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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Os Olhares de Jesus

Rui Corrêa d' Oliveira


Olhar sobre Judas

Na madrugada daquela sexta-feira, Judas conduziu até ao Gethsemani

os que procuravam Jesus para O prender.

Ao vê-lo chegar, Jesus olhou Judas e disse-lhe:

«Amigo, a que vieste?» (Mat 26, 50)

Olhaste Judas e descobriste nele o traidor.

Olhaste Judas e puseste a nu o seu pecado.

Olhaste Judas e viste nele o Amigo a quem amavas

e continuaste a amar… até à Cruz!

Olha-me Senhor com este teu olhar

que descobre em mim a verdade de que é feita a minha vida.

Olha-me Senhor com este olhar

e não Te detenhas no meu pecado.

Quero ouvir da tua boca a mesma certeza

de que a Tua amizade por mim permanece!


Olhar sobre Herodes

«Ao ver Jesus, Herodes ficou muito satisfeito. Havia bastante tempo que O queria ver, pelo que ouvia dizer d’Ele… Fez-Lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu».

Finalmente Jesus e Herodes, frente a frente, olhos nos olhos….

Não houve diálogo.

De Jesus não obteve uma só palavra,

apenas um insuportável olhar em silêncio.

O poder e a força esmagados sob o olhar de um homem só e indefeso.

Toda a arrogância e toda a retórica humilhante de Herodes

embateram impotentes no olhar penetrante de Jesus.

O que mais me comove é que nesse Teu olhar silencioso,

não havia ódio nem rancor:

Tu amavas, Senhor, com esse amor que vence a maior ingratidão.


Olhar sobre Pedro

«Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes.» E, vindo para fora, chorou amargamente.»

Na hora da verdade,

o mesmo Pedro que Te prometera fidelidade até à morte,

nega-Te por três vezes.

O medo foi mais forte que a amizade.

O medo foi mais forte que a verdade.

Quanto Te terá doído a negação de Pedro…

Num último gesto de compaixão, fixaste o Teu olhar em Pedro

e tanto bastou para provocar o seu arrependimento.

Olhaste Pedro,

apesar de Ele Te renegar.

Olhaste Pedro,

apesar da dor do desamor.

Olha-me Senhor com este Teu olhar que não condena, mas redime;

que não rejeita,

mas permite que eu não fique prisioneiro do meu limite,

reconhecendo, arrependido, o meu pecado

e acolhendo, humilde, o Teu perdão.


Olhar sobre os que O crucificavam

«Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem»

Os soldados executavam friamente a tarefa tantas vezes repetida

de crucificar os condenados.

Porém, os verdadeiros responsáveis por aquele crime,

assistiam e troçavam.

Qualquer critério de justiça revoltar-se-ia diante de tamanha injustiça,

punindo os culpados do perjúrio e os obreiros da infâmia.

Não foi para tornar a justiça mais justa

que aceitaste a morte na Cruz, Senhor!

Mas para introduzir um critério novo, infinitamente mais potente:

o perdão e a misericórdia!


Olhar sobre Maria

Junto à Cruz estava Maria sua Mãe e o Apóstolo João.

No extremo limite das suas forças, olhou para ela e disse-lhe:

«Mulher, eis o teu filho».

Se as forças do Seu corpo se extinguiam,

a potência do seu Coração permanecia intacta.

Aquela a quem Ele estava unido desde sempre, de modo único e singular,

não poderia ficar entregue à solidão.

Em João encontraria, mais do que o amparo e a companhia,

o amor de um filho adoptivo.

Nesta sua nova maternidade,

Maria acolheu todas as gerações dos que levam no seu coração

a memória da Cruz Redentora.


Olhar sobre João

Do cimo da Cruz, Jesus olhou para João, «o discípulo que Ele amava»,

e disse-lhe: «Eis a tua mãe!» (Jo 19, 27)

Antes de derrotar a morte,

Jesus destrói a orfandade a que João estaria destinado.

