

CAMPANHA TEM DE SER CLARA

CM - Estamos a aproximar-nos de novas eleições legislativas no País. Neste momento difícil, gostaria de fazer passar alguma mensagem aos candidatos e aos respectivos partidos?

D. Manuel Clemente - Gostaria de reforçar aquilo que até pessoalmente já lhes tenho dito nalguns encontros: temos de ser todos muito sérios, muito claros, muito convictos e muito solidários, até nesta primeira solidariedade que é escutarmo-nos mutuamente. Ninguém tem a razão toda, o problema é muito complexo, é muito importante, até com pedagogia social, que nos envolva, nos comprometa, que os vários candidatos sejam claros, se oiçam, que tudo corra com uma urbanidade que faça disto uma urbe, uma cidade de todos, isso é muito importante. Depois, com tudo aquilo que é a exactidão dos números e das previsões, e destes contornos internacionais que sobre nós impendem. Portanto, espero que seja tudo muito claro e que nós cresçamos com o exercício democrático.

- Será possível acreditar que vai existir essa urbanidade a que faz apelo?

- Olhe, eu acredito na medida em que faço por isso [risos]. Como sou cristão, sou da religião do verbo encarnado, portanto, é uma palavra, mas verificada na prática.

"CONFERÊNCIA EPISCOPAL DEVE ESTAR NO SUL"

CM - Entre 2 e 5 de Maio, vão decorrer as eleições para a Conferência Episcopal Portuguesa. Nas últimas eleições, foi o mais votado, mas recusou o cargo por não estar nem há um ano como bispo do Porto. Se voltar a ser nomeado, está disponível para o cargo?

- Primeiro, tenho de desmentir, isso propagou-se mas não é verdade, não fui o mais votado.

- Então onde se foi buscar essa ideia?

- Não sei. Li isso, mas não foi assim que a coisa aconteceu.

- De qualquer forma, qual é a sua disponibilidade?

- A nossa disponibilidade para os cargos que nos são dados é geral, com certeza, mas neste momento acho claramente que a Conferência Episcopal deve estar no Sul. Esteve dois mandatos no Norte e acho que agora ficava muito bem lá para o Sul, para a zona de Lisboa.

- Em 2009, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa. D. José Policarpo afirmou que no seu lugar não aceitaria o prémio. Não estranhou a declaração?

- Pelo que conheço de D. José Policarpo e, enfim, fomos muito próximos durante mais de 30 anos, tais afirmações que ele faz dão sempre muito que pensar e, portanto, alguma razão teria para as fazer, e eu respeito muito a sua opinião.

- Ele afirmou que desconfiaria da atribuição deste prémio. O que é que havia para desconfiar?

- Não sei dizer porque nunca lhe perguntei.

"NUNCA FOI DITO QUE ERA MELHOR INFECTAR ALGUÉM"

CM - Relativamente ao uso do preservativo, Bento XVI já veio colocar a hipótese de...

- Vamos lá ver, nunca na Igreja se disse que era melhor infectar alguém do que usar preservativo, não se põem as coisas nesse limite.

- Sim, mas nunca antes se admitiu taxativamente, como fez Bento XVI, o seu uso. Poderá esta nova posição provocar uma revolução naquilo que tem sido defendido pela Igreja Católica?

- A sexualidade não é qualquer coisa que aconteça fora de nós, somos nós na nossa relação com os outros, que no caso concreto daquilo que comummente se chama sexualidade tem essa dimensão também genital. Agora, é sempre uma pessoa que está em causa e é por isso que como outras tradições filosóficas e humanistas a Igreja lembra. Depois, há as questões prudenciais, e aí a consciência tem de estar instruída, educada e deitar mão daquilo que for mais justo. E é, nesse sentido, que o Papa se pronunciou. Entre infectar alguém ou usar um preservativo, a escolha é óbvia.

PERFIL

D. Manuel clemente tem 62 anos e é natural de Torres Vedras. Licenciado em História na Faculdade de Letras de Lisboa, ingressou no Seminário Maior dos Olivais em 1973.

