sábado, 22 de dezembro de 2012

Discurso Natalício intergral do Papa Bento XVI à Curia Romana

Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado,
Queridos irmãos e irmãs!

Com grande alegria, me encontro hoje convosco, amados membros do Colégio Cardinalício, representantes da Cúria Romana e do Governatorado, para este momento tradicional antes do Natal. A cada um de vós dirijo uma cordial saudação, começando pelo Cardeal Angelo Sodano, a quem agradeço as amáveis palavras e os ardentes votos que me exprimiu em nome dele e vosso. O Cardeal Decano recordou-nos uma frase que se repete muitas vezes na liturgia latina destes dias: «Prope este iam Dominus, venite, adoremus! – O Senhor está perto; vinde, adoremos!». Também nós, como uma única família, nos preparamos para adorar, na gruta de Belém, aquele Menino que é Deus em pessoa e tão próximo que Se fez homem como nós. De bom grado retribuo os votos formulados e agradeço de coração a todos, incluindo os Representantes Pontifícios espalhados pelo mundo, pela generosa e qualificada colaboração que cada um presta ao meu ministério.

Encontramo-nos no fim de mais um ano, também este caracterizado – na Igreja e no mundo – por muitas situações atribuladas, por grandes problemas e desafios, mas também por sinais de esperança. Limito-me a mencionar alguns momentos salientes no âmbito da vida da Igreja e do meu ministério petrino. Tivemos – como referiu o Cardeal Decano – em primeiro lugar as viagens realizadas ao México e a Cuba: encontros inesquecíveis com a força da fé, profundamente enraizada nos corações dos homens, e com a alegria pela vida que brota da fé. Recordo que, depois da chegada ao México, na borda do longo troço de estrada que tivemos de percorrer, havia fileiras infindáveis de pessoas que saudavam, acenando com lenços e bandeiras. Recordo que, durante o trajecto para Guanajuato – pitoresca capital do Estado do mesmo nome –, havia jovens devotamente ajoelhados na margem da estrada para receber a bênção do Sucessor de Pedro; recordo como a grande liturgia, nas proximidades da estátua de Cristo-Rei, constituiu um acto que tornou presente a realeza de Cristo: a sua paz, a sua justiça, a sua verdade. E tudo isto, tendo como pano de fundo os problemas dum país que sofre devido a múltiplas formas de violência e a dificuldades resultantes de dependências económicas. Sem dúvida, são problemas que não se podem resolver simplesmente com a religiosidade, mas sê-lo-ão ainda menos sem aquela purificação interior dos corações que provém da força da fé, do encontro com Jesus Cristo. Seguiu-se a experiência de Cuba; também lá nas grandes liturgias, com seus cânticos, orações e silêncios, se tornou perceptível a presença d’Aquele a quem, por muito tempo, se quisera recusar um lugar no país. A busca, naquele país, de uma justa configuração da relação entre vínculos e liberdade, seguramente, não poderá ter êxito sem uma referência àqueles critérios fundamentais que se manifestaram à humanidade no encontro com o Deus de Jesus Cristo.

Como sucessivas etapas deste ano que se encaminha para o fim, gostava de mencionar a grande Festa da Família em Milão, bem como a visita ao Líbano com a entrega da Exortação apostólica pós-sinodal que deverá agora constituir, na vida das Igrejas e da sociedade no Médio Oriente, uma orientação nos difíceis caminhos da unidade e da paz. O último acontecimento importante deste ano, a chegar ao ocaso, foi o Sínodo sobre a Nova Evangelização, que constituiu ao mesmo tempo um início comunitário do Ano da Fé, com que comemorámos a abertura do Concílio Vaticano II, cinquenta anos atrás, para o compreender e assimilar novamente na actual situação em mudança.

Todas estas ocasiões permitiram tocar temas fundamentais do momento presente da nossa história: a família (Milão), o serviço em prol da paz no mundo e o diálogo inter-religioso (Líbano), bem como o anúncio da mensagem de Jesus Cristo, no nosso tempo, àqueles que ainda não O encontraram e a muitos que só O conhecem por fora e, por isso mesmo, não O reconhecem. De todas estas grandes temáticas, quero reflectir um pouco mais detalhadamente sobre o tema da família e sobre a natureza do diálogo, acrescentando ainda uma breve consideração sobre o tema da Nova Evangelização.
A grande alegria, com que se encontraram em Milão famílias vindas de todo o mundo, mostrou que a família, não obstante as múltiplas impressões em contrário, está forte e viva também hoje; mas é incontestável – especialmente no mundo ocidental – a crise que a ameaça até nas suas próprias bases. Impressionou-me que se tenha repetidamente sublinhado, no Sínodo, a importância da família para a transmissão da fé como lugar autêntico onde se transmitem as formas fundamentais de ser pessoa humana. É vivendo-as e sofrendo-as, juntos, que as mesmas se aprendem. Assim se tornou evidente que, na questão da família, não está em jogo meramente uma determinada forma social, mas o próprio homem: está em questão o que é o homem e o que é preciso fazer para ser justamente homem. Os desafios, neste contexto, são complexos. Há, antes de mais nada, a questão da capacidade que o homem tem de se vincular ou então da sua falta de vínculos. Pode o homem vincular-se para toda a vida? Isto está de acordo com a sua natureza? Ou não estará porventura em contraste com a sua liberdade e com a auto-realização em toda a sua amplitude? Será que o ser humano se torna-se ele próprio, permanecendo autónomo e entrando em contacto com o outro apenas através de relações que pode interromper a qualquer momento? Um vínculo por toda a vida está em contraste com a liberdade? Vale a pena também sofrer por um vínculo? A recusa do vínculo humano, que se vai generalizando cada vez mais por causa duma noção errada de liberdade e de auto-realização e ainda devido à fuga da perspectiva duma paciente suportação do sofrimento, significa que o homem permanece fechado em si mesmo e, em última análise, conserva o próprio «eu» para si mesmo, não o supera verdadeiramente. Mas, só no dom de si é que o homem se alcança a si mesmo, e só abrindo-se ao outro, aos outros, aos filhos, à família, só deixando-se plasmar pelo sofrimento é que ele descobre a grandeza de ser pessoa humana. Com a recusa de tal vínculo, desaparecem também as figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho; caem dimensões essenciais da experiência de ser pessoa humana.

Num tratado cuidadosamente documentado e profundamente comovente, o rabino-chefe de França, Gilles Bernheim, mostrou que o ataque à forma autêntica da família (constituída por pai, mãe e filho), ao qual nos encontramos hoje expostos – um verdadeiro atentado –, atinge uma dimensão ainda mais profunda. Se antes tínhamos visto como causa da crise da família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente ser homem. Ele cita o célebre aforismo de Simone de Beauvoir: «Não se nasce mulher; torna-se mulher – On ne naît pas femme, on le devient». Nestas palavras, manifesta-se o fundamento daquilo que hoje, sob o vocábulo «gender - género», é apresentado como nova filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto até agora era a sociedade quem a decidia. Salta aos olhos a profunda falsidade desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente. O homem contesta o facto de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um facto pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: «Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstracto, que em seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza. Homem e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas da pessoa humana que se completam mutuamente. Se, porém, não há a dualidade de homem e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é própria; Bernheim mostra como o filho, de sujeito jurídico que era com direito próprio, passe agora necessariamente a objecto, ao qual se tem direito e que, como objecto de um direito, se pode adquirir. Onde a liberdade do fazer se torna liberdade de fazer-se por si mesmo, chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem.

Dito isto, gostava de chegar ao segundo grande tema que, desde Assis até ao Sínodo sobre a Nova Evangelização, permeou todo o ano que chega ao fim: a questão do diálogo e do anúncio. Comecemos pelo diálogo. No nosso tempo, para a Igreja, vejo principalmente três campos de diálogo, onde ela deve estar presente lutando pelo homem e pelo que significa ser pessoa humana: o diálogo com os Estados, o diálogo com a sociedade – aqui está incluído o diálogo com as culturas e com a ciência – e, finalmente, o diálogo com as religiões. Em todos estes diálogos, a Igreja fala a partir da luz que a fé lhe dá. Ao mesmo tempo, porém, ela encarna a memória da humanidade que, desde os primórdios e através dos tempos, é memória das experiências e dos sofrimentos da humanidade, onde a Igreja aprendeu o que significa ser homem, experimentando o seu limite e grandeza, as suas possibilidades e limitações. A cultura do humano, de que ela se faz garante, nasceu e desenvolveu-se a partir do encontro entre a revelação de Deus e a existência humana. A Igreja representa a memória do que é ser homem defronte a uma civilização do esquecimento que já só se conhece a si mesma e só reconhece o próprio critério de medição. Mas, assim como uma pessoa sem memória perdeu a sua identidade, assim também uma humanidade sem memória perderia a própria identidade. Aquilo que foi dado ver à Igreja, no encontro entre revelação e experiência humana, ultrapassa sem dúvida o mero âmbito da razão, mas não constitui um mundo particular que seria desprovido de interesse para o não-crente. Se o homem, com o próprio pensamento entra na reflexão e na compreensão daqueles conhecimentos, estes alargam o horizonte da razão e isto diz respeito também àqueles que não conseguem partilhar a fé da Igreja. No diálogo com o Estado e a sociedade, naturalmente a Igreja não tem soluções prontas para as diversas questões. Mas, unida às outras forças sociais, lutará pelas respostas que melhor correspondam à justa medida do ser humano. Aquilo que ela identificou como valores fundamentais, constitutivos e não negociáveis da existência humana, deve defendê-lo com a máxima clareza. Deve fazer todo o possível por criar uma convicção que possa depois traduzir-se em acção política.

