In CLERUS
Caros irmãos, caríssimos seminaristas,
Estou particularmente feliz de estar com vocês hoje, na ocasião do dia regional dos seminaristas piemonteses, e agradeço-lhes pelo amável convite. O tema que me propuseram [a castidade sacerdotal] é mais do que nunca oportuno, e eu acredito que deve caracterizar, de forma substancial, todo curso de formação para o sacerdócio ministerial, dado que a formação da esfera afetiva nunca está separada ou é separável dos demais âmbitos da formação intelectual, espiritual e pastoral. Desenvolverei esta exposição a partir de dois pontos fundamentais, e tratarei de tirar as conclusões da análise realizada.
A situação atual
Seria imprudente abordar o tema fundamental da formação afetiva, sem considerar a verdadeira revolução que ocorreu na sociedade ocidental, e que contagiou quase o mundo inteiro a partir da década de setenta. O fato de ter separado, no campo da sexualidade, o aspecto de união do aspecto de fecundidade, e de ter, portanto, reduzido um dos atos antropologicamente mais relevantes ao seu aspecto puramente instintivo, produziu efeitos devastadores não só no plano moral – o que já seria de gravidade sem precedentes – mas também, ao longo das décadas, no plano psíquico e antropológico.
É impossível tratar a questão da formação afetiva no seminário sem partir da clara consciência de que, mesmo sem querer, todos aqueles que nasceram depois dos anos setenta e oitenta cresceram num clima cultural de pansexualismo e erotismo, no qual os poderes do mundo, que se esforçam por vincular a liberdade dos homens a vários interesses indecentes, não pouparam nenhum meio, incluso o uso de mensagens subliminares inoculadas desde a infância, mesmo em alguns desenhos animados, para o "desmoronamento" do aspecto psíquico-afetivo da personalidade humana, e com ela, a submissão do homem aos seus instintos. Junto a esta, que podemos chamar de revolução sexual pós sessenta e oito, deve ser adicionada a intromissão da mídia, especialmente da televisão, e mais recentemente da Internet, que levou de casa em casa, ou melhor, a todos os aposentos e lugares, imagens antes nunca vistas, que ficam gravadas desde a infância na memória, na imaginação e até mesmo no inconsciente das pessoas, que acabam agindo de modo muito mais desgovernado e incontrolável.
O pecado original tornou particularmente vulnerável a dimensão psicossexual do homem, mas por outro lado, essas graves mutações dos últimos tempos causaram a sua verdadeira distorção, não mais se introduzindo na esfera íntima ou da tentação, mas tornando-se costume, e mesmo cultura comum, a ponto de considerar como "estranho" qualquer outro comportamento. Esta situação, que poderia à primeira vista parecer "apocalíptica", descreve, na realidade, não tanto as atitudes morais, mas sim a real situação cultural na qual mesmo aqueles que sentem o chamado para o celibato e o sacerdócio ministerial estão profundamente imersos, e da qual, afinal, eles provêm.
Neste contexto sociocultural, é infelizmente necessário reconhecer o que eu chamaria de "perda de significado" da afetividade em geral, e da sexualidade em particular. Eu me explico. O fato de ter desvinculado artificialmente o aspecto de união do aspecto de fecundidade, reduziu de modo irremediável a ampla esfera da afetividade à mera prática genital, privando-a do seu contexto de finalidade e, como consequência, "relativizando" a sua importância, e hoje até banalizando-a completamente. Esta situação se reflete principalmente na superficialidade com a qual – não raramente – certos atos ou gestos são realizados, os quais, visto a sua natureza, pressupõem uma maturidade e uma finalidade que, na maioria dos casos, não são encontrados, e isto sem o menor tormento da consciência. Não é segredo que em alguns âmbitos, certos jovens vivam uma prática genital completa, com a mesma facilidade com a qual se pode estender a mão ao apresentar-se!
É claro que essa situação cultural exige um cuidadoso discernimento da parte dos formadores, que são chamados a distinguir de modo nítido entre aqueles que provêm de uma formação tradicionalmente cristã, praticada de maneira consciente na compreensão correta da afetividade e da sexualidade, e aqueles que ao contrário provêm do ambiente mundano, no qual estão totalmente imersos, e dos quais, portanto, não se pode assumir que improvisem, mesmo com a ajuda da graça, uma atitude radicalmente diversa.
Esta crítica não implica necessariamente a criação de cursos de formação diferenciados, nem a impossibilidade de adquirir o equilíbrio estável necessário para o exercício do celibato antes da sagrada Ordenação, mas requer indubitavelmente uma conscientização progressiva e radical, tanto da parte do candidato que da parte dos formadores, unida a uma boa dose de realismo humilde e a uma caminhada muito séria e comprometida, porque não se trata apenas de vencer os vícios e de adquirir virtudes, mas de lutar e vencer na própria carne aquela estrutura antropológica inspirada pela cultura dominante e por ela constantemente reproposta. É preciso ser verdadeiramente livres! Cria-se uma situação de osmose com a cultura dominante e, se não se vigia, acabamos por ser anestesiados com uma espécie de soro que gota a gota mundaniza.
Esse contexto confuso e desconcertante tem consequências não só na esfera psicossexual, mas envolve também todo o âmbito relacional das pessoas. O crescimento num ambiente extremamente erótico, no qual quase inconscientemente respira-se uma sexualidade desordenada, tem consequências também no agir cotidiano das pessoas e no seu modo de relacionar.
O verdadeiro drama dessa situação é o fato de que essas mesmas pessoas, vítimas conscientes ou não da decadência psíquico-afetiva geral, vivam numa insatisfação radical, determinada exclusivamente pelo desequilíbrio entre aquilo para o qual o homem foi criado, com o significado profundo da sua afetividade, e aquilo que ele vive no presente.
O coração humano é feito para a estabilidade. Seja qual for a sua vocação, virginal ou conjugal, à qual Deus o chama, somente a estabilidade pode assegurar a sua realização. Imagem e semelhança de Deus amor infinito, o homem constata entre as suas necessidades básicas o desejo da verdade, da liberdade, da beleza, da justiça, do amor e em resumo – hoje em dia tão mal interpretada, ainda que anelada e até mesmo pretendida – da felicidade! Todo aquele que sente a satisfação destas necessidades peça, ou melhor, exija a totalidade. Ninguém aceitaria de modo tranquilo e passivo ser "um pouco" justo, ou "um pouco" livre. Cada um requer que essas necessidades antropológicas universais se realizem plenamente, tanto em termos experimentais como em termos cronológicos; a plenitude é o que, na linguagem comum, se designa com o termo de "estabilidade". As Escrituras nos ensinam a resistir "firmes na fé" diante daquele que é "como leão que ruge procurando alguém para devorar" (1 Pe 5, 8-9), mesmo quando esta experiência provenha do nosso homem velho. A fragilidade – às vezes extrema – dos casais, e a incapacidade de tantos jovens de tomar decisões definitivas, encontram suas raízes na mesma dificuldade de viver uma afetividade ordenada e a amadurecer a aceitação serena da vocação virginal. Se sempre foi complexo viver a continência perfeita pelo Reino dos Céus e o celibato que a acompanha, por causa da fragilidade da natureza humana, paradoxalmente, em nossa época, ela é particularmente difícil, dado que os meios de comunicação transmitem um pansexualismo violento capaz de distorcer a percepção mesma da esfera afetiva, sexual e relacional.
A formação afetiva ao santo celibato
Como imaginar um percurso de formação eficaz para os candidatos ao sacerdócio que provêm de tal contexto cultural? Por onde começar e para onde ir a fim de evitar, tanto quanto humanamente possível, os erros que poderiam ser drasticamente fatais para o futuro sacerdote? Após uma introdução ao método, desenvolverei este segundo ponto da conferência, que é o tema central a mim incumbido, em três tópicos dinamicamente integrados uns aos outros, mas que por questões didáticas prefiro distinguir antes de mostrar a relação íntima. Veremos sucessivamente as seguintes dimensões: 1) a purificação da memória, 2) a formação da experiência afetiva atual e, finalmente, 3) a expectativa orante do dom do sacerdócio e a sua relativa graça de estado, tão essencial para viver o santo celibato. O que foi dito, caso seja necessário, nos lembra a importância da formação afetiva e a radical seriedade com a qual ela pede ser tratada.
