(Basílica de  Nossa Senhora dos Mártires, 22 de Abril de 2010)
     
P. Gonçalo Portocarrero de  Almada
  
 
1.  Introdução. Há pouco menos  de cem anos, Nossa Senhora apareceu na Cova da Iria para pedir a três  pastorinhos que rezassem o terço todos os dias «para alcançarem a paz para o  mundo e o fim da guerra». Aqueles três jovens aceitaram o desafio que lhes vinha  do Céu, por intermédio daquela «Senhora mais brilhante do que o sol» e, poucos  meses depois, concluía-se a primeira Guerra Mundial.
 Hoje, é essa  mesma Senhora que nos convoca para uma nova cruzada pela paz no mundo e, em  especial, por esta Terra de Santa Maria. É Nossa Senhora quem nos pede que de  novo empunhemos o terço, que é arma poderosa, e restauremos assim o esplendor de  Portugal. 
 Para esta guerra  de paz e de amor, para esta luta do bem contra o mal, contamos não só com a  força de Deus e dos seus Santos Anjos, mas também com a poderosa intercessão  daquele que, nos campos de Aljubarrota, Atoleiros e Valverde, venceu os inimigos  de Deus e da pátria: São Nuno de Santa Maria!
 2. Os paradoxos  de Fátima. Quando, a 13 de  Maio de 1917, Nossa Senhora desceu sobre o descampado de Fátima e apareceu,  sobre uma azinheira, a três jovens incultos que nem sequer o terço diário  rezavam – não obstante a recomendação materna para que assim fizessem todos os  dias, enquanto se dedicavam à guarda do rebanho que lhes fora confiado –  dir-se-ia que a Santíssima Virgem cometeu um tríplice  erro.
 Em primeiro  lugar, parece que Nossa Senhora falhou no alvo que pretendia atingir. Se a sua  vinda estava relacionada com a conversão da Rússia e o fim da guerra que se  travava no centro da Europa, era nas distantes estepes russas ou em terras de  França que deveria ter aparecido, e nunca em Portugal, que embora potência  beligerante, estava muito arredado dos cenários da guerra e no extremo  continental oposto à que viria a ser a grande nação  soviética.
 Em segundo  lugar, se se desejava o fim de uma guerra e, ainda por cima mundial, a Rainha da  Paz deveria ter aparecido num fórum internacional, nos parlamentos em que tais  decisões são tomadas, nos conselhos de ministros que gerem esses conflitos, nos  quartéis-generais que comandam as tropas que se confrontam nos campos de  batalha, e não ante três pacíficos pastorinhos que, não só ignoravam as  vicissitudes da atormentada Europa, como desconheciam ainda a existência de uma  distante Rússia. Mesmo que os pequenos videntes de Fátima estivessem a par da  grave situação internacional, também é certo que nada poderiam fazer, por si  mesmos, para resolver a crise mundial. 
 Em terceiro e  último lugar, se Maria vinha despertar nos homens e mulheres o desejo da paz e o  empenho pela construção de uma sociedade mais justa, deveria ter ido ao encontro  de cidadãos de consolidada experiência e de provada sabedoria, e nunca servir-se  de três jovens que, pela sua então falta de idade, de ciência e de virtude,  dificilmente poderiam ser aceites, na Igreja e no mundo, como intermediários do  Céu em tão complexa questão.
 E, contudo,  foram eles – os Beatos Francisco e Jacinta e a sua prima Lúcia – os  escolhidos por Nossa Senhora! Ela, que tinha à  sua disposição tantos cristãos ilustres e sábios, alguns talvez até poderosos e  ricos. Ela, que se poderia ter servido de instrumentos de grande qualidade  humana e espiritual, não desdenhou aquelas três crianças, antes as preferiu e  destinou para que fossem, num mundo ferido pelo pecado e pela guerra, as  corajosas mensageiras do amor de Deus e da paz entre os homens.  
 Quando, depois  da queda do muro de Berlim e do fim da tirania comunista nos países do Leste  europeu, uma significativa representação de católicos russos veio a Fátima  agradecer a protecção de Nossa Senhora, tive a graça e a felicidade de falar com  o Senhor Arcebispo de Moscovo. No santuário da Cova da Iria, esse prelado  confidenciou-me que, durante os longos anos da perseguição comunista, os  católicos não podiam ter igrejas abertas ao culto, nem seminários, nem padres,  nem livros, nem manifestar a sua religião católica. Por isso, só lhes restava um  modo de viverem a sua fé: rezando, individualmente ou em família, nas suas casas  e pelas ruas, o terço de Nossa Senhora. 
