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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Filho de Deus nasce ainda "hoje" - Bento XVI

Queridos irmãos e irmãs,

Tenho o prazer de recebê-los nessa Audiência Geral a poucos dias da celebração do Natal do Senhor. A saudação frequente na boca de todos nesses dias é “Feliz Natal! Boas festas natalícias!”. Façamos isso de modo que, mesmo na sociedade de hoje, a troca de saudações não perca seu profundo significado religioso, e a festa não seja absorvida pelos aspectos exteriores, que essas toquem as cordas do coração. Certamente, os sinais externos são bonitos e importantes, desde que não nos afastem, mas ajudem-nos a viver o Natal no seu sentido verdadeiro, sagrado e cristão, de modo que também nossa alegria não seja superficial, mas profunda.

Com a liturgia do Natal, a Igreja apresenta-nos o grande mistério da Encarnação. O Natal, de fato, não é simplesmente o aniversário do nascimento de Jesus, é isso também, e é mais do que isso, é a celebração de um Mistério que marcou e continua a marcar a história do homem - Deus veio habitar em meio a nós (cf. Jo 1,14), tornou-se um de nós; um mistério que afeta a nossa fé e a nossa existência, um Mistério que vivemos concretamente nas celebrações litúrgicas, sobretudo na Santa Missa.

Qualquer um poderia se questionar: como poderia viver agora, este evento que aconteceu há tanto tempo? Como posso participar ativamente no nascimento do Filho de Deus que aconteceu há mais de mil anos atrás? Na Santa Missa de Natal, repetiremos no salmo responsorial: “Hoje nasceu para nós o Salvador”. Esse advérbio de tempo “hoje”, usado repetidamente em todas as celebrações de Natal, se refere ao evento do nascimento de Jesus e a salvação que a Encarnação do Filho de Deus traz.

Na Liturgia, este evento ulrapassa os limites de espaço e de tempo e torna-se atual, presente e seu efeito é contínuo, mesmo com o passar dos dias, dos anos e dos séculos. Indicando que Jesus nasce "hoje", a Liturgia não usa uma frase sem sentido, mas destaca que este Nascimento entra e permeia toda a história, e continua ainda hoje, a ser uma realidade na qual podemos alcançar justamente pela liturgia. Para nós que acreditamos, a acelebração do Natal renova a certeza de que Deus está verdadeiramente presente em meio a nós, ainda "carne" e não distante: mesmo estando com o Pai, está perto de nós. Deus, naquele Menino nascido em Belém, se aproximou do homem: podemos encontrá-lo agora, em um "hoje" que não acabou.

Gostaria de enfatizar esse ponto, porque o homem contemporâneo, o homem do "sensível", que experimenta empiricamente, tem cada vez mais dificuldade de abrir seus horizontes e entrar no mundo de Deus.

A redenção da humanidade ocorre em um momento específico e identificado na história: no evento de Jesus de Nazaré, mas Jesus é o Filho de Deus, é o próprio Deus que não apenas falou ao homem, mostrou-o sinais admiráveis e guiou-o durante toda a história de salvação, mas se fez homem e permaneceu homem. O Eterno entrou nos limites de tempo e espaço, para permitir “hoje” o encontro com Ele.

Os textos litúrgicos natalinos nos ajudam a compreender que os acontecimentos de salvação realizados por Cristo são sempre atuais, interessa a cada homem e a todos os homens.

Quando ouvimos ou pronunciamos, nas celebrações litúrgicas que “Hoje nasceu para nós o Salvador”, não estamos usando uma expressão convencional vazia, mas entendemos que Deus nos oferece "hoje", agora, para mim, para cada um de nós a oportunidade de reconhecê-lo e acolhê-lo, como fizeram os pastores em Belém, para que Ele possa nascer em nossas próprias vidas e as renove, ilumine, transforme-as com a sua Graça, com a sua Presença.

O Natal portanto, comemora o nascimento de Jesus em carne, da Virgem Maria - e inúmeros textos litúrgicos fazem reviver aos nossos olhos este ou aquele episódio - é um evento eficaz para nós.