Despojado de tudo o que era seu,

Jesus dá o último dos seus bens: a sua própria Mãe!

O único bem que ninguém lhe podia tirar.

«E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.»

E desde aquela hora também eu recebi Maria como Mãe.

Jesus olhou por mim, como um Pai olha pelos seus filhos,

deixando-me o melhor da sua herança:

a ternura maternal de Maria, sua Mãe.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O tempo favorável

Rui Corrêa de Oliveira
10. 03. 2009

Este tempo de Quaresma é bem o «tempo favorável»
para regressar às fontes, ao primeiro início,
ao instante onde tudo começou.

Não tanto ao dia em que nasci,
mas ao dia em que renasci, nascendo para Cristo,
o dia do meu Baptismo.

Essa graça primeira e definitiva que me tornou filho de Deus Pai,
irmão de Cristo e morada do Espírito Santo
e que colocou no meu coração esse desejo de Deus
de querer fazê-lo meu, sendo todo d' Ele.

Esta graça não anula a minha liberdade, antes a reclama e a provoca,
como uma pergunta a ser respondida em cada dia:
«que fiz eu do meu Baptismo»?

Às vezes parece que o que sobra desse dia
é pouco mais do que uma velha fotografia.

Mas em boa verdade, o que aconteceu
foi o maior milagre de toda a minha história: Deus estava em mim!
vindo para ficar, para me possuir
na totalidade daquilo que era e sou,
desde esse dia e para sempre.

É na morte e ressurreição de Cristo que posso reencontrar
os critérios para aferir os meus gestos e a minha adesão,
as minhas recusas e hesitações:
uma vida entregue, uma vida abraçada, um perdão completo.

É assim que quero viver esta Quaresma, diante de Cristo na Cruz,
car a Cara, olhos nos Olhos, sem fugas nem disfarces,
para que a Páscoa me encontre de novo decidido
a cumprir a vocação de santidade que o Baptismo semeou no meu coração.

terça-feira, 3 de março de 2009

«A vida existe para ser dada»

Rui Corrêa d' Oliveira

3 de Março de 2009

O passar dos anos e a experiência que eles me deram

provocaram em mim uma atenção nova à minha própria vida,

que reconheço como uma graça que não deixarei nunca de agradecer.


Quase me parece pecado a distracção com que antes vivia,

mas creio que era preciso que o tempo passasse

e que acontecessem os factos que fizeram a minha história,

para que esta nova consciência nas cesse no mais fundo de mim mesmo.


Tenho pena que o ritmo trepidante do meu dia-a-dia

não me deixe mais tempo para esta reflexão interior

que me torna tão grato pelo dom da vida

e tão mais sério cada pensamento e gesto meu.

Isto não impede que continue a cometer os mesmos erros e as mesmas faltas,

mas, ainda assim, mais consciente de cada um deles.

O caminho de santidade a que sou chamado,

que é a minha vocação de baptizado, é longo e cheio de tropeços…

mas é caminho andado e caminho para um destino de Verdade e de Bem.

Queria muito que esta Quaresma fosse esse tempo favorável.

Tempo que, sendo roubado à rotina dos dias iguais,

se torna no dom inestimável de me pôr diante de Deus tal como sou.

Sem disfarce, nem escândalo: eu, diante da Verdade que Ele é.

Queria muito que nesta Quaresma me reencontrasse

com a oração que não rezo, com a Adoração que não faço,

com a generosidade que evito, com a partilha que recuso.

Não se trata de uma questão de piedade, mas de uma questão de humanidade,

porque se «a vida existe para ser dada»

é preciso estar consciente do seu significado,

para se saber porque se dá.

