sábado, 14 de fevereiro de 2009

À procura do vírus: A raiz da anti-cultura da morte

"A ignorância do verdadeiro Deus, é para um Estado a pior das calamidades" - Platão


Pe. Duarte Sousa Lara

11.02.2009


Neste ano dedicado a S. Paulo, estas linhas surgem como uma forma de manifestar a minha gratidão ao Infovitae – de uma maneira especial ao padre Nuno Serras Pereira – por estes dez anos ao serviço da cultura da vida. É próprio dos corações magnânimos empenhar a própria existência no serviço de causas verdadeiramente nobres, superando com constância os vários obstáculos que vão surgindo. A promoção da cultura da vida é uma de tais causas, que se apresenta como um projecto de grande porte capaz apenas de ser realizado pelos esforços continuados e conjuntos de várias gerações. Nesta grande empresa que é a instauração de uma cultura da vida, não poucas vezes, somos tentados a desistir, seja porque constatamos que os nossos contributos produzem modestos resultados a curto prazo, seja porque, com frequência, esbarramos com a dureza de coração de tantos nossos irmãos. Ocorre não desanimar, mesmo que todo o nosso esforço possa parecer aparentemente estéril. Hoje, Jesus conta connosco para “plantar sobreiros” dos quais as futuras gerações gozarão a sombra e tirarão a cortiça...


Muitas vezes, dou por mim a indagar quais são a raízes da anti-cultura da morte em que vivemos, porque me parece que para estabelecer a cultura da vida a solução passará mais por atacar directamente tais raízes do que em combater apenas as suas múltiplas e sempre novas manifestações. Tal como numa doença interessa-nos mais matar o vírus do que apenas suprimir os maus sintomas que esse provoca. Mas qual é a raiz da actual anti-cultura da morte? Obviamente que não é simples responder a esta questão, mas atrevo-me, com a ajuda de S. Paulo, a dizer que é a rejeição do Criador e a usurpação soberba do seu lugar.


São particularmente actuais e luminosas as reflexões que faz S. Paulo no primeiro capítulo da Epístola aos Romanos (1,18-32). Ele começa por defender que o homem com a luz da razão natural pode conhecer o Criador a partir da criação, e que, recusando-se a fazê-lo comete uma impiedade culpável não dando ao Criador o reconhecimento, a honra e a glória que lhe é devida. Uma tal atitude depravada da parte do homem em relação ao Criador cega a sua mente à verdade e conduz o homem à injustiça e a todo o tipo de vícios e abominações. Merece ser, aqui, bem sublinhado o forte nexo causal que tem para S. Paulo a impiedade em relação ao Criador e a injustiça entre os homens, bem como, os outros vícios a que essa mesma impiedade conduz. Para S. Paulo a raiz da perversão moral está no acto ímpio da rejeição do Criador por parte da sua criatura racional.


É, pois, agora mais claro que, na raiz da anti-cultura da morte encontra-se um problema religioso. O homem mata, rouba, mente, procura a luxúria porque se recusa a reconhecer o Criador, e, de coração endurecido, cego à verdade, usurpa obstinadamente o seu lugar fazendo-se senhor último da criação. Poderíamos agora também perguntar-nos: Como combate S. Paulo a anti-cultura da morte? Sobretudo anunciando Jesus Cristo. A resposta de S. Paulo à anti-cultura da morte é uma resposta religiosa: levar a fé em Jesus. Onde floresce a fé em Jesus floresce a cultura da vida, sobretudo floresce a cultura da vida eterna...


