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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Bento XVI sobre Santo António de Lisboa

Queridos irmãos e irmãs:

Após ter apresentado, há duas semanas, a figura de Francisco de Assis, nesta manhã eu gostaria de falar sobre outro santo pertencente à primeira geração dos Frades menores: Antônio de Pádua ou – como também é conhecido – de Lisboa, referindo-se à sua cidade natal. Trata-se de um dos santos mais populares de toda a Igreja Católica, venerado não somente em Pádua, onde se erigiu uma esplêndida basílica que recolhe seus restos mortais, mas no mundo inteiro. São queridas dos fiéis as imagens e estátuas que o representam com o lírio, símbolo da sua pureza, ou com o Menino Jesus nos braços, lembrando uma aparição milagrosa mencionada por algumas fontes literárias.

Antônio contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento da espiritualidade franciscana, com seus fortes traços de inteligência, equilíbrio, zelo apostólico e, principalmente, fervor místico.

Ele nasceu em Lisboa de uma família nobre, por volta de 1195, e foi batizado com o nome de Fernando. Começou a fazer parte dos cônegos que seguiam a regra monástica de Santo Agostinho, primeiro no mosteiro de São Vicente, em Lisboa, e depois no da Santa Cruz, em Coimbra, renomado centro cultural de Portugal. Dedicou-se com interesse e solicitude ao estudo da Bíblia e dos Padres da Igreja, adquirindo aquela ciência teológica que o fez frutificar nas atividades de ensino e na pregação.

Em Coimbra, aconteceu um fato que marcou uma mudança decisiva em sua vida: em 1220, foram expostas as relíquias dos primeiros cinco missionários franciscanos que haviam se dirigido a Marrocos, onde encontraram o martírio. Este acontecimento fez nascer no jovem Fernando o desejo de imitá-los e de avançar no caminho da perfeição cristã: então ele pediu para deixar os cônegos agostinianos e converter-se em frade menor. Sua petição foi acolhida e, tomando o nome de Antônio, também ele partiu para Marrocos, mas a Providência divina dispôs outra coisa.

Por causa de uma doença, ele se viu obrigado a voltar à Itália e, em 1221, participou do famoso “Capítulo das Esteiras” em Assis, onde também encontrou São Francisco. Depois disso, viveu por algum tempo escondido totalmente em um convento perto de Forlì, no norte da Itália, onde o Senhor o chamou para outra missão. Convidado, por circunstâncias totalmente casuais, a pregar por ocasião da uma ordenação sacerdotal, Antônio mostrou estar dotado de tal ciência e eloquência, que os superiores o destinaram à pregação. Ele começou assim, na Itália e na França, uma atividade apostólica tão intensa e eficaz, que levou muitas pessoas que haviam se separado da Igreja a voltar atrás. Esteve também entre os primeiros professores de teologia dos Frades menores, talvez inclusive o primeiro. Começou a lecionar em Bolonha, com a bênção de Francisco, o qual, reconhecendo as virtudes de Antônio, enviou-lhe uma breve carta com estas palavras: “Eu gostaria que você lecionasse teologia aos frades”. Antônio colocou as bases da teologia franciscana que, cultivada por outras insignes figuras de pensadores, teria conhecido seu zênite com São Boaventura de Bagnoregio e o beato Duns Scotus.

Nomeado como superior provincial dos Frades Menores da Itália Setentrional, continuou com o ministério da pregação, alternando-o com as tarefas de governo. Concluído o mandato de provincial, retirou-se perto de Pádua, onde já havia estado outras vezes. Depois de apenas um ano, morreu nas portas da Cidade, no dia 13 de junho de 1231. Pádua, que o havia acolhido com afeto e veneração em vida, prestou-lhe sempre honra e devoção. O próprio Papa Gregório IX – que, depois de tê-lo escutado pregar, definiu-o como “Arca do Testamento” – canonizou-o em 1232, também a partir dos milagres ocorridos por sua intercessão.

No último período da sua vida, Antônio escreveu dois ciclos de “Sermões”, intitulados, respectivamente, “Sermões dominicais” e “Sermões sobre os santos”, destinados aos pregadores e professores de estudos teológicos da ordem franciscana. Neles, comentou os textos da Sagrada Escritura apresentados pela liturgia, utilizando a interpretação patrístico-medieval dos quatro sentidos: o literal ou histórico, o alegórico ou cristológico, o tropológico ou moral e o anagógico, que orienta à vida eterna. Trata-se de textos teológicos-homiléticos, que recolhem a pregação viva, na qual Antônio propõe um verdadeiro e próprio itinerário de vida cristã. É tanta a riqueza de ensinamentos espirituais contida nos “Sermões”, que o venerável Papa Pio XII, em 1946, proclamou Antônio como Doutor da Igreja, atribuindo-lhe o título de “Doutor Evangélico”, porque destes escritos surge a frescura e beleza do Evangelho; ainda hoje podemos lê-los com grande proveito espiritual.

