sábado, 15 de dezembro de 2012

O Antinatal - por Nuno Serras Pereira


Estavam aglutinados ao redor de um rude tronco seco e carcomido que se alargava numas ásperas hastes espinhosas das quais pendiam abundantes carvões, mais escuros que o sombrio negrume do breu. No sopé, uma gruta escabrosa, despojada, sinistra, patenteava arrogante a sua vacuidade abjecta. Numa caótica cacofonia guinchavam multiplicados alaridos raivosos contra os sequazes reunidos em jubilosas celebrações festejando o feliz Nascimento, aquela Luz intolerável que irrompera, sem a molestar, na concavidade cerrada da Mulher, construindo-Se da sua carne, nutrindo-Se do seu sangue, dela brotando sem ofender a sua integridade, e, que num abraço de união, Se cravara na árvore, e, nela padecendo e morrendo, a reverdecera para sempre, e Se oferecera, dela pendendo, como Fruto de imortalidade, suco de amorosos inebriamentos gozosos, sabor de suavidades pacíficas, nutrimento de inteireza eterna.


As fúrias urravam com o propósito de esvaziar a gruta, grunhiam reivindicações esterilizadoras, bramiam matanças de inocentes. O Maligno não suspeitara e, por isso, Herodes não se antecipara, falhando ignominiosamente a sua missão. O Inocente passara despercebido, como se fora filho da conjugalidade de José e de Maria, e não O Filho, sem pai na terra, sem mãe no Céu. 


Os ensanguentados olhos revirados, os medonhos esgares coléricos, as orgiásticos agitações convulsas acompanharam um rugido tremendo, um uivo pavoroso: Não há Deus! Nós temos como deusa a Sofia! A grande fornicadora, a que tem comércio com a Besta prazenteira, potente e opulenta. Só ela, devorando os tumores canalhas que invadiram os nossos ventres, nos exsuda a liberdade! Resgata-nos da opressão! A virgindade é uma patologia! A castidade é asquerosa! A maternidade é uma monstruosidade! A gravidez, uma pulhice infame! Cancros nefastos da odiosa nupcialidade patriarcal! Uma deformidade soez de uma evolução pervertida, que urge corrigir! E ouvia-se um gargalhar lúgubre, horripilante.


E num frenesim voluptuoso grunhiam diabolicamente paródias sacras - Desonra a deus nos céus e extermínio total das pessoas do seu agrado. Nós te desprezamos, nós te amaldiçoamos, nós te execramos, etc. -, enquanto giravam numa exaltação delirante ao redor de uma prenhe, entretanto trazida, quase em ponto de parir. De repente, uma voz soturna bradou: chegou a hora, é quase meia-noite! Então, num instante, com uma tranquilidade fria, compuseram um ar profissional, envergaram batas, calçaram luvas de látex, colocaram a grávida na disposição adequada, manobraram nas suas vísceras de modo a que o nascituro invertesse a posição. Começaram então os esforços cuidadosos para que iniciasse o saimento da sua morada pelos pés. Gradualmente conseguiram extrair a quase totalidade do corpo até que somente a cabeça ainda permanecesse, na sua maior parte, no corredor de saída. Em seguida recorreram aos utensílios indicados para as incisões necessárias colheita, primeiro dos rins, depois dos pulmões e logo do coração. Após estas subtracções, e o devido acondicionamento dos órgãos, o principal fez uma incisão na nuca do nascituro, enfiou um tubo conectado a um aspirador, ligou-o, e após o esvaziamento cerebral retirou a cabeça da porta. Irrompeu, então, um aplauso geral com grandes hurras. Abriram-se garrafas de champanhe, congratularam-se, abraçaram-se efusivamente, atolaram-se no lodo da sua promiscuidade, fuçaram com volúpia nas suas lubricidades até à exaustão. 


Depois, disseram-se: Já que não o pudemos aniquilar há dois mil anos, eliminamo-lo na criatura feita à sua imagem e semelhança, destruímo-lo na natureza que ele assumiu, estraçalhamo-lo naqueles por quem deu a vida, assolamo-lo nos que quis fazer participantes da sua natureza! Não há ódio maior do que tirar a vida aos seus amigos! A besta, o toiro, o boi, o grande cobridor da Sofia é o grande deus a quem adoramos! É dele que nos vem a vontade de potência, que nos dá o poder; a cobiça, que nos enriquece; a sofreguidão dos prazeres ilimitados, que tudo nos autoriza.

15. 12. 2012

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Mensagem do Papa Bento XVI para a celebração do Dia Mundial da Paz - 01-01-2013

Mensagem de Bento XVI para a celebração do
46.º Dia Mundial da Paz
1 de janeiro de 2013

Bem-aventurados os obreiros da paz

1. Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Nesta perspetiva, peço a Deus, Pai da humanidade, que nos conceda a concórdia e a paz a fim de que possam tornar-se realidade, para todos, as aspirações duma vida feliz e próspera.

À distância de 50 anos do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da Igreja no mundo, anima constatar como os cristãos, Povo de Deus em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias,[1] anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos.

Na realidade o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspetos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo.

Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a reconciliação entre os homens.

E no entanto as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao dever-direito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus.

Tudo isso me sugeriu buscar inspiração, para esta Mensagem, às palavras de Jesus Cristo: «Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9).

A bem-aventurança evangélica

2. As bem-aventuranças proclamadas por Jesus (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23) são promessas. Com efeito, na tradição bíblica, a bem-aventurança é um género literário que traz sempre consigo uma boa nova, ou seja um evangelho, que culmina numa promessa. Assim, as bem-aventuranças não são meras recomendações morais, cuja observância prevê no tempo devido – um tempo localizado geralmente na outra vida – uma recompensa, ou seja, uma situação de felicidade futura; mas consistem sobretudo no cumprimento duma promessa feita a quantos se deixam guiar pelas exigências da verdade, da justiça e do amor. Frequentemente, aos olhos do mundo, aqueles que confiam em Deus e nas suas promessas aparecem como ingénuos ou fora da realidade; ao passo que Jesus lhes declara que já nesta vida – e não só na outra – se darão conta de serem filhos de Deus e que, desde o início e para sempre, Deus está totalmente solidário com eles. Compreenderão que não se encontram sozinhos, porque Deus está do lado daqueles que se comprometem com a verdade, a justiça e o amor. Jesus, revelação do amor do Pai, não hesita em oferecer-Se a Si mesmo em sacrifício. Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a jubilosa experiência de um dom imenso: a participação na própria vida de Deus, isto é, a vida da graça, penhor duma vida plenamente feliz. De modo particular, Jesus Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus.