O Papa São Leão Magno, demonstrando o profundo significado da festa do Natal, convidava seus fiéis com estas palavras: "Alegrai-vos no Senhor, meus queridos, e abramos nossos corações para a mais pura alegria, porque raiou o dia para nós e isso significa a nova redenção, a antiga preparação, a felicidade eterna. É renovada para nós o ciclo anual do alto mistério de nossa salvação, que, prometido no início e no final dos tempos, é destinado a não ter fim"(Sermão 22, In Nativitate Domini, 2.1:PL 54,193). E, ainda São Leão Magno, em outra grande homilia natalina, afirmava: “Hoje, o autor do mundo foi gerado do ventre de uma virgem: aquele que fez todas as coisas se fez filho de uma mulher que ele mesmo criou. Hoje, o Verbo de Deus apareceu revestido de carne, enquanto jamais foi visível ao olho humano, tornou-se também visível e palpável. Hoje, os pastores escutaram das vozes dos anjos que nasceu o Salvador, na substância do nosso corpo e da nossa alma "(Sermão 26, In Nativitate Domini, 6,1: Pl 54,213).

Há outro aspecto que gostaria de mencionar brevemente: o evento de Belém deve ser considerado à luz do Mistério Pascal: um e o outro são partes da obra redentora de Cristo. A encarnação e o nascimento de Jesus nos convidam a voltar o olhar para a sua morte e ressurreição: o Natal e a Páscoa são da mesma maneira festas de redenção. A Páscoa celebra-a como vitória sobre o pecado e sobre a morte: marca o momento final, quando a glória do Homem-Deus brilha como a luz do dia. O Natal celebra-a como a entrada de Deus na história fazendo-se homem para levar o homem a Deus: marca, por assim dizer, o momento inicial, quando se pode vislumbrar a luz da aurora. Mas, assim como a aurora precede a luz do dia, assim o Natal já anuncia a Cruz e a glória da Ressurreição. Assim como os dois períodos do ano no qual são colocados as duas grandes festas, pelo menos em algumas áreas do mundo, pode ajudar a compreender este aspecto. De fato, enquanto a Páscoa acontece no início da primavera, quando o sol vence o denso e frio nevoeiro e renova a face da terra, o Natal cai logo no início do inverno,quando a luz e o calor do sol não podem despertar a natureza; as vezes, cercado pelo frio, sob a coberta, mas a vida pulsa e começa novamente a vitória do sol e do calor.

Os Padres da Igreja ligavam sempre o nascimento de Cristo à luz de toda a obra redentora, que encontra seu ponto mais alto no mistério Pascal. A Encarnação do Filho de Deus aparece não somente como princípio e condição da salvação, mas como a própria presença do Mistério da nossa salvação: Deus torna-se homem, nasce menino como nós, assume a nossa carne para vencer a morte e o pecado.

Dois textos significativos de São Basílio ilustram-no bem. São Basílio dizia aos fiéis: "Deus assumiu a carne justamente para destruir a morte escondida nela. Assim como os antídotos de um veneno quando ingeridos eliminam seus efeitos, como a escuridão de uma casa se desfaz à luz do sol, assim a morte que dominava sobre a natureza humana foi destruída pela presença de Deus. Como o gelo, que permanece sólido na água durante a noite e reina a escuridão, logo se derrete ao calor do sol, assim a morte que reinou até a vinda de Cristo, apenas surge a graça de Deus Salvador, e levanta o sol da justiça, “foi tragada pela vitória”(1 Cor 15,54), não podendo coexistir com a Vida" (Homilia sobre o nascimento de Cristo, 2: Pg 31,1461). E ainda São Basílio, em outro texto, convida : "Celebramos a salvação do mundo, o natal do gênero humano. Hoje foi apagada a culpa de Adão. Agora, já não devemos dizer: "és pó em pó te tornarás" (Gen 3,19), mas: unido àquele que veio do céu, será admitido no Céu "(Homilia sobre o nascimento de Cristo, 6: Pg 31,1473).

No natal encontramos a ternura e o amor de Deus que se inclina sobre os nossos limites, sobre as nossas fraquezas, sobre os nossos pecados e se abaixa até nós. São Paulo afirma que Jesus Cristo “mesmo sendo homem na condição de Deus... esvaziou-se, assumindo a condição de servo, tornando-se semelhante ao homem” (Fil 2, 6-7).

Olhemos a gruta de Belém: Deus se abaixa até ser colocado em uma manjedoura, que é já o prelúdio do abaixamento na hora de sua paixão. O ápice da história de amor entre Deus e o homem, passa pela manjedoura de Belém e o sepulcro de Jerusalém.

