Cristina Líbano Monteiro
(Assistente da Faculdade de Direito de Coimbra)
Sei quem és, Papa Bento.
E por isso te escrevo.
Sei que te atacam. Não por ti. Só gente desinformada acreditaria poder encontrar, com verdade, na tua pessoa, uma falta de coerência como a que propalam, qualquer conivência com um «crime hediondo» como tu próprio lhe chamas.
Atacam-te a ti porque os confunde a apaixonada busca da verdade e do bem que é a tua vida. Sempre foi assim. Há pessoas que se transformam em perseguidoras porque não aguentam aqueles que possuem um coração enorme e uma inteligência soberana, abertos a todos; e que não procuram o poder mesquinho, a glória efémera dos aplausos hipócritas, a fama conseguida em atropelo da honestidade. Atacam-te a ti — não a mim — porque és grande demais.
Mas não te atacam por ti. Atacam-te porque és Cristo. Perseguem-te como perseguiram e perseguem Cristo. Em ti e nos cristãos.
Como se tu ou Ele fossem os donos das consciências, da liberdade, da história pessoal de cada um e da Igreja. E da humanidade. Como se todos nós, não podendo suportar — cobardes! — as próprias culpas, te atirássemos com elas num exercício absurdo e infantil de branqueamento de responsabilidade.
Atacam-te como o tolo dispara à lua, pensando apagar nela a luz do sol. Ou — talvez pior — como o néscio desfere um golpe fatal no seu próprio corpo, julgando vingar-se.
Atacam-te como se sem ti, sem a Igreja, o mundo florescesse: chegassem por fim a esta terra a paz, a justiça, a liberdade e desaparecessem o medo e a morte.
Perseguem-te para disfarçar a sua falta de ideias, de meios, de eficácia para construir. Porque sabem que tens — de Cristo — as metas altas, maiores ainda do que a nossa capacidade de desejar; e remédio para as nossas ansiedades e angústias; e manifestas, além disso, o respeito mais delicado por todos; e acolhes o bom contributo de quem não pensa como tu. Sempre foi assim.
Atacam-te sabendo que não tens exércitos, ódios, mordomias. Como fizeram — fizemos e fazemos — com Cristo: desarmado, querido pelos pobres e perseguidos, trabalhador infatigável da causa da justiça, denunciador da hipocrisia então reinante. E não reparam que fazem o serviço aos poderosos, aos que esmagam os outros com tal de chegar a uma posição triunfal, aos que negam as liberdades, aos abusadores, também sexuais. Não reparam que são estes que tu fustigas com a tua palavra e o teu exemplo. São estes os que beneficiam com a perseguição que outros te movem: porque assim não têm o trabalho de te atacar — deixam-no aos mesquinhos, aos desapreensivos, aos ignorantes, aos ingénuos.
Mas não se preocupem os atacantes, os perseguidores do Papa e da Igreja. A vossa vozearia não desviará Bento da sua batalha, já antiga, a favor das crianças indefesas, da justiça social, do desenvolvimento sustentável, das vítimas inocentes da pedofilia… Se esta causa urgente e ingente é realmente o que vos importa, podem contar com ele.