Em 1979, licenciou-se em Teologia pela Universidade Católica e doutorou-se em Teologia Histórica em 1992. Desde 1975, lecciona História da Igreja na Universidade Católica. É bispo do Porto desde 2007. Recebeu o Prémio Pessoa 2009 e já foi distinguido com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Mons. Marcel Lefebvre e o Vaticano II

Mons. Lefebvre spiega agli Spiritani che per «profittare dell’opera reale del Concilio, del risultato dei suoi lavori che solo conta in definitiva, dobbiamo dedicarci allo studio dei testi con una reale devozione, cioè con un desiderio sincero di ricevere la luce che vi si trova per le nostre intelligenze e la grazia di santificazione per le nostre anime, insieme alle direttive necessarie alla nostra attività personale e pastorale» (ibid.). L’invito è a «profittare ampiamente delle grazie del Concilio e a sottometterci perfettamente alla Santa Volontà di Dio che si manifesta in tutti i documenti che ha emanato» (p. 383, corsivo mio). Questo, certamente, non è il mons. Lefebvre degli anni 1980. I problemi storiografici su quando e come il presule francese cambi il suo giudizio sui documenti del Concilio rimangono. Leggere tutto

Massimo Introvigne

In CESNUR

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Dr. T. George brilliantly comparing the Manhattan Declaration and the Barmen Declaration crafted by the confessing Church after Nazis had taken power

What caused the collapse of civilized society in Germany in the 1930s was the abandonment of ethics and the failure of the Church-except for a brave few-to stand for truth. Dr. Timothy George makes the case brilliantly in a half-hour talk comparing the Manhattan Declaration and the Barmen Declaration crafted by the confessing Church after the Nazis had taken power. You'll be struck by the incredible parallels between the documents, which simply underscore the urgency of the moment for Christians to rally behind the orthodox faith and defend the most foundational truths. I urge you to watch Dr. George's presentation from the VALS Conference in March at Colorado Christian University at at http://www.ccu.edu/vals/video/.


In today's morally troubled times, just as in the 1930s, the Church must rise up and stand for Truth and virtue. This is why the Manhattan Declaration was drafted and why now nearly 500,000 people have signed it. But supporting the Manhattan Declaration doesn't stop with just your signature.


We need you to:

1) Share the Manhattan Declaration with your friends and urge them to sign it;

2) Use the Manhattan Declaration to engage in public dialog in a winsome way;

3) Get your local church to teach on the Manhattan Declaration.


Please go to www.manhattandeclaration.org to download resource materials.


Thank you for your ongoing support of this movement!


Dr. Robert George

Dr. Timothy George

Chuck Colson

Christ's Spousal Gift on the Cross - By Christopher West

In Christopher West

As we enter Holy Week, I thought it fitting to reflect anew on the "spousal mystery" of Christ's body "given up for us" on the cross. St. Augustine wrote, "Like a bridegroom Christ went forth from his chamber.... He came to the marriage-bed of the cross, and there in mounting it, he consummated his marriage. And when he perceived the sighs of the creature, he lovingly gave himself up to the torment in place of his bride, and joined himself to [her] forever" (On the Good of Marriage). Saint Mechtilde, a German mystic of the 13th century, echoed the same idea when he wrote that Christ's "noble nuptial bed was the very hard wood of the Cross on which he leaped with more joy and ardor then a delighted bridegroom" (cited by Blaise Arminjon in The Cantata of Love).

Those familiar with my lectures know that I first heard this idea of the cross as a "marriage bed" from the late Bishop Fulton Sheen in a recorded talk I listened to some years ago. Sheen's booming voice still echoes in my mind: "Do you know what is happening at the foot of the cross?" he asked. "Nuptials, I tell you! Nuptials!" Like Augustine, he then described the cross as Christ's "marriage bed" which he mounted not in pleasure, but in pain in order to unite himself forever to his Bride.