A bem-aventurança de Jesus diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana. Na verdade, a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e éticas fundadas sobre motivos teorico-práticos meramente subjetivistas e pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins, e vice-versa, a cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus. Como lembra o Salmo 29, « o Senhor dá força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com a paz » (v. 11).

A paz: dom de Deus e obra do homem

3. A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris– cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses –, a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça.[2]A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício.

Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigénito. Assim o homem pode vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que é o pecado em todas as suas formas: egoísmo e violência, avidez e desejo de poder e domínio, intolerância, ódio e estruturas injustas.

A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana. Esta, como ensina a Encíclica Pacem in terris, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e anima¬das por um «nós» comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais. A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros comparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir.[3]

A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível. Os nossos olhos devem ver em profundidade, sob a superfície das aparências e dos fenómenos, para vislumbrar uma realidade positiva que existe nos corações, pois cada homem é criado à imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação dum mundo novo. Na realidade, através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem (cf. Jr 31, 31-34), oferecendo-nos a possibilidade de ter « um coração novo e um espírito novo » (cf. Ez 36, 26).

Por isso mesmo, a Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal fator do desenvolvimento integral dos povos e também da paz. Na realidade, Jesus é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2 Cor 5, 18). O obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade.

A partir deste ensinamento, pode-se deduzir que cada pessoa e cada comunidade – religiosa, civil, educativa e cultural – é chamada a trabalhar pela paz. Esta consiste, principalmente, na realização do bem comum das várias sociedades, primárias e intermédias, nacionais, internacionais e a mundial. Por isso mesmo, pode-se supor que os caminhos para a implementação do bem comum sejam também os caminhos que temos de seguir para se obter a paz.

Obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade

4. Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspetos, a começar da conceção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural. Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida.

Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se deem conta de que assim estão a propor a prossecução duma paz ilusória. A fuga das responsabilidades, que deprecia a pessoa humana, e mais ainda o assassinato de um ser humano indefeso e inocente nunca poderão gerar felicidade nem a paz. Na verdade, como se pode pensar em realizar a paz, o desenvolvimento integral dos povos ou a própria salvaguarda do ambiente, sem estar tutelado o direito à vida dos mais frágeis, a começar pelos nascituros? Qualquer lesão à vida, de modo especial na sua origem, provoca inevitavelmente danos irreparáveis ao desenvolvimento, à paz, ao ambiente. Tão-pouco é justo codificar ardilosamente falsos direitos ou opções que, baseados numa visão redutiva e relativista do ser humano e com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida.

Também a estrutura natural do matrimónio, como união entre um homem e uma mulher, deve ser reconhecida e promovida contra as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu caráter peculiar e a sua insubstituível função social.

Estes princípios não são verdades de fé, nem uma mera derivação do direito à liberdade religiosa; mas estão inscritos na própria natureza humana – sendo reconhecíveis pela razão – e consequentemente comuns a toda a humanidade. Por conseguinte, a ação da Igreja para os promover não tem caráter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, independentemente da sua filiação religiosa. Tal ação é ainda mais necessária quando estes princípios são negados ou mal entendidos, porque isso constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma ferida grave infligida à justiça e à paz.

Por isso, uma importante colaboração para a paz é dada também pelos ordenamentos jurídicos e a administração da justiça quando reconhecem o direito ao uso do princípio da objeção de consciência face a leis e medidas governamentais que atentem contra a dignidade humana, como o aborto e a eutanásia.

Entre os direitos humanos basilares mesmo para a vida pacífica dos povos, conta-se o direito dos indivíduos e comunidades à liberdade religiosa. Neste momento histórico, torna-se cada vez mais importante que este direito seja promovido não só negativamente, como liberdade de – por exemplo, de obrigações e coações quanto à liberdade de escolher a própria religião –, mas também positivamente, nas suas várias articulações, como liberdade para: por exemplo, para testemunhar a própria religião, anunciar e comunicar a sua doutrina; para realizar atividades educativas, de beneficência e de assistência que permitem aplicar os preceitos religiosos; para existir e atuar como organismos sociais, estruturados de acordo com os princípios doutrinais e as finalidades institucionais que lhe são próprias. Infelizmente vão-se multiplicando, mesmo em países de antiga tradição cristã, os episódios de intolerância religiosa, especialmente contra o cristianismo e aqueles que se limitam a usar os sinais identificadores da própria religião.

O obreiro da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos.

E, entre os direitos e deveres sociais atualmente mais ameaçados, conta-se o direito ao trabalho. Isto é devido ao facto, que se verifica cada vez mais, de o trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não serem adequadamente valorizados, porque o crescimento económico dependeria sobretudo da liberdade total dos mercados. Assim o trabalho é considerado uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros. A propósito disto, volto a afirmar que não só a dignidade do homem mas também razões económicas, sociais e políticas exigem que se continue « a perseguir como prioritário o objetivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção ».[4] Para se realizar este ambicioso objetivo, é condição preliminar uma renovada apreciação do trabalho, fundada em princípios éticos e valores espirituais, que revigore a sua conceção como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade. A um tal bem corresponde um dever e um direito, que exigem novas e ousadas políticas de trabalho para todos.

Construir o bem da paz através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia

5. De vários lados se reconhece que, hoje, é necessário um novo modelo de desenvolvimento e também uma nova visão da economia. Quer um desenvolvimento integral, solidário e sustentável, quer o bem comum exigem uma justa escala de bens-valores, que é possível estruturar tendo Deus como referência suprema. Não basta ter à nossa disposição muitos meios e muitas oportunidades de escolha, mesmo apreciáveis; é que tanto os inúmeros bens em função do desenvolvimento como as oportunidades de escolha devem ser empregues de acordo com a perspetiva duma vida boa, duma conduta reta, que reconheça o primado da dimensão espiritual e o apelo à realização do bem comum. Caso contrário, perdem a sua justa valência, acabando por erguer novos ídolos.