É inaceitável que durante o tempo de formação se censure ou se trate de maneira meramente tangencial e superficial a questão afetiva. Embora respeitando plenamente a distinção necessária e canonicamente reconhecida entre o foro interno e o externo, é necessário tratar explicitamente o tema da dimensão afetiva com os superiores do seminário, e se isso não acontecer espontaneamente, que os mesmos superiores tomem a iniciativa. Naturalmente, isso implica que eles sejam pessoas afetivamente maduras, em paz consigo mesmas e com a sua dimensão psíquico-afetiva, não frustradas e, por conseguinte, ao menos sem tendência a projetar sobre os outros os próprios nós não resolvidos. É preciso que tenham integrado os próprios possíveis problemas psíquico-afetivos a fim de acompanhar os outros neste caminho de amadurecimento. Portanto, é necessário que a escolha dos formadores seja particularmente bem ponderada, e que leve em conta não só as habilidades teológicas e pastorais, mas também, e talvez sobretudo, a maturidade psíquico-afetiva e o equilíbrio harmonioso de toda a pessoa.
Embora reconhecendo a dimensão indispensável da responsabilidade pessoal no processo educativo, é preciso manter uma distinção clara entre os formadores e os formandos, entre aqueles aos quais o Bispo incumbiu a formação dos futuros sacerdotes, e os candidatos à ordenação. Qualquer ambiguidade neste contexto seria um prenúncio de graves consequências e, não menos importante, da ineficácia da mesma atividade formativa.
A purificação da memória
Eu antes mencionei como é essencial fazer a distinção entre os candidatos que provêm de uma educação cristã, os quais presumivelmente foram educados ao real significado da afetividade humana, e aqueles que, totalmente imersos no mundo em seus hábitos afetivo-sexuais, se converteram, foram chamados, e bateram na porta do seminário. Ambos, no entanto, precisam fazer um caminho verdadeiro e integral de purificação da memória, tanto do ponto de vista espiritual como do ponto de vista moral e psicológico.
É impossível purificar a memória sem "memorar". Evitando o risco de encalhar no pântano das lembranças e das reações resultantes, é preciso fazer, pelo menos no foro interno, uma narração pacífica da própria história emocional para apresentá-la a Deus em sua beleza e sua problemática, nos seus frutos e quedas, nos seus erros esporádicos e acidentais, ou nos seus limites estruturais e repetitivos. "Memorar" significa promover um realismo saudável, sem o qual é simplesmente impossível fazer um autêntico caminho de cura! "Memorar" significa permitir que pelo menos o superior de foro interno – o diretor espiritual –conheça realmente a história pessoal do candidato, que recolha o maior número possível de elementos sobre o seu percurso, para poder traçar um caminho espiritual verdadeiramente eficaz, isto é, capaz de acompanhar uma integração adequada da dimensão afetiva e uma presumida fidelidade ao celibato. Caros amigos, ao invés de esconder aspectos fundamentais e relevantes das próprias experiências afetivas, é melhor falar com alguém, mesmo fora do seminário, com os chamados confessores extraordinários ou com um sacerdote de sua escolha, que, se necessário, podem progressivamente ajudar a tratar esse tema, a fim de evitar que o fato de ter guardado silêncio sobre elementos essenciais chegue a afetar a própria retidão de intenção.
A purificação da memória, cuja fase inicial e fundamental se desenvolve no tempo da formação no seminário, mas que dura toda a existência terrestre, requer e implica, em certo sentido, uma humildade radical. Santo Inácio de Loyola, em seus Exercícios Espirituais, é um mestre na arte do discernimento dos espíritos, intimamente ligada à purificação da memória. Todos podem fazer a experiência de como a fragilidade da natureza humana e os limites da memória podem permitir, às vezes até mesmo de modo obstinado, a persistência de imagens e de lembranças que, mesmo estando submetidas ao "poder das chaves" e a Misericórdia Divina – portanto destruídas por Deus – continuam a prejudicar e às vezes atacar a vida espiritual.
A cultura contemporânea, então – como foi dito antes – tende literalmente a "entulhar" os jovens de imagens e de "lembranças" outrora inimagináveis. Basta andar pelas ruas de qualquer cidade para ser expostos a um verdadeiro linchamento de imagens, sem falar da televisão e, mais ainda, da internet. Considerando o estudo das tristes causas de dispensa das responsabilidades decorrentes da ordenação, acho que podemos concluir que quando se utiliza a internet por meia hora de forma incorreta, possa-se ver o que no passado mesmo durante uma vida inteira não se chegaria a ver! Se os candidatos ao sacerdócio provêm deste tipo de experiência, é essencial que eles mesmos decidam – e sejam ajudados – a romper com ela de maneira verdadeiramente radical, o que é indispensável só de imaginar a possibilidade de uma fidelidade ao compromisso do celibato. Todas as lembranças não purificadas no tempo de formação, e os maus hábitos não vencidos, vêm à tona, causando graves problemas de equilíbrio psíquico-afetivo e, às vezes, situações espirituais, morais e psicológicas extremamente dolorosas.
Sendo assim, a purificação da memória pode parecer uma tarefa impossível, mas sabemos, queridos amigos, que nada é impossível para Deus! Neste sentido, a tarefa essencial da presente purificação, cumprida e firmemente realizada pela inteligência, pela liberdade e pela vontade humana, é aperfeiçoada pela graça sobrenatural, que nos vem especialmente através de uma intensa vida espiritual e sacramental. O que poderia parecer impossível aos nossos olhos, é possível graças à intervenção constante e eficaz de Deus, que, se é capaz de extrair filhos de Abraão das pedras, também pode plasmar homens equilibrados, integrados, reconciliados com a memória do seu passado, e castos, mesmo nestes tempos tão desorientados e confusos do ponto de vista psíquico-afetivo!
A formação desta experiência afetiva
A exortação apostólica "Pastores Dabo Vobis", no número 44, diz: "Pois que o carisma do celibato, mesmo quando é autêntico e provado, deixa intactas as tendências da afetividade e as excitações do instinto, os candidatos ao sacerdócio precisam de uma maturidade afetiva capaz de prudência, de renúncia a tudo o que a pode atacar, de vigilância sobre o corpo e o espírito, estima e respeito pelas relações interpessoais com homens e mulheres". Numa linguagem extremamente realista e, em certa medida, "nova" aos documentos papais, o Beato João Paulo II nos confiou um dos pilares da formação afetiva ao celibato. As tendências da afetividade e os impulsos dos instintos não são eliminados ou modificados pelo carisma do celibato, que – como diz o texto – os deixa intactos! É necessário, pois, educar a própria experiência afetiva, tanto na dimensão das inclinações como na dos impulsos, para que não se aconteça de imaginar um futuro sacerdotal que, em termos psíquico-afetivo e sexual, seja radicalmente diferente daquele presente no seminário. É necessário, portanto, compreender que o importantíssimo tempo do seminário é dado também para trabalhar o próprio equilíbrio psíquico-afetivo, para integrar as inclinações e impulsos, e para selecionar e aprimorar as "armas" essenciais para o combate que dura toda a vida. A consciência de que o carisma do celibato é um dom sobrenatural do Espírito exige que, em formar-se para ele, se reconheça a primazia absoluta da graça.
Se por um lado é preciso reconhecer e usar sabiamente as contribuições das ciências humanas, e particularmente da psicologia, desde que partam de uma concepção antropológica autenticamente cristã, devemos por outro lado reconhecer os numerosos erros cometidos nesta área nas últimas décadas.
Pensava-se, às vezes, que fosse possível delegar às ciências humanas aquilo que, ao contrário, competia aos formadores, que são os mediadores fundamentais da ação misteriosa e sobrenatural de Deus; pensava-se que a psicologia pudesse ser a panacéia de "todos" os males para "todos" os candidatos ao sacerdócio, impondo indiscriminadamente a todos a que recorressem a ela, às vezes sem discernimento, e sem a devida distinção entre as chamadas neuroses fisiológicas – que todos nós temos – e as patologias que demandam uma intervenção de carácter clínico; acreditava-se que fosse possível assimilar os valores do Evangelho, incluindo o celibato, não graças ao encontro pessoal, fascinante e vivificante com Cristo – como é óbvio – mas por meio de vários processos de desintegração da personalidade, presumindo integrar, quando se fracassasse a sua reestruturação, os supostos valores mencionados...
As causas de dispensa do ônus da sagrada Ordenação, incluindo o celibato, documentam esses trágicos erros no abuso ou uso errôneo das ciências humanas na formação para o sacerdócio ministerial. Utilizadas com critérios adequados, e onde elas se mostram úteis, essas ciências humanas são providenciais.
