1. Uma quantiosa parte de grandes
meios de comunicação social, principalmente no ocidente, depois de durante anos
ter uma atitude permissiva ou mesmo concordante com a pedofilia e, em geral,
sexo de adultos com menores de repente fingiu-se escandalizada, e acomunada com
os inimigos de Cristo e da Sua Igreja, e com gentes cobiçosas de riquezas, mesclada
com quem genuinamente demandava justiça, desatou numa algazarra denunciando, a
torto e a direito, sacerdotes, culpados e inocentes, vivos e defuntos, que
alegadamente estariam implicados nesses crimes horrendos. O bombardeamento
sistemático e prolongado no tempo provocou em alguns países um pavor tal em
muitíssimos pais que quando lobrigavam um Padre enxotavam os filhos para trás
de si e punham uma carranca ameaçadora, com olhares relampejando áscuas ferozes
para qualquer Sacerdote.
O facto do mesmo comportamento
obsceno existir em ministros de outras confissões religiosas, bem como nas
famílias, principalmente nas desestruturadas, nos professores e treinadores, em
maior percentagem do que no clero católico foi largamente silenciado e
ocultado. De modo que as crianças e adolescentes continuam, sem instinto
protector por parte de seus pais ou mães, a aproximarem-se e a conviverem com
essa gente.
Não sendo poucas as injustiças
com que a Igreja foi assim acoimada, não se pode deixar de reconhecer que Deus
na Sua Providência o permitiu para purificar muitos dos seus membros. De facto,
não existia uma consciência por parte da maioria da alta Hierarquia da Igreja
quer da extensão quer da gravidade dos abusos perpetrados. Esses desvios
perversos do clero e de alguns prelados eram evidentemente gravíssimos e
intoleráveis. E imensamente mais sérios dos que os realizados por outras
pessoas, na medida em que o Sacerdote, ao ser embaixador de Deus, presença de
Jesus Cristo Sumo-sacerdote e Cabeça da Igreja, em vez de O comunicar se
tornava um anti-sacramento, um veículo do Maligno. As consequências tamanhas
quer naturais quer sobrenaturais nas vítimas não se podem exprimir
adequadamente, pelo menos em texto tão breve como este.
E tudo isto é tanto mais para
espantar não só por existir na Igreja uma Tradição de padecimento do martírio
por parte de crianças e adolescentes que rejeitaram todas as ameaças de
tormentos cruéis e de morte por repugnaram as concupiscências lúbricas de
pagãos e infiéis, como de implacabilidade do Papado, altos hierarcas e Santos para
com esse tipo de abusos da parte de sacerdotes, frades e monges.
É preciso acrescentar que a
enorme maioria dos abusos passados (em muito menor número) e presentes não
foram exercidos sobre crianças pré-púberes mas sobre adolescentes masculinos
entre os 14 e 17 anos. Importa muito frisar isto porque assim fica claro aquilo
que quase ninguém, quer fora quer dentro da Igreja, quer que se saiba: que o
problema de fundo responsável por esta abjecção são os comportamentos
homossexuais, nestes casos, na forma de efebofilia.
Tudo isto foi possível nas
décadas passadas em virtude de uma dissolução doutrinal, um abandono da Verdade
substituída por ideologias, que teve consequências na disciplina e na formação
que deveria ser ministrada nos Seminários e Conventos, potenciada pela
mentalidade triunfante e omnipresente no ar do tempo. Isso permitiu ou
facilitou uma muito significativa infiltração de “comandos ‘gay’ ” que nalgumas nações e Dioceses
alcançaram lugares de alta prelatura dominando Seminários, Ordens Religiosas e
outra instituições eclesiais, recrutando outros contaminados pela mesma
ideologia, pervertendo inocentes e expulsando os que resistiam aos seus avanços
e se mostravam imunes ao contágio. Não surpreendente, por isso, que ainda haja
bolsas de resistência constituída por gente poderosa e muito dissimulada
intentando combater as reformas de João Paulo II e Bento XVI.
2. Estes crimes e pecados
horrorosos a que temos feito referência, apesar de serem apresentados pela
generalidade dos descrentes e mesmo por grande parte dos membros da Igreja, como
os mais hediondos entre todos, não o são verdadeiramente. Há pior, muito pior.
