Existe nos dias de hoje um gravíssimo tipo de intolerância que não só não é reconhecido como passa pelo seu antónimo ou contrário. Esta intolerância apresenta-se com as vestes e a aparência da condescendência, da indulgência. Em nome dela há uma multidão que tolerando o erro e a mentira é totalmente intolerante para com a verdade. A afirmação clara desta surge como uma ameaça, como um fundamentalismo perigoso e injustamente beligerante. A clareza na afirmação e na prática da verdade, condição essencial do amor, parece a muitos uma violência imperdoável e fanática. Por isso, em nome da misericórdia, calam-na, censuram-na, diminuem-na, apoucam-na, distorcem-na, desvirtuam-na e pervertem-na. Mutilando-a e despedaçando-a de um modo fanaticamente intolerante dão rédeas soltas à falsidade e ao erro. Não tendo estes quem os desmascare e denuncie, logo seduzem as mentes e se apoderam dos costumes. Guiadas, as pessoas, pelo “mentiroso e pai da mentira”[1] tornam-se, para usar as palavras de Jesus, filhos do diabo, que querem realizar os desejos do seu pai[2].
A mim parece-me uma enorme crueldade entregar ou não intentar redimir qualquer pessoa humana (também as há Divinas e angélicas) da escravidão do pecado[3], do Maligno. Ora a forma desse resgate foi ensinada pelo Salvador com uma precisão rigorosa e com uma clareza meridiana: “… conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”[4]. Pelo que todo aquele que tolera o erro e a mentira sendo, por isso, intolerante para com a verdade não tem misericórdia alguma para com as pessoas necessitadas de arrependimento, conversão e salvação. Pelo contrário, quem é intolerante com o erro e a mentira é dotado não só de uma grande tolerância para com as pessoas concretas, mas também de uma verdadeira Misericórdia e Piedade que lhe são concedidas pela mesma Verdade, à qual se aferra e da qual não abdica, por Graça de Deus.
Nuno Serras Pereira