Antes de começar o artigo propriamente dito devo advertir solenemente todo e qualquer leitor que desprevenido encontre este ou outros textos da minha autoria vadiando pela Inter-rede de que sou tresloucado. Qualquer pessoa que me conhece não tem qualquer dúvida sobre isso. Por isso que me lêem com aquela espécie de comprazimento de quem se sente superior e se ri gozosamente com os dislates e trapalhadas que vou escrevinhando. Ainda há poucos dias um grande amigo – há gente assim, com um coração de samaritano tamanho capaz de esmolar a sua amizade a trastes como eu -, me enviava uma mensagem de correio-e dando-me o endereço electrónico de sua sogra (ele dá-se optimamente com a sogra!, e ainda dizem que não há milagres…) instando comigo para lhe mandasse os meus artigos. Ora eu já conhecia a Senhora, já tinha tido, inclusive, um jantar estupendo em sua casa, no qual tivemos a oportunidade de conversar longamente e, no entanto, nunca me fez tal pedido. Enquanto me interrogava mentalmente donde viria então este novo interesse deparei com a razão dele nas linhas seguintes. Escreveu o meu amigo que toda a agente com quem ela se encontrava, quando acontecia falar-se de mim, lhe diziam que eu era louco. Esta fama não constitui para mim, nem para os meus leitores habituais, qualquer novidade. E confesso, com a simplicidade própria do idiota, que tenho não só a fama como o proveito. Mas uma vez que disfarço bem, quando estive em sua casa, evitei gatinhar pelo chão, dar urros tremendos, subir pelas paredes e fazer o pino no tecto; contive os esgares, não disse palavras feias, não espumei da boca, nem esperneei freneticamente; não ladrei, não grunhi, não guinchei, nem zurrei. De modo que esta boa amiga enganou-se com o meu sossego e considerou-me, porventura, sensato! Julgo que alguns meses depois leu um livro que a impressionou vivamente sobre os Santos loucos. Sabendo da minha doudice quererá, naturalmente, indagar da minha santidade – se é varrido de todo pode ser que seja um dos tais Santos, terá, imagino eu, reflexionado na sua imensa bondade. Eu não ouso contrariá-la porque bem sei que dos duros penedos obstinados, como eu, pode Deus na Sua Omnipotência fazer filhos de Abraão; e com as orações de pessoas tão boas como ela bem pode vir a suceder esse prodígio.
Feita a introdução queiram fazer o favor de se mandar ler, conscientes de que o texto não passa de um delírio de um alucinado, os temas que hoje abordo.
1. Desde, pelo menos, do ano 2000 tenho vindo a alertar no Infovitae para as tentativas da criação de um Tribunal Internacional que venha a julgar e condenar o Papa como um criminoso e um genocida de mulheres em virtude da oposição da Igreja ao aborto provocado, à homossexualidade[1], à ideologia do género e outras perversidades quejandas. Tudo isso está vastamente documentado, como sabem todos aqueles que se deram ao pacientíssimo trabalho de ler, ao longo destes mais de dez anos, o boletim electrónico Infovitae e os documentos e livros para onde remetia.
Atentemos ao que se passou e ao que se quer levar a cabo:
Durante décadas e décadas a Igreja Católica foi infiltrada por marxistas (leninistas e estalinistas), pela maçonaria, por alguns movimentos feministas e por homossexuais activos, não poucos militantes da ideologia “gay” e da do género. Uma das consequências desse ardil vil e traiçoeiro é-nos hoje patente nos casos de abusos de menores por parte de alguns sacerdotes e a correspondente leviandade, quando não, em raríssimos casos, cumplicidade por parte de alguns bispos e até cardeais.
A ideia, claro está, era mudar a Igreja por dentro, corrompendo-a na sua Fé e nos seus costumes ou moral, de tal maneira que ela deixasse de ser o que é, uma edificação Divina cuja missão é converter o mundo comunicando-lhe Jesus Cristo, para passar a conformar-se com o pecado e a abençoá-lo.
Não contavam porém com a firmeza do Papado que foi e continua a ser uma referência religiosa e moral a nível internacional. O rochedo que é Pedro - constituído tal por Jesus Cristo, fundamento perpétuo e invisível da Igreja - nos seus sucessores resiste às investidas e insídias do Maligno: as portas do inferno não prevalecerão.
Tendo, em grande parte, falhado o seu intento engendraram, nos seus conciliábulos asquerosos, uma estratégia de culpabilização geral da Igreja, perseguindo-a judicialmente e mediaticamente[2]. Este objectivo, ou agenda, tem sido prosseguido implacavelmente, como vimos recentemente no modo de como a “justiça” Belga destratou a Conferência Episcopal e o Núncio Apostólico. Ali se ensaiou o que se pretende continuar e intensificar nos demais países ocidentais.