O dom do carisma do celibato floresce, é acolhido e amadurece gradualmente até definir a própria personalidade psicológica do sacerdote, somente numa relação íntima, prolongada, real e interpessoal com Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo! Somente a intimidade com o Senhor na oração, a identificação progressiva com a Sua Vida, com as Suas palavras, com os Seus pensamentos – "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" (Filipenses 2, 5) – possibilita acolher e viver o celibato, e não como um elemento estranho à própria pessoa, difícil de suportar, mas como uma redefinição de si mesmo que nasce do encontro com Cristo e a mudança, e da nova vida que esse encontro gera. O celibato é, por excelência, este novo horizonte, talvez nunca antes imaginado e que o encontro com Cristo revelou radicalmente. A propósito – todos nós o experimentamos – a vocação sacerdotal é, misteriosamente, mas realmente, um extraordinário florescimento do ser humano. Na verdade, o que seria da nossa humanidade sem Cristo, sem a vocação que ele nos deu? Junto com o chamado ao sacerdócio ministerial, o Senhor permite um florescimento da nossa humanidade, a sua purificação, uma expansão inesperada e extraordinária, para que ela se torne cada vez mais capaz de acolher, finalmente, esse carisma extraordinário, e de vivê-lo como o supremo testemunho de Cristo na vida diária da existência ministerial.
O mundo – mesmo no momento dramático dos escândalos vergonhosos contra os quais é necessário agir com toda nossa força, tanto do ponto de vista de formação como do ponto de vista de penitência e oração de reparação, e também sob o grave perfil disciplinar e criminal – não ataca a nossa ação "social", nem as nossas obras de caridade; ele não pode suportar o testemunho da castidade pelo Reino dos Céus e a atividade educacional que dele resulta.
Se por um lado, pois, a vida monástica é fascinante quando vivida como tal, nunca nos esqueçamos, queridos amigos, de que, paradoxalmente, o testemunho de um sacerdote secular, isto é, que está imerso no seu tempo e na sua sociedade, em certa medida pode ser ainda mais disruptivo. Não somos monges apartados do mundo, aos quais se olha com certa compaixão, mas somos homens que estão totalmente incorporados na nossa época, "no" mundo, mas não "do" mundo, e testemunhamos com a nossa escolha do celibato que Deus existe, que chama as pessoas para si, que pode dar sentido à toda a existência e pelo qual vale a pena consumir a nossa vida!
A intimidade com Deus, pré-requisito da formação ao celibato, se cultiva principalmente – como eu dizia – na oração, na qual devemos estar totalmente imersos; "Conversatio nostra in Coelis est"; na terra, ao contrário, agita-se muito, mas não se realiza nada! Formar-se numa fidelidade radical à Missa diária, ao Ofício Divino, à adoração eucarística, à oração mental também esta quotidiana, ao rezo do santo Rosário que a cada dia confia o próprio sacerdócio a Maria, é o "quociente mínimo" para poder ao menos esperar viver o celibato. Um sacerdote que não reza, que não sente a urgência de celebrar a Eucaristia todos os dias, superando as teorias infundadas do "jejum eucarístico" e dos escandalosos "dias de folga", nos quais parece estar de folga também da relação com Cristo – que tristeza para um sacerdote liberar-se de Cristo! –, dificilmente será capaz de viver serenamente e de forma eficaz o seu celibato. No tempo do seminário é necessário formar essas dimensões essenciais da vida sacerdotal, pedindo à graça sobrenatural que elas não se reduzam apenas a hábitos bons e virtuosos, mas que se tornem real estrutura psíquico-antropológica e espiritual, na qual se define a própria identidade. O sacerdote não somente celebra a Santa Missa, mas com ela se identifica, porque, progressivamente, mas de forma real, a missa se torna a sua vida, e ele "é" a Santa Missa que celebra! Nesta dimensão nitidamente sobrenatural, para a qual gradualmente nos formamos e somos formados, cada pensamento, cada palavra, e, obviamente, cada ato em distonia com a grandeza da própria vocação devem ser evitados, é claro, pelo seu aspecto pecaminoso, mas também – e diria principalmente – pela insatisfação que causam graças a sua total inadequação à verdade, seja do sacerdócio, seja dos atos de ministério que o sacerdote realiza.
As ciências humanas podem ser de muita utilidade para conhecer, pelo menos de forma rudimentar, a dinâmica fundamental da psique e da afetividade; o melhor psicólogo do mundo poderá identificar os problemas, e proporcionar assim uma ajuda preciosa, mas certamente não poderá resolvê-los. Só Cristo pode salvar o homem na sua totalidade!
Considero ainda que há dois elementos essenciais na formação da própria afetividade: o contato com o mundo e o papel da formação intelectual.
No contato com o mundo – já amplamente descrito na primeira parte deste balanço – muitas vezes ocorre, com evidência alarmante, ingenuidades impressionantes na formação do seminário. Se nos anos cinquenta e sessenta era, em alguns aspectos e para algumas pessoas, necessário abrir-se ao mundo, ou pelo menos mostrar novamente de modo compreensível toda a beleza do cristianismo, hoje corremos o risco diametralmente oposto: o de estar totalmente imersos no mundo.
Acredito que nas circunstâncias atuais, é simplesmente impossível percorrer um caminho sério e comprometido de formação à castidade perfeita pelo Reino dos Céus, se não se é capaz de romper radicalmente com o mundo, isto é, em primeiro lugar, romper com a sua mentalidade. Além disso, essa é a única maneira de servir à sociedade. Um seminarista pode ter exatamente os mesmos hábitos de quando era animador de jovens na paróquia ou jovem universitário no mundo? Pode ele, naquelas fugas que às vezes se tornam os estágios pastorais, ir aos mesmos lugares com as mesmas atitudes?
Isso não se trata, queridos amigos, de encurralar-se em atitudes preconceituosas ou incapazes de autênticos relacionamentos interpessoais; trata-se simplesmente de evitar as ocasiões próximas de pecado e de não expor de forma sistemática e repetida a própria psique, afetividade e corpo às situações que, inevitavelmente, tornam ainda mais difícil a continência perfeita pelo Reino dos Céus.
O último ponto diz respeito à importância da formação teológica, mesmo no caminho da formação ao celibato sacerdotal. Uma cristologia saudável, fiel às Escrituras, à Tradição e ao Magistério ininterrupto, deve iluminar a extraordinária humanidade de Jesus Cristo e a beleza de ser configurados com Ele, e, portanto, também com a Sua humanidade perfeitamente casta, com a Ordenação sacerdotal. Uma eclesiologia que não queira trair a verdade, não pode reduzir os sacerdotes a "funcionários de Deus", mas deve reconhecer, em um contexto totalmente sobrenatural, o ofício misterioso e necessário que é distinto – essencialmente e não apenas em grau – do batismal, em relação à promoção do mesmo.
Estou profundamente convencido de que certa fragilidade teológica, popular em muitos âmbitos acadêmicos, tenha sérias responsabilidades, incluindo a perseverança de vocações para o sacerdócio, que, sem razões adequadas – como é lógico – não resistem ao choque violento e persistente do mundo.
Concluo esta reflexão sobre a formação da experiência afetiva, ressaltando novamente a primazia absoluta e incontestável da graça na formação para o celibato. Olhemos para a Misericórdia, incorporada, celebrada no sacramento da Reconciliação e constantemente invocada. Ela é o "remédio" principal para curar os limites da concupiscência e para viver, de modo cada vez mais perfeito, a continência pelo Reino dos Céus, tão intimamente ligada ao ministério sacerdotal, a ponto de levar a Igreja a nomear os seus sacerdotes apenas entre aqueles que receberam o carisma. O que parece impossível aos esforços humanos é experimentalmente possível pela graça, à qual, continuamente e sem limites, devemos nos confiar.
