3 de Março de 2009
O passar dos anos e a experiência que eles me deram
provocaram em mim uma atenção nova à minha própria vida,
que reconheço como uma graça que não deixarei nunca de agradecer.
Quase me parece pecado a distracção com que antes vivia,
mas creio que era preciso que o tempo passasse
e que acontecessem os factos que fizeram a minha história,
para que esta nova consciência nas cesse no mais fundo de mim mesmo.
Tenho pena que o ritmo trepidante do meu dia-a-dia
não me deixe mais tempo para esta reflexão interior
que me torna tão grato pelo dom da vida
e tão mais sério cada pensamento e gesto meu.
Isto não impede que continue a cometer os mesmos erros e as mesmas faltas,
mas, ainda assim, mais consciente de cada um deles.
O caminho de santidade a que sou chamado,
que é a minha vocação de baptizado, é longo e cheio de tropeços…
mas é caminho andado e caminho para um destino de Verdade e de Bem.
Queria muito que esta Quaresma fosse esse tempo favorável.
Tempo que, sendo roubado à rotina dos dias iguais,
se torna no dom inestimável de me pôr diante de Deus tal como sou.
Sem disfarce, nem escândalo: eu, diante da Verdade que Ele é.
Queria muito que nesta Quaresma me reencontrasse
com a oração que não rezo, com a Adoração que não faço,
com a generosidade que evito, com a partilha que recuso.
Não se trata de uma questão de piedade, mas de uma questão de humanidade,
porque se «a vida existe para ser dada»
é preciso estar consciente do seu significado,
para se saber porque se dá.
A receita parece ser simples: fixar os olhos na Cruz
e perceber a partir dela, o que pode valer uma vida assim.