Para sair da crise financeira e económica atual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico. O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa ótica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade. Olhando de outra perspetiva, porém, o sucesso verdadeiro e duradouro pode ser obtido com a dádiva de si mesmo, dos seus dotes intelectuais, da própria capacidade de iniciativa, já que o desenvolvimento económico suportável, isto é, autenticamente humano tem necessidade do princípio da gratuidade como expressão de fraternidade e da lógica do dom. [5] Concretamente na atividade económica, o obreiro da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a atividade económica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos.

No âmbito económico, são necessárias – especialmente por parte dos Estados – políticas de desenvolvimento industrial e agrícola que tenham a peito o progresso social e a universalização de um Estado de direito e democrático. Fundamental e imprescindível é também a estruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial; devem ser estabilizados e melhor coordenados e controlados, de modo que não causem dano aos mais pobres. A solicitude dos diversos obreiros da paz deve ainda concentrar-se – com mais determinação do que tem sido feito até agora – na consideração da crise alimentar, muito mais grave do que a financeira. O tema da segurança das provisões alimentares voltou a ser central na agenda política internacional, por causa de crises relacionadas, para além do mais, com as bruscas oscilações do preço das matérias-primas agrícolas, com comportamentos irresponsáveis por parte de certos agentes económicos e com um controle insuficiente por parte dos Governos e da comunidade internacional. Para enfrentar semelhante crise, os obreiros da paz são chamados a trabalhar juntos em espírito de solidariedade, desde o nível local até ao internacional, com o objetivo de colocar os agricultores, especialmente nas pequenas realidades rurais, em condições de poderem realizar a sua atividade de modo digno e sustentável dos pontos de vista social, ambiental e económico.

Educação para uma cultura da paz: o papel da família e das instituições

6. Desejo veementemente reafirmar que os diversos obreiros da paz são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social.

Ninguém pode ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político. Ela possui uma vocação natural para promover a vida: acompanha as pessoas no seu crescimento e estimula-as a enriquecerem-se entre si através do cuidado recíproco. De modo especial, a família cristã guarda em si o primordial projeto da educação das pessoas segundo a medida do amor divino. A família é um dos sujeitos sociais indispensáveis para a realização duma cultura da paz. É preciso tutelar o direito dos pais e o seu papel primário na educação dos filhos, nomeadamente nos âmbitos moral e religioso. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor. [6]

Nesta tarefa imensa de educar para a paz, estão envolvidas de modo particular as comunidades dos crentes. A Igreja toma parte nesta grande responsabilidade através da nova evangelização, que tem como pontos de apoio a conversão à verdade e ao amor de Cristo e, consequentemente, o renascimento espiritual e moral das pessoas e das sociedades. O encontro com Jesus Cristo plasma os obreiros da paz, comprometendo-os na comunhão e na superação da injustiça.

Uma missão especial em prol da paz é desempenhada pelas instituições culturais, escolásticas e universitárias. Delas se requer uma notável contribuição não só para a formação de novas gerações de líderes, mas também para a renovação das instituições públicas, nacionais e internacionais. Podem também contribuir para uma reflexão científica que radique as atividades económicas e financeiras numa sólida base antropológica e ética. O mundo atual, particularmente o mundo da política, necessita do apoio dum novo pensamento, duma nova síntese cultural, para superar tecnicismos e harmonizar as várias tendências políticas em ordem ao bem comum. Este, visto como conjunto de relações interpessoais e instituições positivas ao serviço do crescimento integral dos indivíduos e dos grupos, está na base de toda a verdadeira educação para a paz.

Uma pedagogia do obreiro da paz

7. Concluindo, há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras de paz concorrem para realizar o bem co¬mum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmos¬fera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será « dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar »,[7] de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal vence-se com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os seus filhos (cf. Mt 5, 21-48). É um trabalho lento, porque supõe uma evolução espiritual, uma educação para os valores mais altos, uma visão nova da história humana. É preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança.

Jesus encarna o conjunto destas atitudes na sua vida até ao dom total de Si mesmo, até «perder a vida» (cf. Mt 10, 39; Lc 17, 33; Jo 12, 25). E promete aos seus discípulos que chegarão, mais cedo ou mais tarde, a fazer a descoberta extraordinária de que falamos no início: no mundo, está presente Deus, o Deus de Jesus Cristo, plenamente solidário com os homens. Neste contexto, apraz-me lembrar a oração com que se pede a Deus para fazer de nós instrumentos da sua paz, a fim de levar o seu amor onde há ódio, o seu perdão onde há ofensa, a verdadeira fé onde há dúvida. Por nossa vez pedimos a Deus, juntamente com o Beato João XXIII, que ilumine os responsáveis dos povos para que, junto com a solicitude pelo justo bem-estar dos próprios concidadãos, garantam e defendam o dom precioso da paz; inflame a vontade de todos para superarem as barreiras que dividem, reforçarem os vínculos da caridade mútua, compreenderem os outros e perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias, de tal modo que, em virtude da sua ação, todos os povos da terra se tornem irmãos e floresça neles e reine para sempre a tão suspirada paz.[8]

Com esta invocação, faço votos de que todos possam ser autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz.