Concluindo, creio que dentro das várias iniciativas válidas e complementares que devem ser postas em prática para promover a instauração da cultura da vida, a prioridade máxima deve ser dada à Nova Evangelização. Só a conversão sincera dos corações a Jesus, pode vencer de maneira definitiva e estável as raízes da anti-cultura da morte. Só em Jesus, morto e ressuscitado, existe para a toda a humanidade vitória sobre o mal em todas as suas formas, em primeiro lugar sobre o pecado (mal moral) que é a raiz de todos os outros males, depois sobre as consequências do pecado (a morte e os outros males físicos) e também sobre aquele que nos incita ao pecado, Satanás, o qual é «homicida desde o princípio» (Jo 8,44). Só a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo é o único antídoto capaz de vencer definitivamente o vírus da anti-cultura da morte presente no coração do homem; e a esse divino remédio, que além do mais é gratuito, acede-se pela fé em Jesus.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Father Joseph Shea's Prolife Sunday Homily (January 18th 2009)


By Father Joseph Shea


(Father Shea is the pastor of Saint Rose of Lima Parish, Simi Valley, in the Archdiocese of Los Angeles)


A couple of weeks ago, two of my priest friends and I went to see the new movie, Valkyrie, starring Tom Cruise. The movie presents the true life story about a large-scale conspiracy within the German army to assassinate Adolf Hitler. The heroic German Colonel Claus von Stauffenberg led the coup. The assassination attempt on July 20, 1944, failed because the detonated bomb only injured Adolf Hitler. Colonel von Stauffenberg and the other conspirators were arrested and executed for treason. Now, of course, they are honored as heroes who tried to stop the madness of Hitler.


Unbeknownst to most people is that there was another hero living at that very same time who courageously opposed Hitler and his plans. His name was Michael Cardinal von Faulhaber, the Roman Catholic Archbishop of Munich from 1917 to his death in 1952. An interesting side note is: the last man that Cardinal von Faulhaber ordained to the priesthood was one Joseph Ratzinger, our present Holy Father.


As you might imagine, the years between 1933 and 1945, when Hitler was in power, were especially difficult for Cardinal von Faulhaber because he courageously chose to speak out against the Nazi regime and its policies, rather than remain quiet out of fear of the Nazis. At every opportunity, he condemned the crimes of the Nazis, risking his life every time he did so.

His Advent sermons of 1933, delivered in the glorious Cathedral of Munich, drew thousands of Munich citizens — standing room only. They came to listen to the Cardinal fearlessly challenge National Socialism, to assert the rights and freedoms of the Catholic Church and to call for the protection of the Jewish people.


By the 1940's, when Hitler's final solution became clear to all, in response to the atrocities that the Nazis were doing to the Jews, Cardinal von Faulhaber ordered yellow armbands with the Star of David to be placed on all the statues of Christ and Mary throughout his Archdiocese. Cardinal von Faulhaber's courageous actions infuriated Hitler and the Nazi leaders, but the Gestapo didn't dare remove the yellow armbands for fear of a Catholic uprising.


So Munich , the birthplace of the Nazi movement, became the center of Nazi resistance. And although Dachau was located only 10 miles outside Munich's city limits, within Munich, Hitler and his policies were weakened severely by the courage of one man who chose to speak out and to act courageously rather than to remain silent.


What made Cardinal Faulhaber so courageous? Why would he risk his life for people he did not know, for people who were not considered "worthy of life" because they were Jewish or because they were physically or mentally impaired, or too old and using up too much of the society's resources, or because they were homosexual, or because they protested too much against Nazism and its evil policies, such as many Catholic priests and Christian ministers did?


Why? Because Cardinal Faulhaber had met the Savior Jesus Christ, just as John and Andrew did in today's Gospel. Cardinal Faulhaber had heard Jesus' invitation to "come and see" who Jesus was, and that encounter changed his life forever. From that moment, Cardinal Faulhaber followed Jesus faithfully, never wavering in his dedication to Christ, despite incredible hardship.


That raises the fundamental question that each one of us needs to answer on this Sunday — dedicated as Pro-Life Sunday because this coming Thursday, January 22nd, marks the 36th anniversary of the Supreme Court ruling of Roe vs. Wade.


Like Andrew and John and Cardinal Faulhaber, will we respond to Jesus' invitation to be His disciples, to "come and see" who Jesus is, and faithfully follow Jesus in a way that neither our lives will nor our moral positions will ever be the same again? That's the fundamental and challenging question set before us today.