 Porquê esta  oração? Decerto porque é uma prática a todos acessível, mas porque também nessas  longínquas paragens constava que, no outro extremo do continente europeu, em  Fátima, Maria tinha prometido a sua maternal protecção ao povo russo. Num campo  de concentração, numa caserna do exército, numa escola pública, num hospital do  Estado, numa repartição oficial, certamente não se poderia celebrar  comunitariamente a fé, mas até nesses lugares, oficialmente interditos a Deus,  se rezava pessoalmente o terço de Nossa Senhora. E quantos milhões de terços se  não terão rezado nesse país por esta intenção?! Foram essas contas, desgranadas  com filial confiança, que abriram as portas da esperança e que reinventaram o  amor na renovada expressão da nossa fé!
 Queridos jovens!  Nossa Senhora não subestimou a força e o poder dos inimigos da fé e da Igreja,  quando recomendou a reza diária do rosário! A nossa Mãe do Céu não se equivocou,  quando escolheu, para seus interlocutores, três crianças ignorantes! Maria não  errou a pontaria, quando aterrou na Cova da Iria! Porquê?! Porque Nossa Senhora  sabe que o terço é a arma adequada para recristianizar Portugal e renovar o  mundo! Porque Nossa Senhora, a quem foi entregue por Cristo o Apóstolo  adolescente, confia nos jovens e no poder da sua oração! Porque Nossa Senhora,  que exulta de alegria no Deus que destrona os poderosos e eleva os humildes,  conta com Portugal!
 3. Um  compromisso de oração por Portugal. Em Maio de 1917  era a Guerra Mundial que entristecia a nossa Mãe do Céu e, poucos meses depois,  no outro extremo do continente europeu, erguia-se a superpotência que contagiou  o mundo inteiro com os seus erros. Mas hoje, quase um século volvido sobre  aquela bênção de Nossa Senhora à nossa terra, é também Portugal terra de  missão.
 Este projecto,  nascido à sombra do pendão de São Nuno Álvares Pereira e por ocasião da sua  solene canonização, a 26 de Abril de 2009, é um convite lançado a toda a Igreja  para que, na magnífica multiplicidade das suas Instituições e dos seus  Movimentos, se una na reza diária do Santo Rosário e, mensalmente, na recitação  comunitária do terço de Nossa Senhora, na primeira quinta-feira de cada mês. É  intenção prioritária dessa oração pessoal e comunitária a defesa da fé em  Portugal, prometida por Nossa Senhora aos três pastorinhos na aparição de 13 de  Julho de 1917, sem prejuízo de outras razões pelas quais os cristãos que assumem  este compromisso queiram também rezar. 
 Não sendo  obrigatória a reza do Santo Rosário, aqueles que individualmente e por um  período anual se propõem rezar um ou mais terços diários, ou mesmo uma só  dezena, pela referida intenção, não assumem uma responsabilidade que os obrigue,  sob razão de pecado, embora se espere que, como mulheres e homens de fé e de  palavra, honrem diariamente este seu propósito com Nossa Senhora e com Portugal.  
 O carácter  patriótico desta campanha não pode prestar-se a interpretações de carácter  político, de todo alheias ao projecto. Mesmo o cunho marcadamente nacional, mas  não nacionalista, desta empresa apostólica não pode ser entendido senão à luz da  catolicidade da própria Igreja, do mesmo modo como o preceito divino que obriga  a honrar em especial os próprios progenitores, não contradiz o mandato  evangélico da caridade universal. A bem dizer, Portugal, na história da nossa  fé, não se resume ao rectângulo à beira-mar plantado, mas realiza-se em todas as  partes do mundo aonde aportaram as caravelas da Cruz de Cristo. Por isso, desde  a sua primeira hora, que foi no passado dia 1 de Junho de 2009, este  empreendimento tem um claro sentido missionário.       
 Um poeta do  império português de aquém e além-mar cantou, em eloquente verso, as gestas dos  nossos antepassados que esforçadamente dilataram o reino de Cristo na terra. Em  jeito de prece, inspiremo-nos nós também na sua palavra, para agora dizermos a  Maria, nossa Mãe e Rainha: Senhora, falta  cumprir Portugal!
 4. A petição  pelo Santo Padre. Porque  português e também universal, este empenho por alcançar um milhão de terços  diários não pode ignorar uma intenção muito particularmente relacionada com as  aparições de Fátima: a oração pela pessoa e intenções do Papa.  