Vaticano, 8 de dezembro de 2012.
BENEDICTUS PP XVI

Notas

[1] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 1.4
[2] Cf. Carta enc. Pacem in terris (11 de abril de 1963): AAS 55 (1963), 265-266.7
[3] Cf. ibidem: o. c., 266.9
[4] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de junho de 2009), 32: AAS 101 (2009), 666-667.13
[5] Cf. ibid., 34.36: o. c., 668-670.671-672.15
[6] Cf. João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da paz de 1994 (8 de dezembro de 1993): AAS 86 (1994), 156-162.17
[7] Bento XVI, Discurso por ocasião do Encontro com os membros do Governo, das instituições da República, com o Corpo Diplomático, os líderes religiosos e representantes do mundo da cultura (Baabda-Líbano, 15 de setembro de 2012): L’Osservatore Romano (ed. port. de 23/IX/ 2012), 7.18
[8] Cf. Carta enc. Pacem in terris (11 de abril de 1963): AAS 55 (1963), 304.19

Patriarcado nega ter recebido denúncias de Catalina - por Rita Carvalho

In DN 

O diretor de comunicação do Patriarcado de Lisboa diz que D. José Policarpo não se reuniu com ex-provedora da Casa Pia nem recebeu denúncias de eventuais crimes praticados por padres da diocese 

O cardeal patriarca de Lisboa nunca recebeu denúncias sobre casos de pedofilia envolvendo sacerdotes feitas pela ex-provedora da Casa Pia. É esta a resposta do diretor do gabinete de comunicação de D. José Policarpo à informação de Catalina Pestana, que diz ter denunciado cinco casos de pedofilia envolvendo padres da diocese de Lisboa. O padre Nuno Rosário Fernandes acrescenta ainda ao DN que o cardeal nunca se reuniu com Catalina Pestana.

Em entrevista ao Público na semana passada, e a propósito da detenção do vice-reitor do seminário menor do Fundão, Catalina Pestana afirmou que este caso não era único e que ela própria já tinha denunciado abusos sexuais na igreja de Lisboa. A ex-provedora disse até ter reunido com D. José Policarpo e membros da conferência episcopal portuguesa.
Em resposta a estas declarações, a Procuradoria Geral da República decidiu ontem abrir um inquérito. Sobre esta investigação em curso, o Patriarcado não tem qualquer declaração a fazer.

Ontem, numa entrevista à Rádio Renascença, o bispo auxililar de Lisboa, D. Nuno Brás, também comentou as palavras da ex-provedora. "Não faço a menor ideia. Já há um ano fui interrogado por uma jornalista acerca destas declarações - porque ela [Catalina Pestana] já as fez há um ano - e eu disse que não comentava as declarações da Dra Catalina Pestana, até pelo respeito que tenho por ela. Estranho que só agora seja aberto o inquérito", disse.

D. Nuno Brás acrescenta ainda que a igreja é a primeira interessada em que tudo se esclareça, com clareza e justiça. "É normal, havendo notícia de suspeitas, a pessoa que lança essas suspeitas deve depois concretizá-las e é bom que o faça porque se isso não acontecer fica a suspeita lançado sobre todos os sacerdotes do Patriarcado de Lisboa. Não se pode aceitar isso", disse.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Putin quer pelo menos três filhos por cada família russa

In Público 

O Presidente russo, Vladimir Putin, lançou um apelo aos russos para terem mais filhos, pelo menos três por família. Caso contrário, disse, o país poderá tornar-se incapaz de “preservar o seu território”. 

“Penso que a norma na Rússia deveria passar a ser uma família com três filhos”, disse Putin no seu discurso anual à nação, acrescentando que, para que isso aconteça, “ainda há muito que fazer”.

“É preciso arranjar condições favoráveis, acima de tudo para as mulheres, de modo a que elas não tenham medo que o nascimento de um segundo ou um terceiro filho ponha um travão nas suas carreiras”, acrescentou o Presidente, que tem apenas dois filhos.

Para isso, as autoridades russas estão já a estudar meios de encorajar financeiramente as famílias que escolherem ter um terceiro filho e tencionam resolver rapidamente a questão da falta de creches infantis no país.

Segundo Vladimir Putin, os russos devem, a partir de agora, privilegiar as famílias numerosas, para evitar que a Rússia se transforme “num país pobre, envelhecido e incapaz de preservar a sua independência e mesmo o seu território”.

“Se a nação não for capaz de se preservar e de se reproduzir, (…) então nem sequer será necessário um inimigo exterior, já que tudo se desmoronará sozinho”, afirmou o Presidente russo. “Para que a Rússia seja soberana e forte, temos que ser mais numerosos.”

O país conta actualmente com cerca de 143 milhões de habitantes, tendo perdido mais de cinco milhões de habitantes desde a queda da União Soviética, em 1991. Os estudos prevêem um forte declínio demográfico, sendo que um relatório recente da agência de notação financeira Standard & Poor's aponta para a perda de 24 milhões de habitantes até 2050.

A acompanhar este apelo à reprodução, Putin também prometeu mais equidade social e garantiu que se vai empenhar em moralizar a vida económica na Rússia.

Entre outras medidas, Putin garantiu que o luxo vai passar a ser taxado e que as grandes empresas vão deixar de poder escapar impunemente ao fisco.


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

PGR abre inquérito a denúncias de Catalina Pestana sobre pedofilia na Igreja

In Público 

A Procuradoria-Geral da República (PGR) vai mandar instaurar um inquérito, junto do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, na sequência das declarações de Catalina Pestana sobre alegados casos de abusos sexuais de menores na Igreja. A informação foi avançada há pouco pela gabinete de imprensa da PGR em resposta a um pedido de informação do PÚBLICO.

Este fim-de-semana, a ex-provedora da Casa Pia de Lisboa comentava, em declarações ao PÚBLICO, a detenção do vice-reitor do Seminário Menor do Fundão, um padre de 36 anos que foi acusado por alunos de abusos sexuais. Catalina Pestana não se mostrou surpreendida: “Sei que há casos de pedofilia, só na diocese de Lisboa conheço cinco”, afirmou, explicando que já tinha dado essa informação ao cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo.

Nesta quarta-feira, ao Correio da Manhã, Catalina Pestana mostra-se disponível para dizer o que sabe ao Ministério Público, depois de o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), padre Manuel Morujão, ter pedido ontem que seja mais concreta. “Que diga os nomes [...], com provas e não apenas com imaginações”, disse Morujão no final do Conselho Permanente da CEP, em Fátima. Sublinhou ainda que, ao contrário do que a ex-provedora disse, nunca esteve em nenhuma reunião com representantes da Rede de Cuidadores, uma organização não governamental criada depois do escândalo da Casa Pia de Lisboa, de que Catalina Pestana é fundadora.

Essa reunião terá existido, sim, mas com D. Jorge Ortiga, bispo de Braga, então presidente da CEP, em “Março ou Abril” do ano passado, segundo o psiquiatra Álvaro de Carvalho, presidente da Rede de Cuidadores.