I ask this question because we find ourselves in an eerily similar situation as the German people nearly 70 years ago.


One of the most troubling questions facing the German people after World War II was: how was it possible that a Holocaust of so many innocent people went on without a huge protest. How was it possible that a great people, such as the Germans, could have been fooled by an evil leader with such a diabolical political agenda? Wasn't Germany the country that produced Frederick the Great, the philosopher-king? Wasn't Germany, in the late 1800's, arguably the most enlightened and free nation in Europe ? What happened that caused the majority of people to get confused, deceived or intimidated? Let me explain.


If you remember, Germany was on the losing side of World War I and the German people had to pay very costly war reparations. The conditions of the Treaty of Versailles bankrupted Germany, and Germany 's economy went into a freefall. The German currency of the time, the Reichsmark, was worth less than the paper it was printed on. Hyperinflation was so great that it was cheaper to burn money than firewood.


Hitler came to power in the midst of this incredibly difficult time. He promised the German people that he would revive the German economy, that he would reestablish order to a society falling in disarray, that he would give the German people a renewed sense of pride, and that he would save Germany. It sounded great to a nation that had been beaten down.


The problem was how Hitler planned to "save" Germany. His plan was based on very evil principles: the killing of the innocent; the genocide of neighboring people and the plundering of nearby nations; a systematic eugenic movement to eliminate the Jews, the handicapped, the infirmed, the aged, homosexuals, and any dissenting voice — all in the name of progress — all in the name of creating a "master race" — a utopian society that would last, not for 1000 years, but for 10,000 years.


How could so many Germans, especially German Christians, have supported Hitler? Because some of them viewed their economic prosperity, their comfort, the strengthening of their public institutions and army, and the pride of a restored nation as more important than certain groups of people. And others because they became part of the conspiracy of silence. They were confused, deceived or intimidated. And the terrible Holocaust happened — over 10 million people were executed.


Today, we find ourselves facing a similar, but even more horrible Holocaust of innocent people. I say more horrible because over 36 million innocent people — the most innocent and defenseless of all — babies — have been aborted since the Supreme Court ruling of Roe vs. Wade in 1973.

But the horror of the Holocaust doesn't stop there. This Holocaust also includes the manipulation of stem cells harvested through abortions and the termination of life of our elderly through euthanasia solely for the purpose of a national agenda of convenience, economic prosperity and creating another "master race" of people who will never get sick, who will be as beautiful as the models and movie stars we see on TV, in the movies or the Internet, or who will be the brightest and most talented in the world — another Albert Einstein or another Michael Jordan — a super race.


And why is this happening? Because some people in this nation really do believe that the end justifies the means. They believe that the evil means of abortion, euthanasia and some genetic engineering justify the good end of a better nation and society, better health and a more convenient life.


But also this present day Holocaust is happening because the majority of people have become part of a conspiracy of silence. They have been confused, deceived or intimidated.

Hitler tried to intimidate Cardinal Faulhaber and many others into silence during the first Holocaust. The secular world tries to do the same today with this Holocaust.


Edmund Burke expressed it best in a quote from his essay Thoughts on the Cause of Present Discontents: "The only thing necessary for the triumph of evil is for good men to do nothing."

That's why we must answer the question that the Gospel reading lays before us today: Will we be faithful disciples of Jesus Christ?


You see, brothers and sisters, Jesus is very clear about what His followers should do in the face of the evil of this modern day Holocaust of abortion and euthanasia.


I was listening to a CD of a retreat that Father Benedict Groeschel recently gave to priests. Father Groeschel told a story about a prominent New York celebrity who approached Mother Teresa and asked her, "Mother Teresa, what is your view about abortion?" Mother Teresa stared at him, like Daniel Boone drawing a bead on a poor raccoon in a tree, and replied, "What do you think Jesus thinks about abortion?" Utter silence.