A expectativa orante do dom do sacerdócio
A comunidade do seminário tem o seu modelo supremo no Cenáculo de Jerusalém, onde os Apóstolos, uma vez realizada a experiência de Cristo ressuscitado e reunidos em torno a ele, vivem na expectativa orante do dom do Espírito, unidos à Santíssima Virgem Maria. Se o momento da ordenação sacerdotal é uma efusão do Espírito que os torna capazes de falar novas línguas, de anunciar o Reino de forma eficaz, de curar com o poder sacramental e de realizar qualquer outro ato de Ministério autêntico, então o seminário vive, se alimenta, caminha e cresce como um verdadeiro Cenáculo. Assim como no Cenáculo os Apóstolos tiveram a experiência de um relacionamento pessoal com Jesus e o viram Ressuscitado, deste modo cada seminário deve ser uma comunidade de homens que encontraram Jesus Cristo e cuja vida foi transformada por esse encontro, homens que fizeram a experiência do Ressuscitado, que vivem a Igreja como povo escolhido por Deus e como o Seu verdadeiro Corpo que agora caminha através do tempo e da história.
São Bento, um gigante de santidade e de sabedoria humana, na sua Regra, convida sem hesitar a afastar do convento qualquer pessoa que entre por outras razões que não sejam a busca de Deus. Acredito que a mesma clareza e firmeza devam ser utilizadas no discernimento sobre a entrada e permanência na comunidade do Cenáculo que é o seminário.
Todos os limites devem ser englobados, tolerados e apoiados pela comunidade do seminário, que é, pela sua natureza, uma comunidade de formação e transição – inclusive os Apóstolos não ficaram toda a vida no Cenáculo –, mas a falta de reta intenção e o permanecer no seminário para outros fins que não sejam aquele de buscar e servir a Deus e à sua Igreja, não podem ser tolerados, porque impedem qualquer autêntico processo de conversão e de real formação. A comunidade do Cenáculo e, portanto, o seminário, é uma comunidade orante. O sacerdote é e deve ser um homem de oração! Um seminário que não tenha no próprio centro a dimensão da oração, dificilmente será capaz de cumprir seus objetivos.
A oração não é uma interrupção dos afazeres, ao contrário, às vezes se interrompe a oração para cumprir com os deveres; e nas outras obras também é necessário preservar um espírito de oração. A reforma do clero, defendida por muitos, só pode ser o resultado da redescoberta radical da dimensão sobrenatural do Ministério e da consequente primazia da relação de oração com Deus. Primazia que, na própria oração oficial do seminário, deve transparecer: pela fidelidade à Liturgia, celebrada como a Igreja determina, na atenção a cada gesto e atitude. E isso sem cair no formalismo. A forma correta ajuda também a guarda e a transmissão da substância.
Junto com a oração da Igreja, constituída não só da Santa Missa ou do Ofício Divino, mas também da adoração eucarística, do Santo Rosário e de cada prática de piedade que alimente e sustente a fé, a comunidade do seminário é chamada também a formar os futuros sacerdotes para a oração pessoal, o silêncio, a meditação e os espaços de verdadeira intimidade com Deus.
Sendo uma "formação", ela não pode ser deixada exclusivamente nas mãos da responsabilidade ou da criatividade pessoal, mas devem-se proporcionar momentos de silêncio e de adoração, que, sendo de caráter livre quanto à adesão, são sistematicamente incluídos na caminhada diária ou hebdomadária. Segundo a minha experiência pessoal, a inserção de uma hora de adoração eucarística diária no percurso de formação produz efeitos extraordinários na caminhada dos seminaristas, e cria uma familiaridade com o Senhor que no tempo do ministério apoia e ajuda a sentir a nostalgia daquele "ficar com Jesus", estimulando a liberdade a buscar tais momentos.
A expectativa orante do dom do sacerdócio dirige então toda a oração. Não se pode orar de modo independente da própria vocação, mas a partir dela, e colocando-se diante do Senhor quase prelibando as doçuras do ministério, a celebração da Santa Missa, a administração da Divina Misericórdia, aquela intimidade divina que com a ordenação sacerdotal se tornará ontológica, e à qual vocês são chamados a se preparar interiormente. Do ponto de vista humano nada se improvisa, e do ponto de vista divino nada é previsível. Nesse sentido, devem ser superados aqueles temores, também dos anos setenta, de excessiva "proximidade" com as coisas de Deus. É preciso acordar, a história continua! Se hoje há um problema real a ter sempre em mente, é aquele da fragilidade e da identidade sacerdotal, que, por causa de diversas vacilações teológicas, não são suficientemente delineadas e, acima de tudo, raramente coincidem com a própria identidade psíquica do candidato.
São João Maria Vianney, modelo dos sacerdotes, que aprendemos a conhecer melhor graças ao Ano Sacerdotal, é exemplar precisamente pela sua completa identificação com o próprio ministério, condição – esta – da eficácia apostólica, mas também da paz interior, da serenidade e, acima de tudo, do sentido de plena satisfação do sacerdote ao serviço de Deus, da Igreja e dos homens.
Conclusões
No final deste longo discurso, podemos tirar algumas conclusões que, embora não sejam definitivas, podem dirigir a formação afetiva no seminário. Para simplificar e esclarecer, vou enumerá-las segundo uma lista.
1. Expor a memória da própria experiência psíquico-afetiva e sexual é um elemento essencial de uma caminhada que queira realmente ser frutuosa, sobretudo quando se leva em conta de modo vigilante, e criticamente construtivo, a contemporânea e problemática situação cultural, na qual o deslocamento da objetividade da consciência ao mais arbitrário subjetivismo, com o relativismo que dele resulta, é a ordem do dia.
2. Na formação afetiva é necessário reconhecer a primazia absoluta da Graça, sem a qual não é nem mesmo possível imaginar uma vida casta. Essa primazia é reconhecida e se vive no primado da dimensão espiritual, feita de oração e de vida sacramental, e na formação progressiva, inclusive psicológica, da personalidade sacerdotal.
3. É necessário que a comunidade do seminário encontre um justo equilíbrio entre o desejo missionário, que não deve transformá-la numa comunidade centrífuga, e o desejo de ser de verdade como o Cenáculo de Jerusalém, reunida em torno de Jesus, com Maria, esperando o dom Espírito para a missão, mas nunca fechada em si mesma.
4. A identificação, desde o tempo do seminário, com o Ministério que lhe será atribuído ao seu tempo, favorece a orientação adequada da formação afetiva. Ao contrário de épocas anteriores, o seminarista de hoje é juridicamente a figura mais frágil de todo o corpo eclesial, dado que até o diaconato não é um clérigo – para uma salvaguarda justa da sua liberdade –, enquanto experimenta todos os deveres de disciplina e obediência próprios do estado clerical. Esta fraqueza jurídica não deve conduzir a uma situação de incerteza, como se o fato de ser seminarista não coincidisse de antemão com um determinado estado de vida comprometido, pelo menos, a dar testemunho de Cristo pela obrigação de formação e pelo oferecimento da própria vida em perfeita continência pelo reino dos céus.
5. A formação teológica tem um papel fundamental na formação afetiva. Deve-se primeiramente evitar a confusão entre as opiniões dos diversos teólogos, e em seguida ser fiéis ao que é solicitado pela Sapientia Christiana, que inclui o estudo da Sagrada Escritura, da Tradição bimilenária e do Magistério ininterrupto da Igreja como a espinha dorsal do ciclo institucional. Evitar o relativismo teológico e propor a verdadeira doutrina contribui significativamente para a configuração de uma personalidade sacerdotal estável, e, com ela, uma formação afetiva motivada.
A correta hermenêutica dos textos do Concílio Vaticano II, de acordo com a reforma na continuidade mencionada várias vezes tanto pelo Beato João Paulo II como pelo Santo Padre Bento XVI, é também um fator essencial para um crescimento eclesial sereno e autêntico, capaz de superar radicalmente as razões da oposição (todas mundanas e políticas) entre "inovadores" e "conservadores", que tanto contaminam o organismo eclesial.
6. O seminarista de hoje será o sacerdote de amanhã! Se por um lado, a partir da ordenação sacerdotal se aprende a ser e a viver como sacerdote, por outro, sobretudo em termos de formação afetiva, nada pode ser improvisado. É mais prudente e eticamente obrigatório esperar um pouco antes de pedir a Ordenação sacerdotal, que empreendê-la sem ter resolvido as questões fundamentais da própria afetividade. Neste campo, como no doutrinal, é preciso ter uma maturidade comprovada e não somente a ausência de impedimentos. Confio à Santíssima Virgem Maria, terna Mãe dos sacerdotes, estas reflexões, na esperança certa de que, olhando para ela, exemplo sublime de uma afetividade reconciliada, capaz de um amor verdadeiro, profundo e fecundo na castidade perfeita, possamos caminhar na via esplêndida do Sacerdócio, que nos torna, de um modo todo especial, seus filhos.
