sábado, 22 de agosto de 2009

Manias eclesiais


O Evangelho deste Domingo (vigésimo primeiro do tempo comum – ano B) é eloquente sobre a normatividade pastoral a ter no que respeita à verdade. A normatividade para um cristão, não o esqueçamos, é o próprio Jesus Cristo.

Depois da multiplicação dos pães, o Evangelho segundo S. João apresenta-nos a Cristo repetindo, como um estribilho, que o Seu Corpo é verdadeira comida e que o Seu sangue é verdadeira bebida; e que quem não comer o Seu corpo nem beber o Seu sangue não terá a vida eterna. Perante este discurso, a multidão que o seguia, dá-o como louco, dizendo que aquelas palavras são insuportáveis, intoleráveis, e vira-Lhe as costas, abandonando-O. Jesus, perante esta reacção, não recua, não Se desculpa, não afirma que o entenderam mal, não Se desfaz em explicações, não Se cala. Muito simplesmente vira-Se para os Seus e pergunta-lhes se também querem partir. Como Quem diz, mantenho e reafirmo tudo o que disse, se quiserem ir estejam à vontade. S. Pedro responde por todos afirmando a sua Fé: “A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! Por isso nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus.” (Jo 6, 68-69). Pedro e todos aqueles que com ele permaneceram junto ao Senhor, como todos os outros, também não compreenderam, por então, o que Jesus lhes dizia mas confiaram n’ Ele, seguros de que era verdade.

Uma primeira lição a tirar poderia ser a de deixarmos de pensar sistematicamente que se explicássemos as coisas da Fé todas muito bem explicadinhas toda a gente se converteria a Cristo. Por trás desta atitude encontra-se a presunção gnóstica de que afinal é o conhecimento que salva, e não a Fé. Ora importa recordar que embora a Fé seja razoável, não se confunde nem se reduz à razão. A Fé brota do acto humano, suscitado pela graça de Deus, que assente à Autoridade Divina, pelo facto de ser Divina - de facto, Deus não Se pode enganar nem pode enganar-nos, merecendo por isso credibilidade absoluta e adesão incondicional; e que Se confia totalmente a Ele por ser Quem é. Quanto mais se tentar persuadir com raciocínios alguém a acreditar, por exemplo, no Mistério da Santíssima Trindade, tanto mais esse alguém recusará o assentimento porque, realmente, não é possível demonstrá-lo racionalmente, embora a razão possa ter uma função propedêutica. A razão procede por evidência, a Fé por obediência.

Também seria saudável, e esta poderia ser a segunda lição, perdermos aquele complexo tão característico dos cristãos, particularmente dos católicos, que nos leva a culpabilizarmo-nos por todas as desgraças acontecidas no mundo inteiro, desde há dois mil anos. Levando o raciocínio às suas últimas consequências: ultimamente se não fosse a existência da Igreja, neste caso, militante, toda a gente se converteria e o mundo seria um paraíso. Nesta visão a Igreja deixa de ser Cristo continuado na História como sacramento de salvação para ser o grande empecilho ou obstáculo a essa mesma salvação. Como quem fundou a Igreja foi o próprio Jesus Cristo, com o passar do tempo, a culpa passa para Ele (despojando-O da Sua condição Divina), e depois para Deus. O mundo deixa a Igreja em nome de Cristo, depois abandona Cristo em nome de Deus, acabando por dispensar Deus em nome da Natureza… O Homem, varão e mulher, deixa de ser Imagem e Semelhança de Deus, dotado de uma alma espiritual e imortal, para ser somente um produto da evolução, um fragmento de matéria organizado (pelo acaso!), que deve viver ou existir em função dos outros seres, sem diferenciação alguma qualitativa em relação a eles. Como o Homem tende a modelar o ambiente em vez de se deixar configurar por ele, não passa do mais perigoso dos predadores, o primeiro, ou melhor, o único responsável pela degradação do planeta. Devendo, por isso, ser abatido, caçado, para que o seu número não só não cresça mas seja drasticamente diminuído. Uma vez que, como ficou demonstrado com o nazismo, será impossível a longo termo e com sucesso que isso seja feito em jovens e adultos recorre-se à contracepção e à esterilização maciças, ao aborto provocado, declarado como um direito da mulher em nome da sua saúde reprodutiva, ao infanticídio, como já sucede na Holanda e em alguns estados dos USA, à eutanásia e ao suicídio assistido. As razões verdadeiras nunca são invocadas na propaganda política e mediática, uma vez que seriam de pronto repudiadas, recorrendo-se, por isso, a eufemismos e a palavras talismãs – saúde, piedade, evitar o sofrimento, autonomia, ajudar a morrer com dignidade, direitos, etc. Como, apesar de tudo, ainda subsiste alguma resistência, arrebatam-se os filhos a seus pais, obrigando-os a uma “educação” sexual nas escolas, que não passa de uma estratégia de recruta e infiltração.