Na situação actual da humanidade, o diálogo das religiões é uma condição necessária para a paz no mundo, constituindo por isso mesmo um dever para os cristãos bem como para as outras crenças religiosas. Este diálogo das religiões possui diversas dimensões. Há-de ser, antes de tudo, simplesmente um diálogo da vida, um diálogo da acção compartilhada. Nele, não se falará dos grandes temas da fé – se Deus é trinitário, ou como se deve entender a inspiração das Escrituras Sagradas, etc. –, mas trata-se dos problemas concretos da convivência e da responsabilidade comum pela sociedade, pelo Estado, pela humanidade. Aqui é preciso aprender a aceitar o outro na sua forma de ser e pensar de modo diverso. Para isso, é necessário fazer da responsabilidade comum pela justiça e a paz o critério basilar do diálogo. Um diálogo, onde se trate de paz e de justiça indo mais além do que é simplesmente pragmático, torna-se por si mesmo uma luta ética sobre a verdade e sobre o ser humano; um diálogo sobre os valores que são pressupostos em tudo. Assim o diálogo, ao princípio meramente prático, torna-se também uma luta pelo justo modo de ser pessoa humana. Embora as escolhas básicas não estejam enquanto tais em discussão, os esforços à volta duma questão concreta tornam-se um percurso no qual ambas as partes podem encontrar purificação e enriquecimento através da escuta do outro. Assim estes esforços podem ter o significado também de passos comuns rumo à única verdade, sem que as escolhas básicas sejam alteradas. Se ambas as partes se movem a partir duma hermenêutica de justiça e de paz, a diferença básica não desaparecerá, mas crescerá uma proximidade mais profunda entre eles.

Hoje em geral, para a essência do diálogo inter-religioso, consideram fundamentais duas regras:

1ª) O diálogo não tem como alvo a conversão, mas a compreensão. Nisto se distingue da evangelização, da missão.

2ª) De acordo com isso, neste diálogo, ambas as partes permanecem deliberadamente na sua identidade própria, que, no diálogo, não põem em questão nem para si mesmo nem para os outros.

Estas regras são justas; mas penso que assim estejam formuladas demasiado superficialmente. Sim, o diálogo não visa a conversão, mas uma melhor compreensão recíproca: isto é correcto. Contudo a busca de conhecimento e compreensão sempre pretende ser também uma aproximação da verdade. Assim, ambas as partes, aproximando-se passo a passo da verdade, avançam e caminham para uma maior partilha, que se funda sobre a unidade da verdade. Quanto a permanecer fiéis à própria identidade, seria demasiado pouco se o cristão, com a sua decisão a favor da própria identidade, interrompesse por assim dizer por vontade própria o caminho para a verdade. Então o seu ser cristão tornar-se-ia algo de arbitrário, uma escolha simplesmente factual. Nesse caso, evidentemente, ele não teria em conta que a religião tem a ver com a verdade. A propósito disto, eu diria que o cristão possui a grande confiança, mais ainda, a certeza basilar de poder tranquilamente fazer-se ao largo no vasto mar da verdade, sem dever temer pela sua identidade de cristão. Sem dúvida, não somos nós que possuímos a verdade, mas é ela que nos possui a nós: Cristo, que é a Verdade, tomou-nos pela mão e, no caminho da nossa busca apaixonada de conhecimento, sabemos que a sua mão nos sustenta firmemente. O facto de sermos interiormente sustentados pela mão de Cristo torna-nos simultaneamente livres e seguros. Livres: se somos sustentados por Ele, podemos, abertamente e sem medo, entrar em qualquer diálogo. Seguros, porque Ele não nos deixa, a não ser que sejamos nós mesmos a desligar-nos d’Ele. Unidos a Ele, estamos na luz da verdade.

Por último, impõe-se ainda uma breve consideração sobre o anúncio, sobre a evangelização, de que, na sequência das propostas dos Padres Sinodais, falará efectiva e amplamente o documento pós-sinodal. Acho que os elementos essenciais do processo de evangelização são visíveis, de forma muito eloquente, na narração de São João sobre a vocação de dois discípulos do Baptista, que se tornam discípulos de Cristo (cf. Jo 1, 35-39). Antes de tudo, há o simples acto do anúncio. João Baptista indica Jesus e diz: «Eis o Cordeiro de Deus!» Pouco depois o evangelista vai narrar um facto parecido; agora é André que diz a Simão, seu irmão: «Encontrámos o Messias!» (1, 41). O primeiro elemento fundamental é o anúncio puro e simples, o kerigma, cuja força deriva da convicção interior do arauto. Na narração dos dois discípulos, temos depois a escuta, o seguir os passos de Jesus; um seguir que não é ainda verdadeiro seguimento, mas antes uma santa curiosidade, um movimento de busca. Na realidade, ambos os discípulos são pessoas à procura; pessoas que, para além do quotidiano, vivem na expectativa de Deus: na expectativa, porque Ele está presente e, portanto, manifestar-Se-á. E a busca, tocada pelo anúncio, torna-se concreta: querem conhecer melhor Aquele que o Baptista designou como o Cordeiro de Deus. Depois vem o terceiro acto que tem início com o facto de Jesus Se voltar para trás, Se voltar para eles e lhes perguntar: «Que pretendeis?» A resposta dos dois é uma nova pergunta que indica a abertura da sua expectativa, a disponibilidade para cumprir novos passos. Perguntam: «Rabi, onde moras?» A resposta de Jesus – «vinde e vereis» – é um convite para O acompanharem e, caminhando com Ele, tornarem-se videntes.

A palavra do anúncio torna-se eficaz quando existe no homem uma dócil disponibilidade para se aproximar de Deus, quando o homem anda interiormente à procura e, deste modo, está a caminho rumo ao Senhor. Então, vendo a solicitude de Jesus sente-se atingido no coração; depois o impacto com o anúncio suscita uma santa curiosidade de conhecer Jesus mais de perto. Este ir com Ele leva ao lugar onde Jesus habita: à comunidade da Igreja, que é o seu Corpo. Significa entrar na comunhão itinerante dos catecúmenos, que é uma comunhão feita de aprofundamento e, ao mesmo tempo, de vida, onde o caminhar com Jesus nos faz tornar videntes.

«Vinde e vereis». Esta palavra dirigida aos dois discípulos à procura, Jesus dirige-a também às pessoas de hoje que estão em busca. No final do ano, queremos pedir ao Senhor para que a Igreja, não obstante as próprias pobrezas, se torne cada vez mais reconhecível como sua morada. Pedimos-Lhe para que, no caminho rumo à sua casa, nos torne, também a nós, sempre mais videntes a fim de podermos afirmar sempre melhor e de modo cada mais convincente: encontrámos Aquele que todo o mundo espera, ou seja, Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus e verdadeiro homem. Neste espírito, desejo de coração a todos vós um santo Natal e um feliz Ano Novo. Obrigado!

O Papa e o Rabino.chefe de França contra a ideologia do género - por Bento XVI

(Excerto do discurso do Papa à Curia Romana - 21. 12. 2012)

... (N)a questão da família, não está em jogo meramente uma determinada forma social, mas o próprio homem: está em questão o que é o homem e o que é preciso fazer para ser justamente homem. Os desafios, neste contexto, são complexos. Há, antes de mais nada, a questão da capacidade que o homem tem de se vincular ou então da sua falta de vínculos. Pode o homem vincular-se para toda a vida? Isto está de acordo com a sua natureza? Ou não estará porventura em contraste com a sua liberdade e com a auto-realização em toda a sua amplitude? Será que o ser humano se torna-se ele próprio, permanecendo autónomo e entrando em contacto com o outro apenas através de relações que pode interromper a qualquer momento? Um vínculo por toda a vida está em contraste com a liberdade? Vale a pena também sofrer por um vínculo? A recusa do vínculo humano, que se vai generalizando cada vez mais por causa duma noção errada de liberdade e de auto-realização e ainda devido à fuga da perspectiva duma paciente suportação do sofrimento, significa que o homem permanece fechado em si mesmo e, em última análise, conserva o próprio «eu» para si mesmo, não o supera verdadeiramente. Mas, só no dom de si é que o homem se alcança a si mesmo, e só abrindo-se ao outro, aos outros, aos filhos, à família, só deixando-se plasmar pelo sofrimento é que ele descobre a grandeza de ser pessoa humana. Com a recusa de tal vínculo, desaparecem também as figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho; caem dimensões essenciais da experiência de ser pessoa humana.
 
