1. O Senhor D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu, deu uma entrevista saída hoje na revista Tabu (N. 171 – 18 de Dezembro de 2009, pp. 36-44), do jornal Sol, na qual afirma: “Não tenho nada a opor que dois gays, homens ou mulheres, queiram viver juntos. Respeito as opções de todas as pessoas.”. Donde, pergunto, a Sua Excelência Reverendíssima se respeita a opção:
a) De um pedófilo ter sexo com uma criança.
b) De dois irmãos, homens ou mulheres, praticarem actos sexuais entre si.
c) De uma mãe ter sexo com um filho adulto.
d) De um pai cometer actos sexuais com uma filha de maior idade.
e) De um casal, com mútuo consentimento, praticar o adultério.
f) De um homem casar, suposto o consentimento, com várias mulheres.
g) De um casamento poliamoroso (entre várias, mais do que duas, pessoas).
h) De se praticarem actos sexuais com animais.
i) De uma mulher abortar o seu filho nascituro.
j) De um marido espancar a mulher.
k) De uma mulher atenazar o seu marido.
l) De um tarado violar uma idosa.
m) De um racista discriminar pessoas de outra raça.
n) De um ladrão assaltar um banco.
o) De uma pessoa comer as fezes de outra.
p) De um terrorista fazer explodir bombas.
q) De um nazi matar judeus.
r) De um médico congelar embriões humanos e fazer experimentações com os mesmos.
s) De um médico cometer eutanásia, a pedido do doente.
t) De alguém cometer o “suicídio assistido”.
u) Etc.
Não pergunto a Sua Excelência Reverendíssima se não tem nada a opor a que um seropositivo não use preservativo nos actos sexuais a que se entregue porque aí o Senhor Bispo é taxativo, mostrando, inesperadamente, pouco respeito por quem tomar essa “opção”: “alguém que não evita uma relação, sendo seropositivo, está obrigado (cursivo meu) a usar um meio[1] que evite a propagação e a transmissão do vírus.”.
2. Gostaria ainda de perguntar a Sua Excelência Reverendíssima se a Igreja mudou, e quando, a Verdade que Jesus Cristo lhe comunicou sobre a indissolubilidade do matrimónio. De facto Vossa Reverendíssima depois de afirmar que a Igreja é contra o divórcio e de que o não aceita elenca várias situações ou “aspectos”, para usar a sua expressão, que sintetiza em quatro. Sobre este último, diz o seguinte: “… se não é possível[2] nenhum dos anteriores, a Igreja não quer, e não pode impor, um casamento que já não existe. Então se o divórcio é a única alternativa, a Igreja aceita que seja essa a decisão.”. O Senhor Bispo no primeiro aspecto já tinha considerado os casos de nulidade matrimonial. Agora fala de um casamento que aconteceu, real, verdadeiro, mas que pelos vistos desapareceu, dissolveu-se – “um casamento que já não existe”. De facto, se se afirma que já não existe, só se pode concluir que existiu. Portanto dissolveu-se, apesar de nenhum dos cônjuges ter morrido. Ora a Igreja, nas palavras do Senhor Bispo, não quer esse casamento que não o é (?) e, por isso, contradizendo o que tinha dito no início, afirma que aceita o divórcio.
3. Evidentemente que é possível que Sua Excelência Reverendíssima não tenha dito nada do que vem transcrito na revista e que tudo não passe de uma grande confusão da jornalista Liliana Garcia. Mas se assim for, deveria o Senhor Bispo desmentir e esclarecer as suas afirmações, uma vez que a sua repercussão só pode contribuir para uma maior confusão dos espíritos, com grave escândalo de muitos.
Nuno Serras Pereira
18. 12. 2009
[1] A pergunta era sobre o uso do preservativo.
[2] Antes, no segundo aspecto, tinha dito que “a Igreja acredita sempre na capacidade de conversão”. Agora pelos vistos, deixou de acreditar. Negar a possibilidade de Deus converter alguém parece uma negação da Sua Omnipotência.