Finalmente, esta mania que alguns sectores da Igreja têm de diluir, calar ou distorcer a Fé e a moral para não afastar mas antes atrair o maior número à Igreja só pode ter origem no Maligno e não no Salvador, Jesus Cristo, Senhor nosso, como nos mostra o texto evangélico. Se abatermos o que nos foi confiado à mentalidade mundana nada nos restará senão ser pisados pelos homens, por esses mesmos que quisemos cativar com a falsidade. Pelo contrário, se permanecermos firmes na verdade, é altamente provável que se convertam. Foi, por exemplo, o que sucedeu com o eremita Nilo. Este varão de Deus não hesitou em confrontar em termos duros e severos directamente o Papa Gregório V e o imperador Otão III, o último de Roma, por não quererem perdoar o anti-papa Philagathos, torturado com extremos de crueldade. Apesar da insistência de Otão para que Nilo permanecesse com ele e lhe desse absolvição este recusou-se e regressou ao seu retiro. Um ano depois, o Imperador procurou-o com grandes gestos de penitência e humilhação. Só então, verificada a verdadeira conversão, o eremita o abendiçoou com júbilo misericordioso. Gregório V, primo de Otão, morreu acometido de uma enfermidade que o Imperador atribuiu à “maldição” de Nilo.

Nuno Serras Pereira

22. 08. 2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Amnesty International Slams Nicaragua for Abortion Ban


By Samantha Singson

(NEW YORK – C-FAM) Amnesty International is slamming yet another Latin American country for its pro-life laws. In a recently released report , Amnesty has called Nicaragua's total ban on abortions a "cruel, inhuman disgrace" and charged that the new law has led to an increase in maternal deaths. As in the cases of Mexico, the Dominican Republic and Peru, Amnesty's latest report on Nicaragua incorrectly argues that international law requires countries to permit abortion, and, according to critics, it misrepresents the facts which actually show a decrease in the maternal death rate. Read more

World Congress Speaker Calls for “Monogamy Men” to Take Back the Culture


By Austin Ruse

(WASHINGTON, DC – C-FAM) Patrick Fagan, family scholar at the Family Research Council, told the World Congress of Families last week in Amsterdam that there are two competing cultures of sexual morality and that both have a profound effect on culture and public policy. Fagan called one culture “monogamous” and the other “polymorphous” and he warned that one is “snatching” children from the other. Read more

StopTheAbortionMandate.com Launches Video Galvanizing "Largest Pro-Life Coalition Ever Assembled"



By Kathleen Gilbert

WASHINGTON, D.C., August 20, 2009 (LifeSiteNews.com) - The pro-life leaders nationwide who joined forces this summer to create the massive Stop the Abortion Mandate Coalition have launched a new video summoning pro-life citizens across America to ask legislators to stop the vast expansion of abortion embedded in President Obama's health care legislation.

The video features pro-life luminaries Tony Perkins of the Family Research Council, Charmaine Yoest of Americans United for Life, Fr. Frank Pavone of Priests for Life, David Bereit of 40 Days for Life, Jim Daly of Focus on the Family, and Wendy Wright of Concerned Women for America, among many others.