Num tratado cuidadosamente documentado e profundamente comovente, o rabino-chefe de França, Gilles Bernheim, mostrou que o ataque à forma autêntica da família (constituída por pai, mãe e filho), ao qual nos encontramos hoje expostos – um verdadeiro atentado –, atinge uma dimensão ainda mais profunda. Se antes tínhamos visto como causa da crise da família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente ser homem. Ele cita o célebre aforismo de Simone de Beauvoir: «Não se nasce mulher; torna-se mulher – On ne naît pas femme, on le devient». Nestas palavras, manifesta-se o fundamento daquilo que hoje, sob o vocábulo «gender - género», é apresentado como nova filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto até agora era a sociedade quem a decidia. Salta aos olhos a profunda falsidade desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente. O homem contesta o facto de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um facto pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: «Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstracto, que em seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza. Homem e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas da pessoa humana que se completam mutuamente. Se, porém, não há a dualidade de homem e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é própria; Bernheim mostra como o filho, de sujeito jurídico que era com direito próprio, passe agora necessariamente a objecto, ao qual se tem direito e que, como objecto de um direito, se pode adquirir. Onde a liberdade do fazer se torna liberdade de fazer-se por si mesmo, chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem.

Dito isto, gostava de chegar ao segundo grande tema que, desde Assis até ao Sínodo sobre a Nova Evangelização, permeou todo o ano que chega ao fim: a questão do diálogo e do anúncio. Comecemos pelo diálogo. No nosso tempo, para a Igreja, vejo principalmente três campos de diálogo, onde ela deve estar presente lutando pelo homem e pelo que significa ser pessoa humana: o diálogo com os Estados, o diálogo com a sociedade – aqui está incluído o diálogo com as culturas e com a ciência – e, finalmente, o diálogo com as religiões. Em todos estes diálogos, a Igreja fala a partir da luz que a fé lhe dá. Ao mesmo tempo, porém, ela encarna a memória da humanidade que, desde os primórdios e através dos tempos, é memória das experiências e dos sofrimentos da humanidade, onde a Igreja aprendeu o que significa ser homem, experimentando o seu limite e grandeza, as suas possibilidades e limitações. A cultura do humano, de que ela se faz garante, nasceu e desenvolveu-se a partir do encontro entre a revelação de Deus e a existência humana. A Igreja representa a memória do que é ser homem defronte a uma civilização do esquecimento que já só se conhece a si mesma e só reconhece o próprio critério de medição. Mas, assim como uma pessoa sem memória perdeu a sua identidade, assim também uma humanidade sem memória perderia a própria identidade. Aquilo que foi dado ver à Igreja, no encontro entre revelação e experiência humana, ultrapassa sem dúvida o mero âmbito da razão, mas não constitui um mundo particular que seria desprovido de interesse para o não-crente. Se o homem, com o próprio pensamento entra na reflexão e na compreensão daqueles conhecimentos, estes alargam o horizonte da razão e isto diz respeito também àqueles que não conseguem partilhar a fé da Igreja. No diálogo com o Estado e a sociedade, naturalmente a Igreja não tem soluções prontas para as diversas questões. Mas, unida às outras forças sociais, lutará pelas respostas que melhor correspondam à justa medida do ser humano. Aquilo que ela identificou como valores fundamentais, constitutivos e não negociáveis da existência humana, deve defendê-lo com a máxima clareza. Deve fazer todo o possível por criar uma convicção que possa depois traduzir-se em acção política.

Na situação actual da humanidade, o diálogo das religiões é uma condição necessária para a paz no mundo, constituindo por isso mesmo um dever para os cristãos bem como para as outras crenças religiosas. Este diálogo das religiões possui diversas dimensões. Há-de ser, antes de tudo, simplesmente um diálogo da vida, um diálogo da acção compartilhada. Nele, não se falará dos grandes temas da fé – se Deus é trinitário, ou como se deve entender a inspiração das Escrituras Sagradas, etc. –, mas trata-se dos problemas concretos da convivência e da responsabilidade comum pela sociedade, pelo Estado, pela humanidade. Aqui é preciso aprender a aceitar o outro na sua forma de ser e pensar de modo diverso. Para isso, é necessário fazer da responsabilidade comum pela justiça e a paz o critério basilar do diálogo. Um diálogo, onde se trate de paz e de justiça indo mais além do que é simplesmente pragmático, torna-se por si mesmo uma luta ética sobre a verdade e sobre o ser humano; um diálogo sobre os valores que são pressupostos em tudo. Assim o diálogo, ao princípio meramente prático, torna-se também uma luta pelo justo modo de ser pessoa humana. Embora as escolhas básicas não estejam enquanto tais em discussão, os esforços à volta duma questão concreta tornam-se um percurso no qual ambas as partes podem encontrar purificação e enriquecimento através da escuta do outro. Assim estes esforços podem ter o significado também de passos comuns rumo à única verdade, sem que as escolhas básicas sejam alteradas. Se ambas as partes se movem a partir duma hermenêutica de justiça e de paz, a diferença básica não desaparecerá, mas crescerá uma proximidade mais profunda entre eles.

Hoje em geral, para a essência do diálogo inter-religioso, consideram fundamentais duas regras:

1ª) O diálogo não tem como alvo a conversão, mas a compreensão. Nisto se distingue da evangelização, da missão.

2ª) De acordo com isso, neste diálogo, ambas as partes permanecem deliberadamente na sua identidade própria, que, no diálogo, não põem em questão nem para si mesmo nem para os outros.

Estas regras são justas; mas penso que assim estejam formuladas demasiado superficialmente. Sim, o diálogo não visa a conversão, mas uma melhor compreensão recíproca: isto é correcto. Contudo a busca de conhecimento e compreensão sempre pretende ser também uma aproximação da verdade. Assim, ambas as partes, aproximando-se passo a passo da verdade, avançam e caminham para uma maior partilha, que se funda sobre a unidade da verdade. Quanto a permanecer fiéis à própria identidade, seria demasiado pouco se o cristão, com a sua decisão a favor da própria identidade, interrompesse por assim dizer por vontade própria o caminho para a verdade. Então o seu ser cristão tornar-se-ia algo de arbitrário, uma escolha simplesmente factual. Nesse caso, evidentemente, ele não teria em conta que a religião tem a ver com a verdade. A propósito disto, eu diria que o cristão possui a grande confiança, mais ainda, a certeza basilar de poder tranquilamente fazer-se ao largo no vasto mar da verdade, sem dever temer pela sua identidade de cristão. Sem dúvida, não somos nós que possuímos a verdade, mas é ela que nos possui a nós: Cristo, que é a Verdade, tomou-nos pela mão e, no caminho da nossa busca apaixonada de conhecimento, sabemos que a sua mão nos sustenta firmemente. O facto de sermos interiormente sustentados pela mão de Cristo torna-nos simultaneamente livres e seguros. Livres: se somos sustentados por Ele, podemos, abertamente e sem medo, entrar em qualquer diálogo. Seguros, porque Ele não nos deixa, a não ser que sejamos nós mesmos a desligar-nos d’Ele. Unidos a Ele, estamos na luz da verdade. ...

Fr. Federico Lombardi SJ editorial: family and truth

In NewsVa

The Pope’s remarks at the traditional exchange of Christmas greetings with the officials of the Roman Curia are always among the most personal and carefully crafted by the Holy Father throughout the year: a reflection on the year that is drawing to a close, they are also a close study of issues that the Pope considers most urgent and of greatest moment. 

They are matters on which he feels the duty to show his mind, going to the heart of them with characteristic clarity and courage: to do so is for him a duty to the Church and humanity, come what may in the way of resistance or reaction. There are two issues chosen this year: the family and the complementarity of man and woman; dialogue and proclamation of the faith. With regard to the family, the Holy Father returns to the idea that the basic issue is anthropological: it involves the question, “What is a man?” 

There is an essential duality in human nature, for which each person is either male or female. From this duality arise the fundamental relations between father, mother and children. So much is in the plan of God the creator. To deny it is contrary to the truth. To affirm that it is the human person who determines his identity – even so far as regards the structure of his or her sexuality – is a destructive step. It opens up the way to arbitrary manipulation of nature, with very serious consequences for human dignity, starting with the dignity of children, who are no longer considered as subjects with rights, but as objects to which others have a right. In short: in the “struggle for the family” there is at stake the human person himself. The ample and appropriate reference to the thought of the Chief Rabbi of France, Gilles Bernheim, which the Holy Father makes throughout his argument, goes to show the position he defends and advances is not dependent on the peculiar teachings of the Church, but is rooted in reason and available to the great tradition that is common to Jews and Christians alike.