The good bishop went on to explain that whenever Jesus calls Mary "woman" (such as at the Wedding in Cana and at the cross), he is speaking as the new Adam to the new Eve, the Bridegroom to the Bride. Here, of course, the relationships are outside the realm of blood. The fact that Christ's mother is "the woman" symbolizing his "Bride" needn't trouble us. The marriage of the new Adam and new Eve consummated at the cross is mystical and virginal. The Catechism, itself, refers to this "woman" (Mary) as "the Bride of the Lamb" (CCC 1138).

Contemplating this spousal symbolism opens up treasures for us. Just as the first Adam was put into a deep sleep and Eve came from his side, so the new Adam accepts the slumber of death and the new Eve is born of his side (see CCC 766). This is often portrayed artistically by an image of "the woman" (Mary) holding a chalice - or sometimes a large jug reminiscent of Cana - at the foot of the cross receiving the flow of blood and water from Christ's side. The blood and water, of course, symbolize the "nuptial bath" of Baptism and the "wedding feast" of the Eucharist.

But there's still more to this! The mystical union of the new Adam and the new Eve has already borne supernatural fruit. "'Woman, behold, your son!' Then he said to the disciple, 'Behold, your mother!'" (Jn 19:26-27). One might also render Christ's words as follows, "Woman, behold your giving birth to a new son." Mary's sorrows at the foot of the cross are her labor pains in giving birth to all the children of the Church. Here the beloved disciple (John) represents the offspring "born anew not of perishable seed, but of imperishable" (1 Pt 1:23), "not of blood, ...but of God" (Jn 1:13).

St. Paul wasn't kidding when he described the union of spouses as "a great mystery" that refers to Christ and the Church (see Eph 5:31-32). Jesus, open our hearts ever anew to this "great mystery" revealed through your body given up for us on the "marriage bed" of the cross. Mary, teach us how to receive the gift of the Bridegroom asyou did, with total openness and surrender.Amen.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Libertad religiosa - Juan Manuel de Prada

Juan Manuel de Prada

In Religión en Libertad

Para condenar los actos de hostilidad contra la fe católica suele aducirse ingenuamente que constituyen «atentados contra la libertad religiosa»; cuando en realidad son la consecuencia natural de la «libertad religiosa», tal como se configura en las declaraciones de derechos humanos. La propia Iglesia adoptó el lenguaje propio de tales declaraciones cuando consagró que la libertad religiosa es «inherente a la dignidad de la persona»; expresión barullera que nace de la confusión entre libre albedrío y libertad de acción. La «dignidad inherente a la persona» radica en su libre albedrío; pero en modo alguno en su libertad de acción, salvo que tal libertad la conduzca a adherirse a la verdad y al bien. La «libertad religiosa» es libertad de acción que puede conducir a la persona a adherirse a cualquier secta destructiva o idolillo grotesco; esto es, empujarla a la indignidad más sórdida e infrahumana. Como afirmaba León XIII en su encíclica Inmortale Dei: «La libertad, como facultad que perfecciona al hombre, debe aplicarse exclusivamente a la verdad y al bien. Ahora bien: la esencia de la verdad y del bien no puede cambiar a capricho del hombre, sino que es siempre la misma y no es menos inmutable que la misma naturaleza de las cosas. Si la inteligencia se adhiere a opiniones falsas, si la voluntad elige el mal y se abraza a él, ni la inteligencia ni la voluntad alcanzan su perfección; por el contrario, abdican de su dignidad natural y quedan corrompidas. Por consiguiente, no es lícito publicar y exponer a la vista de los hombres lo que es contrario a la virtud y a la verdad, y es mucho menos lícito favorecer y amparar esas publicaciones y exposiciones con la tutela de las leyes».