"All of the ground gained by the pro-life movement is in danger of being lost," warns the video.

Viewers are directed to the website StopTheAbortionMandate.com, whicih provides a plethora of information designed to help individuals contact their representatives with clear arguments and other helpful tips.

In July, the coalition sponsored a hugely successful webcast on the mandate that attracted over 36,000 listeners.

Click here to see the Coalition's August Recess Action Toolkit.

Click here for more information on the Stop the Abortion Mandate Coalition.


See related LifeSiteNews.com coverage:

Over 36,000 Participate in Webcast to Stop the Abortion Mandate in Obama Healthcare
http://www.lifesitenews.com/ldn/2009/jul/09072408.html

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Estamos dispuestos a ir a la cárcel antes que acatar ley del aborto, dicen ginecólogos


MADRID, 20 Ago. 09 / 07:10 am (ACI)

El Dr. Esteban Rodríguez, portavoz de la plataforma de médicos de Derecho a Vivir, respondió al Ministro de Justicia de España, Francisco Caamaño, quien hace unos días dijo que ante la ley del aborto no cabe la objeción de conciencia, señalando que "estamos dispuestos a ir a la cárcel antes que acatar una ley criminal, y estamos dispuestos a cometer un presunto delito de desobediencia antes que un delito de aborto".

El médico explicó que "no mataremos a nuestros pacientes ni cometeremos un delito contra la salud pública lesionando deliberadamente la salud de las mujeres, por mucho que nos amenace el ministro de Justicia, abusando de su poder".

"Los médicos no somos soldados, ni policías, ni verdugos. No hay desobediencia civil en la negativa a matar a un ser humano, sino cumplimiento de nuestra obligación profesional", añadió.

Así, considera que, si el Gobierno cumple con la amenaza del ministro de Justicia de tratar penalmente a los objetores como desobedientes, "se generará una nueva categoría de víctimas de las leyes del aborto y de regulación de la conciencia: los ginecólogos que deseen cumplir con su deontología frente a una ideología impuesta".

Tras recordar que la objeción de conciencia debe ser respetada pues está establecida en el artículo 16 de la Constitución española, Rodríguez señaló que "nos resulta sorprendente que una ley que pretende proteger, para evitar la cárcel, a ciertos mercenarios de la Medicina, como el condenado doctor Morín, que lucran matando seres humanos a costa de lesionar la salud de las mujeres, vaya secundada de otra ley que pretende la desprotección, penando con cárcel a los médicos que traten de defender las vidas de sus pacientes y no dañar la salud de las mujeres".

"Recomendamos, que vayan pensando en crear una nueva categoría de funcionarios a cargo del ministerio de justicia o del de igualdad: los verdugos fetales", agregó el Dr. Rodríguez.

"Nos parecen altamente preocupantes las intenciones totalitarias del Ministerio de Justicia, en simbiosis con el de Igualdad. Si el anterior ministro de Justicia consiguió soliviantar a los profesionales de la judicatura, éste lo va a conseguir con los profesionales de la Medicina", concluyó.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Tão caridosos que nós somos