Estou particularmente feliz de estar com vocês hoje, na ocasião do dia regional dos seminaristas piemonteses, e agradeço-lhes pelo amável convite. O tema que me propuseram [a castidade sacerdotal] é mais do que nunca oportuno, e eu acredito que deve caracterizar, de forma substancial, todo curso de formação para o sacerdócio ministerial, dado que a formação da esfera afetiva nunca está separada ou é separável dos demais âmbitos da formação intelectual, espiritual e pastoral. Desenvolverei esta exposição a partir de dois pontos fundamentais, e tratarei de tirar as conclusões da análise realizada.
A situação atual
Seria imprudente abordar o tema fundamental da formação afetiva, sem considerar a verdadeira revolução que ocorreu na sociedade ocidental, e que contagiou quase o mundo inteiro a partir da década de setenta. O fato de ter separado, no campo da sexualidade, o aspecto de união do aspecto de fecundidade, e de ter, portanto, reduzido um dos atos antropologicamente mais relevantes ao seu aspecto puramente instintivo, produziu efeitos devastadores não só no plano moral – o que já seria de gravidade sem precedentes – mas também, ao longo das décadas, no plano psíquico e antropológico.
É impossível tratar a questão da formação afetiva no seminário sem partir da clara consciência de que, mesmo sem querer, todos aqueles que nasceram depois dos anos setenta e oitenta cresceram num clima cultural de pansexualismo e erotismo, no qual os poderes do mundo, que se esforçam por vincular a liberdade dos homens a vários interesses indecentes, não pouparam nenhum meio, incluso o uso de mensagens subliminares inoculadas desde a infância, mesmo em alguns desenhos animados, para o "desmoronamento" do aspecto psíquico-afetivo da personalidade humana, e com ela, a submissão do homem aos seus instintos. Junto a esta, que podemos chamar de revolução sexual pós sessenta e oito, deve ser adicionada a intromissão da mídia, especialmente da televisão, e mais recentemente da Internet, que levou de casa em casa, ou melhor, a todos os aposentos e lugares, imagens antes nunca vistas, que ficam gravadas desde a infância na memória, na imaginação e até mesmo no inconsciente das pessoas, que acabam agindo de modo muito mais desgovernado e incontrolável.
O pecado original tornou particularmente vulnerável a dimensão psicossexual do homem, mas por outro lado, essas graves mutações dos últimos tempos causaram a sua verdadeira distorção, não mais se introduzindo na esfera íntima ou da tentação, mas tornando-se costume, e mesmo cultura comum, a ponto de considerar como "estranho" qualquer outro comportamento. Esta situação, que poderia à primeira vista parecer "apocalíptica", descreve, na realidade, não tanto as atitudes morais, mas sim a real situação cultural na qual mesmo aqueles que sentem o chamado para o celibato e o sacerdócio ministerial estão profundamente imersos, e da qual, afinal, eles provêm.
Neste contexto sociocultural, é infelizmente necessário reconhecer o que eu chamaria de "perda de significado" da afetividade em geral, e da sexualidade em particular. Eu me explico. O fato de ter desvinculado artificialmente o aspecto de união do aspecto de fecundidade, reduziu de modo irremediável a ampla esfera da afetividade à mera prática genital, privando-a do seu contexto de finalidade e, como consequência, "relativizando" a sua importância, e hoje até banalizando-a completamente. Esta situação se reflete principalmente na superficialidade com a qual – não raramente – certos atos ou gestos são realizados, os quais, visto a sua natureza, pressupõem uma maturidade e uma finalidade que, na maioria dos casos, não são encontrados, e isto sem o menor tormento da consciência. Não é segredo que em alguns âmbitos, certos jovens vivam uma prática genital completa, com a mesma facilidade com a qual se pode estender a mão ao apresentar-se!
É claro que essa situação cultural exige um cuidadoso discernimento da parte dos formadores, que são chamados a distinguir de modo nítido entre aqueles que provêm de uma formação tradicionalmente cristã, praticada de maneira consciente na compreensão correta da afetividade e da sexualidade, e aqueles que ao contrário provêm do ambiente mundano, no qual estão totalmente imersos, e dos quais, portanto, não se pode assumir que improvisem, mesmo com a ajuda da graça, uma atitude radicalmente diversa.
Esta crítica não implica necessariamente a criação de cursos de formação diferenciados, nem a impossibilidade de adquirir o equilíbrio estável necessário para o exercício do celibato antes da sagrada Ordenação, mas requer indubitavelmente uma conscientização progressiva e radical, tanto da parte do candidato que da parte dos formadores, unida a uma boa dose de realismo humilde e a uma caminhada muito séria e comprometida, porque não se trata apenas de vencer os vícios e de adquirir virtudes, mas de lutar e vencer na própria carne aquela estrutura antropológica inspirada pela cultura dominante e por ela constantemente reproposta. É preciso ser verdadeiramente livres! Cria-se uma situação de osmose com a cultura dominante e, se não se vigia, acabamos por ser anestesiados com uma espécie de soro que gota a gota mundaniza.
Esse contexto confuso e desconcertante tem consequências não só na esfera psicossexual, mas envolve também todo o âmbito relacional das pessoas. O crescimento num ambiente extremamente erótico, no qual quase inconscientemente respira-se uma sexualidade desordenada, tem consequências também no agir cotidiano das pessoas e no seu modo de relacionar.
O verdadeiro drama dessa situação é o fato de que essas mesmas pessoas, vítimas conscientes ou não da decadência psíquico-afetiva geral, vivam numa insatisfação radical, determinada exclusivamente pelo desequilíbrio entre aquilo para o qual o homem foi criado, com o significado profundo da sua afetividade, e aquilo que ele vive no presente.
O coração humano é feito para a estabilidade. Seja qual for a sua vocação, virginal ou conjugal, à qual Deus o chama, somente a estabilidade pode assegurar a sua realização. Imagem e semelhança de Deus amor infinito, o homem constata entre as suas necessidades básicas o desejo da verdade, da liberdade, da beleza, da justiça, do amor e em resumo – hoje em dia tão mal interpretada, ainda que anelada e até mesmo pretendida – da felicidade! Todo aquele que sente a satisfação destas necessidades peça, ou melhor, exija a totalidade. Ninguém aceitaria de modo tranquilo e passivo ser "um pouco" justo, ou "um pouco" livre. Cada um requer que essas necessidades antropológicas universais se realizem plenamente, tanto em termos experimentais como em termos cronológicos; a plenitude é o que, na linguagem comum, se designa com o termo de "estabilidade". As Escrituras nos ensinam a resistir "firmes na fé" diante daquele que é "como leão que ruge procurando alguém para devorar" (1 Pe 5, 8-9), mesmo quando esta experiência provenha do nosso homem velho. A fragilidade – às vezes extrema – dos casais, e a incapacidade de tantos jovens de tomar decisões definitivas, encontram suas raízes na mesma dificuldade de viver uma afetividade ordenada e a amadurecer a aceitação serena da vocação virginal. Se sempre foi complexo viver a continência perfeita pelo Reino dos Céus e o celibato que a acompanha, por causa da fragilidade da natureza humana, paradoxalmente, em nossa época, ela é particularmente difícil, dado que os meios de comunicação transmitem um pansexualismo violento capaz de distorcer a percepção mesma da esfera afetiva, sexual e relacional.
A formação afetiva ao santo celibato
Como imaginar um percurso de formação eficaz para os candidatos ao sacerdócio que provêm de tal contexto cultural? Por onde começar e para onde ir a fim de evitar, tanto quanto humanamente possível, os erros que poderiam ser drasticamente fatais para o futuro sacerdote? Após uma introdução ao método, desenvolverei este segundo ponto da conferência, que é o tema central a mim incumbido, em três tópicos dinamicamente integrados uns aos outros, mas que por questões didáticas prefiro distinguir antes de mostrar a relação íntima. Veremos sucessivamente as seguintes dimensões: 1) a purificação da memória, 2) a formação da experiência afetiva atual e, finalmente, 3) a expectativa orante do dom do sacerdócio e a sua relativa graça de estado, tão essencial para viver o santo celibato. O que foi dito, caso seja necessário, nos lembra a importância da formação afetiva e a radical seriedade com a qual ela pede ser tratada.