Jesus is very clear about abortion and euthanasia. There is no confusion and no ambiguity. Abortion and euthanasia are murder. The only ones who are confused, ambiguous, and deceived are unbelievers and fair weather Catholics.


Fair-weather Catholics are gung-ho followers of Jesus when it comes to the light, easy, cheerful teachings of the Gospel. But when it involves the challenging, moral dictates that Jesus teaches, they stumble over their euphemisms, excuses, their doublespeak, and their rationalizations.

You've heard them: "I am personally opposed to abortion, but I believe that a woman has the right to choose."


I wonder: would those same people say, "I'm personally against stealing, but I believe that a person has the right to steal my car?" No way! Isn't amazing how people wouldn't accept that rationalization with any other Commandment. It's just with the 5th commandment and the issue of abortion and euthanasia.


Jesus is very clear about His teaching on abortion and euthanasia. There is no confusion, no ambiguity. It is only unbelievers and fair weather Catholics.


But there is still the majority of Catholics out there who are good and trying to be faithful, but, who have been intimidated or confused into silence. I urge you not to be afraid. We Catholics make up ¼ of the population of America . If we stood together as dedicated disciples of Jesus Christ and Catholics faithful to Christ's teachings, we would change the entire moral fabric, fiber and direction of our country.


And we need to stand up. We need to speak out for all those unborn or elderly citizens who have lost their voice in our sleek, chic, sophisticated world. I will tell you why.


President-elect Barack Obama has stated publicly that the one of the first things he will do when he gets into office is to the sign the Freedom of Choice Act (FOCA).


For those who do not know, the Freedom of Choice Act currently before the Congress, which Barack Obama sponsored as a Senator, will roll back all the restriction on abortion that the majority of Americans want and have voted in during the past 36 years. FOCA will invalidate for the entire country all restrictions on abortion including parental notifications, waiting periods, and partial birth abortions, yes — the brutal killing of 9-month old fetuses while they are in the birth canal, ready to be born.


FOCA also will attempt to force Catholic hospitals to adopt these evil measures.

Thank God, Cardinal George of Chicago, the president of the National Council of Bishops, has told President-elect Obama and his team that, if FOCA is signed into law, the Catholic Church will close their Catholic hospitals rather than participate in evil. By the way, Catholic hospitals make up one third of all hospitals in the nation.


Do you know what President–elect Obama's team said to Cardinal George? "That's OK! We'll just buy your hospitals." To which Cardinal George replied, "You didn't hear me! I said that we will close our hospitals. You will have to build your own!" Good for him and all the Cardinals and Bishops standing with him! They are the new Cardinal Faulhabers, standing up against evil!

Brothers and sister, our Cardinal Roger Mahony has urged all of us in the Archdiocese of Los Angeles to get involved with a postcard campaign to turn back this terrible legislative act. As your pastor, I also strongly urge you to stand up and speak out.


After communion, the ushers will pass out postcards, already addressed to our Senators Barbara Boxer and Diane Feinstein, and to our Congressman Elton Gallegly. I would ask you to take the time to sign them and then to drop them into the baskets at each Church door. I will put the postage on them and mail them for you.


Hitler wanted the Church to remain silent in the face of all the atrocities of the first Holocaust, all in the name of progress and pride of a nation. Fortunately, a small group of great Christians, such as Cardinal Faulhaber, Dietrich Bonhoffer, Colonel Claus von Stauffenberg and others stood up and shouted in defiance. Ultimately, their voices were heard, but not before 10 million innocent people lost their lives in the Holocaust.


Many in our government, in our nation, and sadly, even some in our Church today, want the Church to be silent about this new Holocaust. Many want the Church to not get involved in politics — all in the name of economic prosperity, comfort, convenience, progress and pride of our nation. Many say that the Church shouldn't say anything because there is a separation of Church and State.


I'll tell you what: The Church and I won't speak to or about politics if the government will stay out of our beloved Church and the Gospel. Once the government comes across that boundary, we will speak, and speak loudly.