1 - Na noite escura e chuvosa um forte chiar de pneus sobressalta a única pessoa acordada naqueles prédios que davam para aquele beco. De um salto põe-se à janela e vê um automóvel que ao curvar aquela esquina em grande velocidade, abre uma porta e despeja com impetuosa violência uma jovem loura para o duro e áspero asfalto, desaparecendo de seguida em alta aceleração. Logo o homem desce do seu piso com grande ânsia e alvoroço no intento de acudir àquela desgraçada. Chegado à sua beira verifica várias contusões e hematomas e que se encontra inconsciente. Com premura pega-lhe ao colo e com esforço magnânimo sobe as escadas que conduzem ao seu andar. Coloca-a na sua cama, limpa e desinfecta com solicitude as suas feridas, põe mais alguns cobertores para que não sinta o frio da noite gelada. Senta-se ao pé da cama vigiando toda a noite não vá haver algum imprevisto. De manhã cedo, vai à Farmácia, de seguida à padaria, depois à leitaria e, por fim, à mercearia. Durante dias sucessivos a sua diligência no tratamento e na alimentação dela são exemplares. Paira no ar uma neblina misteriosa: por que não a leva a um hospital?, por que não chama o médico?, por que não participa à polícia? Parece suficientemente competente para cuidar dela. Será médico? Será que não recorre às autoridades com receio de que ela esteja implicada em sarilhos criminosos? O seu desvelo pretende salvaguardá-la, protegê-la? Estas interrogações surdem fracas, quase imperceptíveis, pois toda a atenção está concentrada no cuidado que aquele homem tem por aquela mulher. Até que ela começa a despertar do seu coma a ponto de recuperar as forças e a plena consciência. Verificando que tinha sido tratada com tanto amor e carinho por aquele homem, logo lhe agradece comovida e comunica a sua vontade de se ir uma vez que se encontra refeita. O rosto do curador faz então uma sucessão de esgares que vão da perplexidade à aflição. Os seus ademanes denotam a mesma apreensão, como uma recusa decidida. Quando a vê soerguer-se do leito em jeito de quem se levanta para se pôr a andar, o seu, dele, desassossego sobreexcitou-se a ponto de a pôr sem sentidos, com uma pancada na cabeça. Prostrada de novo, com aquela languidez própria das mulheres desfalecidas, vemos com imensa estupefacção, a exaltação jubilosa do “benfeitor”, todo contente por poder de novo ocupar-se da sua “paciente”. E assim termina o filme, ou telefilme, francês apresentado na TV a preto e branco pelo actor e encenador Jacinto Ramos há longos anos. Seguramente há mais de trinta. Relatei-o, como o recordo, sem ter tido a oportunidade de cotejar as minhas memórias com um novo visionamento do programa. Será, porventura, provável que um ou outro pormenor seja menos preciso. No entanto, creio que substancialmente o relato é fidedigno. Suponho que ninguém me atribuirá capacidades mnemónicas excepcionais por lembrar um episódio visto uma só vez, vai para quarenta anos. De facto, a história é suficientemente inquietante para poder ser esquecida. Aquilo que parecia caridade e um amor desinteressado era afinal uma possessividade doentia, obsessiva.

Na mente desarranjada daquele palonço aquela enferma não era de todo amada. Era isso sim instrumentalizada, coisificada, escravizada, à acção exercitada pelo tirano dominador. Naquele homem não havia amor nem espírito de serviço, mas tão só uma manipulação sinistra do outro em função daquilo que o fazia sentir-se útil e bom.

2 – Eu receio bem que muitos membros da Igreja, a todos os níveis, possam ceder, ainda que inconscientemente, a este tipo de tentação. Talvez não em termos tão drásticos. Mas a verdade é que ela pode apresentar-se de um modo mais subtil.

Por exemplo, podemos andar todos muito contentes por que a Igreja em Portugal tem casas de acolhimento para grávidas em dificuldade e para crianças “não desejadas”. Assim testemunhamos eloquentemente o Evangelho e a Caridade no meio de uma sociedade que despreza e odeia a vida humana nascitura.

Colocando agora de lado a questão da possibilidade da Igreja poder fazer muito mais neste campo seria bom que nos perguntássemos, com aquele forte tipo de coragem que é necessário para olhar de frente a verdade, porque é que não fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para que esse género de assistência não fosse tão necessário e urgente. De facto, a Igreja em Portugal podia (repito, e repito-o categoricamente: podia), e devia, ter evitado a liberalização do aborto. Mas muitos dos seus membros mais responsáveis acharam que não pagava a pena ter dispendido dinheiro, estudo, programação, tempo, catequização com isso (isto mesmo parece ser reconhecido na Nota que o Episcopado publicou a seguir ao referendo do aborto quando confessa o seu falhanço pastoral). Afinal, a Igreja continuaria a ser Igreja e exercitaria a sua missão de acorrer aos necessitados como sempre fez. Aparentemente não lhes ocorreu que podiam ter evitado uma mortandade tão grande como a que se verifica, embora não dessem tanto nas vistas com a sua caridade(zinha).