É inaceitável que durante o tempo de formação se censure ou se trate de maneira meramente tangencial e superficial a questão afetiva. Embora respeitando plenamente a distinção necessária e canonicamente reconhecida entre o foro interno e o externo, é necessário tratar explicitamente o tema da dimensão afetiva com os superiores do seminário, e se isso não acontecer espontaneamente, que os mesmos superiores tomem a iniciativa. Naturalmente, isso implica que eles sejam pessoas afetivamente maduras, em paz consigo mesmas e com a sua dimensão psíquico-afetiva, não frustradas e, por conseguinte, ao menos sem tendência a projetar sobre os outros os próprios nós não resolvidos. É preciso que tenham integrado os próprios possíveis problemas psíquico-afetivos a fim de acompanhar os outros neste caminho de amadurecimento. Portanto, é necessário que a escolha dos formadores seja particularmente bem ponderada, e que leve em conta não só as habilidades teológicas e pastorais, mas também, e talvez sobretudo, a maturidade psíquico-afetiva e o equilíbrio harmonioso de toda a pessoa.
Embora reconhecendo a dimensão indispensável da responsabilidade pessoal no processo educativo, é preciso manter uma distinção clara entre os formadores e os formandos, entre aqueles aos quais o Bispo incumbiu a formação dos futuros sacerdotes, e os candidatos à ordenação. Qualquer ambiguidade neste contexto seria um prenúncio de graves consequências e, não menos importante, da ineficácia da mesma atividade formativa.
A purificação da memória
Eu antes mencionei como é essencial fazer a distinção entre os candidatos que provêm de uma educação cristã, os quais presumivelmente foram educados ao real significado da afetividade humana, e aqueles que, totalmente imersos no mundo em seus hábitos afetivo-sexuais, se converteram, foram chamados, e bateram na porta do seminário. Ambos, no entanto, precisam fazer um caminho verdadeiro e integral de purificação da memória, tanto do ponto de vista espiritual como do ponto de vista moral e psicológico.
É impossível purificar a memória sem "memorar". Evitando o risco de encalhar no pântano das lembranças e das reações resultantes, é preciso fazer, pelo menos no foro interno, uma narração pacífica da própria história emocional para apresentá-la a Deus em sua beleza e sua problemática, nos seus frutos e quedas, nos seus erros esporádicos e acidentais, ou nos seus limites estruturais e repetitivos. "Memorar" significa promover um realismo saudável, sem o qual é simplesmente impossível fazer um autêntico caminho de cura! "Memorar" significa permitir que pelo menos o superior de foro interno – o diretor espiritual –conheça realmente a história pessoal do candidato, que recolha o maior número possível de elementos sobre o seu percurso, para poder traçar um caminho espiritual verdadeiramente eficaz, isto é, capaz de acompanhar uma integração adequada da dimensão afetiva e uma presumida fidelidade ao celibato. Caros amigos, ao invés de esconder aspectos fundamentais e relevantes das próprias experiências afetivas, é melhor falar com alguém, mesmo fora do seminário, com os chamados confessores extraordinários ou com um sacerdote de sua escolha, que, se necessário, podem progressivamente ajudar a tratar esse tema, a fim de evitar que o fato de ter guardado silêncio sobre elementos essenciais chegue a afetar a própria retidão de intenção.
A purificação da memória, cuja fase inicial e fundamental se desenvolve no tempo da formação no seminário, mas que dura toda a existência terrestre, requer e implica, em certo sentido, uma humildade radical. Santo Inácio de Loyola, em seus Exercícios Espirituais, é um mestre na arte do discernimento dos espíritos, intimamente ligada à purificação da memória. Todos podem fazer a experiência de como a fragilidade da natureza humana e os limites da memória podem permitir, às vezes até mesmo de modo obstinado, a persistência de imagens e de lembranças que, mesmo estando submetidas ao "poder das chaves" e a Misericórdia Divina – portanto destruídas por Deus – continuam a prejudicar e às vezes atacar a vida espiritual.
A cultura contemporânea, então – como foi dito antes – tende literalmente a "entulhar" os jovens de imagens e de "lembranças" outrora inimagináveis. Basta andar pelas ruas de qualquer cidade para ser expostos a um verdadeiro linchamento de imagens, sem falar da televisão e, mais ainda, da internet. Considerando o estudo das tristes causas de dispensa das responsabilidades decorrentes da ordenação, acho que podemos concluir que quando se utiliza a internet por meia hora de forma incorreta, possa-se ver o que no passado mesmo durante uma vida inteira não se chegaria a ver! Se os candidatos ao sacerdócio provêm deste tipo de experiência, é essencial que eles mesmos decidam – e sejam ajudados – a romper com ela de maneira verdadeiramente radical, o que é indispensável só de imaginar a possibilidade de uma fidelidade ao compromisso do celibato. Todas as lembranças não purificadas no tempo de formação, e os maus hábitos não vencidos, vêm à tona, causando graves problemas de equilíbrio psíquico-afetivo e, às vezes, situações espirituais, morais e psicológicas extremamente dolorosas.
Sendo assim, a purificação da memória pode parecer uma tarefa impossível, mas sabemos, queridos amigos, que nada é impossível para Deus! Neste sentido, a tarefa essencial da presente purificação, cumprida e firmemente realizada pela inteligência, pela liberdade e pela vontade humana, é aperfeiçoada pela graça sobrenatural, que nos vem especialmente através de uma intensa vida espiritual e sacramental. O que poderia parecer impossível aos nossos olhos, é possível graças à intervenção constante e eficaz de Deus, que, se é capaz de extrair filhos de Abraão das pedras, também pode plasmar homens equilibrados, integrados, reconciliados com a memória do seu passado, e castos, mesmo nestes tempos tão desorientados e confusos do ponto de vista psíquico-afetivo!
A formação desta experiência afetiva
A exortação apostólica "Pastores Dabo Vobis", no número 44, diz: "Pois que o carisma do celibato, mesmo quando é autêntico e provado, deixa intactas as tendências da afetividade e as excitações do instinto, os candidatos ao sacerdócio precisam de uma maturidade afetiva capaz de prudência, de renúncia a tudo o que a pode atacar, de vigilância sobre o corpo e o espírito, estima e respeito pelas relações interpessoais com homens e mulheres". Numa linguagem extremamente realista e, em certa medida, "nova" aos documentos papais, o Beato João Paulo II nos confiou um dos pilares da formação afetiva ao celibato. As tendências da afetividade e os impulsos dos instintos não são eliminados ou modificados pelo carisma do celibato, que – como diz o texto – os deixa intactos! É necessário, pois, educar a própria experiência afetiva, tanto na dimensão das inclinações como na dos impulsos, para que não se aconteça de imaginar um futuro sacerdotal que, em termos psíquico-afetivo e sexual, seja radicalmente diferente daquele presente no seminário. É necessário, portanto, compreender que o importantíssimo tempo do seminário é dado também para trabalhar o próprio equilíbrio psíquico-afetivo, para integrar as inclinações e impulsos, e para selecionar e aprimorar as "armas" essenciais para o combate que dura toda a vida. A consciência de que o carisma do celibato é um dom sobrenatural do Espírito exige que, em formar-se para ele, se reconheça a primazia absoluta da graça.
Se por um lado é preciso reconhecer e usar sabiamente as contribuições das ciências humanas, e particularmente da psicologia, desde que partam de uma concepção antropológica autenticamente cristã, devemos por outro lado reconhecer os numerosos erros cometidos nesta área nas últimas décadas.
Pensava-se, às vezes, que fosse possível delegar às ciências humanas aquilo que, ao contrário, competia aos formadores, que são os mediadores fundamentais da ação misteriosa e sobrenatural de Deus; pensava-se que a psicologia pudesse ser a panacéia de "todos" os males para "todos" os candidatos ao sacerdócio, impondo indiscriminadamente a todos a que recorressem a ela, às vezes sem discernimento, e sem a devida distinção entre as chamadas neuroses fisiológicas – que todos nós temos – e as patologias que demandam uma intervenção de carácter clínico; acreditava-se que fosse possível assimilar os valores do Evangelho, incluindo o celibato, não graças ao encontro pessoal, fascinante e vivificante com Cristo – como é óbvio – mas por meio de vários processos de desintegração da personalidade, presumindo integrar, quando se fracassasse a sua reestruturação, os supostos valores mencionados...
As causas de dispensa do ônus da sagrada Ordenação, incluindo o celibato, documentam esses trágicos erros no abuso ou uso errôneo das ciências humanas na formação para o sacerdócio ministerial. Utilizadas com critérios adequados, e onde elas se mostram úteis, essas ciências humanas são providenciais.