Nos “Sermões”, ele fala da oração como uma relação de amor, que conduz o homem a conversar docemente com o Senhor, criando uma alegria inefável, que envolve suavemente a alma em oração. Antônio nos recorda que a oração precisa de uma atmosfera de silêncio, que não coincide com o afastamento do barulho externo, mas é experiência interior, que procura evitar as distrações provocadas pelas preocupações da alma. Segundo o ensinamento deste insigne Doutor franciscano, a oração se compõe de quatro atitudes indispensáveis que, no latim de Antônio, definem-se como: obsecratio, oratio, postulatio, gratiarum actio. Poderíamos traduzi-las assim: abrir com confiança o próprio coração a Deus, conversar afetuosamente com Ele, apresentar-lhe as próprias necessidades, louvá-lo e agradecer-lhe.

Neste ensinamento de Santo Antônio sobre a oração, conhecemos um dos traços específicos da teologia franciscana, da qual ele foi o iniciador, isto é, o papel designado ao amor divino, que entra na esfera dos afetos, da vontade, do coração, e que é também a fonte de onde brota um conhecimento espiritual que ultrapassa todo conhecimento. Antônio escreve: “A caridade é a alma da fé, é o que a torna viva; sem o amor, a fé morre” (Sermões Dominicais e Festivos II).

Só uma alma que reza pode realizar progressos na vida espiritual: este foi o objeto privilegiado da pregação de Santo Antônio. Ele conhecia bem os defeitos da natureza humana, a tendência a cair no pecado; por isso, exortava continuamente a combater a inclinação à cobiça, ao orgulho, à impureza e a praticar as virtudes da pobreza e da generosidade, da humildade e da obediência, da castidade e da pureza.

No começo do século XIII, no contexto do renascimento das cidades e do florescimento do comércio, crescia o número de pessoas insensíveis às necessidades dos pobres. Por este motivo, Antônio convidou os fiéis muitas vezes a pensar na verdadeira riqueza, a do coração, que, tornando-os bons e misericordiosos, leva-os a acumular tesouros para o céu. “Ó ricos – exorta – tornai-vos amigos (...); os pobres, acolhei-os em vossas casas: serão depois eles que os acolherão nos eternos tabernáculos, onde está a beleza da paz, a confiança da segurança e a opulenta quietude da saciedade eterna” (Ibid.).

Não seria este, queridos amigos, um ensinamento muito importante também hoje, quando a crise financeira e os graves desequilíbrios econômicos empobrecem muitas pessoas e criam condições de miséria? Em minha encíclica Caritas in veritate, recordo: “A economia tem necessidade da ética para o seu correto funcionamento; não de uma ética qualquer, mas de uma ética amiga da pessoa” (n. 45).

Antônio, na escola de Francisco, sempre coloca Cristo no centro da vida e do pensamento, da ação e da pregação. Este é outro traço típico da teologia franciscana: o cristocentrismo. Alegremente, ela contempla e convida a contemplar os mistérios da humanidade do Senhor, particularmente o do Natal, que suscitam sentimentos de amor e gratidão pela bondade divina.

Também a visão do Crucificado lhe inspira pensamentos de reconhecimento a Deus e de estima pela dignidade da pessoa humana, de forma que todos, crentes e não crentes, possam encontrar um significado que enriquece a vida. Antônio escreve: “Cristo, que é a tua vida, está pregado diante de ti, porque tu vês a cruz como em um espelho. Nela poderás conhecer quão mortais foram tuas feridas, que nenhum remédio teria podido curar, a não ser o sangue do Filho de Deus. Se olhas bem, poderás perceber quão grandes são tua dignidade e teu valor (...). Em nenhum outro lugar o homem pode perceber melhor o quanto vale, a não ser no espelho da cruz” (Sermões Dominicais e Festivos III).

Queridos amigos: que Antônio de Pádua, tão venerado pelos fiéis, interceda pela Igreja inteira, sobretudo por aqueles que se dedicam à pregação. Que estes, inspirando-se em seu exemplo, procurem unir a doutrina sã e sólida, a piedade sincera e fervorosa e a incisividade da comunicação. Neste Ano Sacerdotal, oremos para que os sacerdotes e diáconos levem a cabo com solicitude este ministério de anúncio e atualização da Palavra de Deus aos fiéis, sobretudo através das homilias litúrgicas. Que estas sejam uma apresentação eficaz da eterna beleza de Cristo, precisamente como recomendada Santo Antônio: “Se pregas Jesus, Ele amolece os corações duros; se o invocas, Ele adoça as amargas tentações; se pensas nele, ilumina-te o coração; se o lês, sacia-te a mente” (Sermões Dominicais e Festivos III).

