segunda-feira, 15 de março de 2010

Deriva Totalitária no PSD?


O partido social-democrata tem tido, de há uns anos a esta parte, através de um número muito significativo dos seus membros, tomadas de posição totalmente contrárias ao ideário personalista e democrático que diz professar. Não só os seus deputados votaram maciçamente, quando Durão Barroso era primeiro-ministro, uma resolução para pôr efectivamente em prática o crime legalizado[1] através da violenta “lei” 6/84 do aborto, como escolheu, consciente e livremente, para deputados, políticos que sabia, de ciência certa, que aprovariam a) a medonha “lei” da reprodução artificial, com a consequente experimentação letal em pessoas, na sua etapa embrionária, sua clonagem, seu congelamento em reservatórios de concentração; b) a liberalização do homicídio/aborto; c) o pseudocasamento entre pessoas do mesmo sexo; c) e que darão o seu voto à eutanásia, caso ela seja proposta.

Tudo isto é obviamente de grande gravidade. No entanto, subsistia, em não poucos, a esperança de que alguma gente de boa vontade e rectamente formada, que pertence a esse partido, pudesse recuperá-lo para a saúde original. Por isso, ainda que com muito optimismo, se podia dizer que embora houvesse uma fortíssima deriva totalitária (como também existe no cds/pp) não era ainda um partido totalitário[2], como o partido socialista, o partido comunista e o bloco de esquerda. Porém, com o congresso que se realizou neste fim-de-semana parece que foi pulverizado o resto que ainda existia de personalismo e democracia substancial. De facto, é muito inquietante que todos os três candidatos (com possibilidade de ganhar) à liderança do partido advoguem pelo menos algumas das monstruosidades acima referidas, que repugnam não só à Fé mas também à Lei Natural. Acresce um facto de extrema gravidade: o apoio entusiástico repetidamente expresso, pela totalidade dos congressistas, à recandidatura de Aníbal Cavaco Silva à presidência da república. E a razão é simples – não existe na história de Portugal nenhum chefe de estado que tenha promulgado “leis” tão gravemente injustas e iníquas e de consequências tão catastróficas para tantos inocentes: liberalização do homicídio/aborto, divórcio expresso, reprodução artificial, com todo o cortejo de tragédias acima referidas. É preciso ser desalmado para não estremecer de horror perante a votação e promulgação destas crueldades brutais que ignoramos com uma indiferença nazi, e não pormos todo o empenho e determinação na abolição das mesmas.[3] Quando um partido inteiro aclama vibrantemente o terrorismo[4] institucionalizado isso só pode significar, evidentemente, que é objectivamente totalitário.

Ainda restará alguma esperança de reverter as coisas? Humanamente falando é, pelo menos a curto e a médio prazo, absolutamente impossível.

Nuno Serras Pereira

15. 03. 2010



[1] Exige-se aos Pastores, aos fiéis e aos homens de boa vontade, em especial se são legisladores, um renovado e concorde empenho para modificar as leis injustas que legitimam ou toleram essas violências (aborto e eutanásia). Não se renuncie a nenhuma tentativa de eliminar o crime legalizado ... (cf João Paulo II, Discurso aos participantes no encontro de estudos, pelo 5º aniversário da encíclica Evangelium Vitae (5º an. EV), n 4

[2] Quando a lei, votada segundo as chamadas regras democráticas, permite o aborto, o ideal democrático, que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana, é atraiçoado nas suas próprias bases: Como é possível falar ainda de dignidade de toda a pessoa humana, quando se permite matar a mais fraca e a mais inocente? Em nome de que justiça se realiza a mais injusta das discriminações entre as pessoas, declarando algumas dignas de ser defendidas, enquanto a outras esta dignidade é negada? Deste modo e para descrédito das suas regras, a democracia caminha pela estrada de um substancial totalitarismo. O Estado deixa de ser a «casa comum», onde todos podem viver segundo princípios de substancial igualdade, e transforma-se num Estado tirano, que presume poder dispor da vida dos mais débeis e indefesos, como a criança ainda não nascida, em nome de uma utilidade pública que, na realidade, não é senão o interesse de alguns (cf João Paulo II, Evangelium vitae, n 20).

Quando uma maioria parlamentar ou social decreta a legitimidade da eliminação, mesmo sob certas condições, da vida humana ainda não nascida, assume uma decisão tirânica contra o ser humano mais débil e indefeso. (cf João Paulo II, Evangelium vitae, n 70).

[3] Não há nenhuma razão para aquele tipo de mentalidade derrotista que considera que as leis que se opõem ao direito à vida - as que legalizam o aborto, a eutanásia, a esterilização e os métodos de planeamento familiar que se opõem à vida e à dignidade do matrimónio - são inevitáveis e até quase uma necessidade social. Pelo contrário, são um gérmen de corrupção da sociedade e dos seus fundamentos. (cf João Paulo II, Discurso aos participantes no encontro de estudos, pelo 5º aniversário da encíclica Evangelium Vitae (5º an. EV), n 3

[4] A matança maciça de pessoas inocentes, em qualquer etapa da sua vida, é claramente terrorista.