The second theme analysed by the Pope will also cause discussion. It is very topical and not detached from the first: a Christian enters the relationship of dialogue as bearer of the great experience of humanity interpreted in the light of the faith, and as one who is sensible of a responsibility for protecting, defending and sharing the most precious, true and lasting goods of that experience thus interpreted. The Christian enters dialogue with the confidence that the search for the truth will never bring into question his Christian identity. Because the truth is not something that we proudly possess, but something that calls us and guides us, like Christ accompanying us by the hand. This too is a Christmas wish: deep, demanding, present.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

UCP escancara as portas a Herodes - por Nuno Serras Pereira



Uma vez que existe o costume de matar o mensageiro como se ele fora culpado da autoria dos acontecimentos que noticia declaro-me, se Deus me conceder essa Graça, pronto para a fogueira, o linchamento, ou qualquer outra forma de tortura metódica conducente a uma aniquilação lenta e macabra.


Infelizmente dá-se o caso de a Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, apesar de prevenida por pessoas altamente qualificadas no sector da saúde mental, ter decidido organizar uma pós-graduação em serviço social na saúde mental leccionada por uma série de pessoas gravissimamente responsáveis por uma matança imensamente maior de crianças do que a de Herodes; autores de mentiras públicas escandalosas; advogadores da proibição de terapia para as pessoas homossexuais que o queiram; e instigadores da eutanásia.


Como se isto fora pouco, o curso destina-se a profissionais de serviço social, os quais, formatados por esta educação altamente católica, naturalmente trabalharão afincadamente em multiplicar caridosamente a carnagem.


Compreendo que alguém como eu que justamente não goza  de nenhuma credibilidade seja objecto de qualquer confiança. Por isso deixo ao leitor interessado umas notas com notícias e citações que poderá examinar.


Nunciatura Apostólica:

Av. Luís Bivar, 18 
1069-147 LISBOA
Tel. 213171130
Fax 213171149
nunciaturapt@netcabo.pt


21. 12. 2012

NOTAS:

Meia centena de psiquiatras tomam posição pelo "sim"

Por Sofia Branco

Público 09/02/2007 - 00:00

http://www.publico.pt/destaque/jornal/meia-centena-de-psiquiatras-tomam-posicao-pelo-sim-120587



Ana Matos Pires exige esclarecimento da Ordem sobre "síndrome pós-aborto"



Na sequência de afirmações de psiquiatras ligados aos movimentos pelo "não", que falavam de uma "síndrome pós-aborto", mais de 50 psiquiatras subscreveram um abaixo-assinado, no qual rejeitam a existência de diagnósticos psiquiátricos resultantes do aborto, realçam que o conceito não existe em nenhum compêndio científico e tomam posição a favor da despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas.

Subscrito por vários chefes e directores de serviço de psiquiatria - Daniel Sampaio e Maria Luísa Figueira (Santa Maria); Caldas de Almeida e Álvaro Carvalho (São Francisco Xavier); Graça Cardoso e Teresa Maia Correia (Fernando da Fonseca); António Leuschner (Magalhães Lemos); Fernando Areal (José Joaquim Fernandes); José Salgado (Hospital de Santarém); Alice Nobre, António Daskalos, José Manuel Jara, João Cabral Fernandes e António José Albuquerque (Júlio de Matos) -, o documento começou a circular, apenas no meio psiquiátrico, em reacção às declarações de Adriano Vaz Serra, director do serviço de psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que corroborou a ideia de uma "síndrome pós-aborto", primeiramente referida pela psiquiatra e mandatária da Plataforma Não Obrigada! Margarida Neto. O que mais indignou os subscritores do abaixo-assinado foi o facto de Adriano Vaz Serra ter falado como presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.

Ao PÚBLICO, a psiquiatra Ana Matos Pires, mandatária dos Médicos pela Escolha, adiantou ter já enviado um pedido de esclarecimento ao colégio de psiquiatria da Ordem dos Médicos e acrescentou que também vai dirigir a mesma solicitação à Sociedade Portuguesa de Psiquiatria.

Os psiquiatras que subscrevem o abaixo-assinado, a que o PÚBLICO teve acesso, referem que o "consenso científico actual" aponta que a decisão de abortar "está associada a um conjunto de sentimentos, como a tristeza e a culpa, que, por si só, não correspondem a um diagnóstico psiquiátrico". "Para muitas mulheres, a decisão de interromper uma gravidez indesejada é antes fonte de alívio e de normalização emocional", contrapõem. Realçando a importância do acompanhamento médico das mulheres, os psiquiatras alertam que aquele só será possível após "o fim do flagelo do aborto clandestino, que empurra as mulheres para uma decisão solitária, desinformada e que coloca graves riscos à sua saúde física e psíquica".



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Complicações associadas a abortos clandestinos diminuíram em mais de metade num ano

Por

12/07/2008 - 00:00




a As infecções e a perfuração de órgãos associadas ao aborto clandestino diminuíram em mais de metade desde que a lei da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) entrou em vigor, há um ano, revelou o director-geral da Saúde, Francisco George.
Em entrevista à agência noticiosa Lusa, a propósito do primeiro ano da aplicação da lei que permite a IVG até às dez semanas, cuja regulamentação entrou em vigor a 15 de Julho de 2007, Francisco George considerou que estes dados revelam que "a lei é boa e protege as mulheres".
No primeiro semestre de 2007, registaram-se 23 septicemias (infecções muito graves) e 11 perfurações de órgãos associadas à prática de aborto clandestino.
Já com a lei em vigor, na segunda metade do ano, ocorreram doze septicemias e uma perfuração, uma redução que George atribui à lei e que demonstra que o aborto clandestino é hoje "residual".
Desde 15 de Julho, a Direcção-Geral da Saúde registou apenas dois casos de prática de aborto clandestino, um dos quais está a ser investigado pelo Ministério Público.
Nos 38 hospitais públicos, três unidades privadas e três centros de saúde que fazem a IVG no âmbito da lei. realizaram-se, no último ano, 14.247 abortos. Destes, só pouco mais de dois mil são realizados nos serviços privados, disse.
A esmagadora maioria das interrupções foi feita por método medicamentoso. A opção dos serviços públicos pela interrupção medicamentosa contrasta com a opção dos privados.
Segundo Francisco George, "há uma grande, enorme, diferença entre o que se verifica nos sectores público e privado da rede".
Perto de 100 por cento dos serviços públicos utilizam o método medicamentoso (que custa 341 euros), enquanto mais de 90 por cento dos privado optam pelo cirúrgico (que custa 444 euros).
"Provavelmente, há aqui uma razão cultural, já que as mulheres portuguesas, no tempo da clandestinidade, entravam e, meia hora depois, saíam com a intervenção realizada", disse.
Os serviços de saúde públicos vão alargar a distribuição gratuita de pílulas e preservativos em quantidade para fazer contracepção até um ano, bem como facilitar a sua entrega, dispensando da consulta médica os utentes que tiverem ido ao médico no último ano.
Um estudo recente da Direcção-
-Geral da Saúde sobre a IVG revelou que 70 por cento das mulheres que fizeram a interrupção não tinham ido às consultas de planeamento familiar no último ano. "Há um trabalho que precisa de ser intensificado", disse.
Foram 700 as mulheres que optaram por prosseguir com a gravidez após "consulta prévia de aconselhamento sobre os apoios que o estado dá à gravidez", notou. Lusa
Francisco George considerou que os novos dados revelam que a nova lei é boa e protege as mulheres





"Sim" e "não" esgrimem estudos médicos sobre aborto

12/01/2007 - 00:00

http://www.publico.pt/jornal/sim-e-nao-esgrimem-estudos-medicos-sobre-aborto-116283



A psiquiatra Ana Matos Pires exclui uma síndrome pós-aborto, o psiquiatra Vaz Serra fala de 14 por cento de mulheres afectadas



O movimento Médicos Pela Escolha negou ontem a existência de uma "síndrome pós-aborto", alertando para as "falsas declarações sobre as dimensões psicológicas e psiquiátricas da interrupção voluntária da gravidez" que estão a ser feitas sobre a matéria pelos defensores do "não" à despenalização.

A psiquiatra Ana Matos Pires criticou que "é grave fazer manipulação de resultados quando está em causa a saúde pública", realçando que "a doença psiquiátrica é demasiado dolorosa para ser banalizada". E vincou: "Não existe nenhuma síndrome pós-aborto, em nenhuma das classificações da Organização Mundial de Saúde ou da associação americana de psiquiatria, nomeadamente. Pelo contrário, as perturbações pós-parto estão nessas classificações."

Membro dos Médicos Pela Escolha, Ana Matos Pires respondeu assim aos movimentos contra a despenalização, que, nas últimas semanas, vieram a público dizer que as mulheres que interrompem a gravidez sofrem de "síndrome pós-aborto".

Isso mesmo foi reiterado ontem pelo presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Adriano Vaz Serra, que, no âmbito de uma conferência organizada pela Plataforma Não Obrigada, simultaneamente à iniciativa dos Médicos Pela Escolha, afirmou, segundo a Lusa, que pelo menos 14 por cento das mulheres que abortam sofrem de stress pós-traumático.