A indiferença gélida com que gente da mais alta responsabilidade na Igreja, em Portugal, tem lidado com questões como a reprodução artificial, a clonagem, o aborto, as uniões de facto, o “casamento” entre homossexuais, o divórcio, a contracepção, a educação sexual nas escolas e a eutanásia é arrepiante e aterradora.

A impressão com que não poucos podem ficar é que essa gente acha que quanto pior melhor – quantos mais desgraçados se produzirem maior será a potencial clientela da Igreja.

Aquele homem do telefilme se pudesse ter evitado que aquela jovem fosse espancada e lançada fora do automóvel em alta velocidade não o teria feito. Talvez manifestasse “moderadamente” a sua discordância, mas não se empenharia realmente para prevenir aquela desgraça. Antes ficaria esfregando as mãos na expectativa dos cuidados que iria poder prestar.

Nuno Serras Pereira

18. 08. 2009

domingo, 16 de agosto de 2009

Os Abortófilos

Nota Bene: O autor deste artigo foi processado e condenado por difamação em 1ª instância. Tendo recorrido para o Tribunal da Relação foi inocentado. A sentença transitou em julgado, pelo que a Justiça reconheceu que a acusação sobre o carácter difamatório do artigo é infundada.

Anda por aí, à solta, um género de gente extremamente perigosa que tem, positivamente, um horror aos bebés nascituros e um fascínio obsessivo pela sua morte. De há uns anos a esta parte tem andado num sobressalto, numa agitação, num desassossego, uivando palavras homicidas, estabelecendo estratégias mortíferas, elaborando leis assassinas, engendrando julgamentos mediáticos para alcançar os seus objectivos tenebrosos, reivindicando estudos manipuladores sobre a realidade do aborto a fim de conseguir a sua liberalização, levando a cabo, nas escolas, uma deseducação sexual estruturalmente pornográfica e, consequentemente, irresponsável, impondo uma mentalidade contraceptiva/abortiva, etc., etc..

Esta gente, que constantemente incita ao crime, goza de grande publicidade na comunicação social e de muita ascendência na política. Nomes sonantes vêm agora, à centena, propor a criação de uma conta bancária “para ajudar mulheres sem meios económicos a interromper a gravidez no estrangeiro de forma legal e segura [?]” (Público, 15. 05. 2002). Repare-se bem que não se trata de ajudar a mãe, com dificuldades económicas, a criar o seu filho; pelo contrário, o dinheiro ser-lhe-á dado sob condição de o matar. Para isso, e só para isso, haverá auxílio. Tal é a veemência da “paixão” desta gente pelo aborto! Porque se há algo que fica claro com esta proposta é que o seu propósito não é de modo nenhum acabar com o homicídio/aborto mas sim acabar com a clandestinidade, facilitando-o. Porém, numa tentativa de esconder, perante si mesmos e os outros, o óbvio adiantam com uma hipocrisia maquiavélica ou com uma cegueira cínica: “ Com esta proposta ... não pretendemos promover o aborto, mas ajudar as pessoas”!! (Idem). De modo que, para esta gente, cumpliciar-se na matança da pessoa do filho, destroçando, desse modo, a vida da pessoa da mãe, é uma grande ajuda, uma obra de solidariedade! Surrealismo semelhante só, mesmo, em Sade (“o radicalismo abortista é filho do sadismo” - cf. V. Possenti, Filosofia e Societá – studi sui progetti ético-politici contemporanei, Massimo-Milano, 1983).