La «libertad religiosa» consagra exactamente lo contrario: esto es, concede la tutela de las leyes a todo tipo de creencias, sean buenas, malas o mediopensionistas, de tal modo que todas valgan lo mismo; o sea, nada. Y allá donde todas las religiones toleradas valen nada, es natural que el orden temporal quiera erigirse a sí mismo en religión única, usurpando los atributos divinos y exigiendo adoración. Esto es lo que se oculta bajo la afirmación de «libertad religiosa» contenida en las declaraciones de derechos humanos: puesto que todas las religiones valen un ardite, la única religión valiosa es la que se postula en tales declaraciones; y toda religión que ose contrariar su designio se convertirá ipso factoen una religión contraria a la «dignidad humana». Esto es lo que está sucediendo hoy con la religión católica.

Las declaraciones de derechos humanos nacieron emboscadas detrás de una vaga ética cristiana que las hacía aparentemente compatibles con la doctrina de la Iglesia. Pero aquella «compatibilidad» era una añagaza; desde que tales declaraciones fueran formuladas hasta hoy, los derechos humanos han sido mil veces redefinidos y reinterpretados, como inevitablemente ocurre cuando se afirma que la verdad y el bien pueden cambiar a capricho. Frente a esta visión de los derechos humanos como inatacable religión de conveniencia en constante metamorfosis se alza la vieja religión católica, o sus escombros; y la «libertad religiosa» se revuelve contra ella, por considerarla —¡con razón!— un obstáculo en su hegemonía. Los actos de denigración y hostilidad contra la fe católica no harán sino crecer en el futuro, en volandas de la «libertad religiosa», como ocurre siempre que la inteligencia se adhiere a opiniones falsas, como ocurre siempre que la voluntad elige el mal y se abraza a él.

www.juanmanueldeprada.com

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sexual Revolution: Defend It, If You Can


by Anthony Esolen

In Public Discourse - April 18, 2011

Let the sexual revolution be justified on the grounds of the common good.

Why should two men who are sexually attracted to one another not be allowed to pretend that they are married? That we are even asking such a question is the result of our having accepted the premise of the sexual revolution, which is, essentially, that what people do with their bodies is their own business, so long as no one is harmed. By “no one” we mean the people involved in the sexual act, and sometimes, though much less reliably and without a great deal of concern, an unwitting spouse who happens, at the moment, not to be in the bed but, perhaps, shopping for dinner, or laying pipes at a construction site. By “harm” we mean obvious physical or psychological violence. So we frown upon rape and, after two generations of knowing smiles and winks, pedophilia. Everything else goes.

Now the odd thing about this premise is that, despite its being so widely taken for granted, it is astonishingly weak. The person who proclaims it severs himself, in effect, from all considerations of the cardinal virtues of prudence, justice, fortitude, and temperance. For he says, “With regard to sexual behavior, so long as no one is being coerced into the act, and, perhaps, so long as no spouse is being betrayed, the claims of virtue do not apply.” The justification of the sexual act is located in the desire itself, and the desire is taken as a brute fact, a given. But this is a premise we would reject out of hand in any other sphere of human action. We know, indeed, that the very reason why we inculcate the virtues in ourselves and in our children is so that we will do the right thing despite what we happen to desire, and, more, that we will learn to desire what is right, because it is right, just as we should wish to know the truth because it is true. We would not say, even to a man of independent wealth, “Your desire to spend twelve hours a day playing video games should be respected, because it is your desire.” We would instead say, “You should not be doing that; it is a truncation of your humanity; it is the wrong thing to do, and you should learn to desire something else.” We would not say to a person who spent a thousand dollars a month on shoes, “If this is what you want, I must respect it.” We would instead say, “You are squandering your money, which could be put to far better use. This also is a truncation of your humanity. Of course I know that you want to do this; that’s the very problem. You should learn to want something better.”

Now the playing of pointless games and the buying of rooms full of shoes are trivial matters in comparison with our sexual behavior. About trivialities, the law should have little to say. But our sexual behavior is far from trivial. In fact, the same people who, in one way, claim for it such triviality that it must fall beneath the notice of the law, in another way, exalt it as the lodestone of human life, such that any curtailment of sexual autonomy must strike to the very heart of our beings. We cannot have it both ways at once. Indeed, I can conceive of no other thing more deeply determinative of what a society will be like, or even whether it will be a genuine society at all, than our folkways regarding men and women, their courtship, their marriage, their duties to one another, and their raising of children. Sex—both the distinction between man and woman, and the act that unites man and woman in the embrace that is essentially oriented towards the future—is a foundational consideration for every people. When we ask, “Will a man be allowed to have more than one wife?” or “Will husbands and wives be allowed to divorce at will?” or “Will unmarried people be encouraged to behave as if they were married?”, we are asking, whether we understand it fully or not, “What kind of culture, if any, do we want to share?”