Citando um estudo norte-americano feito em 2004 e publicado na revista Medical Science Monitor, o psiquiatra, que pertence ao Movimento Aborto a Pedido Não, afirmou ainda que "um número muito maior [de mulheres] apresenta parte dos sintomas da síndrome pós-traumática", entre os quais se incluem a lembrança constante do acontecimento, pesadelos, taquicardia e fobias, que, nos casos mais graves, pode conduzir ao suicídio. E acrescentou ainda que, de acordo com a mesma pesquisa, "64 por cento das mulheres que fizeram um aborto foram coagidas".

Por oposição, o psiquiatra Álvaro Carvalho, presente na iniciativa dos Médicos Pela Escolha, invocou documentos da Associação Americana de Psiquiatria (APA) sobre a gravidez não desejada. "Esses estudos revelam que as crianças não desejadas têm mais propensão a abusos e a maus tratos. A APA, no interesse do bem-estar público, defende que a interrupção voluntária da gravidez é um procedimento médico", sublinhou.

Na mesma conferência, a psicanalista Maria Belo afirmou: "Nem são precisos estudos, basta sermos realistas. Todos conhecemos alguém que fez um aborto e sabemos que não é por causa disso que essas pessoas ficam com uma síndrome." "Que um aborto é um acontecimento que pode determinar sofrimento psicológico, é verdade. Mas não minto se afirmar que também é uma fonte de alívio para muitas mulheres", acrescentou a psicóloga Marta Crawford.

"A referência insistente a tal fenómeno não é mais do que uma invenção politicamente orientada", afirmaram os Médicos Pela Escolha, em comunicado. Os estudos apresentados pela Plataforma Não Obrigado são, afirmam, "enganosos, feitos com base em amostras não representativas da população, resultando em conclusões abusivas". S.B., com Lusa



Meia centena de psiquiatras tomam posição pelo "sim"



09/02/2007 - 00:00




Ana Matos Pires exige esclarecimento da Ordem sobre "síndrome pós-aborto"



Na sequência de afirmações de psiquiatras ligados aos movimentos pelo "não", que falavam de uma "síndrome pós-aborto", mais de 50 psiquiatras subscreveram um abaixo-assinado, no qual rejeitam a existência de diagnósticos psiquiátricos resultantes do aborto, realçam que o conceito não existe em nenhum compêndio científico e tomam posição a favor da despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas.

Subscrito por vários chefes e directores de serviço de psiquiatria - Daniel Sampaio e Maria Luísa Figueira (Santa Maria); Caldas de Almeida e Álvaro Carvalho (São Francisco Xavier); Graça Cardoso e Teresa Maia Correia (Fernando da Fonseca); António Leuschner (Magalhães Lemos); Fernando Areal (José Joaquim Fernandes); José Salgado (Hospital de Santarém); Alice Nobre, António Daskalos, José Manuel Jara, João Cabral Fernandes e António José Albuquerque (Júlio de Matos) -, o documento começou a circular, apenas no meio psiquiátrico, em reacção às declarações de Adriano Vaz Serra, director do serviço de psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que corroborou a ideia de uma "síndrome pós-aborto", primeiramente referida pela psiquitra e mandatária da Plataforma Não Obrigada! Margarida Neto. O que mais indignou os subscritores do abaixo-assinado foi o facto de Adriano Vaz Serra ter falado como presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.

Ao PÚBLICO, a psiquiatra Ana Matos Pires, mandatária dos Médicos pela Escolha, adiantou ter já enviado um pedido de esclarecimento ao colégio de psiquiatria da Ordem dos Médicos e acrescentou que também vai dirigir a mesma solicitação à Sociedade Portuguesa de Psiquiatria.

Os psiquiatras que subscrevem o abaixo-assinado, a que o PÚBLICO teve acesso, referem que o "consenso científico actual" aponta que a decisão de abortar "está associada a um conjunto de sentimentos, como a tristeza e a culpa, que, por si só, não correspondem a um diagnóstico psiquiátrico". "Para muitas mulheres, a decisão de interromper uma gravidez indesejada é antes fonte de alívio e de normalização emocional", contrapõem. Realçando a importância do acompanhamento médico das mulheres, os psiquiatras alertam que aquele só será possível após "o fim do flagelo do aborto clandestino, que empurra as mulheres para uma decisão solitária, desinformada e que coloca graves riscos à sua saúde física e psíquica".



Deputado José Paulo Carvalho acusa Francisco George de "faltar à verdade"

LUSA 10/04/2009 - 19:16








O deputado José Paulo Carvalho acusou hoje o director-geral da Saúde, Francisco George, de "faltar à verdade" quando afirmou que as perfurações de órgãos acabaram desde que foi despenalizado o aborto até às dez semanas.



"Relativamente às perfurações, o sr. director-geral da Saúde faltou à verdade porque segundo dados da própria direcção-geral não houve perfurações de útero ou de outro órgão em 2003, 2004 e 2005. Houve uma em 2006 e 12 em 2007, precisamente o ano em que foi liberalizado o aborto", assinalou José Paulo Carvalho, deputado não inscrito em grupo parlamentar, ex-militante do CDS-PP.



No passado dia 7, Dia Mundial da Saúde, Francisco George congratulou-se com os resultados alcançados com a lei da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), aprovada a 17 de Abril de 2007 e regulamentada em Julho do mesmo ano. O responsável anunciou que, em consequência da nova legislação, foram eliminadas as complicações associadas ao aborto clandestino, nomeadamente as perfurações de órgão e as infecções. "Deixaram de surgir nas urgências hospitalares casos de órgãos perfurados e infecções" associados ao aborto clandestino, disse.



"Como é que se pode dizer que acabaram as perfurações de órgãos por causa da liberalização do aborto, se houve três anos em que não houve esse tipo de complicações e o ano em que houve 12 foi precisamente o ano em que o aborto foi liberalizado?", questionou José Paulo Carvalho.



Dados de 2008



"Ou estes 12 casos de 2007 se verificaram todos entre 1 de Janeiro e o dia 17 de Abril ou manifestamente houve casos espalhados ao longo do ano e então não venha o director-geral da saúde dizer que foi por causa da lei que acabaram as perfurações", criticou, exigindo que sejam divulgados os números relativos a 2008.



Para José Paulo Carvalho, "o director-geral da Saúde, no intuito fervoroso de propaganda à liberalização do aborto e aos seus benefícios, faltou manifestamente à verdade nas declarações que proferiu no Dia Mundial da Saúde", acusou.



Os dados estatísticos citados pelo deputado são da Direcção-Geral da Saúde e foram-lhe fornecidos pelo ministério da tutela, em resposta, com data de 26 de Janeiro, a um requerimento que entregou na Assembleia da República. "Pedi também os dados de 2008 mas não me foram entregues", assinalou, acusando Francisco George de "faltar ao respeito pela realidade estatística da própria Direcção-Geral".



No que respeita às infecções, que o director-geral de Saúde disse terem acabado em consequência da nova lei, o mesmo quadro da DGS mostra que se registaram 67 em 2002, 76 em 2003, 56 em 2004, 51 em 2005, 56 em 2007 e 35 em 2007.



Contactado pela agência Lusa, Francisco George não quis pronunciar-se.



Complicações associadas a abortos clandestinos diminuíram em mais de metade num ano

12/07/2008 - 00:00

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a As infecções e a perfuração de órgãos associadas ao aborto clandestino diminuíram em mais de metade desde que a lei da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) entrou em vigor, há um ano, revelou o director-geral da Saúde, Francisco George.

Em entrevista à agência noticiosa Lusa, a propósito do primeiro ano da aplicação da lei que permite a IVG até às dez semanas, cuja regulamentação entrou em vigor a 15 de Julho de 2007, Francisco George considerou que estes dados revelam que "a lei é boa e protege as mulheres".

No primeiro semestre de 2007, registaram-se 23 septicemias (infecções muito graves) e 11 perfurações de órgãos associadas à prática de aborto clandestino.

Já com a lei em vigor, na segunda metade do ano, ocorreram doze septicemias e uma perfuração, uma redução que George atribui à lei e que demonstra que o aborto clandestino é hoje "residual".

Desde 15 de Julho, a Direcção-Geral da Saúde registou apenas dois casos de prática de aborto clandestino, um dos quais está a ser investigado pelo Ministério Público.

Nos 38 hospitais públicos, três unidades privadas e três centros de saúde que fazem a IVG no âmbito da lei. realizaram-se, no último ano, 14.247 abortos. Destes, só pouco mais de dois mil são realizados nos serviços privados, disse.

A esmagadora maioria das interrupções foi feita por método medicamentoso. A opção dos serviços públicos pela interrupção medicamentosa contrasta com a opção dos privados.

Segundo Francisco George, "há uma grande, enorme, diferença entre o que se verifica nos sectores público e privado da rede".

Perto de 100 por cento dos serviços públicos utilizam o método medicamentoso (que custa 341 euros), enquanto mais de 90 por cento dos privado optam pelo cirúrgico (que custa 444 euros).