Neste mesmo dia 15 de Maio, demonstrando uma coordenação notável, o Diário de Notícias e o Público entrevistam Angela Gomez, presidente da Federação Internacional de Planeamento Familiar (IPPF, iniciais em inglês), que por “coincidência” se encontrava em Portugal. A IPPF, uma organização serial killer, é a segunda ONG maior do mundo, sendo que a primeira é a Cruz Vermelha, e é a instituição que mais promove o homicídio/aborto a nível mundial. O seu ramo em Portugal é a APF – esta “sucursal”, generosamente subsidiada e patrocinada por sucessivos governos, ao longo de décadas, dá formação aos nossos políticos, esteve implicada, como motor principal, em todas as investidas abortistas em Portugal, foi condecorada, em 1998, pelo Presidente Jorge Sampaio e viola impunemente a lei quando lhe convém.

Nestas elucidativas entrevistas Angela Gomez esclarece: “estamos presentes em 182 países e todas as nossas associações trabalham de forma igual no mundo ... O plano estratégico é o mesmo e os padrões que tentamos alcançar também, mas há obviamente diferenças entre os países e para cada um procuramos, dentro do nosso plano estratégico, um nicho onde o governo local não esteja a actuar e onde possamos promover a nossa causa ... devemos oferecer um aborto seguro porque é um direito da mulher ... A IPPF lida com os grupos parlamentares de vários países - incluindo Portugal, onde o contacto é feito através da APF -, no sentido de promover as mesmas ideias no mundo, sendo esta, afirma Angela Gómez, a «nossa forma de influenciar as leis». (DN, 15. 05. 2002). Segundo ela “do ponto de vista legislativo ... Portugal continua «atrasado» ... uma questão que foi aflorada durante a reunião com os três deputados (do PS, PSD e CDS/PP) que colaboram com a APF na cooperação internacional. Para além de abordar a problemática dos direitos sexuais e reprodutivos [esterilização, contracepção e aborto], ... aproveitou para sensibilizar os parlamentares para o apoio que Portugal pode prestar nesta matéria às populações das antigas colónias ... ” (cf. Público, 15. 05. 2002). Angela Gomez disse ainda da sua surpresa “com a «elevada prevalência» do uso de métodos anticoncepcionais pela população, actualmente da ordem dos 80 por cento ... «É uma das percentagens mais altas que tenho visto», confessou ...” (Idem).

Esta agradável surpresa, este contentamento, pela eficácia do trabalho da sua organização em Portugal (a APF), a ser verdade, deveria constituir para a Igreja e para todos os pró-vida um motivo de grande tristeza e de rigoroso exame de consciência. De facto, mal se entende que num país onde a Igreja tem tanto peso, os seus membros, em especial, – embora não só estes, uma vez que esta questão é de lei natural e não meramente confessional -, não estejam devidamente formados e/ou catequizados em matéria de tanta importância quer para a virtude da castidade, quer para a estabilidade familiar, quer para a saúde das mulheres, quer para a defesa da vida, quer para a própria salvação. A censura sistemática da encíclica Humanae Vitae e mesmo o dissentimento obstinado da sua doutrina (que, importa recordar, é definitiva e imutável – cf. Conselho Pontifício da Família, Vademecum para os confessores sobre alguns temas de moral conjugal, 12.II. 1997, n. II.4) feito ensino nalguns sectores da UCP e aconselhamento nas pregações, e em outras circunstâncias, devem contar-se entre os principais responsáveis por esta situação catastrófica.

Recorde-se, a propósito, que Malcolm Potts, ex-director médico da IPPF, afirmou: “A prática do aborto e da contracepção estão intrinsecamente relacionadas entre si” (Malcolm Potts, Peter Diggory y John Peel, Abortion, Cambridge University Press, London, 1970), “à medida que as pessoas se virarem para a contracepção, dar-se-á uma subida, não uma descida, na percentagem de abortos” (Report, Cambrige Evening News, 7 February 1973. Cit. in Valerie Riches - Foreword by Professor Sir Bryan Thwaites, MA, PhD, Sex and Social Engineering, Family and Youth Concern (The Responsible Society), 1986).