And that sharing of a culture brings me to the crucial point. It is a plain fact that what two people do in a bedroom is not confined to the bedroom. The most obvious evidence for this fact can be seen around us everywhere, walking on two legs. They are the creatures known as children. After a great deal of scientific investigation, conducted by people of unimpeachable honesty, diligence, and intelligence, it can now be declared that sexual intercourse between a healthy man and woman has the natural and predictable consequence, built into the structure of the act itself, of producing children—it is the obvious biological meaning of the act. Perhaps, in less enlightened ages, people believed that it was a prelude to rain or to strife among nations, but now we really do know that when John and Mary get together, Baby is a-waiting to make three.

Now, it is also a plain fact that children deserve to be brought up by both a mother and a father. This ought to be no more controversial than asserting that they deserve to be fed well and dressed warmly and loved. The boy needs a father to teach him to be a man; the girl needs a father to protect her and to affirm her worthiness to be loved by a man; and, as for a child’s need for a mother, it is so obvious that only madmen and modern educators would dare to deny it. If we would deny that children should be brought up in stable families, with mother and father, we need only look to our bursting prisons, and ask how many of the men incarcerated actually grew up in unbroken homes. In other words, when we are talking about sex, we must talk about the common good. How we treat our bodies when they grow ill—that is surely a matter of the common good, the good that is so by virtue of its being shared, enjoyed by all not as individuals alone but also as a people together, a genuine society. We are a fundamentally different people—not as individuals alone but as a people—if we cast our ill to die in the ditches, than if we care for them with the dignity they deserve, not because they may live to profit us or themselves, but merely because they are human and therefore holy. So, too, how we treat our bodily desires—that is also a matter of the common good.

And that is where the revolutionaries fail. They began, in the hoary old days of Herbert Marcuse, by justifying the new “virtues” of freedom of sexual expression, on the grounds that we would be a looser, friendlier, sweeter, less violent, and more beautiful society. Well, that certainly didn’t happen. Aquarius had a cracked pot. Look at Baltimore, look at Detroit, look at the fatherless families, look at the plague of divorce, look at the snarling contempt of one sex for the other, look at the prisons, look at the sewage of mass entertainment, look at the “knowing” and jaded children, look at the venereal diseases, look at the sheer boredom evinced by the women’s magazines boasting the next hottest sex tip or five new and improved ways to get what you want out of your bedmate. The sexual revolutionaries have for too long simply begged the question. They say, “We should be allowed to do this, because every sexual desire short of rape and (sometimes) adultery should be tolerated—no, encouraged, even honored in law.” But that is to justify the sexual revolution by saying that the sexual revolution is justified. Let them do more. Let them argue that the sexual revolution—in its entirety—has conduced to the common good. Let them argue that a society, if it can be called one, wherein a ten-year-old boy knows all about sodomy is a better place than one in which he hasn’t the faintest notion of it, but is too busy collecting baseball cards. Let them argue that a society in which a ten-year-old girl must wait once a month to see her father, if his new bedmate doesn’t get in the way, is a better place than one in which it never occurs to her that her mother and father may ever part company.

In other words, let the sexual revolution be justified on grounds of the common good. I believe it fails that test miserably, with evidence that is weighty, obvious, manifold, logically and anthropologically deducible, and clearly predictable by wisdom both pagan and Christian. Let them make their case, rather than asserting a principle that, in reality, would destroy the very idea of the common good. For if we cannot appeal to the common good in a matter so fundamental, I do not see how we can appeal to it in any other.

