1. Não tenho memória de um episódio eclesial tão sinistro e lamentável como o que foi protagonizado pelo Cardeal Bertone, aquando da inauguração da nova Igreja em Fátima, ao ser encaminhado, para dar a Sagrada Comunhão ao ministro Pedro Silva Pereira - grande promotor público da liberalização do aborto, até às 10 semanas, em Portugal, e agora co-responsável pela decisão tomada hoje pelo governo de legalizar o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo. Evidentemente que o Secretário de Estado da Santa Sé não podia suspeitar que os eclesiásticos presentes, incluindo Bispos, o estavam a armadilhar e, por isso, de boa-fé deu a Comunhão, em directo na televisão para todo o país, a um pecador público obstinado provocando, inconscientemente, um grande escândalo, ocasião de queda para muitos. Parece-me claro que quem é capaz de fazer uma enormidade destas a tal Eminência não fará cerimónia em fazer outra igual, aliás, sempre maior, ao Santo Padre. Pelo que se me afigura como muito avisado que, antes da visita do Papa a Portugal, alguém previna Sua Santidade daquilo que alguns membros da Igreja, cá, são capazes, de modo a evitar que tropece no laço que lhe estendam.
2. É muito triste verificar que ao longo de todo este processo que culminou na aprovação da proposta de Lei que legaliza o “casamento” civil entre pessoas do mesmo sexo não se ouviu nem a Conferência Episcopal nem nenhum Bispo a “afirmar com clareza o carácter imoral desse tipo de união; advertir o Estado para a necessidade de conter o fenómeno dentro de limites que não ponham em perigo o tecido da moral pública e que, sobretudo, não exponham as jovens gerações a uma visão errada da sexualidade e do matrimónio, que os privaria das defesas necessárias e, ao mesmo tempo, contribuiria para difundir o próprio fenómeno.”[1]; também, incompreensivelmente, nenhum Prelado denunciou o carácter gravemente injusto de tal legislação nem a ilegitimidade política e jurídica do governo ou da assembleia da república para legislarem sobre a matéria; outrossim não ensinaram que “ … se todos os fiéis são obrigados a opor-se ao reconhecimento legal das uniões homossexuais (“de modo claro e incisivo”[2]) os políticos católicos são-no de modo especial, na linha da responsabilidade que lhes é própria”[3], sendo que essa obrigação vincula a consciência e é moralmente grave; e como se compreende que se cale a descomunhão com a Igreja que resulta do comportamento omisso ou contrário a essa responsabilidade?
Depois, como justificar silêncios pesados de alguns e declarações, umas tontas, outras contraditórias, de outros?
3. Rezemos: “Deus vinde em nosso auxílio. Senhor socorrei-nos e salvai-nos”.