Queridos irmãos e irmãs, vivamos com alegria o natal que se aproxima. Vivamos este maravilhoso evento: o Filho de Deus nasce ainda “hoje”, Deus está realmente próximo a cada um de nós e quer nos encontrar, quer nos conduzir a Ele. Ele é a verdadeira luz que remove e dissolve as trevas que envolvem nossa vida e a vida da humanidade. Vivamos o Natal do Senhor contemplando o caminho do amor imenso de Deus que nos eleva a Ele por meio do Mistério da Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Seu Filho, pois – como afirma Santo Agostinho – “em [Cristo] a divindade do Unigênito participa da nossa mortalidade, a fim que nós possamos participar de Sua imortalidade” (Epistola 187,6,20: PL 33,839-840).

Sobretudo, contemplemos e vivamos este Mistério na celebração da Eucaristia, centro do Santo Natal; ali está presente de maneira real Jesus, verdadeiro Pão que desceu do Céu, verdadeiro Cordeiro sacrificado para nossa salvação.

Desejo a todos vocês e as vossas famílias uma celebração de Natal realmente cristã, de modo que também todas as felicitações deste dia sejam expressões da alegria por saber que Deus está próximo a nós e quer percorrer connosco o caminho da vida. Obrigado.

21. 12. 2011

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O Natal és Tu!


Sempre lhe tinham dito que o Natal era a festa da família. E de facto durante a sua infância e juventude à volta da árvore iluminada reuniam-se os parentes em lauta ceia trocando prendas requintadas embrulhadas em papéis vistosos. Depois, com o passar dos anos, os mais velhos foram desaparecendo, como hoje tontamente se diz quando morre alguém. A sua mulher tinha-o deixado, de repente, sem explicações, trocando-o por outro, sem que ele percebesse porquê. O filho, à míngua de trabalho, partira para o Brasil. Um dos irmãos, podre de rico, viria a falecer na penúria, deixara dois filhos, um emigrado na China e outro na Índia; Quanto ao outro, pouco sabia, esse sim desaparecera, corria que tinha enlouquecido: habitava uma ermida em ruínas no cimo de uma montanha escarpada em Trás-os-Montes, dizia acreditar em Deus, querer viver só para Ele, e afirmava que já não era homossexual, que se extinguiram esses desejos, - ou como ele dizia desorientação tinha-se delido -, e que agora é que estava orientado. A irmã expirara brutalmente aquando do segundo aborto “legal e seguro”. A comunicação social, como era costume nestas circunstâncias, ignorou por completo a tragédia.

Com a pobreza em que o país mergulhara desapareceram as iluminações nocturnas da época. No que restava das grandes superfícies não havia venda de brinquedos; uma vez que a natalidade descera tão drasticamente as empresas só produziam artigos para adultos de idade avançada. Uma imensidade de velhinhos vivia e morria sozinha nos seus andares feitos tugúrios. A sociedade estava caquéctica, a solidão era infinita, a tristeza imensa, a negrura espessa e profunda.

Em respeito à saudade desentrapou a árvore de Natal, já gasta, revelha. Lágrimas copiosas cascateavam-lhe pelo rosto e soluçava convulsivamente enquanto repuxava pela fantasia para que lhe pescasse na memória a imagem dos que tinham sido e dos que se foram. Era a natureza a protestar contra a morte e a ausência, tentando em vão perpetuar tempos idos.

Montado o artefacto natalício com as suas luzes e restante decoração fixou-o pensativo. Foi então que para seu grande espanto as iluminações se pagaram, a decoração caiu e a verdura desapareceu permanecendo tão só um tronco tosco e nodoso o qual antes de se prolongar um pouco mais se ramificava para um e outro lado. De repente, nele apareceu um infante desfigurado, as mãozinhas e os pezinhos eram atravessados por grossos cravos ferrugentos, e do lado esquerdo uma ferida larga e funda jorrava abundante sangue e água. E dessa fonte se formou um rio caudaloso que inundou a sala envolvendo e afogando em si o cismador. E três horas depois foi despertado e erguido por luzes incandescentes de lume que saíam daquelas feridas incendiadas do Menino que agora era todo Ele um fogo abrasador do qual se despediam deslumbrantes raios de Amor e o Amor era o Senhor, e era mais resplandecente que o sol, mais suave que a brisa, mais doce que o mel, mais pacífico do que a pomba branca. Então Gabriel, o Arcanjo, clamou Tu és Aquele que foi, que é e que será, o Cordeiro imolado que venceste a grande tribulação, que morrendo destruíste a morte e ressuscitando restauraste a vida, venceste o pecado e esmagaste a cabeça do dragão antigo, o acusador dos nossos irmãos. Vem Senhor Jesus!