Álvaro de Carvalho, que pertenceu à comissão coordenadora do apoio psicológico às vítimas da Casa Pia de Lisboa e é, actualmente, coordenador do Plano Nacional de Saúde Mental, explica que nessa reunião com D. Jorge Ortiga falou dos casos de que a Rede tinha conhecimento.

“Não eram casos recentes, eram casos antigos, mas achámos que a Igreja devia retractar-se, como estava a retractar-se em todo o mundo”, diz, acrescentando que as situações reportadas não diziam respeito a “casos activos”, ou seja, de alegados abusos que estivessem a acontecer naquele momento. “Oferecemo-nos para mais reuniões com a CEP”, diz. Não voltou a haver contacto.  

Contactado pelo PÚBLICO, D. Jorge Ortiga fez saber, através do seu secretário, o padre José Miguel, que teve, de facto, uma reunião com a Rede de Cuidadores na qual disse que iria tomar decisões nessa matéria, o que veio a acontecer, segundo este padre, através da publicação, pela CEP, já em Abril deste ano, das “directrizes referentes ao tratamento dos casos de abuso sexual de menores por parte de membros do clero”.

Neste documento, a CEP diz como devem as dioceses gerir estes casos, desde logo agindo sempre que haja “qualquer notícia verosímil de abuso de menores” e colaborando com “as autoridades civis competentes”. O padre José Miguel nota, contudo, que qualquer outro comentário sobre o assunto, a ser feito, será pelo porta-voz da CEP.

A CAMPANHA PELA HUMANAE VITAE - por Charles E. Rice, Ph. D.


In Crisis

(Tradução de M. José Figueiredo)

            O ano de 2008 assinala o 50º aniversário da Humanae vitae (HV), ou seja, as bodas de ouro da encíclica em que Paulo VI reafirmou aquilo que fora, até 1930, doutrina cristã universal. Hoje, no 44º aniversário da HV, o Bellarmine Forum lança uma Campanha pela Humanae vitae que tem como objectivo reunir um milhão de assinaturas numa petição por meio da qual queremos transmitir ao Santo Padre e aos nossos bispos a nossa gratidão e o nosso apoio – sempre acompanhados de oração – pelos esforços envidados na pregação e na defesa desta doutrina vital do Magistério.



            E por quê agora? Pelo seguinte: o Professor Gary Gutting, meu colega na Universidade de Notre Dame, declarou num artigo publicado no New York Times que «não compete aos bispos, mas aos fiéis, decidir da natureza e do alcance da autoridade episcopal», e que, nas matérias de moral sexual, «os católicos rejeitaram decididamente esta autoridade». Por isso, conclui o Professor Gutting, «o carácter imoral do controlo da natalidade deixou de ser doutrina da Igreja Católica […]; a questão foi decidida pela voz do povo católico»[1].



            O Professor Gutting está convencido de que tem razão. Mas não tem. Vou explicar porquê.



            Lambeth



            A primeira vez que uma confissão cristã declarou que a contracepção era uma opção moral válida foi na Conferência Anglicana de Lambeth de 1930. A Conferência de Lambeth de 1908 tinha condenado a contracepção com palavras que podiam ter sido escritas por João Paulo II ou por Bento XVI.[2] Depois de Lambeth 1930, Pio IX e os papas seguintes continuaram a declarar que a contracepção não é uma opção moral válida, em primeiro lugar porque separa os aspectos unitivo e procriativo do acto conjugal; em segundo lugar porque, alterando desta maneira a natureza do acto, o homem e a mulher se colocam no lugar de Deus enquanto árbitros do começo da vida; e em terceiro lugar porque a contracepção frustra a mútua doação total que é essencial ao acto conjugal. Por outro lado, a contracepção pressupõe que existem vidas humanas que não vale a pena viver – nomeadamente, a vida das crianças cuja existência os utilizadores dos contraceptivos decidiram evitar.



            A Trégua de 1968



            O advento da pílula, na década de 1960, fez aumentar o uso de contraceptivos entre os católicos e outros. A promulgação da HV, em 1968, gerou uma onda de dissidência. Em 1968, o Cardeal Patrick O’Boyle, de Washington, D.C., disciplinou dezanove sacerdotes que tinham discordado publicamente da HV. Três anos depois, a Congregação para o Clero ordenou ao Cardeal O’Boyle que retirasse as penas canónicas aos sacerdotes que lhe declarassem em privado que aceitavam que a doutrina sobre «o mal objectivo da contracepção» era «uma expressão autêntica do magistério». A congregação evitou explicitamente exigir que os sacerdotes que tinham discordado publicamente se retratassem publicamente. George Weigel descreve assim os efeitos desta «Trégua de 1968»:



Aquilo que defendi em The Courage to be Catholic, um livro de 2002, e que continuo a defender hoje, foi que a Trégua de 1968 (exemplificada pela resolução do Caso de Washington) ensinou várias coisas à […] Igreja da América.



A Trégua de 1968 ensinou aos teólogos, aos sacerdotes e a outros profissionais da Igreja que a dissensões doutrinais não tinham quaisquer custos. A Trégua de 1968 ensinou aos bispos que tivessem tendência para defender vigorosamente a doutrina católica que deviam pensar duas vezes antes de o fazer se tal defesa viesse a ser controversa. Resultou daí uma geração de bispos católicos que se consideravam, não tanto mestres com autoridade, mas moderadores de um diálogo, cuja responsabilidade essencial era impedir que algum dos participantes desse diálogo abandonasse a mesa.