O dom do carisma do celibato floresce, é acolhido e amadurece gradualmente até definir a própria personalidade psicológica do sacerdote, somente numa relação íntima, prolongada, real e interpessoal com Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo! Somente a intimidade com o Senhor na oração, a identificação progressiva com a Sua Vida, com as Suas palavras, com os Seus pensamentos – "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" (Filipenses 2, 5) – possibilita acolher e viver o celibato, e não como um elemento estranho à própria pessoa, difícil de suportar, mas como uma redefinição de si mesmo que nasce do encontro com Cristo e a mudança, e da nova vida que esse encontro gera. O celibato é, por excelência, este novo horizonte, talvez nunca antes imaginado e que o encontro com Cristo revelou radicalmente. A propósito – todos nós o experimentamos – a vocação sacerdotal é, misteriosamente, mas realmente, um extraordinário florescimento do ser humano. Na verdade, o que seria da nossa humanidade sem Cristo, sem a vocação que ele nos deu? Junto com o chamado ao sacerdócio ministerial, o Senhor permite um florescimento da nossa humanidade, a sua purificação, uma expansão inesperada e extraordinária, para que ela se torne cada vez mais capaz de acolher, finalmente, esse carisma extraordinário, e de vivê-lo como o supremo testemunho de Cristo na vida diária da existência ministerial.
O mundo – mesmo no momento dramático dos escândalos vergonhosos contra os quais é necessário agir com toda nossa força, tanto do ponto de vista de formação como do ponto de vista de penitência e oração de reparação, e também sob o grave perfil disciplinar e criminal – não ataca a nossa ação "social", nem as nossas obras de caridade; ele não pode suportar o testemunho da castidade pelo Reino dos Céus e a atividade educacional que dele resulta.
Se por um lado, pois, a vida monástica é fascinante quando vivida como tal, nunca nos esqueçamos, queridos amigos, de que, paradoxalmente, o testemunho de um sacerdote secular, isto é, que está imerso no seu tempo e na sua sociedade, em certa medida pode ser ainda mais disruptivo. Não somos monges apartados do mundo, aos quais se olha com certa compaixão, mas somos homens que estão totalmente incorporados na nossa época, "no" mundo, mas não "do" mundo, e testemunhamos com a nossa escolha do celibato que Deus existe, que chama as pessoas para si, que pode dar sentido à toda a existência e pelo qual vale a pena consumir a nossa vida!
A intimidade com Deus, pré-requisito da formação ao celibato, se cultiva principalmente – como eu dizia – na oração, na qual devemos estar totalmente imersos; "Conversatio nostra in Coelis est"; na terra, ao contrário, agita-se muito, mas não se realiza nada! Formar-se numa fidelidade radical à Missa diária, ao Ofício Divino, à adoração eucarística, à oração mental também esta quotidiana, ao rezo do santo Rosário que a cada dia confia o próprio sacerdócio a Maria, é o "quociente mínimo" para poder ao menos esperar viver o celibato. Um sacerdote que não reza, que não sente a urgência de celebrar a Eucaristia todos os dias, superando as teorias infundadas do "jejum eucarístico" e dos escandalosos "dias de folga", nos quais parece estar de folga também da relação com Cristo – que tristeza para um sacerdote liberar-se de Cristo! –, dificilmente será capaz de viver serenamente e de forma eficaz o seu celibato. No tempo do seminário é necessário formar essas dimensões essenciais da vida sacerdotal, pedindo à graça sobrenatural que elas não se reduzam apenas a hábitos bons e virtuosos, mas que se tornem real estrutura psíquico-antropológica e espiritual, na qual se define a própria identidade. O sacerdote não somente celebra a Santa Missa, mas com ela se identifica, porque, progressivamente, mas de forma real, a missa se torna a sua vida, e ele "é" a Santa Missa que celebra! Nesta dimensão nitidamente sobrenatural, para a qual gradualmente nos formamos e somos formados, cada pensamento, cada palavra, e, obviamente, cada ato em distonia com a grandeza da própria vocação devem ser evitados, é claro, pelo seu aspecto pecaminoso, mas também – e diria principalmente – pela insatisfação que causam graças a sua total inadequação à verdade, seja do sacerdócio, seja dos atos de ministério que o sacerdote realiza.
As ciências humanas podem ser de muita utilidade para conhecer, pelo menos de forma rudimentar, a dinâmica fundamental da psique e da afetividade; o melhor psicólogo do mundo poderá identificar os problemas, e proporcionar assim uma ajuda preciosa, mas certamente não poderá resolvê-los. Só Cristo pode salvar o homem na sua totalidade!
Considero ainda que há dois elementos essenciais na formação da própria afetividade: o contato com o mundo e o papel da formação intelectual.
No contato com o mundo – já amplamente descrito na primeira parte deste balanço – muitas vezes ocorre, com evidência alarmante, ingenuidades impressionantes na formação do seminário. Se nos anos cinquenta e sessenta era, em alguns aspectos e para algumas pessoas, necessário abrir-se ao mundo, ou pelo menos mostrar novamente de modo compreensível toda a beleza do cristianismo, hoje corremos o risco diametralmente oposto: o de estar totalmente imersos no mundo.
Acredito que nas circunstâncias atuais, é simplesmente impossível percorrer um caminho sério e comprometido de formação à castidade perfeita pelo Reino dos Céus, se não se é capaz de romper radicalmente com o mundo, isto é, em primeiro lugar, romper com a sua mentalidade. Além disso, essa é a única maneira de servir à sociedade. Um seminarista pode ter exatamente os mesmos hábitos de quando era animador de jovens na paróquia ou jovem universitário no mundo? Pode ele, naquelas fugas que às vezes se tornam os estágios pastorais, ir aos mesmos lugares com as mesmas atitudes?
Isso não se trata, queridos amigos, de encurralar-se em atitudes preconceituosas ou incapazes de autênticos relacionamentos interpessoais; trata-se simplesmente de evitar as ocasiões próximas de pecado e de não expor de forma sistemática e repetida a própria psique, afetividade e corpo às situações que, inevitavelmente, tornam ainda mais difícil a continência perfeita pelo Reino dos Céus.
O último ponto diz respeito à importância da formação teológica, mesmo no caminho da formação ao celibato sacerdotal. Uma cristologia saudável, fiel às Escrituras, à Tradição e ao Magistério ininterrupto, deve iluminar a extraordinária humanidade de Jesus Cristo e a beleza de ser configurados com Ele, e, portanto, também com a Sua humanidade perfeitamente casta, com a Ordenação sacerdotal. Uma eclesiologia que não queira trair a verdade, não pode reduzir os sacerdotes a "funcionários de Deus", mas deve reconhecer, em um contexto totalmente sobrenatural, o ofício misterioso e necessário que é distinto – essencialmente e não apenas em grau – do batismal, em relação à promoção do mesmo.
Estou profundamente convencido de que certa fragilidade teológica, popular em muitos âmbitos acadêmicos, tenha sérias responsabilidades, incluindo a perseverança de vocações para o sacerdócio, que, sem razões adequadas – como é lógico – não resistem ao choque violento e persistente do mundo.
Concluo esta reflexão sobre a formação da experiência afetiva, ressaltando novamente a primazia absoluta e incontestável da graça na formação para o celibato. Olhemos para a Misericórdia, incorporada, celebrada no sacramento da Reconciliação e constantemente invocada. Ela é o "remédio" principal para curar os limites da concupiscência e para viver, de modo cada vez mais perfeito, a continência pelo Reino dos Céus, tão intimamente ligada ao ministério sacerdotal, a ponto de levar a Igreja a nomear os seus sacerdotes apenas entre aqueles que receberam o carisma. O que parece impossível aos esforços humanos é experimentalmente possível pela graça, à qual, continuamente e sem limites, devemos nos confiar.
