quarta-feira, 17 de julho de 2013

Os políticos e os extraterrestres - por Nuno Serras Pereira

17. 07. 2013


Devido a uma leitura precipitada e consequentemente errada do magnífico Concilio Vaticano II, um dos muitos esplendorosos da Igreja, uma parte da hierarquia da Igreja em terras de Portugal e muitos dos fiéis leigos consideraram que a condição de católico era compatível com toda e qualquer organização sindical e partidária. Se essa interpretação do Concílio fosse correcta desmentiria o Episcopado Alemão que, anos antes, excomungava os fiéis que se inscrevessem no partido nazi.


A pluralidade legítima na resolução de problemas concretos que dependem do juízo prudencial de cada um, de que o Concílio fala, nada tem a ver com os absolutos morais enquanto princípios inegociáveis que vinculam a consciência de todos os fiéis e, portanto, também a dos Católicos que se empenham na política. Por exemplo, o direito à saúde e ao trabalho, uma vez que assentam na transcendente e eminente dignidade da pessoa humana (também há pessoas angélicas e Divinas), são sem dúvida alguma um absoluto moral e por isso exigem o empenho resoluto e determinado de qualquer fiel. No entanto, a melhor maneira, ou os meios, de os alcançar e garantir não constituem qualquer absoluto moral, pois que existe um pluralismo de caminhos cuja análise e conclusões podem legitimamente variar dando assim origem a propostas diversas na aplicação das políticas, as quais podem e devem licitamente admitir negociações e compromissos. Mas estes meios, nada têm a ver com os princípios inegociáveis, propriamente ditos, os quais garantem não só a bondade ou maldade dos fins mas também a dos meios para os alcançar ou evitar. Explico-me melhor, não somente é sempre, e em qualquer circunstância, injusto provocar o aborto como o é também admitir na lei, fazer campanha a seu favor ou dar-lhe aprovação com o seu voto. O mesmo se deve dizer em relação à eutanásia e suicídio assistido; à fecundação artificial medicamente substituída, ao congelamento de embriões humanos, à experimentação, eliminação ou clonagem dos mesmos; ao impropriamente chamado “casamento” entre pessoas do mesmo sexo, à co-adopção ou adopção por parte de homossexuais; à subtracção das crianças ao direito dos pais as educarem segundo as suas consciências e crença religiosa ou Fé, desde que nestas nada haja contrário à Lei Moral Natural.


Graças a Deus que na história desde o 25 de Abril houve Católicos corajosos e fiéis a Jesus Cristo e à Sua Igreja que combateram desassombradamente e com denodo em defesa dos princípios inegociáveis não pactuando com qualquer compromisso que os aguasse ou distorcesse. Enquanto “católicos” confusos ou manipulados ou pervertidos votavam e promulgavam crimes inomináveis, por exemplo, a “lei” 6/84 que “legalizou” a chacina de crianças nascituras, outros, em frente unida (PSD e CDS) a elas se opunham com grande clareza e destimidez.


Infelizmente, ou melhor, desgraçadamente, essas duas forças partidárias foram paulatinamente parasitadas por marxistas/liberais (sei que parece estranha a associação, mas é uma fusão verdadeira) e maçons que têm tido o condão de fazer a essas agremiações e seus membros católicos o mesmo que os extraterrestres fazem, nos filmes de ficção, aos humanos: matam-nos, esvaziam-nos, tomam de assalto as suas interioridades, mantendo tão só as suas aparências, e desse modo vão expandindo-se, eliminando as populações e conquistando a Terra. Somente que enquanto nessas fitas as mortes são físicas aqui, na realidade, são espirituais e provavelmente eternas.


De há uns anos a esta parte alguns Católicos generosos, de sangue na guelra, fogosos como cavalos de combate adentraram-se em alguns partidos com o propósito de mudá-los por dentro e restituir-lhes o empenho e dedicação ao Bem Comum, isto é, ao bem de todos e cada um, desde a sua fase unicelular até à morte natural, ou seja, à vida cuidada, servida e amada até ao fim. Infelizmente tem-se verificado que, não obstante, alguns ganhos, as perdas são muito maiores, uma vez que essas associações parlamentares têm vindo de mal a pior e de pior ao péssimo. De facto, não se pode negar que apesar dos esforços desgastantes desta gente boa a decadência tem-se acelerado tão vertiginosamente que actualmente não existe em Portugal nenhum grupo parlamentar que aceite e muito menos se bata pelos absolutos morais e princípios inegociáveis. Daí que podemos concluir que esta gente, apesar do seu sacrifício, tem contribuído para promover as facções partidárias a que pertencem e fidelizar o voto católico contribuindo assim para a degeneração e corrupção dos cristãos e da Igreja. Parece que estão a repetir os erros daqueles “católicos”, que há não muito tempo tentaram algo de semelhante num outro partido, mas que afinal mais não eram que “compagnons de route”, o que em português se poderá traduzir como “idiotas úteis”, descartáveis logo que se alcance o objectivo para que serviram.


Nas circunstâncias actuais só vislumbro duas hipóteses, a saber, ou há uma invasão maciça e organizada de Católicos, de consciência bem formada, fiéis ao Magistério da Igreja, ou de Homens de boa vontade, isto é que seguem a Lei Natural, que tomem o poder ou estes mesmos têm o dever moral grave de se desembaraçarem rapidamente desses bandos de malfeitores e formarem um novo partido político. Não um partido confessional, nem um partido mais ou menos mono-temático como os diversos que têm surgido em alguns países não conseguindo nunca mais do que 1% ou lá perto.


Confesso que actualmente me parece cada vez mais difícil a primeira hipótese ( a da entrada maciça de Católicos) pelo que me parece de melhor aviso a segunda. Não se cuide porém que isto seja um pensamento original ou mesmo uma patacoada excêntrica. 


O Arcebispo Giampaolo Crepaldi (Presidente do Observatório Internacional Cardeal Van Thuân - cujo processo de Beatificação está decorrendo -, é uma das inteligências mais preclaras do Episcopado italiano, o que possui um entendimento mais profundo da Doutrina Social da Igreja, a par da mais nítida clareza e desassombro no anuncio da Verdade) afirma limpidamente isso mesmo, pelo menos, num dos seus livros: quando não há partidos políticos que respeitem os princípios inegociáveis os Católicos têm o dever de criar um novo partido que o faça. 


À honra de Cristo. Ámen.