"Provavelmente, há aqui uma razão cultural, já que as mulheres portuguesas, no tempo da clandestinidade, entravam e, meia hora depois, saíam com a intervenção realizada", disse.

Os serviços de saúde públicos vão alargar a distribuição gratuita de pílulas e preservativos em quantidade para fazer contracepção até um ano, bem como facilitar a sua entrega, dispensando da consulta médica os utentes que tiverem ido ao médico no último ano.

Um estudo recente da Direcção--Geral da Saúde sobre a IVG revelou que 70 por cento das mulheres que fizeram a interrupção não tinham ido às consultas de planeamento familiar no último ano. "Há um trabalho que precisa de ser intensificado", disse.

Foram 700 as mulheres que optaram por prosseguir com a gravidez após "consulta prévia de aconselhamento sobre os apoios que o estado dá à gravidez", notou. Lusa

Francisco George considerou que os novos dados revelam que a nova lei é boa e protege as mulheres





Direcção-Geral de Saúde espera 20 mil abortos a pedido por ano

LUSA 16/07/2007 - 14:43



S. Francisco Xavier é um dos quatro hospitais públicos que não praticará a IVG

PEDRO VALDEZ/PÚBLICO




A Direcção-Geral de Saúde calcula que se vão realizar 20 mil interrupções voluntárias da gravidez (IVG) por ano em Portugal, um número que as autoridades querem reduzir no prazo de cinco anos.



O director-geral de Saúde disse que, dentro de cinco anos, pretende reduzir "ao mínimo possível" o número de abortos a pedido da mulher em Portugal, mas não especificou qual a meta a atingir, uma vez que são necessárias análises a realizar durante a aplicação de um novo programa de planeamento familiar.



Em conferência de imprensa, Francisco George divulgou a lista dos 38 hospitais públicos e duas clínicas privadas no continente que estão prontos para realizar abortos a pedido da mulher.



De fora desta lista, ficam o hospital da Guarda, o de Matosinhos, o de Évora e o São Francisco Xavier, em Lisboa.



No entanto, Francisco George sublinhou que se trata de uma "rede flexível" que pode ir sofrendo alterações, mediante a disponibilidade dos hospitais.



Nos Açores, o hospital do Faial é o único das três unidades que está preparado para realizar a IVG.



Quanto à Região Autónoma da Madeira, a lei não será aplicada porque o governo regional decidiu esperar que o Tribunal Constitucional se pronuncie sobre o diploma.



Francisco George contou na conferência de imprensa que o director regional da Madeira se escusou a participar nas reuniões preparatórias do processo de aplicação da IVG até às 10 semanas, ao contrário do seu homólogo açoriano.



Especialistas defendem que está na altura de fazer balanço e rever a lei do aborto

ANDREA CUNHA FREITAS 15/07/2010 - 00:00

    http://www.publico.pt/portugal/jornal/especialistas-defendem-que-esta-na-altura-de-fazer-balanco-e-rever-a-lei-do-aborto-19828243



As falhas no planeamento familiar e as repetições de aborto preocupam os profissionais de saúde. Alguns propõem que a interrupção de gravidez deixe de ser gratuita



Passados três anos da vigência da lei que despenaliza o aborto até às dez semanas em Portugal, os especialistas consideram que o balanço é positivo, mas apontam para a necessidade de adequar o diploma à realidade. O elevado número de mulheres que, após uma interrupção de gravidez, falta à consulta de planeamento familiar (prevista na lei) e as repetições de aborto são as questões que mais preocupam os profissionais de saúde. Apesar de admitir que "tudo pode ser melhorado", o director-geral da Saúde, Francisco George, responde que "não é oportuno voltar a debater a IVG".



"Agora está na altura de começar a diminuir o número de abortos. Este ano será a prova de fogo", avisa Miguel Oliveira da Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV). Para o especialista - que aplaude os ganhos conseguidos na mortalidade e morbilidade materna associadas a abortos clandestinos -, está na hora de rever a lei. Preocupado com as mulheres que fazem um aborto e faltam à consulta de planeamento familiar - "é uma falta de civismo que uma mulher que faz um aborto de borla, às nossas custas, não se dê ao trabalho de comparecer à consulta" -, o médico volta a defender que o aborto deveria deixar de ser gratuito nos casos de reincidência. Os números de repetições de aborto em Portugal (340 mulheres das 19 mil que abortaram em 2009 fizeram-no duas vezes) estarão ainda abaixo da média de outros países.



Luís Graça, director do serviço de Obstetrícia do Hospital de Santa Maria (Lisboa), insiste na defesa do pagamento da taxa moderadora e numa "eventual punição a posteriori" nos casos de repetição. "Um aborto deveria ser pago, tal como é paga uma operação ao apêndice", afirma. Referindo que apenas uma em cada três mulheres comparece à consulta de planeamento familiar, lembra que a "lei concedeu um direito, mas também acarreta deveres". Luís Graça elogia ainda o "inegável progresso nas mortes e complicações maternas" e critica a "vaga de objecções de consciência". Francisco George diz que "não faz sentido" debater uma revisão da lei e admite apenas que "é preciso reforçar as consultas de planeamento familiar". George defende ainda que "o problema das repetições de aborto é complexo e a solução não estará numa forma de repressão".



"Foram 54 mil abortos, ou seja, 54 mil crianças que daqui a cinco anos estariam nas escolas portuguesas", diz a presidente da Federação Portuguesa Pela Vida, Isilda Pegado, defendendo uma revogação da lei e mais investimento no "apoio à maternidade". Duarte Vilar, director executivo da Associação para o Planeamento Familiar, afirma que é altura de "começar a debater o que deve ser adequado à realidade". E, além das falhas no planeamento familiar, lança mais uma acha na fogueira do debate sobre mudanças na lei e propõe que se avalie um eventual alargamento do prazo de dez semanas para a interrupção da gravidez (à semelhança de Espanha, onde o aborto foi recentemente despenalizado até às 14 semanas).





Clínica privada recebe mulheres dos hospitais públicos

CATARINA GOMES 17/07/2007 - 00:00




Director-geral de Saúde admite que há centros de saúde com ruptura

de stocks de contraceptivos orais



a A primeira clínica privada licenciada para fazer abortos em Lisboa já está a receber mulheres enviadas por três hospitais públicos da região e recebeu contactos de mais sete, informou ontem a directora da clínica dos Arcos, Yolanda Hernandez. A regulamentação da nova lei do aborto entrou ontem em vigor.

No primeiro dia de portas abertas na clínica espanhola fizeram consulta prévia à interrupção voluntária da gravidez (IVG) 30 mulheres, um número bastante superior às 16 que tem recebido semanalmente o Hospital de S. João, no Porto, ou as 18 que estavam marcadas para esta semana no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

O Hospital S. Francisco Xavier, Lisboa - um de oito hospitais que não avançou com a IVG por falta de capacidade de resposta - é uma das unidades públicas que vai encaminhar mulheres para a clínica privada espanhola, pagando os custos, informou o presidente do conselho de administração do centro hospitalar de Lisboa Ocidental), José Miguel Boquinhas. Já a outra unidade privada licenciada, a Clínica de Oiã ( Aveiro), não foi contactada por hospitais e atendeu ontem quatro mulheres, disse o seu director, Amílcar Pereira.

A rede de unidades aptas a fazer IVG é constituída por 38 hospitais públicos e duas clínicas privadas, mas podem ser acrescentadas unidades ao longo do tempo, esclareceu ontem o director-geral de Saúde, Francisco George, em conferência de imprensa.

As previsões oficiais são de 20 mil abortos por ano, número que George espera que se mantenha próximo deste valor nos primeiros cinco anos, mas que depois vá descendo. Isto porque é intenção da Direcção-Geral da Saúde (DGS) "intensificar o programa de planeamento familiar para reduzir o número de gravidezes indesejadas", disse.

Questionado pelos jornalistas, o responsável admitiu, contudo, que há centros de saúde onde "existe ruptura do stock de anticoncepcionais orais nos centros de saúde". Os grupos de intervenção prioritária no planeamento familiar deverão ser os mais pobres, imigrantes e os mais jovens.

Contrariando a reivindicação da Ordem dos Médicos (OM), tanto George como Jorge Branco disseram ontem que não será criado um registo nacional de médicos objectores de consciência. São poucos os médicos que trabalham até agora no privado (cerca de dez) e muitos estão em exclusividade, notou o director-geral da Saúde.

George tentava assim afastar a hipótese de poder haver médicos que se apresentam como objectores ao aborto no público e não no privado. Jorge Branco acrescentou que houve dúvidas se um registo com estes dados seria aprovado à luz da legislação da protecção de dados.

A OM lamentou ontem que o Ministério da Saúde não tenha avançado com uma registo nacional de obstetras objectores. "O país não tem qualquer maneira de impedir" que os obstetras contornem no sector privado a objecção de consciência declarada no público", admitiu o bastonário à Lusa. A OM vai agora tentar promover esse registo, acrescentou.