A expectativa orante do dom do sacerdócio
A comunidade do seminário tem o seu modelo supremo no Cenáculo de Jerusalém, onde os Apóstolos, uma vez realizada a experiência de Cristo ressuscitado e reunidos em torno a ele, vivem na expectativa orante do dom do Espírito, unidos à Santíssima Virgem Maria. Se o momento da ordenação sacerdotal é uma efusão do Espírito que os torna capazes de falar novas línguas, de anunciar o Reino de forma eficaz, de curar com o poder sacramental e de realizar qualquer outro ato de Ministério autêntico, então o seminário vive, se alimenta, caminha e cresce como um verdadeiro Cenáculo. Assim como no Cenáculo os Apóstolos tiveram a experiência de um relacionamento pessoal com Jesus e o viram Ressuscitado, deste modo cada seminário deve ser uma comunidade de homens que encontraram Jesus Cristo e cuja vida foi transformada por esse encontro, homens que fizeram a experiência do Ressuscitado, que vivem a Igreja como povo escolhido por Deus e como o Seu verdadeiro Corpo que agora caminha através do tempo e da história.
São Bento, um gigante de santidade e de sabedoria humana, na sua Regra, convida sem hesitar a afastar do convento qualquer pessoa que entre por outras razões que não sejam a busca de Deus. Acredito que a mesma clareza e firmeza devam ser utilizadas no discernimento sobre a entrada e permanência na comunidade do Cenáculo que é o seminário.
Todos os limites devem ser englobados, tolerados e apoiados pela comunidade do seminário, que é, pela sua natureza, uma comunidade de formação e transição – inclusive os Apóstolos não ficaram toda a vida no Cenáculo –, mas a falta de reta intenção e o permanecer no seminário para outros fins que não sejam aquele de buscar e servir a Deus e à sua Igreja, não podem ser tolerados, porque impedem qualquer autêntico processo de conversão e de real formação. A comunidade do Cenáculo e, portanto, o seminário, é uma comunidade orante. O sacerdote é e deve ser um homem de oração! Um seminário que não tenha no próprio centro a dimensão da oração, dificilmente será capaz de cumprir seus objetivos.
A oração não é uma interrupção dos afazeres, ao contrário, às vezes se interrompe a oração para cumprir com os deveres; e nas outras obras também é necessário preservar um espírito de oração. A reforma do clero, defendida por muitos, só pode ser o resultado da redescoberta radical da dimensão sobrenatural do Ministério e da consequente primazia da relação de oração com Deus. Primazia que, na própria oração oficial do seminário, deve transparecer: pela fidelidade à Liturgia, celebrada como a Igreja determina, na atenção a cada gesto e atitude. E isso sem cair no formalismo. A forma correta ajuda também a guarda e a transmissão da substância.
Junto com a oração da Igreja, constituída não só da Santa Missa ou do Ofício Divino, mas também da adoração eucarística, do Santo Rosário e de cada prática de piedade que alimente e sustente a fé, a comunidade do seminário é chamada também a formar os futuros sacerdotes para a oração pessoal, o silêncio, a meditação e os espaços de verdadeira intimidade com Deus.
Sendo uma "formação", ela não pode ser deixada exclusivamente nas mãos da responsabilidade ou da criatividade pessoal, mas devem-se proporcionar momentos de silêncio e de adoração, que, sendo de caráter livre quanto à adesão, são sistematicamente incluídos na caminhada diária ou hebdomadária. Segundo a minha experiência pessoal, a inserção de uma hora de adoração eucarística diária no percurso de formação produz efeitos extraordinários na caminhada dos seminaristas, e cria uma familiaridade com o Senhor que no tempo do ministério apoia e ajuda a sentir a nostalgia daquele "ficar com Jesus", estimulando a liberdade a buscar tais momentos.
A expectativa orante do dom do sacerdócio dirige então toda a oração. Não se pode orar de modo independente da própria vocação, mas a partir dela, e colocando-se diante do Senhor quase prelibando as doçuras do ministério, a celebração da Santa Missa, a administração da Divina Misericórdia, aquela intimidade divina que com a ordenação sacerdotal se tornará ontológica, e à qual vocês são chamados a se preparar interiormente. Do ponto de vista humano nada se improvisa, e do ponto de vista divino nada é previsível. Nesse sentido, devem ser superados aqueles temores, também dos anos setenta, de excessiva "proximidade" com as coisas de Deus. É preciso acordar, a história continua! Se hoje há um problema real a ter sempre em mente, é aquele da fragilidade e da identidade sacerdotal, que, por causa de diversas vacilações teológicas, não são suficientemente delineadas e, acima de tudo, raramente coincidem com a própria identidade psíquica do candidato.
São João Maria Vianney, modelo dos sacerdotes, que aprendemos a conhecer melhor graças ao Ano Sacerdotal, é exemplar precisamente pela sua completa identificação com o próprio ministério, condição – esta – da eficácia apostólica, mas também da paz interior, da serenidade e, acima de tudo, do sentido de plena satisfação do sacerdote ao serviço de Deus, da Igreja e dos homens.
Conclusões
No final deste longo discurso, podemos tirar algumas conclusões que, embora não sejam definitivas, podem dirigir a formação afetiva no seminário. Para simplificar e esclarecer, vou enumerá-las segundo uma lista.
1. Expor a memória da própria experiência psíquico-afetiva e sexual é um elemento essencial de uma caminhada que queira realmente ser frutuosa, sobretudo quando se leva em conta de modo vigilante, e criticamente construtivo, a contemporânea e problemática situação cultural, na qual o deslocamento da objetividade da consciência ao mais arbitrário subjetivismo, com o relativismo que dele resulta, é a ordem do dia.
2. Na formação afetiva é necessário reconhecer a primazia absoluta da Graça, sem a qual não é nem mesmo possível imaginar uma vida casta. Essa primazia é reconhecida e se vive no primado da dimensão espiritual, feita de oração e de vida sacramental, e na formação progressiva, inclusive psicológica, da personalidade sacerdotal.
3. É necessário que a comunidade do seminário encontre um justo equilíbrio entre o desejo missionário, que não deve transformá-la numa comunidade centrífuga, e o desejo de ser de verdade como o Cenáculo de Jerusalém, reunida em torno de Jesus, com Maria, esperando o dom Espírito para a missão, mas nunca fechada em si mesma.
4. A identificação, desde o tempo do seminário, com o Ministério que lhe será atribuído ao seu tempo, favorece a orientação adequada da formação afetiva. Ao contrário de épocas anteriores, o seminarista de hoje é juridicamente a figura mais frágil de todo o corpo eclesial, dado que até o diaconato não é um clérigo – para uma salvaguarda justa da sua liberdade –, enquanto experimenta todos os deveres de disciplina e obediência próprios do estado clerical. Esta fraqueza jurídica não deve conduzir a uma situação de incerteza, como se o fato de ser seminarista não coincidisse de antemão com um determinado estado de vida comprometido, pelo menos, a dar testemunho de Cristo pela obrigação de formação e pelo oferecimento da própria vida em perfeita continência pelo reino dos céus.
5. A formação teológica tem um papel fundamental na formação afetiva. Deve-se primeiramente evitar a confusão entre as opiniões dos diversos teólogos, e em seguida ser fiéis ao que é solicitado pela Sapientia Christiana, que inclui o estudo da Sagrada Escritura, da Tradição bimilenária e do Magistério ininterrupto da Igreja como a espinha dorsal do ciclo institucional. Evitar o relativismo teológico e propor a verdadeira doutrina contribui significativamente para a configuração de uma personalidade sacerdotal estável, e, com ela, uma formação afetiva motivada.
A correta hermenêutica dos textos do Concílio Vaticano II, de acordo com a reforma na continuidade mencionada várias vezes tanto pelo Beato João Paulo II como pelo Santo Padre Bento XVI, é também um fator essencial para um crescimento eclesial sereno e autêntico, capaz de superar radicalmente as razões da oposição (todas mundanas e políticas) entre "inovadores" e "conservadores", que tanto contaminam o organismo eclesial.
6. O seminarista de hoje será o sacerdote de amanhã! Se por um lado, a partir da ordenação sacerdotal se aprende a ser e a viver como sacerdote, por outro, sobretudo em termos de formação afetiva, nada pode ser improvisado. É mais prudente e eticamente obrigatório esperar um pouco antes de pedir a Ordenação sacerdotal, que empreendê-la sem ter resolvido as questões fundamentais da própria afetividade. Neste campo, como no doutrinal, é preciso ter uma maturidade comprovada e não somente a ausência de impedimentos. Confio à Santíssima Virgem Maria, terna Mãe dos sacerdotes, estas reflexões, na esperança certa de que, olhando para ela, exemplo sublime de uma afetividade reconciliada, capaz de um amor verdadeiro, profundo e fecundo na castidade perfeita, possamos caminhar na via esplêndida do Sacerdócio, que nos torna, de um modo todo especial, seus filhos.