Quando pela primeira vez ouvi que a Conferência Episcopal Portuguesa tinha denominado o simpósio, que vai organizar sobre a crise, de “Reinventar a Solidariedade” assustei-me deveras. Vede lá se não sou uma pessoa timorata - intimidei-me com um nome! Não sei porquê mas quando na Igreja se usam palavras bombásticas, dotadas de grande sonoridade, fico inquieto, soa-me a oco, pior, a distorcido. Ninguém, é claro, tem culpa desta minha maluqueira.
Ao olhar para a agenda[1], porém, verifiquei que não há razão alguma para receios. Afinal não está lá nenhum orador que, 60 anos depois e sem ter tido participação alguma no sucedido, tenha negado a existência de judeus mortos em câmaras de gás e subestimado o seu número. Não! Podemos todos ficar descansados porque somente há alguns[2] que se cumpliciaram pela propaganda, pelo voto ou pela colaboração com entidades especialmente treinadas para esta obra, toda benemérita, missionária e verdadeiramente corajosa, de expurgar legalmente o planeta dessa horrendas metástases ameaçadoras que são as medonhas crianças nascituras. Este holocausto genocida, evidentemente, qualifica altamente os seus cúmplices para discorrerem caritativamente sobre os pobres e para mansa e benignamente reinventarem a solidariedade, de braço dado com o Presidente da Conferência Episcopal, acolitado por dois Confrades.
Vede lá se não é bizarria minha ter medrosamente cismado no nome. Irra!!!, que não tenho emenda!...
Nuno Serras Pereira
23. 04. 2009
[2] João Ferreira do Amaral, António Barreto, Marina Costa Lobo, Programa Escolhas (tem colaborado ou aceitado a colaboração da APF/IPPF) e Amnistia Internacional