Brothers and sisters, don't be intimidated, confused or deceived. Jesus is very clear what He wants us his faithful disciples to do. Let's act with courage and faith.


If we don't, we will rue the day, as the German people still do now about the first Holocaust. If we don't stand up and speak out, then we will stand condemned by future generations, and maybe even before God, because we failed to heed Edmond Burke's admonition:

"The only thing necessary for the triumph of evil is for good men and women to do and say nothing."

O Inestimável valor do Infovitae


Pedro Vassalo


Ao perceber que o INFOVITAE faz 10 anos tive uma sensação de estranheza. Não por qualquer razão complicada mas, tão simplesmente, por perceber que já se foram dez anos de história, de leitura diária, de companhia, de reflexão, de persistência a tentar mostrar e a desmontar ao mundo, como as mentiras que nos impigem, de tão repetidas, passam a ser verdades absolutas.

Já passaram dez anos? Nem dei por eles.


Outra estranheza, bem diferente, nasce da responsabilidade de escrever para um boletim electrónico que nos tem habituado à qualidade: ou seja informação certa e opinião sólida. E seria inconsciente não acusar a dificuldade da tarefa.


Opto por partilhar um assunto a que já tenho aludido em outros encontros, em especial quando se trata de discutir o plano de intervenção da comunicação social (CS) nestes assuntos da “vida”. O que poderá fazer sentido, na medida em que o INFOVITAE é, no fundo, também uma forma de comunicar com o mundo.


Indo ao ponto, a tese é simples: a CS ao dar a todos os intervenientes neste debate o mesmo espaço, igual capacidade opinativa, a mesma presunção de verdade e adoptando uma atitude (mesmo que apenas formal) de imparcialidade está, em substância, a tomar posição por uma das partes, negando afinal aquilo que diz (e eventualmente pretende) defender.


Reconheço as fraquezas deste argumento, em especial em sociedades que se pretendem abertas, democráticas e disponíveis para o diálogo. Mas, só por miopia, e indisfarçável inclinação ideológica, se pode afirmar que bom jornalismo significa tratar todos por igual, como se todas e quaisquer posições, sobre matérias tão importantes quanto esta, fossem qualitativamente do mesmo calibre, tivessem o mesmo peso e merecessem tratamento semelhante. A equidistância nestas matérias significa, na prática, atribuir às partes a mesma presunção de verdade e emprestar igual oportunidade de defesa, o que não é válido.


Porque praticar, neste caso concreto, a equidistância corresponde a afirmar que cada uma das partes em confronto tem o seu quê de verdade, que esta será matéria sujeita à opinião pessoal, e que só o escrutínio individual, uma vez informado (esclarecido?) dos argumentos, a favor e contra, pode decidir.


Não será preciso escavar muito para perceber que em matérias de direitos humanos, provavelmente só a questão do aborto merece tal tratamento, supostamente equidistante, por parte da CS. Vejamos o caso da escravatura. Será que a CS daria o mesmo tratamento jornalístico a quem, por exemplo, defendesse a sua reintrodução? E a quem argumentasse a favor da tese nazista sobre o povo judeu? E sobre o fim do poder sindical? A lista seria imensa como qualquer um perceberá.


O ponto que interessa considerar é que ao publicitarem-se os argumentos contra e a favor de que um feto não é um ser humano, estar-se-á, na prática, a colocar os argumento em pé de igualdade sem dar preferência a nenhum.


A consequência, terrível, é directa e percebe-se facilmente: o direito de um feto continuar a viver (vida de um terceiro), dependerá, afinal, da opinião que cada um dos seis biliões do planeta tem sobre o assunto.


Numa palavra, e na questão do aborto como em tantas outras que radicam nos direitos fundamentais do Homem, não tomar posição significa, na prática, tomar posição!