Santos sem corpo e políticos sem cabeça


P. Gonçalo Portocarrero de Almada

In Público - 16. 04. 2001

Ao contrário do que é comum dizer-se, Luís XVI, ao ser guilhotinado, não perdeu a cabeça. Aliás, a única coisa que não perdeu foi, precisamente, a cabeça. Com efeito, em virtude da sua degolação, perdeu certamente o trono, a coroa e o corpo, mas não a cabeça, porque é de supor que um homem é, sobretudo, a sua cabeça.

Reza a história que, já depois de separada a régia cabeça do seu tronco, ainda se ouviu um real ai, mas talvez não deva ser levada a sério essa suposição. Como também não pode ser verdadeira a piedosa lenda daquele mártir que, já degolado, tomou a cabeça nas mãos e beijou-a, acontecimento que, de não ser metafisicamente impossível, ganharia a palma a todos os milagres havidos e por haver.

Que o homem é, ou deve ser, principalmente, a sua cabeça, tem sido motivo de não poucos equívocos, quase sempre provocados por essa infeliz mania de se cortarem as cabeças aos homens que, como os mártires, fazem questão de delas se servirem mais do que consentem as modas e os tiranos.

Que o diga São João Baptista, a quem a fúria de Herodes, atiçada pela filha da amante, decapitou, nos excessos de uma orgia em que a abundância de vinho toldou o que ainda lhe restava de razão e consciência.

Que o diga ainda São Thomas More, a quem o também adúltero Henrique VIII impediu de pensar pela sua cabeça, teimosamente obstinada em não aprovar os desatinos reais. Por isso, a mesma lhe foi, por especial privilégio, arrancada. Com efeito, a lei exigia que o ex-chanceler fosse esquartejado, mas o rei concedeu-lhe a graça de ser apenas decapitado. Thomas More muito agradeceu tal favor, sugerindo contudo a sua graciosa majestade que privasse dessa mercê os seus restantes amigos, para que não viesse a ficar sem nenhum.

Tirar cabeças era tão comum ao dito rei que várias das suas desquitadas mulheres sofreram essa desagradável experiência. Por esta razão, uma princesa alemã, por ele pretendida, se escusou dizendo que, tendo uma só cabeça, não podia arriscar tão perigosas núpcias. Tivera duas cabeças – acrescentou – e uma seria, sem dúvida, do augusto pretendente à sua mão e, quiçá, à sua cabeça.

Quando a cabeça é separada do respectivo tronco, nem sempre é fácil saber onde subsiste o sujeito em questão. Por exemplo, quando João Paulo II nomeou São Thomas More padroeiro dos políticos, quis conceder-lhes como protector a cabeça que, num acto de heróica fidelidade à fé e aos próprios princípios morais, antes preferiu renunciar à sua vida, do que comprometer a consciência. Só que a grande maioria dos políticos aceitou por modelo, não a cabeça sem corpo, como era de supor, mas o corpo sem cabeça.

Quando um político estorva, é quase sempre por causa da sua consciência, ou seja, por razão da sua cabeça. Um Luís XVI guilhotinado, um São João Baptista degolado ou um São Thomas More decapitado não incomodam ninguém. Por isso, alguns políticos, para evitarem dores de cabeça, não quiseram a do mártir, preferindo para seu padroeiro o corpo, sem cabeça, do ex-chanceler. Muitos aliás, diga-se de passagem, têm sido extraordinariamente devotos do decapitado corpo do seu santo intercessor.

Em Fátima, Bento XVI recordou a necessidade de governantes que sejam «verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo», deplorando os que, embora aparentemente católicos, «dão as mãos ao secularismo, construtor de barreiras à inspiração cristã». Abundam os políticos, mas quase todos são incrédulos assumidos ou «crentes envergonhados». Falta quem seja um autêntico seguidor de Cristo e defenda, «com coragem, um pensamento católico vigoroso e fiel».

Sobram corpos decapitados pelo pragmatismo das conveniências, mas faltam políticos com alma. E com cabeça, claro!