Eu sei que com aquilo que vou
afirmar deixarei boquiabertos ou mesmo estuporados a grande maioria dos
leitores: a heresia, por exemplo, é um crime e um pecado muito mais graves do
que o abuso de menores, o qual como sugeri brota da negação de uma verdade
racional confirmada pela Revelação positiva Sobrenatural, a saber, o único
lugar adequado e lícito do exercício da sexualidade é o amor, ou seja, a
entrega total corpóreo-espiritual, exclusiva, fiel e permanente de um homem e
de uma mulher, até que a morte os separe.
Isto que afirmei não é uma
invenção minha mas é e sempre uma verdade doutrinal reconhecida e anunciada
pela Igreja. No entanto, convenho, que não o parece. Creio que há várias razões
para tal. Uma é, sem sombra de dúvida, a “ditadura do relativismo” em que
estamos mergulhados, senão mesmo afogados. O mais estranho, todavia, é que os
efeitos funestos desta mentalidade parecem em parte controlar, creio que
inconscientemente, muitos daqueles que a reconhecem e combatem. De facto, que
outra explicação se poderá encontrar para a circunstância de ela ser largamente tolerada ou mesmo admitida e icentivada em Universidades Católicas, em
sacerdotes que escrevem em jornais, que estão à frente de paróquias e peroram
nas rádios e nas televisões, em Leigos católicos apontados como exemplos e
referências, e mesmo nos mais altos prelados? Qual a razão de não existir, no
mínimo, igual rigor por parte da Igreja para com este crime como para com o anterior?
Será por não existir indignação social? Por a comunicação social não só o não
apontar como tal como advogar os que a proclamam? Mas então, perguntar-se-á, a
Igreja anda a toque de caixa da mentalidade reinante? Porventura, ou desventura…,
quem a comanda não é a Verdade, o seu Senhor, mas sim a opinião do vulgo?
Quererá isto dizer que caso o abuso de menores deixe de ser considerado infame
pela sociedade a Igreja encolherá os ombros? Não será necessário fazermos um
exame de consciência e perguntarmo-nos, diante de Deus, o que se passa
connosco?
3. Quando interrogamos um esposo
e sua esposa sobre que reacções teriam na eventualidade de saberem que um filho
tivesse sido abusado por um adulto, padre ou não, as suas respostas geralmente
são prontas e viscerais: um espancamento brutal ou um homicídio sumário do
criminoso. Se, no decorrer da conversa, perguntarmos se “preferiam” que um
filho tivesse sido abusado, por sedução ou violência, ou assassinado, não
obstante a forte detestação da primeira hipótese todos acabam por reconhecer
que antes os queriam vivos, apesar do enorme traumatismo, do que destruídos
pelo extermínio. Estas reacções são concordes com a Lei Moral Natural, isto é,
com a Lei da Recta Razão, que vê no homicídio de um ser humano um pecado e um
crime ainda mais graves do que o abuso, mesmo de um menor.
É verdade, o aborto provocado é
um crime maior e ainda mais monstruoso que o abuso de um menor. E no entanto, o
primeiro é legalizado, publicitado, financiado, elogiado, enquanto o segundo é
criminalizado, sendo que há uma substancial variação, quanto a este último, no
que diz respeito à idade da penalização, de país para país. Pelo que aquilo que
num é odioso noutro é considerado normal e fazendo parte da vida privada…
Importa ainda sublinhar que a injustiça
e ilicitude moral da matança deliberada e directa de qualquer pessoa humana inocente em qualquer fase da sua existência, desde a sua concepção, ou seu início, até à
morte natural, é não só uma verdade do Direito Natural mas também uma Verdade
Revelada, de Fé Divina e Católica, pelo que a sua negação obstinada, ou, por
outras palavras, a advocacia da sua legalização ou liberalização constitui, sem
dúvida alguma, uma heresia.
De modo que podemos afirmar que o
aborto provocado é mais grave que o abuso de menores quer a título natural quer
a Sobrenatural. E no entanto aí temos o seus fautores ou mesmo realizadores a
pregar nos órgãos de comunicação, mesmo os da Igreja, contractados para
ensinar, mesmo nas instituições da Igreja, para dar formação pastoral em Fátima
e em outros lugares Sagrados, enaltecidos e aclamados pelos mais graúdos
prelados. E ninguém se choca, nem se ofende, nem se melindra; ninguém se
indigna nem mobiliza; tudo amocha, tudo se retrai, tudo conclama ámen, ámen;
todos censuram quem se atreve a denunciar a cegueira, o pecado, a malignidade
atroz destas infâmias.
29. 12. 2012