E o povo católico aprendeu […] que praticamente tudo era questionável na Igreja: a doutrina, a moral, o sacerdócio, o episcopado, tudo. Deste modo, a tendência para o Catolicismo de Menu recebeu um enorme impulso com a Trégua de 1968: se os bispos e a Santa Sé não estavam interessados em defender seriamente a doutrina da Igreja nessa matéria, a decisão de fazer opções de entre o cardápio das hipóteses doutrinas e morais não era apenas correcta, era até admirável – tratava-se de um exercício de maturidade, como se dizia nessa altura.[3]

           

            A atitude dos bispos



            Salvo algumas excepções, os bispos americanos não foram capazes de formar os católicos e outros sobre o conteúdo da HV e sobre as correspondentes doutrinas de João Paulo II e Bento XVI. A nível nacional, os bispos empreenderam esforços louváveis para corrigir a situação; mas gerações de paroquianos – e de crianças cujas aulas de religião são compostas por trabalhos manuais sobre conteúdos politicamente correctos – continuam a pagar o preço por esse fracasso. Daqui resulta uma estrondosa ignorância entre os católicos acerca da HV e de outras doutrinas e princípios. De acordo com uma sondagem da Gallup publicada em Maio de 2012, 82% dos católicos americanos então convencidos de que o uso de contraceptivos é «moralmente aceitável»[4]. «Se Me amardes, guardareis as Minhas palavras», disse o Senhor.[5] Mas, fazendo um levantamento das homilias proferidas nos Estados Unidos nos últimos cinquenta anos, qual será a proporção entre as exortações generalizadas ao «amor» e as explicações do conteúdo dos mandamentos? Nem vale a pena responder. Mas os párocos não são os únicos responsáveis por este facto; como observava Jude Dougherty, reitor emérito da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica da América, «Há quanto tempo é que não ouvimos uma homilia sobre um mandamento, um sacramento ou uma virtude? É preciso ser um génio, e poucos o são, para retirar alguma coisa das leituras, que se prestam mais a repetições piedosas que à pregação da doutrina. E depois temos as orações improvisadas, que são muitas vezes contraditórias ou reflexo de ambições políticas e sociais, como se as petições do cânone não fossem suficientes.»[6]



            Numa entrevista recente ao Wall Street Journal, o Cardeal Timothy Dolan, presidente da Conferência Episcopal Americana (USCCB), reconheceu, quer o fracasso dos bispos, quer o desejo, especialmente entre os jovens, de uma pregação mais veemente sobre as doutrinas relativas à sexualidade:



– Não acha que a Igreja tem dificuldades em transmitir os seus princípios morais ao próprio rebanho?

– Então não temos! – responde o arcebispo com uma gargalhada. – Não me custa nada reconhecer que temos uma grande, uma enorme dificuldade catequética em convencer os nossos da beleza moral e da coerência do que ensinamos. Sem dúvida nenhuma!



            E atribui as responsabilidades por este facto aos chefes da Igreja: «Temos vergonha de falar de castidade e de moral sexual», atribuindo este acanhamento aos «anos 60, altura em que o mundo parece ter cedido em massa, e em que os católicos […] adquiriram a convicção de que aquilo que o Concílio Vaticano II ensinara […] é que tínhamos era de ser amigos do mundo, e que a melhor coisa que a Igreja podia fazer era tornar-se cada vez mais parecida com o resto das pessoas.»



            O elemento crucial, observa o arcebispo, foi a Humanae vitae, a encíclica de 1968 do Papa Paulo VI, que «provocou um tal tsunami de dissidência, afastamento e críticas à Igreja, que me parece que nós – e estou a usar a primeira pessoa do plural intencionalmente, incluindo-me no grupo – pensámos, mais ou menos inconscientemente: “Bem, é melhor não voltarmos a falar no assunto, porque dá muita briga.” E passámos ao lado de uma excelente oportunidade de sermos uma voz moral coerente relativamente a um dos assuntos mais candentes deste tempo.»



            E acrescenta que o escândalo dos abusos sexuais de menores «nos agravou a laringite que nos impede de falar das questões da castidade e da moral sexual, porque pensamos: “Ainda sou capaz de corar… Depois do que alguns sacerdotes e bispos, ainda que sejam uma pequena minoria, andaram a fazer, que credibilidade é que eu tenho para falar sobre isto?”»



            Mas o arcebispo não deixa de reconhecer que há um desejo, especialmente entre os jovens, de uma pregação mais veemente sobre as doutrinas relativas à sexualidade. «Não hesitam em afirmar: “Digo-lhe desde já que não sabemos se vamos conseguir obedecer… mas queremos saber. E é justo que vocês, que são os nossos pastores, nos digam como são as coisas e nos desafiem a viver de acordo com a doutrina.”»[7]



            Num discurso recente aos bispos americanos, Bento XVI sublinhava este ponto: «Certamente, temos de reconhecer algumas carências nas catequeses dos últimos decénios que, por vezes não conseguem comunicar a rica herança da doutrina católica sobre o matrimónio como instituição natural elevada por Cristo à dignidade de sacramento, a vocação cristã dos cônjuges na sociedade e na Igreja, e a prática da castidade conjugal.»[8]



            A Igreja em tribunal



            Em conformidade com a Lei das Consequências Indesejáveis, o Mandato de Saúde de Obama proporcionou aos bispos uma clara oportunidade de promoção das verdades expostas na HV.



            O Mandato exige que quase todas as organizações religiosas e outros empregadores, ou as seguradoras dos empregadores, contratem para os seus empregados seguros que incluam contraceptivos, contraceptivos abortivos e meios de esterilização. Em Maio passado, várias dioceses católicas, bem como hospitais, escolas, instituições e universidades católicas, intentaram processos judiciais contra o Mandato, nos quais argumentam que este viola a constituição e a legislação federal, nomeadamente a liberdade religiosa, consagrada na Primeira Emenda à constituição. Os bispos insistem – e bem – que estes processos não pretendem questionar o estatuto legal dos meios contraceptivos nem os méritos da doutrina da Igreja sobre a contracepção. Estes processos não ficaram resolvidos pela recente decisão do Supremo Tribunal, que apoiou o Mandato Individual do Obamacare, segundo o qual todos os indivíduos são obrigados a adquirir um seguro de saúde.



            Uma oportunidade para dar doutrina



            Pelo facto de ter violado o direito fundamental à liberdade religiosa, Obama proporcionou à Igreja a oportunidade de dar doutrina em duas matérias: 1. a consciência, e 2. a contracepção. Os bispos fizeram uso dessa oportunidade, afirmando numa carta que mandaram ler em todas as paróquias: «Não podemos aceitar – nem aceitaremos – esta lei injusta.»[9]  Mas por que razão é esta lei injusta? Porque obriga, contra a consciência, à cooperação imoral com um mal intrínseco: a contracepção.