 Foi a Jacinta  que, numa visão particular, contemplou o Santo Padre «numa casa muito grande, de  joelhos diante de uma mesa, com as mãos na cara, a chorar. Fora da casa, estava  muita gente: e uns atiravam-lhe pedras, outros rogavam-lhe pragas e diziam-lhe  muitas palavras feias. Coitadinho do Santo Padre! Temos de rezar muito por  ele!».
 Esta profética  visão é hoje uma triste realidade, pois a amabilíssima pessoa do Papa Bento XVI  é publicamente enxovalhada e objecto dos mais soezes e injustos ataques. Do  mesmo modo como a bem-aventurada Jacinta reagiu, em 1917, com ainda mais orações  e heróicos sacrifícios pelo Romano Pontífice, respondamos a esta campanha  mundial com uma mais intensa prece pelo «doce Cristo na terra», como gostava de  dizer Santa Catarina de Sena, numa cada vez mais inquebrantável adesão a Sua  Santidade e ao seu magistério. Sejamos dignos de ostentar, também nestes  conturbados tempos, o grandioso título de nação fidelíssima, outrora concedido  pela Sé Apostólica ao nosso país e aos seus reis. 
 5. Cinquenta  razões para rezar o terço todos os dias. Sendo cinquenta  as Avé-Marias de um terço, ocorre-me oferecer cinquenta razões para que tu e eu  rezemos diariamente o terço de Nossa Senhora. E, como me falta o engenho e a  arte para tal efeito, permite que por mim falem dois mil anos de devoção mariana  e assim conheças cinquenta títulos de Maria que justificam abundantemente que  nunca lhe deixes de recitar esta oração, que é tão do seu agrado e, para ti e  para o mundo, de tão grande proveito.
 Reza pois, todos  os dias, o terço do Santo Rosário, porque Nossa Senhora é 
 1) Virgem  prudentíssima
 2) Virgem  venerável, 
 3) Virgem  louvável, 
 4) Virgem  poderosa,
 5) Virgem  clemente,
 6) Virgem  fiel,
 7) Espelho de  justiça,
 8) Sede da  sabedoria
 9) Causa da  nossa alegria,
 10) Vaso  espiritual,
 11) Vaso  honorífico,
 12) Vaso insigne  de devoção, 
 13) Rosa  mística,
 14) Torre de  David,
 15) Torre de  marfim,
 16) Casa do  ouro,
 17) Arca da  Aliança,
 18) Porta do  Céu,
 19) Estrela da  manhã,
 20) Saúde dos  Enfermos
 21) Refúgio dos  pecadores,
 22) Consoladora  dos aflitos, 
 23) Auxílio dos  cristãos,
 24) Rainha dos  Anjos,
 25) Rainha dos  Patriarcas,
 26) Rainha dos  Apóstolos,
 27) Rainha dos  Mártires,
 28) Rainha dos  Confessores,
 29) Rainha das  Virgens,
 30) Rainha de  todos os Santos
 31) Rainha  concebida sem mancha de pecado original
 32) Rainha  elevada ao Céu em corpo e alma
 33) Rainha do  Santíssimo Rosário
 34) Rainha da  Família,
 35) Rainha da  Paz, 
 36) Rainha de  Portugal,
 37) Nossa  Padroeira, 
 38) Mãe do bom  conselho,
 39) Mãe  admirável,
 40) Mãe amável,  
 41) Mãe  intacta,
 42) Mãe  imaculada,
 43) Mãe  castíssima, 
 44) Mãe  puríssima,
 45) Mãe da  divina graça,
 46) Mãe da  Igreja,
 47) Mãe do  Criador,
 48) Mãe do  Salvador,
 49) Mãe de  Cristo,
 50) E tua Mãe  também!
  
  6.  Conclusão. É hora de rezar o Santo Rosário. Deus quer a nossa oração, Maria  deseja-a e o nosso País necessita-a cada vez mais. 
 Que cada Glória seja um cântico de louvor à  Santíssima Trindade! Que cada Pai-Nosso seja um acto de fé, de  esperança e de caridade! Que cada Avé-Maria seja um acto de entrega  pessoal a Cristo e à sua Igreja! 
 Que cada oração  seja, em suma, um tiro certeiro contra o mal e uma rosa de amor posta, com  devoção, aos pés de Nossa Senhora, nossa Mãe e Rainha de Portugal.