Enquanto a Igreja e o Papa são enxovalhados em público, assiste-se a uma promoção global idolátrica, sem precedentes no mundo contemporâneo, de um político, Obama, com o objectivo claro de transformá-lo na nova referência “moral” a nível mundial. O Santo Padre denegrido, vilipendiado, escarnecido, injuriado; o representante do anti-Cristo lisonjeado, louvado, aplaudido, exaltado! Os povos são persuadidos a repudiar aquele que fala em nome de Outro, do Deus vivo, cuja missão é a obediência a essa Razão e a esse Amor - que são o próprio Deus - origem e destino da Criação, para acatar cegamente o poder divinizado que inexoravelmente os dizimará sugando-lhes a alma e destroçando-lhes o corpo.
O Cardeal Danneels foi dura e longamente interrogado por suspeita de não ter prestado o auxílio e protecção devidos a pessoas vulneráveis, os menores vítimas de abusos. O que a ser verdade é obviamente muito grave. Mas os ministros da educação e da saúde, por exemplo, da Bélgica não padecem os mesmos interrogatórios e devassas pelos abusos sexuais de menores perpetrados por professores e médicos, que são mais numerosos, mesmo percentualmente, do que os realizados por membros do clero. Por outro lado, se esse Cardeal ou qualquer outro prelado quisessem cumprir com a justiça procurando dissuadir e evitar que crianças nascituras fossem desmembradas e decapitadas, socorrendo desse modo os mais vulneráveis e desprotegidos, seriam impedidos pelas forças policiais de o fazerem e correriam o risco de serem lançados nas masmorras do estado, como acontece frequentemente a sacerdotes e leigos nos EUA.
2. a) Dia 13 de Maio de 2010 em Fátima. Um grupo de Cristãos, que de Lisboa tinha peregrinado a pé até ao Santuário, esperava de rosário (esse meio precioso de contemplar os mistérios da vida de Jesus Cristo) na mão o Santo Padre. Era perto da Igreja nova onde o Papa iria ter um encontro com os Fiéis. Nisto passa um Senhor Bispo conhecido que os fez alegrar-se e saudar com muita reverência e simpatia. Reparando que os terços do rosário eram formados por contas em forma de lágrimas, contendo cada uma a figura de um bebé nascituro, o Senhor Bispo atirou: isso não é para aqui!
Grande parte daquele grupo de peregrinos está diariamente à porta do abortadouro dos Arcos, em Lisboa, salvando a vida a crianças nascituras e, consequentemente, evitando crimes, pecados, e sofrimentos futuros àquelas mães grávidas. Têm, ali, aguentado os frios, os ventos e as chuvas Invernosas bem como os calores abrasadores dos Verões escaldantes. Têm sido escarnecidos, escorraçados e insultados. À raiva e ao ódio respondem com amor, às maldições com bênçãos, às agressões com orações. Estão no calvário a pé firme como Maria e João há dois mil anos, enquanto os sucessores dos apóstolos, como eles naquele tempo, não põem lá os pés, têm medo e arranjam mil desculpas para fugir. Já que os imitam no pecado de deserção rezemos para que os sigamos também no arrependimento e na conversão.
A fortaleza, a perseverança, o amor que sustenta estes peregrinos são a oração, a meditação da Palavra de Deus, a Eucaristia, a Confissão, os Rosários e tudo isto aprenderam nas peregrinações a Fátima. Inscreveram-se na escola de Nossa Senhora, deixando-se educar por Ela, como outrora o Menino Jesus, para receberam o Espírito Santo, Seu dela Esposo, e assim porem em prática o Seu mandato: “Fazei tudo o que o Ele (Meu Filho) vos disser.”
É um milagre, talvez particularmente misterioso, Fátima suscitar uma comunidade assim que faz da sua vida uma entrega total e radical pela Vida. Porque se é verdade que por um lado não há nada mais natural, sobrenaturalmente falando, que num Santuário onde se venera a Mãe d’ Aquele que é a própria Vida, e Se adora, juntamente com Ela, esse Deus feito homem, morto numa Cruz e Ressuscitado, que é o Evangelho da Vida, as pessoas dali saiam vivificadas e prontas a respeitar, servir, amar e promover a vida de cada pessoa humana, em todas as fases da sua existência desde a concepção até à morte natural; também não é menos verdade que, ordinariamente falando, Deus quer servir-Se da Sua Igreja – pregação, doutrina, catecumenato, etc., como preparação para a recepção das Graças que Lhe apraz conceder.
O Papa João Paulo II escreveu a Encíclica O Evangelho da vida precisamente no propósito de cumprir essa sua missão de transmitir a Verdade que liberta e abre as pessoas ainda mais à Graça de Deus (a doutrina, a Verdade e a abertura são já Graças). Nela, onde se manifesta uma muito particular preocupação com os atentados à vida nascente, ou nascitura, e à morrente, através do aborto, mesmo embrionário (nos laboratórios), e da eutanásia, se afirma textualmente que o Evangelho de Jesus Cristo e o Evangelho da Vida são um único e mesmo Evangelho. Pois apesar disso, comparativamente, a doutrina desta Encíclica é sistematicamente omitida, às vezes mesmo censurada, com honrosas excepções, principalmente no que diz respeito à vida humana nascente, no Santuário da Vida que é Fátima! Contam-se pelos dedos as intervenções neste sentido, que são, maioritariamente, dos Papas e de cardeais estrangeiros. A vergonha (lembram-se daquela passagem do Evangelho em que Cristo fala daqueles que se envergonham d’ Ele?) é tão grande que chegou ao ponto de se proibir a distribuição, dentro do Santuário, da oração da pagela de Nossa Senhora do Ó, apesar de saberem que tinha sido informalmente aprovada pelo então Cardeal Ratzinger e formalmente aprovada pelo Senhor D. António dos Reis Rodrigues, Deus lhe fale na alma.