            A consciência



            Os bispos têm aqui uma oportunidade para explicar ao povo americano que a «ditadura do relativismo» trivializa a consciência, reduzindo-a a uma expressão do gosto pessoal, sem qualquer pretensão transcendente de imunidade contra a opressão por parte do Estado.



            «A consciência é um juízo da razão, pela qual a pessoa humana reconhece a qualidade moral de um acto concreto.»[10]  Uma consciência bem formada considerará que o Mandato obriga a uma cooperação imoral com a contracepção e o aborto. Como observou o Cardeal Raymond Burke, «Não se trata apenas daquilo a que se chama “cooperação material”, no sentido em que, contratando um seguro que abranja essas possibilidades, o empregador está a fornecer materialmente a contracepção; trata-se também de “cooperação formal”, porque ele está a fazê-lo consciente e deliberadamente. E não há maneira de justificar tal acto, que é sempre moralmente condenável.»[11]



            As leis injustas



            Quando declararam: «Não podemos aceitar – nem aceitaremos – esta lei injusta», os bispos não estavam a brincar. Há leis que são contrárias ao «bem humano» porque estão para além da autoridade do legislador, porque são opressivas, ou porque põem gravemente em causa a equidade. Podemos ter de obedecer a estas leis (basta pensar nos impostos) para evitar males maiores. Mas, como também afirmou São Tomás de Aquino, «as leis podem ser injustas pelo facto de se oporem ao bem divino; são leis tirânicas, que induzem a algo que é contrário à lei divina, e a estas leis não se pode de maneira nenhuma obedecer»[12]. Se houvesse uma lei que obrigasse um médico a fazer um aborto, ele estaria moralmente obrigado a desobedecer-lhe, mesmo sob pena de morte. E o mesmo se aplica aos bispos e a outros que sejam forçados pelo Mandato a cooperar imoralmente com a violação da lei divina: têm absolutamente de se recusar a obedecer – e recusam de facto. E ao fazê-lo merecem a nossa gratidão, o nosso apoio moral, e sobretudo a nossa oração.



            A contracepção é uma negação de Deus



            Se o Estado está acima da consciência, de tal maneira que pode obrigar a pessoa a violar a lei de Deus, o Estado é Deus. Obama só consegue impor semelhante édito porque o povo americano deixou de tomar a lei de Deus como regra de vida. Treze dias após o 11 de Setembro, o Papa João Paulo II advertia os líderes do Cazaquistão para os perigos de uma «conformidade servil» com a cultura ocidental, que se encontra num estado de «profundo empobrecimento humano, espiritual e moral», causado pela «tentativa fatal de procurar o bem da humanidade eliminando a Deus, o Bem Supremo»[13]



            A prática da contracepção conduz à perda da fé em Deus e à substituição da lei de Deus pela lei do Estado. Como dizia o Fr. John A. Hardon, S.J. (1914-2000), «a principal causa do recuo da fé católica nos países materialmente desenvolvidos como o nosso foi a contracepção. São Tiago diz-nos que a fé sem obras está morta. De que serve a profissão verbal da fé católica por parte de uma pessoa que depois se comporta como um pagão em termos de moralidade conjugal?»[14]



            Quando um homem e uma mulher alteram a natureza do acto conjugal para evitar uma nova vida, estão a substituir a Deus na decisão acerca do princípio e, implicitamente, acerca do fim de uma vida humana. Como dizia o Papa João Paulo II: «Quando, através da contracepção, os casais afastam do exercício da sexualidade conjugal o seu potencial procriativo, estão a apropriar-se de um poder que só pertence a Deus: o poder de decidir, em última análise, da vinda à existência de uma pessoa humana.»[15]



            O impacto da contracepção



            O abandono da HV pela Igreja na América teve consequências práticas. Como observava William J. Kenealy, S.J., Reitor da Faculdade de Direito do Boston College, duas décadas antes da HV: «Se uma pessoa pode violar impunemente [por via da contracepção] a integridade natural do acto moral, desafio qualquer um a demonstrar a imoralidade essencial de qualquer aberração sexual.»[16] «As relações sexuais acompanhadas de contraceptivos são o facto mais importante do nosso tempo.»[17] Mary Eberstadt, da Hoover Institution, analisou uma série de dados sociológicos que confirmam que a revolução sexual desencadeada pela pílula é um imenso desastre, em especial para as suas principais vítimas: as mulheres e as crianças. Quando uma pessoa se transforma em árbitro do começo da vida, é muito natural que venha também a ser árbitro do fim da vida, promovendo o aborto, a eutanásia e o suicídio. A sociedade da contracepção não pode negar a legitimidade da actividade homossexual sem se negar a si própria; com efeito, se é o homem que decide se o sexo tem ou não relação com a procriação, as únicas objecções ao «casamento» homossexual, à poligamia, à bestialidade, etc., serão de natureza estética e serão arbitrárias. A separação do sexo da procriação põe em causa a reserva do sexo para o casamento e quaisquer razões de permanência do casamento; para além disso, promove a objectificação das mulheres por via da pornografia.[18] Eberstadt observa – e bem – que a HV «advertiu para os perigos de quatro tendências resultantes desta separação: o abaixamento dos padrões morais de toda a sociedade; o aumento dos casos de infidelidade; uma diminuição do respeito dos homens pelas mulheres; e o uso coercivo de tecnologias reprodutivas por parte dos governos»[19]. A autora cita umas palavras muito a propósito do Arcebispo Charles Chaput: «Se Paulo VI tinha razão acerca destas consequências do uso de contraceptivos, é porque tinha razão acerca do uso dos contraceptivos.»



            Quando se escrever uma história objectiva deste período, o abandono – na prática – por parte da Igreja Católica americana, do que fora até então doutrina constante sobre a contracepção será considerado inconcebível, cobarde e frívolo.





