terça-feira, 21 de abril de 2009

Pior do que Imaginei


A 26 de Janeiro do corrente ano alertei para a possibilidade da tentação de se esquecer, no simpósio que a Conferência Episcopal vai organizar sobre a crise, os mais pobres de todos, nos seguintes termos: «… o Papa Bento XVI classificou como os mais pobres de entre os pobres - as crianças ainda não nascidas. Em tempo de crise alguns membros da Igreja poderiam ser levados a interessar-se e a comprometer-se somente com aqueles com que todos se preocupam, ganhando com isso muitas simpatias e louvores, esquecendo aqueles que todos ignoram e marginalizam e que afinal são os que mais precisam. Esta é uma tentação que importa pôr de parte com toda a determinação, mesmo que isso implique impopularidade. Por isso será de toda a justiça que no simpósio que a Igreja vai realizar, a propósito da grave crise em que estamos, lhes seja dado aquele lugar preferencial e de destaque que a mesma Igreja sempre reivindicou para os mais desfavorecidos.»[1]

Olhando para o programa, já disponível na Internet[2], verifico, com mágoa, não só a ausência de qualquer referência ao tema de defesa da vida mas também a presença de dois palestradores associados, um por pertença outro porque propagandista, a duas organizações internacionais, promotoras do aborto, que têm merecido a crítica severa e contundente de muitos Episcopados das mais diversas nações. Sendo que uma delas não só mata centenas de milhares de crianças nascituras, mas programaticamente deprava as crianças e destrói a Família. E estes senhores parolearão precisamente na data em que se celebra o dia internacional da mesma!

É preciso ser muito cego para não ver que a mais grave injustiça social e a mais séria questão cultural é a do aborto. E que não há solidariedade que resista, se mantenha e cresça numa sociedade que aceita e promove a matança dos filhos pelas próprias mães.

Por outro lado, basta estar minimamente atento para conhecer os dados que demonstram à saciedade o impacto do aborto na desestruturação e ruptura das personalidades, das relações e das famílias e consequentemente a sua implicação na pobreza.

Acresce que esta teria sido uma excelente oportunidade para o Episcopado mostrar, não por palavras, mas sim por actos concretos, que de facto reconhece o valor, a competência e a qualidade dos leigos católicos, sistematicamente menorizados e desdenhados, que se têm empenhado com grande sacrifício e generosidade nos combates pela vida e pela Família.



[1] Nuno Serras Pereira, Algumas Dicas para Comemorar o 11 do 2, 26 de Janeiro de 2009