Também Judith Bury, médica abortófila e investigadora dos Brook Advisory Centres, confirma-o: “Há uma evidência esmagadora que, contrariamente ao que se podia esperar, a disponibilidade da contracepção leva a um aumento da percentagem de abortos” (Judith Bury, Sex Education for Bureaucrats, The Scotsman, 29 June 1981).

Declarações deste tipo são frequentes entre os membros desta organização e entre os seus cúmplices. Pelo que se torna evidente que quando incitam ao uso da contracepção eles sabem que estão a promover o aborto: Pierre Simon (médico obstreta, co-fundador e vice-presidente do Movimento francês para o planeamento familiar, colaborador de Simon Veil no Ministério da saúde, por duas vezes Grão-Mestre da Grande Loja - maçónica - de França) que esteve na dianteira do combate pela legalização da contracepção e do aborto, recordando a sua luta, escreveu: «Atacar a lei [que proibia a contracepção] na sua totalidade significava liberalizar o aborto. ... [A] opinião [pública], no entanto, não estava preparada para tal. Por isso, tivemos como nosso primeiro objectivo separar esta amálgama. Uma vez conseguido que a contracepção se tornasse normal e aceite pela lei, logo o aborto seria aceite. O futuro provou que tínhamos razão. A luta pela contracepção duraria mais e seria mais difícil do que a luta pelo aborto. Mudando o famoso provérbio: Nós tínhamos ganho a guerra [legalizando e promovendo a contracepção], só faltava travar a última batalha [legalizar o aborto]» (Pierre Simon, De la vie avant toutes choses, Ed. Mazarine 1979). De facto, em Dezembro de 1967, 9 meses antes da encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, foi aprovada a lei que autorizava a venda e a publicidade dos contraceptivos e, logo, em 1975 a lei Veil legalizou o aborto. Em 1983 o aborto passou a ser pago pela Segurança Social, isto é, por todos os cidadãos que pagam impostos. Ninguém escapa, pois, à participação no aborto, uma vez que todos o financiam.

Consciente da gravidade da situação Mons. Philippe Barbarin, Bispo de Moulins, declarou recentemente (31. 10. 2001): “ ... alguns Bispos de França ... interroga[mo-nos] sobre a nossa atitude por volta de 1975, quando foi discutida e aprovada na França a lei que liberalizou o aborto. Pode ser que cheguemos a fazer uma confissão pública, pedindo perdão publicamente pela nossa pusilanimidade, pela nossa cobardia, no momento da discussão desta lei criminosa” (Michel Schooyans, Terrorismo e Globalização, 29. 01. 2002).

Será ainda preciso recordar que grande número dos contraceptivos actuais têm ou podem ter um efeito abortivo precoce (desde a pílula normal ao DIU e à pílula do dia seguinte, eufemisticamente chamada contracepção de emergência) e que a grande maioria dos homicídios/abortos não são cirúrgicos mas são causados química e precocemente?

Verificamos mais uma vez, com amargura, que os católicos em Portugal (e demais pessoas de boa-vontade), geralmente falando, ainda não tomaram consciência da gravidade da situação e das medidas excepcionais de organização e de combate que a circunstância merece. Mesmo dentro da Igreja, entendida como conjunto dos fiéis, há um número significativo de pessoas, em lugares de alguma responsabilidade, seriamente contaminadas pela mentalidade contraceptiva e abortiva.

Esfregar-se ou abusar de crianças, adolescentes e jovens é um crime repugnante, detestável e muito grave, mas ainda mais grave, abominável e tenebroso é esquartejar ou matar crianças no seio materno. Se a sociedade e o Estado se levantam unânimes e justamente indignados para combater o primeiro crime, porque é que se organizam para realizar o segundo? (Para as ligações da IPPF à defesa da pedofilia e do incesto ver Robert G. Marshall and Charles A. Donovan, Blessed Are The Barren –The Social Policy of Planned Parenthood, Ignatius Press, San Francisco 1991 e Brian Clowes, Pro-Life Activist's Encyclopedia, Stafford, Virginia: American Life League, Inc., 1993).

Nuno Serras Pereira
16. 05. 2002