10 de Fevereiro de 2010

domingo, 29 de novembro de 2009

Responso a Santo António


Se milagres desejais,
Recorrei a Santo António;
Vereis fugir o demónio
E as tentações infernais.

Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão,
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.

Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro, a morte,
O fraca torna-se forte
E torna-se o enfermo são.

Recupera-se o perdido... (repete-se)

Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-nos aqueles que o viram;
Digam-no os paduanos.

Recupera-se o perdido... (repete-se)

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

Recupera-se o perdido... (repetete-se)

V. Rogai por nós bem-aventurado Santo António.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Repete-se: Recupera-se o perdido ...

Oremos: Deus eterno e omnipotente, Vós quisestes que o Vosso povo encontrasse em Santo António de Lisboa um grande pregador do Evangelho e um intercessor poderoso. Concedei-nos seguir fielmente os princípios da Vida Cristã, para que mereçamos tê-lo como Protector em todas as adversidades. Por Nosso Senhor Jesus Cristo que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Ámen.

sábado, 28 de novembro de 2009

Se milagres desejais


A minha avó materna, como quase todas as avós portuguesas daquele tempo, sempre que perdia alguma coisa rezava num murmúrio, para nós ininteligível, o Responso de Santo António, e a verdade é que, segundo garantia, encontrava sempre as coisas desaparecidas. Nós, os netos, achávamos que aquilo era uma daquelas devoções que roçava a superstição e lançávamos uns aos outros um olhar céptico quando nos vinha com aquelas histórias. Com o passar dos anos e depois de uma vida atribulada a lembrança dessa devoção avoenga foi arrojada para uma masmorra da minha memória.

Cerca de um ano depois de ter entrado para o Seminário, a meio de uma Missa no Santuário de Fátima – durante a peregrinação anual franciscana – fui convidado pela mãe de um amigo a peregrinar a Assis com a sua família. Pedida a devida autorização ao Padre Mestre, que prontamente a concedeu, inscreveram-me numa peregrinação da Ordem Franciscana Secular (também conhecida por Ordem Terceira), assistida espiritualmente por dois Sacerdotes franciscanos. Éramos, creio, que cerca de 90 pessoas, uma vez que enchíamos dois autocarros (ónibus), a maioria, tanto quanto me lembra de idade avançada e, para a minha sensibilidade, um bocado “beata”, no sentido pejorativo deste termo.

Depois de Roma, Assis e o Monte Alverne, onde S. Francisco recebeu os estigmas, rumámos para Florença. Aí pernoitámos uma ou duas noites. No momento da partida, verificou-se que faltava a mala do Jorge. Todos nos pusemos, de algum modo, à procura, perscrutando os recantos mais inverosímeis. No frenesim ansioso, suponho que chegámos mesmo a olhar para o tecto na expectativa de encontrá-la… Em vão, não deparámos com vestígio algum da bagagem e estou em crer que o próprio CSI, se já existira, teria desistido da pesquisa. Resignados, cabisbaixos, lá entrámos para os autocarros rumo a Milão que, se a memória não me atraiçoa, dista de Florença cerca de 600 quilómetros.

Quando o autocarro em que seguia se pôs em marcha, logo o Padre mais velho, o mais novo ia no outro, depois das orações habituais, disse: e agora vamos rezar o responso de Santo António para encontrar a mala do Jorge. Eu confesso, com grande rubor, que me encolhi todo no banco, envergonhado de ter entrado para a Ordem a que aquele Sacerdote pertencia e indignado pelo fomento de uma devoçãozinha bafienta e ainda para mais disparatada. Se a mala se tinha perdido em Florença e partíamos para uma cidade tão distante que sentido tinha fazer aquela oração!? E, mentalmente, fui catalogando-o com todos aqueles nomes que os “católicos adultos” usam para descredibilizar a Fé dos simples. Fiquei mesmo furioso.

Claro que durante a viagem a mala não apareceu; claro que quando chegámos a Milão nada de mala; claro que na visita à Catedral de Milão não se vislumbrou a mala; claro que no hotel onde dormimos em Milão nada de mala; claro que quando partimos para Veneza, mala nem vê-la; claro que no barco em que se navegou pelos canais de Veneza não surgiu nenhuma mala; claro que na visita à Catedral de S. Marcos, claro que na visita à Catedral de S. Marcos, claro que na visita à Catedral de S. Marcos… encontrou-se a mala do Jorge! A mala estava lá! “Se milagres desejais recorrei a Santo António…” assim começa o Responso.

Desde aquele dia, tornei-me um fã da devoção da minha avó. E não estou arrependido. Tenho-me dado muito bem. Já lá vão trinta anos

Nuno Serras Pereira

28. 11. 2009