segunda-feira, 12 de julho de 2010

José Sócrates não existe - por João César das Neves


João César das Neves

In DN

José Sócrates não existe! O Diário de Notícias, após intensa investigação, confirmou um facto espantoso: o actual primeiro-ministro não passa de uma personagem de ficção. A figura foi criada por um laboratório de analistas políticos que há 12 anos mantém o complicado enredo da personalidade fabulosa. O homem que conhecemos por esse nome é realmente Manuel Lopes, um actor de profissão que dá corpo à personagem. Esta é a entrevista com Philip Widmark, o cérebro por detrás deste projecto.

DN - Sr. Widmark, é verdade que o nosso primeiro-ministro não existe?

PW - Não é bem assim. José Sócrates existe, mas como personalidade artificial criada nos estúdios especializados da nossa empresa www.makeyourleader.com. Trata--se, não de uma pessoa verdadeira, mas de alguém especialmente concebido por técnicos altamente treinados para garantir uma liderança de qualidade. O PS contratou os nossos serviços em 1998, quando Guterres entrou em decadência, e trabalhamos desde então.

DN - Quer dizer que a biografia, fotos antigas, carreira, foi tudo fabricado?

PW - Sim. Aliás a imprensa portuguesa apanhou certos aspectos do truque.

DN - Refere-se ao diploma de licenciatura?

PW - Isso, antigos projectos de engenharia e até os problemas dos parentes falsos, que nós criámos, foram detectados por jornalistas. Felizmente ninguém foi ao fundo da questão até à vossa descoberta.

DN - Este método de inventar personalidade é original?

PW - Claro que não. Isto é usado por todo o lado há muito tempo. Temos muito que fazer e grande sucesso. A nossa empresa apenas leva ao nível seguinte o trabalho de consultores de imagem e assessores de imprensa. Porquê tentar emendar defeitos e corrigir erros na carreira e personalidade de políticos reais, quando se pode imaginar alguém perfeito de raiz?

DN - Mas, dado que este projecto está a correr mal...

PW - Correr mal? Quem disse? Consideramos o "projecto Sócrates" um dos nossos maiores êxitos. Mantemos a criação no poder há mais de cinco anos, o terceiro mais longo PM desta democracia, e lutaremos pelo segundo lugar. Pelo menos!

DN - Mas a crise, os escândalos, os ataques, as críticas!

PW - Isso tudo é excelente para manter as atenções na figura do PM. Aliás alguns dos casos foram fabricados por nós, quando as coisas estavam a tornar-se mornas ou a realidade social a ficar demasiado influente.

DN - Quer dar-me um exemplo?

PW - O uso da golden share na PT foi a mais recente invenção do nosso laboratório, para anular os efeitos da subida de impostos e derrota no Mundial de Futebol. Foi brilhante!

DN - Quer dizer que foi tudo a fingir?

PW - Claro! A decisão não tem pés nem cabeça. Mas é uma genial jogada de diversão. O princípio básico é que a política deve ser mantida o máximo de tempo no reino da ficção. É essencial discutir assuntos inúteis. Quando o mundo real entra no debate público, as coisas saem do domínio, porque a realidade é imprevisível. Só a ficção se controla. O ideal é ter todos a discutir diplomas escolares do PM, corrupção, casamento gay, zangas de dirigentes e disparates afins. Afastar o mais possível a atenção dos problemas das pessoas. É para isso que serve a política.

DN - Então a finalidade do poder não é melhorar o bem-estar da população?

PW - Claro que não. Se fosse para isso não se teria criado este circo mediático que impede qualquer governação com seriedade. Com a imprensa e televisão a vigiar, especular e influenciar cada passo e decisão, é impossível governar. Os políticos servem para divertir o povo enquanto os verdadeiros decisores conduzem as coisas. Para isso é indispensável criar personalidades fictícias. Aliás, com o desprezo e insultos com que se tratam os dirigentes, eles têm de ser feitos de borracha. Se fossem pessoas verdadeiras não aguentavam a pressão. Esse é o nosso serviço.

DN - Quem são os verdadeiros decisores de que fala?

PW - Sei lá! Só me contratam para a ficção. Não trato do Governo e política. Apenas garanto que existe alguém a ocupar um lugar que nenhuma pessoa real conseguiria suportar.