Não espanta pois que por vezes se dê com “peregrinos” que vão pedir “à Nossa Senhora” que lhes corra bem a matança do filho que vão abortar. Nem que se tenha escutado com tanta frequência outros “peregrinos” aquando das campanhas do aborto a recusarem-se a assinar petições referentes à defesa da vida por serem a favor da legalização/liberalização do mesmo.
Não cuidem que o Episcopado português ignorava estas coisas pois tudo lhes foi devidamente comunicado. Mas como nos dias que correm encolhe os ombros perante as mais de cinquenta mil crianças atrozmente assassinadas ao abrigo da liberalização, então bocejava perante a inquietação e o desassossego dos “católicos fundamentalistas”. Com tanto pré-aviso ao longo de tantos anos há aí alguém que tenha alguma dúvida que se a Igreja quisesse o aborto nunca tinha sido liberalizado em Portugal? Se há, pode não ser louco como eu, mas é supinamente estúpido, sem ofensa, claro está.
Podem atribuir, como convém a muitos, a um temperamento cruelmente acusador o facto de eu escrever que existe um “encolher de ombros” dos hierarcas em relação à mortandade organizada de mais de cinquenta mil crianças nascituras (creio que nem a Máfia chega a tanto extremo de malignidade). Mas responda-me quem souber ou puder: se no nosso país morressem em três anos, por acidente e não assassinadas, cinquenta mil crianças em desastres de viação, ou em envenenamentos por salmonelas em refeições escolares, ou por afogamento nas praias, qual seria a reacção dos Prelados na Igreja? Eu, por mim, não tenho dúvidas: Notas Pastorais, entrevistas inflamadas, pregações constantes, horas de reportagens e noticiários na Rádio Renascença, etc., etc. A propósito, hoje depois do meio-dia, num programa, desta estação emissora, de que felizmente desconheço o nome, perorava-se sobre a criminalidade de adolescentes e sobre a sua institucionalização e punição. Pois um dos palestradores que dava conselhos e se insurgia contra a criminalidade, a grande maioria da qual era de furtos, era um economista, João Ferreira do Amaral, que faz parte do painel de comentadores habituais. Este senhor aquando da campanha do referendo do aborto era já convidado desta esta rádio “católica” para defender aos seus microfones a liberalização desse crime que a Encíclica O Evangelho da vida considera o mais grave de todos os que se podem cometer contra a vida humana – não resta pois dúvida alguma que é altamente qualificado para moralizar sobre a criminalidade juvenil. Recorde-se, entretanto, que a Rádio Renascença é propriedade do Patriarcado de Lisboa e da Conferência Episcopal, que deste e outros semelhantes modos tem mostrado o seu empenho esforçado pela defesa da vida e a preocupação solícita para com as pessoas nascituras e suas mães grávidas.
b) Jesus Cristo, Redentor universal, que nos tem dado tantas Graças através da Sua e Nossa Mãe em Fátima, terá querido, por estes dias, mostrar a Sua tristeza e descontentamento com a pastoral do Evangelho da vida naquele Seu Santuário onde se venera Sua Mãe.
Esta suspeita bendita decorre do facto de no dia 15 deste mês, terceiro aniversário da regulamentação da “lei” injusta e iníqua que liberalizou o aborto, duas mães grávidas de Fátima virem a Lisboa, à “clínica” abortadora dos arcos, para assassinarem seus filhos. Aquelas peregrinas que no Santuário tinham levado o raspanete episcopal, acima referido, foram quem lhes valeu. O amor, as razões e a Fé com que as abordaram fizeram com que tomassem consciência do horror que estavam para praticar. Movidas ao arrependimento desistiram do seu intento. Regressaram felizes, com seus filhos no seio e continuam a ser acompanhadas e amparadas por aquelas megeras que salvam crianças de uma morte certa e suas mães de uma dor e sofrimento para a vida inteira. À honra de Cristo. Ámen.
Nuno Serras Pereira
18. 07. 2010
[1] Este termo é uma cretinice sem sentido, até do ponto de vista gramatical. É lastimável, mas creio que não durará muito, que o Magistério pastoral da Igreja recorra a ele em alguns documentos. Também o faço aqui para que nos entendamos sem ter que estar a alongar o texto.
[2] Com isto não se pretende desculpabilizar a gravidade dos pecados e crimes cometidos por alguns membros do clero. Mas é claríssimo que não se têm as mesmas atitudes para com classes profissionais ou religiosas onde o problema da pedofilia e do abuso de menores é muito mais extenso do que na Igreja Católica.