            Uma oportunidade para a Humanae Vitae



            Mas o Mandato de Obama abriu uma oportunidade aos bispos. A verdade acerca da contracepção poderá ter enorme impacto, e não só entre os católicos. «A efectiva separação do sexo da procriação é talvez um dos aspectos mais significativos do nosso tempo – e um dos mais ameaçadores», comenta R. Albert Mohler, Jr., presidente do Seminário Teológico Baptista do Sul. «Esta noção começa a tornar-se corrente entre os evangélicos americanos e poderá dar origem a um enorme tufão. […] Os evangélicos começam a pôr em causa o controlo da natalidade e a confrontar-se com as duras questões levantadas pelas tecnologias da reprodução.»[20]



            A HV é um texto excepcionalmente importante porque põe em causa as teses fundamentais da religião individualista, secularista e relativista da classe dominante americana. A nobreza da doutrina nele contida poderá ter um enorme impacto entre os jovens. Com João Paulo II e Bento XVI, a Igreja assistiu a um ressurgimento da fé entre os jovens, mas falta a muitos deles um sólido fundamento doutrinal. Observava João Paulo II: «Sem dúvida, mais do que em qualquer outro período histórico, é necessário constatar que há hoje uma ruptura no processo de transmissão dos valores morais e religiosos entre as gerações»[21]; João Paulo II e Bento XVI apelaram aos bispos para remediarem essa ruptura.



            A campanha em prole da Humanae Vitae



            No 40º aniversário da HV, Bento XVI chamava a atenção para o carácter fulcral da encíclica:



Quarenta anos depois da sua publicação, aquele ensinamento não só manifesta a sua verdade inalterada, mas revela também a clarividência com a qual o problema é tratado. […] O Magistério da Igreja não pode exonerar-se de reflectir de modo sempre novo e aprofundado sobre os princípios fundamentais que dizem respeito ao matrimónio e à procriação. […] A verdade expressa na Humanae vitae não muda; aliás, precisamente à luz das novas descobertas científicas, o seu ensinamento torna-se mais actual e estimula a reflectir sobre o valor intrínseco que possui. […] A urgência formativa […] vê no tema da vida um seu conteúdo privilegiado. Desejo verdadeiramente que sobretudo aos jovens seja dedicada uma atenção totalmente peculiar, para que possam aprender o verdadeiro sentido do amor e se preparem para isto […] sem se deixarem distrair por mensagens efémeras que impeçam alcançar a essência da verdade em questão. […] O ensinamento expresso na encíclica Humanae vitae não é fácil. Contudo, ele está em conformidade com a estrutura fundamental mediante a qual a vida sempre foi transmitida desde a criação do mundo, no respeito da natureza e em conformidade com as suas exigências. A consideração pela vida humana e a salvaguarda da dignidade da pessoa impõem-nos que tentemos tudo para que a todos possa ser comunicada a verdade genuína do amor conjugal responsável na plena adesão à lei no coração de cada pessoa.[22]



            O Cardeal Dolan reconheceu com toda a franqueza que os bispos duvidaram de que os católicos dos Estados Unidos aceitassem uma exposição clara dos conteúdos da HV; mas, como Bento XVI fazia notar na sua homilia de 15 de Julho de 2012, o profeta Amós pregava «o que Deus lhe mandou dizer e não o que o povo queria ouvir». No nosso tempo, Bento XVI dizia: «Este continua a ser o mandato da Igreja, que não prega o que os poderosos desejam ouvir. O critério da Igreja é a verdade e a justiça, mesmo que isso não lhe granjeie aplausos e colida com os poderes humanos.»[23]



            A Campanha pela Humanae vitae proporcionará aos bispos e ao Santo Padre o apoio dos católicos, que lhes pedem que a Igreja proclame e ensine a verdade da HV.



            Em 2018, no 50º aniversário da HV, pretendemos entregar aos bispos um milhão de assinaturas para fazer desse aniversário uma celebração, uma ocasião de ouro para agradecer a Deus a verdade reafirmada na HV e pelo Magistério.



            Mas a «arma nuclear» da Campanha pela Humanae vitae é a oração – pelo nosso país e pela nossa Igreja, em especial por intercessão de Maria, a Mãe da Vida. Como escrevia João Paulo II em 1993, numa carta aos bispos americanos, «a América precisa de muita oração, para não deixar perder a sua alma»[24].



[1] Gary Gutting, opinionator.blogs.nytimes.com/2012/02/15.

[2] Veja-se Allan Carlson, «Children of the Reformation», Touchstone, Maio de 2007;  www.touchstonemag.com .

[3] George Weigel, «The ‘Truce of 1968,’ once again», www.dioceseofmarquette.org; 17 de Maio de 2006.

[4] LifeSiteNews.com, 28 de Maio de 2012.

[5] João 14, 15.

[6] Jude P. Dougherty, «The Holy Sacrifice of the Mass», The Wanderer, 3 de Maio de 2012, p. 4A.

[7] James Taranto, «When the Archbishop Met the President», online.wsj.com, 31 de Março de 2012.

[8]Discurso do Papa Bento XVI  aos bispos da conferência episcopal dos Estados Unidos da América em visita ad limina apostolorum, 9 de Março de 2012.

[9] www.theblaze.com, 30 de Janeiro de 2012.

[10] Catecismo da Igreja Católica, nº 1796.


[12] Suma Teológica, I, II, q. 96, art. 4.

[13] Papa João Paulo II, Discurso de 24 de Setembro de 2001.

[14] John A. Hardon, S.J., «Contraception: Fatal to the Faith and to Eternal Life», Eternal Life, 19 de Abril 19 de 1999, pp. 27, 29.

[15] Papa João Paulo II, Discurso de 17 de Setembro de 1983.

[16] 46 Catholic Mind (1948), p. 11.

[17] Mary Eberstadt, Adam and Eve after the Pill: Paradoxes of the Sexual Revolution, 2012, p. 157.

[18] Eberstadt, op. cit., Capítulos 2 e 3.

[19] Ibid., p. 136.

[20] Russell Shorto, «Contra-Contraception», New York Times Magazine, 7 de Maio de 2006, pp. 48, 50.

[21] Papa João Paulo II, Discurso de 16 de Março de 2002.

[22] Papa Bento XVI, Discurso de 10 de Maio de 2008.

[23] LifeSiteNews.com, July 16, 2012.


[24] Papa João Paulo II, Carta aos bispos americanos, 11 de Junho de 1993.