A receita parece ser simples: fixar os olhos na Cruz

e perceber a partir dela, o que pode valer uma vida assim.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

«Fazei tudo para maior glória de Deus»


«Fazei tudo para maior glória de Deus»

1Cor 10, 31

Rui Corrêa d'Oliveira

«Fazei tudo para maior glória de Deus»

é uma das afirmações que mais me interpelam no ensino de S. Paulo.

«A Glória de Deus é o homem vivo»,

obra das suas mãos, criatura sua.

Comove-me saber que sou eu este homem

por Ele desde sempre desejado para que em mim se realizasse

este desígnio do seu Amor.

Comove-me a paciente ternura com que espera pelo meu sim,

pela minha adesão à Sua proposta de vida

que é a única que responde e corresponde

aos anseios verdadeiros do meu coração.

Ele conhece-me como eu não me conheço

e sabe, como eu não sei, o que é bom e me convém

para que se cumpra o destino que guardou para mim.

Pôs-me no mundo para que nele me realize,

percorrendo um caminho concreto, numa concreta circunstância.

Deu-me inteligência para discernir o bem, a verdade e a justiça.

Deu-me o Seu Filho que Se revelou a Si próprio

como caminho para a Verdade e para a Vida.

Deu-me a Igreja por morada e companhia.

Deu-me a Graça da Sua Presença tão próxima e tão real

que a poderei reconhecer e experimentar

nos factos e nas pessoas que fazem a minha história.

Se em vez de pôr objecções e reservas,

aceitar cada passo e cada instante como dom e Graça,

a Sua Glória brilhará na pequenez limitada do que sou.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Lembra-Te de que a minha vida é um sopro

Rui Corrêa d' Oliveira
10 de Fevereiro de 2009

«Lembra-Te de que a minha vida é um sopro,
e os meus olhos não voltarão a ver a felicidade».
Este grito de lamento que Job dirige a Deus
parece descrever com realismo a atitude de um homem desesperado.

Não houve desgraça que não lhe acontecesse,
enchendo a sua vida de dor e sofrimento.

Ainda que boa parte do seu livro
seja a narração das inúmeras fatalidades de que foi feita a sua história,
dela retiro duas grandes lições:
- a sua corajosa aceitação do real
- e a esperança nunca perdida por mais longa que se trnasse a espera

Cada novo drama que se apresenta, cada provação,
é para Job uma nova circunstância,
que ele enfrenta e vive sem lhes fugir.

Pelo contrário, faz o que o homem crente pode fazer:
pedir socorro, suplicar o auxílio do Deus omnipotente.

A postura de Job perante a vida
é um extraordinário testemunho de Esperança,
pois mesmo no auge do desânimo
é para o seu Deus que ele volta o coração e clama: «lembra-Te de mim!»

Quem espera não despera,
se espera com a certeza alimentada na Esperança.
Não fica imune ao cansaço e ao desânimo,
mas vive da certeza de que a dor, o sofrimento ou a injustiça
não têm a última palavra.
Também eu tenho os meus dias de Job,
também eu tenho as minhas esperas que parecem não ter fim,
mas peço ao mesmo Deus de Job, que é o meu,
que me ensine a viver a realidade como ele viveu
e a esperar como ele esperou,
até ao dia em que a Esperança se há-de cumprir.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sei quem Tu és: o Santo de Deus.

Rui Corrêa d' Oliveira
03. 02. 2009

«Sei quem Tu és: o Santo de Deus.»
Esta afirmação firme e clara não saiu da boca de um santo,
mas, diz-nos o Evangelho, que foi dita pelo maligno.
 
A certeza de que Jesus é o Filho de Deus,
o nosso Senhor e o nosso Salvador,
é uma evidência que até o Seu maior inimigo conhece e afirma.
 
Deus fez Suas todas as criaturas
A quem concedeu inteligência, vontade e liberdade,
para que para Ele caminhassem por sua livre escolha.
 
A mim, foi-me dada a graça singular do Baptismo,
pela qual fui enxertado em Cristo,
tornando-me Sua pertença e recebendo a Deus por Pai
que lançou no meu coração a sede insaciável do seu Amor.
 
