“A justa ordem da sociedade e do
Estado é dever central da política. Um Estado, que não se regesse segundo a
justiça, reduzir-se-ia a um grande bando de ladrões, como disse (Santo) Agostinho
… A justiça é o objectivo e,
consequentemente, também a medida intrínseca de toda a política. A política
é mais do que uma simples técnica para a definição dos ordenamentos públicos: a
sua origem e o seu objectivo estão precisamente na justiça, e esta é de
natureza ética.” (Bento
XVI, Deus
Caritas est, nº 28 a).
Impressiona a glacial desvergonha
desaforada do psd e do cds com que publicitam, como se fora algo extraordinariamente
audacioso e benigno, uma futura apresentação de propostas para cobrar “taxas moderadoras”
para as mães grávidas, no caso do psd, que repitam o abortamento de um filho ou,
no caso do cds, para toda e qualquer mãe grávida que queira abortar seus filhos,
mesmo que se trate da primeira vez. Esta crueza da “maioria absoluta” que parece
assim pretender ocultar a sua perversa identidade sinistra revela pelo contrário
um maquiavelismo sádico.
De facto, estas organizações
partidárias que agora exercem o poder têm o dever estrito de garantir a justiça
reconhecendo e tutelando a igual dignidade de todo o ser humano em todas as fases
da sua existência, desde a sua concepção, ou estado unicelular, até à morte
natural. Sem este fundamento, isto é, o respeito do direito à vida, não existe nem
estado de direito nem democracia nem bem comum. De modo que os políticos que
detêm os poderes executivo e legislativo ao cumpliciarem-se com uma lei
profundamente e gravissimamente injusta, tendo eles a obrigação e a possibilidade
de a eliminar, tornam-se, lamento dizê-lo mas é a verdade dos factos,
criminosos cuja ferocidade faz empalidecer e praticamente desaparecer a das
organizações mafiosas - basta lembrar não só a quantidade de vítimas mas também
a qualificação eminentemente tenebrosa, atroz e desalmada dos assassínios perpetrados:
“Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto
provocado apresenta características que o tornam particularmente perverso e
abominável … A gravidade moral (= a injustiça) do aborto provocado aparece em
toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio e,
particularmente, quando se consideram as circunstâncias específicas que o
qualificam. A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a
vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca
poderia ser considerado um agressor, menos ainda um injusto agressor! É frágil,
inerme (indefeso, desarmado), e numa medida tal que o deixa privado inclusive daquela
forma mínima de defesa constituída pela força suplicante dos gemidos e do choro
do recém-nascido.” (João Paulo
II, Evangelium
vitae, 58).
Tudo isto que fica escrito,
juntamente com todas as outras coisas que não me tenho cansado de redigir e de
citar (por exemplo: O
Triunfo da Vida e Ao
Gólgota), mostra à saciedade, que não é devido nenhum respeito a
qualquer referendo ou “lei” ou promulgação emanadas de qualquer órgão político
que admita a ignóbil matança de inocentes. E muito menos que os execute através
dos serviços de saúde (!) do estado ou dos que com ele estão concubinados.
No entanto, mesmo para aqueles
que absurda e erroneamente consideram que o referendo apesar de não ter sido juridicamente
válido o tenha sido politicamente (Cf. A posição anfigúrica, à revelia da doutrina da Igreja, de D. José
Policarpo), como o demonstra argutamente a Dra. Isilda Pegado,
presidente da Federação Portuguesa pela Vida (cf Público, 07 de Junho de 2012, pág 47), a pseudolegislação
actual produzida pela anterior maioria não encontra nele suporte, constituindo
mais um abuso infame de poder ao financiar e subsidiar universalmente o
abortamento.
O problema do desemprego é seguramente
muitíssimo grave mas o principal problema social do país é o abortamento de
tantas crianças e se há razão para sair à rua esta é a primeira de entre todas.
Nuno Serras Pereira
10. 06. 2012