E isto percebe-se melhor quando a CS não avança, como é seu bom e saudável costume, no aprofundamento do assunto. Exemplo? Pedem-se provas a quem defende a vida desde o seu início (e início é mesmo isso que significa, começar do zero, o que no caso em apreço só pode ser na concepção, porque antes não há nada). Estamos de acordo quanto ao pedido da prova, que até existe e é abundante. Mas, curiosamente, ou talvez não, a quem defende o contrário (a vida começará às X semanas) há uma enorme tolerância quanto ao fornecimento de provas, suporte científico e até filosófico do argumento. Porque, para estes, como não há verdade e evidência científica, deduz-se em consequência que a vida poderá começar quando cada um lhe apetecer, visto ser matéria destinada à consciência de cada um.


Dito isto importa concluir com uma questão prática: como impedir a opinião dos abortistas numa sociedade democrática? Resposta: não há como! Mas a CS poderia, como o faz em tantos outros casos, tomar posição editorial, fazer as perguntas certas (em regra inconvenientes), publicitar exemplos, suscitar dúvidas, citar a evidência científica e, obviamente, evitar divulgar a opinião de quem defende (eventualmente por ignorância) a morte de terceiros por uma mera questão de convicção.


E enquanto isso não acontece, ou só existe em raras excepções, resta insistir na divulgação da verdade, quer seja científica quer cívica (filosófica, ética e humanista). É esse o inestimável valor do INFOVITAE.


E termino com uma nota de esperança: mais de 50 anos depois do fim da II guerra, os médicos alemães patrocinaram um congresso, com um único ponto da ordem de trabalhos: “Como foi possível?”. Traduzindo: como foi possível que tantos e tantos médicos alemães tenham patrocinado a causa (supostamente científica) nazi de considerar todo um povo como sub humano. Presumo que o congresso terá mais edições, daqui a uns anos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Uma casa portuguesa, com Certeza

Pedro Gil

A Dúvida levantou-se tarde. Arranjou-se à pressa revendo os êxitos da véspera. Não tinha um segundo a perder. Exigia de si mesma ser muito metódica.

Bateu à porta do lado, na casa da Certeza, que compadecida, como sempre, lhe aviou uma buchazinha para mordiscar no caminho.

A Dúvida desceu as escadas a correr, e a Certeza ficou remoendo os seus mixed feelings sobre aquela irrequieta. Tanto talento desperdiçado...

A Dúvida andava naquilo há algum tempo, aí uns 200 anos. Tinha popularizado as perguntas "mas, qual é o mal?" sobre coisas que os milénios consideravam erros, e "mas, será mesmo assim?" sobre coisas que os séculos achavam certas.

Era mestra do questionar, embora com a irritante mania de não se interessar pelas respostas. Cresceu a sua fama de intelectual e dialogante. Especializou-se em comunicação, e era forte em estética. E nunca descuidou o seu jeito subtilmente sedutor.

Depois pensou que era perigoso eliminar a noção do certo e do errado. Então lembrou-se da saúde, do anti-tabagismo, das bandas gástricas e das trocas de seringas. E convenceu todos de que, mesmo que discordássemos sobre o extermínio dos mendigos, concordaríamos em que deveria ser feito em boas condições de higiene.

A Certeza era benevolente com a Dúvida e a sua paciência irritava mesmo alguns amigos. A casa da Certeza era uma algazarra: pobres, famílias, gente da rua, e crianças, muitas crianças. Porque em casa da Certeza havia poucas exigências, as fundamentais, as que tornam possível o riso, a brincadeira, as canções, os jogos, a fantasia, e a festa.

A Dúvida sabia que no dia em que a Certeza morresse, ela seria a primeira a ser chacinada. Mas semeou a ideia de que a Certeza era teimosa, avessa à mudança, triste, tirânica, cega e sem ideias. E que era feia, enrugada, voz áspera e com verruga no nariz. Que passava os dias sentados a pensar nos séculos antigos.

A Certeza sabia disso, mas conversava de bom grado com a Dúvida sempre que esta se dispunha. Como nessa tarde. Saíram ao parque. Disputaram sobre temas importantes. A Certeza conseguiu não se irritar quando a Dúvida - como fazia sempre - rematou: "bem, portanto estamos de acordo" - quando era óbvio que em nada estavam de acordo.

