1. Neste torpor eclesial nacional em que habitualmente vivemos surgiram 3 mães e uma amiga das mesmas com a ideia rara de promover uma peregrinação nacional a Fátima, numa quarta-feira à noite, mais precisamente ontem, com o lema Acorda Família, em acção de graças pelos 50 anos da Consagração de Portugal ao Sagrado Coração de Jesus e 25 da Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, com o propósito de as renovar e de reparar pelas ofensas feitas a ambos ao longo destes anos. Ideias de mulheres beatas e irrealistas!, foi a reacção de muitos. Uma coisa feita em cima da hora, num dia de semana em que ninguém pode ir, sem coordenação com as Dioceses ou pelo menos com as Paróquias, nem a presença de qualquer Senhor Bispo. Não se percebe o ímpeto, a vertigem precipitada, a corrida desacompanhada.
Eu confesso que acho admirável este tipo de saídas estilo Astérix que irrompe contra as imensas centúrias romanas que cercam a sua aldeia para a destruir, acabando afinal por serem elas destroçadas. Claro que o segredo está no elixir, isto é na Graça de Cristo, que nos imuniza e fortalece contra toda a espécie de inimigos espirituais. No entanto, elas ao que parece não foram aí buscar a sua inspiração; dar-se-á até, talvez, o caso de não conhecerem este “santo” da minha particular “devoção”. Acharam muito simplesmente que tinha sido o Céu, isto é, Nosso Senhor a marcar a data. De facto, dia da Anunciação, ou melhor, da Encarnação do Deus Filho no seio da Virgem Maria, e 25º aniversário da Consagração feita pelo Papa João Paulo II, em união com os Bispos de todo o mundo, diante da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, em Roma… Era, pois, preciso obedecer, isto é, entrar em comunhão com o Amor de Deus. E vai daí avançarem com Fé inabalável.
A vida, a família, as liberdades de educação e religiosa são objecto de agressão violenta, sistemática e planificada por todo o mundo, e em Portugal também. Hoje pendem sobre nós graves ameaças, em parte diferentes, mas de modo nenhum menores do que as de há 25 anos. E, como então, só o Sagrado Coração de Jesus e o Coração Imaculado de Maria, que são um só (como gosta de repetir o Professor Armindo Neves da Silva) nos podem salvar. São realmente um só no Amor, que é Deus, pois Aquela Mãe quer de tal modo a Seu Filho, que se despojou, por virtude do Espírito Santo, irreversível e totalmente de si mesma para completamente se deixar apropriar e identificar com Aquele que deu à luz.
2. Confluíram à Capelinha das Aparições cerca de mil pessoas vindas um pouco de todo o país. As belíssimas meditações do mesmo, feitas pelo P. João Tavares, da Diocese de Setúbal, foram lidas por casais e alguns dos mistérios rezados por crianças. Depois da Procissão das Velas, 3 sacerdotes concelebraram na Basílica que estava cheia de gente cheia de Fé. Presidiu o P. Gonçalo Portocarrero, que não conheço, um Prior do Entroncamento e um sacerdote suíço. A esplêndida homilia abordou muito certeiramente o essencial, tocou os corações dos presentes e confirmou-nos na fidelidade a Jesus Cristo. No final fez-se um belíssimo acto de Consagração ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria. A Graça desse momento só quem lá esteve a pode balbuciar, que a mais não chegam as capacidades humanas. Foi como um abrir de uma porta ao Céu, que entrou a jorros de Luz e Verdade, inundando todos de imensa confiança e Amor. A intensidade do momento é indizível. Mas ficou a certeza da actualidade e perenidade da Mensagem de Fátima, ou melhor, do Evangelho explicado e comunicado pela Virgem Mãe de Deus naquele lugar sagrado. A segurança de que por fim o Seu Imaculado Coração sempre triunfará.
3. Não era necessário que Portugal inteiro acorresse ontem ao Santuário de Fátima, mas era essencial que lá estivesse representado por aqueles que lá foram, para que a Graça superabundante que lhes foi dada transborde para todos. Quem quiser dispor-se ao acolhimento dessas bênçãos e dons especiais medite a homilia e reze o acto de Consagração, de preferência em família.
Nuno Serras Pereira
26. 03. 2009