Fora de si, fascinado, arrojou-se por terra e exclamou cheio de alegria: Meu Senhor e Meu Deus! O Natal és Tu, Jesus Cristo Senhor!

Nuno Serras Pereira

21. 12. 2011

Natal - poema de P. Gonçalo Portocarrero de Almada

NATAL

Há dois mil anos, nos arredores de Belém,

veio ao mundo o Deus encarnado, Jesus,

tão só na companhia de São José e sua Mãe

ao mundo das trevas veio Deus, a Luz da Luz.


É Cristo, o Rei dos Reis e Imperador

como Senhor Deus que é omnipotente

e apesar de ser do mundo grande Senhor

nasce pobre, desvalido e indigente.


Não há p’ra Ele lugar na fraca pousada

e não há outra casa para o albergar

Ele, que todas as coisas tirou do nada,

E que veio ao mundo para todos salvar!


Na fria solidão daquela amargura

apenas um estábulo encontrou José

onde só velhas tábuas e palha dura

servem de mísero berço ao Autor da fé.


No doce coração puríssimo de Maria

uma chama de amor vivo resplandece,

luz que brilha e faz da noite claro dia,

fogo que arde ao som de humilde prece:


- Meu divino Filho, meu Jesus, meu amor,

que agora vejo em provação tão atroz

confesso-Vos contudo meu Deus e Senhor

e peço-Vos que tenhais piedade de nós!


Perdoai, Senhor nosso, esta manjedoura,

o estábulo que vos serve de morada

e também a pobreza tão confrangedora

qual é a desta vossa humilde criada!


Nas palhinhas deitado, o Menino sorriu

e assim disse à Virgem Imaculada:

- Bendita aquela que a voz de Deus ouviu

e, sendo alta Rainha, se fez escrava!


Quanta riqueza, Senhora, não vale nada

se comparada com a pobreza de quem tem,

em noite escura, numa gruta gelada,

o tesouro do doce sorriso de sua Mãe!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

DIA DE NATAL* - Diálogo entre o Pai Natal e o Menino Jesus


Foi numa esquina qualquer que se encontraram o Pai Natal e o Menino Jesus. Enquanto aquele se preparava para trepar um prédio, com o seu saco às costas, este último, recém-nascido, descia à terra e oferecia-se inerme, num pobre estandarte, que cobria uma mísera janela.

- Quem és tu, Menino – disse o velho – e que fazes por aqui?! É a primeira vez que te vejo!

- Sou Jesus de Nazaré e ando há vinte séculos à procura de uma casa que me receba e, como há dois mil anos em Belém, não há quem me dê pousada.

- Pois não é de estranhar! Não vês que vens quase nu?! Porque não trazes roupas quentes, como as que eu tenho, para me proteger do frio do inverno?

- O calor com que me aqueço é o fogo do meu amor e o afecto dos que me amam.

- Eu trago muitos presentes, para os distribuir pelas casas das redondezas. E tu, que andas por aqui a fazer?

- Eu sou rico, mas fiz-me pobre, para os pobres enriquecer com a minha pobreza. Eu próprio sou o presente de quem me acolher. Não vim ensinar os homens a ter, mas a ser, porque quanto mais despojada é a vida humana, maior é aos olhos do Criador.

- E de onde vens e como vieste até aqui? Eu venho da Lapónia, lá para as bandas do pólo norte.

- Eu venho do céu, de onde é o meu Pai eterno, e vim ao mundo pelo sim de uma virgem, que me concebeu do Espírito Santo.

- Que coisa estranha! Nunca ouvi falar de ninguém que tenha nascido de uma virgem e assim tenha vindo ao mundo! E não tens nenhum animal que te transporte para tão longa viagem, como eu tenho estas renas?

- Um burrinho foi a minha companhia em Belém, e foi também o meu trono real, na entrada triunfal em Jerusalém.

- Um burro?! Não é grande coisa, para trono de um rei…

- O meu reino não é deste mundo e a sua entrada é tão estreita que os meus cortesãos, para lá entrarem, se têm que fazer pequeninos, porque destes é o meu reino.

- E que coisas ofereces? Que tesouros tens para dar? Que prometes?

- Trago a felicidade, mas escondida na cruz de cada dia; trago o céu, mas oculto no pó da terra; trago a alegria e a paz, mas no reverso das labutas do próprio dever; trago a eternidade, mas no tempo gasto ao serviço dos outros; trago o amor, mas como flor e fruto da entrega sacrificada.