Objectores de consciência

A objecção de consciência foi declarada por 100 por cento dos médicos no S. Francisco de Xavier, nos hospitais de Évora, da Terceira e São Miguel. O presidente do governo açoriano garantiu que a região vai comparticipar as despesas das mulheres que não puderem fazer abortos nos Açores.

Com níveis de objecções de consciência que impedem a prática de interrupção voluntária da gravidez estão os hospitais da Guarda, Viana do Castelo, Leiria e o Hospital Pedro Hispano (Matosinhos). No Hospital Santo António não foram avançadas explicações para o facto de não começarem a cumprir a lei.

35 enfermeiros declararam-se objectores de consciência à nova lei do aborto, disse a respectiva Ordem.



Director-geral da saúde garante que haverá "rede muito vasta" de unidades para IVG

LUSA 14/07/2007 - 12:59






O director-geral da Saúde, Francisco George, garantiu hoje à Lusa que vai haver uma "rede muito vasta" de unidades no país para a realização de interrupções voluntárias da gravidez (IVG), ao abrigo da nova lei.



Questionado pela Lusa sobre a incapacidade de pelo menos nove hospitais públicos de realizar abortos, Francisco George garantiu que "haverá uma rede muito vasta" de unidades, que será apresentada na segunda-feira em conferência de imprensa, remetendo quaisquer outras informações para esse momento. "Estamos a trabalhar na rede para ser apresentada segunda-feira. É uma rede muito vasta que cobre todo o país, sendo constituída por dezenas de serviços públicos e, em termos de complementaridade, apenas por duas unidades privadas", disse Francisco George.



Segundo um levantamento realizado pela Lusa, pelo menos nove hospitais públicos de todo o país vão ter de reencaminhar para outras unidades as mulheres que queiram realizar abortos ao abrigo da nova lei, cuja regulamentação entra amanhã em vigor, devido ao elevado número de objectores de consciência.



Algarve mais preparado

O Algarve é a única região do País onde não há hospitais sem capacidade de realizar interrupções voluntárias da gravidez, apesar de apesar de cerca de metade dos 25 obstetras da unidade da capital algarvia terem declarado objecção de consciência. No extremo oposto está a região autónoma dos Açores, onde apenas um dos três hospitais terá médicos suficientes para realizar a intervenção.



Na região Norte, três dos 14 hospitais não estão preparados para realizar IVG, enquanto os restantes nove estabelecimentos de saúde oficialmente reconhecidos já estão a dar resposta aos pedidos desde segunda-feira. O elevado número de médicos objectores de consciência inviabiliza a realização de abortos nos hospitais distritais da Guarda e Leiria, que deverão reencaminhar as mulheres para outros hospitais da região.



Évora sem obstetras, Madeira quer decisão do Tribunal Constitucional

No Alentejo, o hospital de Évora vê-se impedido de realizar IVG depois de todos os obstetras terem invocado o estatuto de objector de consciência, uma situação que irá obrigar a unidade a encaminhar as mulheres do distrito para Beja e Portalegre. A Madeira é a única região do país onde a lei não será para já aplicada, não por falta de médicos disponíveis, mas por decisão do Governo regional, que suspendeu a aplicação do diploma enquanto o Tribunal Constituicional não se pronunciar sobre ele.



Os hospitais de S.Francisco Xavier e Torres Vedras são as duas unidades da região de Lisboa e Vale do Tejo impossibilitadas de realizar abortos devido ao número de objectores de consciência.



A ausência de médicos para realizar a IVG obriga, de acordo com a lei, a unidade hospitalar a contratualizar o serviço com outro hospital, mediante pagamento. A Ordem dos Médicos já anunciou que abrirá processos disciplinares a todos os médicos que apesar de se terem declarado objectores de consciência no sector público realizem IVG no privado.



A regulamentação da lei da IVG, publicada a 21 de Junho em Diário da República, prevê que a consulta prévia obrigatória seja marcada no período máximo de cinco dias. Durante o período de reflexão da mulher (que não deve ser inferior a três dias a contar da data da primeira consulta), deve ser disponibilizado o acompanhamento por psicólogo ou assistente social, caso a grávida o solicite. Obrigatória é a marcação de uma consulta de saúde reprodutiva ou planeamento familiar no prazo máximo de 15 dias após a IVG.



A partir de domingo, para saberem a que instituição da sua área de residência se devem dirigir, as mulheres podem ligar para a linha telefónica Saúde24, através do  808 24 24 24, um número que funciona 24 horas por dia e que tem o custo de uma chamada local.



A actual lei, cuja regulamentação entra em vigor domingo e que permite o aborto a pedido da mulher até às 10 semanas de gravidez, resulta da vitória do "sim" à despenalização da IVG no referendo do passado dia 11 de Fevereiro, apesar de a consulta não ter sido vinculativa.



Psiquiatras recusam tratar homossexualidade

por Ana Bela Ferreira e Elisabete Silva29 dezembro 2009






Médicos defendem que a homossexualidade não se altera por acção clínica. Parecer da Ordem dos Médicos, que é discutido hoje, fala, porém, em casos mutáveis.

Os psiquiatras consideram que a homossexualidade não é mutável por acção médica e recusam tratar quem lhes peça este tipo de ajuda. Uma posição diferente aquela defendida pelo parecer do Colégio de Especialidade de Psiquiatria, que hoje deverá ser aprovado (ver texto ao lado), e onde se refere que em alguns casos a orientação sexual pode ser mutável e, que os médicos não devem ignorar os pedidos de ajuda dos homossexuais.

"Se tenho à minha frente um homossexual exclusivo que não aceita esse facto e me pede para ser heterossexual digo que não há tratamento", defende Júlio Machado Vaz. Também o presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria, António Palha, não têm dúvidas que "a homossexualidade não se trata". Uma opinião reforçada por Caldas de Almeida, coordenador nacional para a Saúde Mental: "As pessoas homossexuais não deixam de o ser por causa de um tratamento com o psiquiatra".

Apesar de recusar a validade dos tratamentos, Pedro Varandas admite que  ainda"há determinadas terapias de orientação comportamental que já provaram ser eficazes em algumas pessoas que sofrem com a sua homossexualidade". Isto no caso dos indivíduos insistirem num tratamento.

Filipe Nunes Vicente também não acredita em terapias de reconversão, mas sabe "que há médicos que defendem o tratamento da homossexualidade". Contudo, este psicólogo confessa que não recusa tratar "uma pessoa homossexual que se apaixone por alguém do sexo oposto" e que lhe solicite ajuda.

Ideia reforçada por Daniel Sampaio. O psicólogo considera que "a orientação sexual não é imutável", mas realça que "o médico não deve tentar mudar, deve dis-cutir, deve ajudar essa pessoa".



DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE

"É impossível voltar à era anterior da lei "


15 julho 2010http://www.dn.pt/Common/Images/img_pt/icn_comentario.gif




› O director-geral da Saúde, Francisco George, diz que ao fim de três anos de lei, "já não faz sentido voltar a uma era anterior, uma era marcada pela clandestinidade". Ao DN referiu que, atingidas as previsões iniciais, resta agora "perceber os motivos e encontrar formas de reduzir o número de interrupções". Por isso, refere que se estão a estudar novas medidas "para intensificar a educação sexual nas escolas e dar novo impulso a estas questões. É possível evitar uma gravidez indesejada com planeamento".

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Movimento pede demissão de director-geral da Saúde


21 agosto 2009http://www.dn.pt/Common/Images/img_pt/icn_comentario.gif

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1341060



Representantes da Plataforma de Resistênc ia Nacional, um movimento de pais , que foi contra as aulas de educação sexual, vão hoje ao inicio da tarde junto ao Ministério da Saúde pedir a demissão do director-geral da Saúde, Francisco George, por entenderem que este "está a ameaçar a saúde de milhares de jovens portugueses". Isto porque o movimento diz estar provada uma relação entre o uso de contraceptivos hormonais e o cancro de mama. E Francisco George, que respondeu às questões sobre o assunto enviadas pelo movimento à ministra, diz que "os dados mais recentes não encontram correlação estatística" entre uma coisa e outra.

Privados dificultam acesso a aborto com medicamentos


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DIANA MENDES15 julho 2008http://www.dn.pt/Common/Images/img_dn/icn_comentario.gifhttp://www.dn.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=995035

Um ano de lei da IVG. As clínicas privadas fizeram um terço das 15 mil interrupções voluntárias da gravidez. No entanto, os privados nem sempre têm respeitado a vontade da mulher em relação aos métodos. A Direcção-Geral da Saúde detectou o problema e garante que impôs o seu cumprimento

DGS garante que problema está a ser resolvido

As unidades privadas que realizam interrupções voluntárias da gravidez (IVG) praticamente só estão a recorrer ao método cirúrgico. Ao que o DN apurou, há casos em que não é dada hipótese de escolha pelo método medicamentoso -mais seguro, menos invasivo e com menos complicações - "quando as mulheres têm esse direito", diz Jorge Branco, presidente da Comissão de Saúde Materna e Neonatal. O médico acredita que as mulheres não estão a ser devidamente informadas e que as unidades podem estar a tirar vantagens económicas dessa escolha. A Direcção-Geral da Saúde (DGS) garante que já está a resolver este problema.