A Dúvida caminhava um pouco à frente, já treinada em tentar chegar antes do que a Certeza, o que lhe dava vantagem. Depois do recinto reservado aos adolescentes bêbados - uma das conquistas da Dúvida através do "mas, qual é o mal?" - apareceram as crianças, que sempre rodeavam a Certeza e fugiam da Dúvida.

Distraída com a algazarra, a passada da Dúvida tropeçou nalguma coisa sólida, impávida, uma autêntica pedra de tropeço, e estatelou-se no chão. Irritou-se muito, e muito especialmente porque há já 10 anos que a cena se repete. A pedra de tropeço é limpa, consistente, firme, e inabalável. E há 10 anos que exibe o seu nome esculpido em caracteres clássicos: INFOVITAE.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Lembra-Te de que a minha vida é um sopro

Rui Corrêa d' Oliveira
10 de Fevereiro de 2009

«Lembra-Te de que a minha vida é um sopro,
e os meus olhos não voltarão a ver a felicidade».
Este grito de lamento que Job dirige a Deus
parece descrever com realismo a atitude de um homem desesperado.

Não houve desgraça que não lhe acontecesse,
enchendo a sua vida de dor e sofrimento.

Ainda que boa parte do seu livro
seja a narração das inúmeras fatalidades de que foi feita a sua história,
dela retiro duas grandes lições:
- a sua corajosa aceitação do real
- e a esperança nunca perdida por mais longa que se trnasse a espera

Cada novo drama que se apresenta, cada provação,
é para Job uma nova circunstância,
que ele enfrenta e vive sem lhes fugir.

Pelo contrário, faz o que o homem crente pode fazer:
pedir socorro, suplicar o auxílio do Deus omnipotente.

A postura de Job perante a vida
é um extraordinário testemunho de Esperança,
pois mesmo no auge do desânimo
é para o seu Deus que ele volta o coração e clama: «lembra-Te de mim!»

Quem espera não despera,
se espera com a certeza alimentada na Esperança.
Não fica imune ao cansaço e ao desânimo,
mas vive da certeza de que a dor, o sofrimento ou a injustiça
não têm a última palavra.
Também eu tenho os meus dias de Job,
também eu tenho as minhas esperas que parecem não ter fim,
mas peço ao mesmo Deus de Job, que é o meu,
que me ensine a viver a realidade como ele viveu
e a esperar como ele esperou,
até ao dia em que a Esperança se há-de cumprir.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Quantos ela tenha concebido ela mesma os crie ou dê a criar a outros


S. Cesário de Arles, Bispo
Sermão 19

«…a todas as vossas filhas dirijo com paterna solicitude a advertência para que nenhuma mulher tome poções para abortar, nem mate os seus filhos concebidos ou nascidos; mas a quantos ela tenha concebido ela mesma os crie ou dê a criar a outros: Por todos os que tiver matado permanecerá ré no dia do juízo».

Dissoluta crueldade


Santo Agostinho

«Esta dissoluta crueldade, ou dissolutez cruel, chega ao ponto de inventar também os venenos da esterilidade. E se nada conseguiu anular e dissolver de alguma forma no útero os fetos concebidos, preferem que a sua prole se extinga do que viva, ou, se já viva no útero, seja morta antes de nascer. Com certeza se assim pensam ambos não são cônjuges; e se assim foram desde o começo não se uniram em matrimónio (connubium), mas antes em adultério (stuprum). Se não sucede assim entre ambos, ouso afirmar: ou ela é, de alguma maneira, prostituta do marido ou ele adúltero da mulher».

Mãos ao Alto!