- Pois eu trago as coisas que me pediram: jogos e brinquedos para os miúdos e, para os graúdos, saúde, prazer, riqueza e poder. Mas, por mais que lhes dê, nunca estão satisfeitos!

- A quem me dou, quer-me sempre mais na caridade que tem aos outros, porque é nos outros que eu quero que me amem a mim.

- Mais um enigma! De facto, somos muito diferentes, mas pelo menos numa coisa nos parecemos: ambos estamos sós, nesta noite de consoada!

- Eu nunca estou só, porque onde estou, está sempre o meu Pai e onde eu e o Pai estamos, está também o Amor que nós somos e estão aqueles que me amam.

- Bom, a conversa está demorada e ainda tenho muitas casas para assaltar, pela lareira, como manda a praxe.

- Eu estou à porta e bato e só entrarei na casa de quem liberrimamente me abrir a porta do seu coração e aí cearei e farei a minha morada.

- Pois sim, mas eu vou andando que já estou velho e cansado …

- Eu acabo de nascer e quem, mesmo sendo velho, renascer comigo, será como uma fonte de água viva a jorrar para a vida eterna.

O velho Pai Natal, resmungando, subiu ao telhado do luxuoso prédio, atirou-se pela chaminé abaixo e desapareceu.

Foi então que a janela onde estava o estandarte se abriu e uma pobre velhinha de rosto enrugado, como um antigo pergaminho, beijou o reverso da imagem do Deus Menino, que estremeceu de emoção. A seguir, encostou a vidraça, apagou a luz e, muito de mansinho, adormeceu. Depois, o Menino Jesus, sem a acordar, pegou nela ao colo e, fazendo do seu pendão um tapete mágico, levou-a consigo para o Céu.

P. Gonçalo Portocarrero de Almada

* Os primeiros cristãos chamavam dies natalis, ou seja, natal, ao dia da sua morte, porque entendiam que esse era o dia do seu nascimento para a verdadeira vida.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ele há Mistérios


Conheceram-se nas Caldas da Rainha. Ele era fisioterapeuta, ela ceramista. Oriundo de Oeiras, filho de mãe católica e de pai ateu, foi baptizado em pequeno e tinha levado umas breves pinceladas de catequese. Ela nascida numa aldeia da Beira Baixa tinha estrutura cristã mas não praticava. Ele era convictamente anti-católico, ela indiferente. Viveram a sua paixão com as intimidades próprias dos casados, sem o serem, durante três anos.

Um dia encontrou um amigo que o persuadiu a passar um fim-de-semana especial com um grupo de gente nova, uns padres, um casal e uma freira! Quando perguntou que gente era essa o amigo respondeu-lhe que era informal, que não tinha nome mas que alguns denominavam-no K. Como confiava no conhecido achou graça ao enigma. Entrou ateu numa Sexta-feira à tarde, saiu católico no Domingo seguinte. Tinha encontrado Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, e a Sua Igreja. A transformação foi tal que quando encontrou a amásia a deixou totalmente perplexa. Causa de tal assombro senão mesmo despeito foi a determinação com que ele decidiu viver castamente, renunciando aos actos próprios dos cônjuges. Algum tempo depois também ela participou num retiro semelhante. Reencontrando a Fé da infância, mas agora de um modo maduro, compreendeu muito bem o namorado. Viveram então numa grande sintonia com Cristo e um com o outro.

Testemunharam, em público, anos mais tarde, já casados e com filhos, por diversas vezes, que o facto de terem vivido a castidade perfeita naqueles dois anos, que decorreram entra a sua decisão e o matrimónio, tinham sido de uma importância fulcral para a sua relação e para a vivência enquanto casados. Tivemos grandes tentações, confidenciavam, mas pela graça de Deus resistimos e aprendemos a evitar as ocasiões de queda. Nisto pôde muito o jejum, a oração, a confissão sacramental frequente e a participação quotidiana na Santa Missa. Lamentavam não terem conhecido o Senhor desde sempre porque só teriam ganho em terem acolhido sempre a Sua vontade, que era afinal o bem deles, o amor verdadeiro.

Ele, entretanto, por inspiração Divina, e alguns empurrões do seu assistente espiritual, licenciou-se em Teologia com uma cuidada tese sobre os leigos na Igreja.