Os dados do relatório sobre IVG, relativos ao segundo semestre de 2007, não podiam ser mais claros. Se nas unidades públicas, 93,3% das interrupções foram efectuadas com comprimidos, nos privados apenas em oito situações (0,4%) se recorreu a este método. Na Clínica dos Arcos, em Lisboa, responsável pela maior parte das IVG em privados, a resposta tem sido quase sempre cirúrgica. Mesmo que as mulheres peçam outro método.

Francisco George, director-geral da Saúde, esclarece que "o fenómeno já foi detectado. Reunimos com a clínica e impusemos o uso da abordagem com medicamentos. A unidade tem que o fazer". No entanto, alerta que "há aspectos culturais que podem ditar a escolha, no caso das mulheres que vão lá directamente. É um método mais rápido, porque permite sair da unidade com a gravidez interrompida", acrescenta.

SOCIEDADE

Pílulas e preservativos passam a ser distribuídos sem consulta


14 julho 2008http://www.dn.pt/Common/Images/img_dn/icn_comentario.gifhttp://www.dn.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=995030



Aborto. Lei entrou em vigor há um ano

Setenta por cento das mulheres que recorreram à interrupção voluntária da gravidez (IVG) entre Julho e Dezembro de 2007, o primeiro semestre após a entrada em vigor da nova lei, não tinham ouvido falar de planeamento familiar nem de métodos contraceptivos. Esta é uma das principais conclusões de um estudo feito pela Direcção-Geral de Saúde (DGS), divulgado recentemente.

Feito o diagnóstico, a resposta da tutela foi célere e Francisco George, em entrevista à Lusa, reconheceu a existência de problemas na organização dos serviços de planeamento familiar e anunciou novas medidas.

Assim, os serviços de saúde pública vão alargar a distribuição gratuita de pílulas e preservativos em quantidade para fazer a contracepção até um ano, bem como facilitar a sua entrega, dispensando de consulta médica os utentes que tiveram ido ao médico no último ano. O director-geral da Saúde adiantou ainda que a entrega dos anticoncepcionais poderá realizar-se através de terceiros. Através desta medida simples, Francisco George acredita que "vai melhorar muito a situação".

Outra realidade que foi radicalmente alterada com a entrada em vigor da nova lei da IVG prende-se com a quantidade de infecções e perfurações de órgãos associadas ao aborto clandestino. No primeiro semestre de 2007, registaram-se 23 infecções muito graves e 11 perfurações de órgãos associadas à prática do aborto clandestino, revelou Francisco George. Números que diminuíram para menos de metade no segundo semestre. Desde 15 de Julho, a Direcção- -Geral da Saúde registou apenas dois casos de prática de aborto clandestino, um dos quais está a ser investigado pelo Ministério Público.|



Aborto não autorizado nas mãos dos tribunais


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RUTE ARAÚJO19 julho 2007http://www.dn.pt/Common/Images/img_dn/icn_comentario.gifhttp://www.dn.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=661536

DGS diz que é crime, mas não altera a regulamentação da lei

A Direcção-Geral da Saúde esteve ontem reunida de urgência e decidiu que um aborto fora da rede de estabelecimentos autorizados é crime, mas vai deixar a regulamentação na mesma. "Debatemos a questão, chegámos a um consenso. É uma resolução interna que serve como orientação para as diferentes unidades orgânicas agirem da mesma maneira", explica o director-geral da Saúde, Francisco George. O que, na prática, deixará nas mãos dos tribunais a pena a aplicar a uma clínica privada não autorizada e a uma grávida que façam uma interrupção voluntária da gravidez.

Assim se resolve a dúvida sobre como agir face ao caso de um aborto até às dez semanas ser praticado por um estabelecimento privado que não pediu a autorização para realizar estas intervenções - crime ou ilícito administrativo, por falta de licenciamento? A resposta do organismo encarregue de regulamentar a lei segue o parecer do gabinete jurídico do ministério: só deixa de haver crime quando estão reunidas todas as condições que integravam a pergunta do referendo. O aborto ser feito por um médico ou sob sua orientação, a pedido da mulher, até às dez semanas, em local oficialmente reconhecido.

O director-geral da Saúde refere que o objectivo da lei é acabar com o aborto feito em condições ilegais. Mas diz também que "a DGS não tem competências inspectivas nem fiscalizadoras". A questão da mulher que faz um aborto numa clínica aberta foi também discutida, já que esta pode não saber, à partida, que o estabelecimento ao qual recorre não está reconhecido para fazer interrupções. "A mulher pode ignorar a situação", admite o director-geral, afirmando no entanto que não é competência do organismo que dirige definir o quadro legal a aplicar neste caso à grávida. Na reunião estiveram os membros do conselho directivo da DGS, os juristas do organismo e ainda o coordenador nacional para a saúde reprodutiva, Jorge Branco.



Petição contra os 16 mil abortos feitos em 2008


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ANA BELA FERREIRA13 janeiro 2009http://www.dn.pt/Common/Images/img_dn/icn_comentario.gifhttp://www.dn.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=1138956

Polémica. Movimento pró-vida entrega amanhã um documento no Parlamento a pedir a suspensão ou revisão da Lei do Aborto. Direcção-Geral da Saúde diz que, no ano passado, foram feitas 15 960 interrupções voluntárias da gravidez. Movimentos dizem que os clandestinos aumentaram

Movimento pró- -vida quer ser partido político

Foram 18 mil os abortos realizados em Portugal, em 2008. Pelo menos, são estes os dados apontados pelo movimento Portugal Pró-Vida, que amanhã entrega, na Assembleia da República, uma petição a pedir a suspensão, revogação ou revisão da Lei do Aborto, em vigor desde Julho de 2007. Já os números oficiais, ainda não divulgados, mas que o DN teve acesso, apontam para pouco mais de 15 900 interrupções voluntárias da gravidez (IVG) realizadas durante o ano passado.

O documento, com 4500 assinaturas (o mínimo exigido legalmente), alega que os abortos clandestinos não diminuíram e que muitas mulheres usam esta prática como método contraceptivo, pedindo por isso a suspensão da legislação.

O recurso sistemático ao aborto como método contraceptivo preocupa tanto os movimentos pró-vida como médicos. Só no Hospital Santa Maria, em Lisboa, segundo o director de serviço de obstetrícia e genealogia, Luís Mendes Graça, 20% das mulheres que abortaram já o fizeram mais do que uma vez.



Francisco George diz que é necessário "debater a eutanásia sem limites”

por Ana Tomás, Publicado em 14 de Junho de 2011   

http://www1.ionline.pt/conteudo/130194-francisco-george-diz-que-e-necessario-debater-eutanasia-sem-limites



Francisco George defende que que “a questão da eutanásia não pode ser poupada a uma grande discussão”. O director-geral de saúde falou ao i, à margem do primeiro Fórum de Humanização na Saúde, que decorre esta segunda-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.


Para Francisco George “tem de haver a oportunidade de debater o problema antes de serem tomadas medidas pelo poder legislativo. Debater sem limites”, sustenta, recusando-se a fazer qualquer comentário sobre o documentário transmitido ontem pela BBC, por não ter assistido ao mesmo.


No que se refere à vertente humana no tratamento do doente, o director da Direcção-Geral de Saúde afirma que os serviços “têm de se adaptar aos interesses dos cidadãos. A humanização começa nos primeiros contactos com os serviços, na proximidade”, referiu.


Num cenário de crise orçamental e de cortes anunciados na saúde, Francisco George sublinha que o principal investimento a ser feito é no factor “energia”, explica, acrescentando que não é necessário gastar mais dinheiro nesse campo do sistema de saúde. “O investimento principal é a energia, na perspectiva de melhoria. É uma componente basilar na qualidade da saúde. Não há qualidade na saúde se não houver humanização da saúde”, salienta, ao mesmo tempo que enumera o respeito pela intimidade dos pacientes, nas enfermarias, a organização das visitas dos familiares e o acompanhamento destes aos doentes como exemplos do que se pode fazer para humanizar a prestação de cuidados, sobretudo no fim da vida.


Além de Francisco George, que presidiu à sessão de abertura, o Fórum da Humanização na Saúde conta no painel com nomes como Carlos Freire de Oliveira, presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, ou Gentil Martins, entre outros. A dignidade do doente e o direito a uma morte digna, o enquadramento jurídico nos casos em que o doente terminal pede para não ser reanimado, o relacionamento médico-paciente e a questão da crise e dos custos na saúde foram temas abordados durante o debate da manhã.


O encontro é promovido pela Associação Portuguesa de Humanização na Saúde, que tem como objectivo contribuir para a reflexão sobre os problemas éticos relacionados com o fim de vida (cuidados continuados e cuidados paliativos), não defendendo a eutanásia ou suicídio assistido.