Mas não posso nunca esquecer
de que apesar de toda a graça recebida,
Deus respeita a minha liberdade até ao extremo limite
de O poder vir a recusar.
 
Esta consciência, só não é uma vertigem
que me bloqueia e me pode levar à desesperança
se for vivida na confiança
de que a sua misericórdia é maior que o poder do maior mal.
 
É este caminhar assim desperto, atento e consciente,
para a grandeza daquilo que Deus quer que eu seja
que me faz perguntar com o mesmo espanto do salmista:
«que é o homem para te lembrares dele,
o filho do homem para com ele te preocupares?»

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A caminho de Damasco, avançava decidido um judeu


Rui Corrêa d' Oliveira
27. 01. 2009
A caminho de Damasco, avançava decidido um judeu observante,
activo perseguidor de cristãos, com mandato de prisão, para quantos encontrasse e se afirmassem discípulos de Cristo.

Chamava-se Saulo, nascera em Tarso, na Cilícia.

Era um homem culto, convicto e de palavra fácil.

Subitamente, cai por terra envolvido numa luz intensa vinda do Céu,

enquanto ouve uma voz que o interroga:

«Saulo, Saulo porque Me persegues?»

Ainda atónito, pergunta: «Quem és Tu, Senhor?»

Naquele momento, não fora apenas o judeu Saulo que caíra por terra.

Com ele caíam também as suas certezas e a convicção da sua missão.

Tudo quanto até então era para ele claro e seguro

transformara-se numa cegueira que o deixava frágil e impotente.

A misteriosa resposta do Céu era precisa e inequívoca:

perseguir cada cristão era perseguir o próprio Jesus.

O fim da sua cegueira, das suas dúvidas,

e o retomar da fé e das forças, foi o que Paulo encontrou no baptismo

que recebeu das mãos de Ananias, discípulo da Igreja de Damasco.

Assim nos foi dada uma das maiores testemunhas de Cristo e da sua mensagem,

Que se entregou por completo ao anúncio de que Jesus era o Filho de Deus.

Nunca persegui, nem prendi, nem matei cristãos, judeus ou muçulmanos.

Nasci no seio da Igreja e dela recebi o mesmo Baptismo.

Mas, que fiz eu por Cristo ao longo da minha vida?

Que tempo dou eu ao anúncio do Reino?

Falta-me é a coragem de perguntar com a mesma verdade de Saulo:

«Que hei-de fazer, Senhor?»

Porque, no fundo, no fundo… tenho medo da resposta,

não vá Deus pedir-me

que deixe o conforto de uma vida tranquila,

para arriscar tudo… pelo seu Nome e pela sua Igreja.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O estranho diálogo entre Deus e o profeta Samuel

Rui Corrêa d' Oliveira
20 de Janeiro de 2009

O estranho diálogo entre Deus e o profeta Samuel,
com o Senhor a chamá-lo com insistência
e ele incapaz de perceber Quem o chamava,
é uma impressionante metáfora da minha vida.

Porque será que demoro tanto tempo a perceber quando Ele me chama
quando Ele Se manifesta, quando me pede alguma coisa,
me desafia ou me convida?

Como Samuel, também eu frequento o Templo do Senhor,
como ele, também eu tenho quem me conduza e ensine.

Também como com Samuel,
só a terna (e eterna) paciência de Deus
salva a minha surdez e a minha distracção.

Foi numa obediência filial que Samuel reconheceu
que era o próprio Senhor que o chamava
e por isso responde sem hesitar com as palavras aprendidas:
«Falai, Senhor, que o vosso servo escuta»

É uma obediência assim que me falta,
é esta confiança que eu peço.

Porque tenho na Igreja um lugar que me acolhe e que me ensina
e porque tenho pastores a quem seguir,
basta-me a coragem de, como Samuel, livremente… obedecer.