1. Quando era criança e brincávamos às quadrilhas, isto é, aos bandos, era certo e sabido que as expressões “mãos ao alto!” ou “rendes-te ou não?” eram recorrentes e habituais. Eram frases que tínhamos aprendido nos livros aos quadradinhos, como então se dizia, da Colecção Falcão e antes dela do Cavaleiro Andante, e nos westerns. Perante uma emboscada imprevista ou submetidos a uma força maior só nos restava rendermo-nos levantando as mãos se não queríamos levar uma tareia ou se desejávamos acabar aquele jogo e começar outro. Mas havia sempre os resistentes. Estes, por mais que apanhassem mantinham-se firmes até que o adversário se cansasse e desistisse daquela crueldade infantil ou então os pais ou professores aparecessem distribuindo tabefes e açoites que punham tudo em ordem. Nos dias de hoje ser-lhes-ia dada voz de prisão, de um a cinco anos, acusados de violência infantil…

2. A legalização do aborto e a posterior liberalização até às dez semanas foram violências apontadas à sociedade como um todo e em particular às pessoas de boa vontade., convidando-nos a rendermo-nos, a pormos as mãos ao alto, desistindo da protecção e promoção dos mais pobres, inocentes e indefesos. Muitíssimos se resignaram e outros tantos se cumpliciaram. Porém houve um resto que, fiel à Graça que lhe foi concedida, tem permanecido firmíssimo numa resistência activa. Neste resíduo sobressaem dois grupos pela dedicação persistente e corajosa que exercitam na linha da frente. São eles o “Projecto A Teu Lado” e a “Associação Mãos Erguidas”. Nasceram ambos há cerca de um ano, e na abordagem, diferenciada mas complementar, que fazem às mães grávidas que se dirigem ao matadouro dos Arcos para abortar seus filhos já conseguiram salvar a vida a um punhado de crianças nascituras e impedir o traumatismo, conhecido por sindroma pós traumático, respectivo de suas mães.

3. Não deixa de ser curioso verificar que a Associação Mãos Erguidas, como o próprio nome indica, pôs de facto as mãos ao alto. Fê-lo, no entanto, não para se render aos homens mas sim a Deus, para que Ele dispusesse dos seus membros como Lhe aprouvesse na nobre missão de salvar os mais pequeninos e resgatar almas do laço do demónio, da escravidão do pecado. Talvez por isso Deus quis presenteá-los, no dia exacto do seu primeiro aniversário (29 de Janeiro), com a salvação de uma africana imigrante prestes a entrar para o abortadouro a fim de aniquilar o filho que trazia em si.

O “namorado” trabalha no Norte, ela empregada, há um ano, como doméstica interna, receava perder o trabalho. Persuadiram-na então a falar com a patroa expondo com verdade a sua situação e pedindo-lhe compreensão e apoio. Que não tivesse medo pois se não encontrasse amparo aí encontrá-lo-ia na associação. Desabafou com a dona de casa, foi imediatamente despedida. Deu conhecimento do sucedido aos membros da Mãos Erguidas. Pegaram nela e foram a Fátima. Falou com o namorado, a palavra aborto desapareceu da conversa e surgiu a palavra bebé. Arranjaram-lhe emprego, celebrou-se uma Missa de Acção de Graças e está rodeada do carinho e apoio de um numeroso grupo de novos amigos.

4. Para já, isto é, até ao dia 11 do corrente, não será possível, mas talvez o seja para o 28 de Junho, aniversário da vitória do Não ao aborto no primeiro referendo, e não só possível como conveniente e desejável, a publicação de um livro que narrasse, com testemunhos, em várias partes, as seguintes situações: a) Mães grávidas que abortaram por sua própria iniciativa; contra a vontade do pai e apesar de terem todo o apoio; b) Pais que fizeram tudo para impedir o abortamento de seus filhos e que não o conseguiram; c) Mães grávidas que abortaram devido a pressões, chantagens, seduções, etc.; d) Mães grávidas que resistindo a todas as solicitações, circunstâncias adversas, e todo tipo de pressões se recusaram a abortar os seu filhos e os deram à luz. Fica a sugestão para os movimentos pró vida.


Nuno Serras Pereira
03. 02. 2009