Vivem actualmente no Norte e têm cinco filhos. Ele lecciona Religião e Moral num colégio particular, ela realiza admiravelmente a sua vocação de mãe e de esposa. Quem tem ouvidos para ouvir que oiça. À honra de Cristo Ámen.


Nuno Serras Pereira

03. 03. 2010

domingo, 29 de março de 2009

Acto de Consagração ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria

Fátima, 25 de Março de 2009


INTRODUÇÃO

Ao fazermos hoje a nossa consagração ao Sagrado Coração de Jesus, evocando a que os Bispos de Portugal realizaram há cinquenta anos, em acto de louvor e de gratidão pela graça do nosso país ter sido poupado à segunda Guerra Mundial, bem como a consagração ao Imaculado Coração de Maria, que há precisamente vinte e cinco anos o nosso amado Papa João Paulo II realizou na Praça de São Pedro, diante da imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, queremos não apenas consagramo-nos e oferecer as nossas famílias, mas também consagrar todas as famílias aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria.

OFERECIMENTO

Sagrado Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria, nós, aqui prostrados, Vos oferecemos em oblação as nossas vidas e Vos oferecemos as nossas famílias para que em Jesus encontrem a alegria e a paz e, por Maria, nossa Mãe, se mantenham sempre unidas a Deus e entre si.

Oferecemos tudo o que somos e temos, oferecemos os nossos trabalhos, as nossas orações e sacrifícios, oferecemos as nossas doenças e as nossas dificuldades, oferecemos as nossas preocupações e as nossas alegrias, para que em tudo sejamos sempre vossos, ó Sagrados Corações de Jesus e de Maria!

E porque nada podemos sem Vós, ao Sagrado Coração de Jesus imploramos o dom da graça e do perdão, por misericordiosa intercessão do Imaculado Coração de Maria.

Oferecemo-nos também em reparação de todas as ofensas a Deus, recorrendo confiadamente ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, aos quais pedimos a graça de um espírito contrito e humilhado e o perdão por todos os que não crêem, não adoram, não esperam, nem Vos amam.

PETIÇÃO DE PERDÃO E DE DESAGRAVO

- Dos pecados contra a vida humana já concebida e ainda não nascida, livrai-nos!

- Do aborto, das práticas anticonceptivas que ofendem a Deus e de todos os atentados contra o dom da vida, livrai-nos!

- Do escândalo e da perversão das crianças, dos atentados contra a sua inocência, livrai-nos!

- Da falta de pudor e de modéstia e de tudo o que ofenda a dignidade do corpo humano, chamado a ser templo do Espírito Santo, livrai-nos!

- Da pedofilia, da sodomia e dos pecados de luxúria, livrai-nos!

- Do uso das drogas e do abuso do álcool e de tudo o que avilta a liberdade gloriosa dos filhos de Deus, livrai-nos!

- Do repúdio e do divórcio e de todos os flagelos que ferem a unidade e a santidade da família cristã, livrai-nos!

- Do adultério, da violência doméstica e da indiferença e de todas as ofensas contra a vida matrimonial, livrai-nos!

- Da eutanásia e do desprezo pelos doentes e idosos, livrai-nos!

- Da impiedade, do incumprimento dos Mandamentos da Lei de Deus e da irreverência pelos Sacramentos, livrai-nos!

- Da desobediência ao Santo Padre e aos Bispos a ele unidos e ao Magistério da Igreja, livrai-nos!

- Da presunção e do desespero e dos pecados contra o Espírito Santo, livrai-nos!

- Do sacrilégio e dos ultrajes e ofensas a Jesus escondido na Eucaristia, livrai-nos!

- Da condenação eterna, livrai-nos!

ORAÇÃO FINAL

Acolhei, ó Sagrado Coração de Jesus, a consagração que agora vos fazemos, para que todas as famílias sejam imagem e semelhança da família que Deus é na comunhão das Três Pessoas divinas!

Atendei, ó Imaculado Coração de Maria, a nossa prece, para que as nossas famílias e todas as famílias cristãs se inspirem sempre na Sagrada Família de Nazaré e sejam, na unidade do amor, um testemunho vivo da santidade da Igreja!

Ó Bem-aventurados Francisco e Jacinta, que acolhestes com tão generosa prontidão o convite à conversão, pela penitência e pela oração, fazei que as nossas famílias sejam verdadeiras igrejas domésticas, para que o mundo creia em Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo! Amén.

Fátima, 25 de Março de 2009