sábado, 14 de dezembro de 2013

O Pânico da Misericórdia - por Nuno Serras Pereira



14. 12. 2013
O título que encima este texto parecerá a muitos, senão mesmo a todos, totalmente espiclondrífico, uma vez que sendo a Misericórdia de Deus infinita, concomitantemente se crê que a confiança destemida n’Ela o deverá ser também. Por isso, a Igreja, mormente nos últimos 50 anos, não se cansa, num modo sempre crescente, de a anunciar e praticar. Isso é aliás, sem dúvida alguma, parte essencial e irrenunciável da sua Missão, enquanto prolongamento-presença de Jesus Cristo na história de todos os homens e do homem todo.

No entanto, têm sido esquecidas ou, pelo menos, relegadas para um esconso tão irrelevante e obscuro que não se dá por ele, outras verdades que são fundamentais para uma apreensão das Verdades de Fé, na sua rigorosa hierarquia (o que não significa, de modo nenhum, que qualquer delas seja insignificante ou supérflua). Esta será, porventura, uma das razões que tem levado sua Santidade o Papa Francisco I, a repisar, com uma insistência desusada, a existência do diabo, e a desmascarar as suas artimanhas pestíferas. É caso para dizer, apesar de alguns dizerem que o Santo Padre anda obcecado com o demónio, até que enfim, já não era sem tempo

Não saberei dizer se alguém concordará comigo, uma vez que fazê-lo parece ser uma impossibilidade “metafísica” (ou será meramente “existencial?), mas estou em que também faz falta uma pregação habitual sobre a Justiça de Deus e a possibilidade real da condenação eterna, isto é do Inferno. De facto, tenho deparado demasiadas vezes, ao longo da minha vida, com situações desconcertantes, absurdas, mesmo de uma enorme gravidade, diabólicas. Darei somente um exemplo para ilustrar o que quero significar. Um pai de família, casado e com filhos, já nascidos, leva a sua esposa, mãe grávida, ao “abortadouro dos arcos”. Interpelado pela Leonor aceita conversar. Continua contente e feliz apesar do que a Leonor lhe diz porque “Deus é misericórdia” e, portanto, não faz mal nenhum abortar seu filho “porque Deus perdoa”. Por estas e por outras é que S. Pio de Pietrelcina, mais conhecido por Padre Pio, revelava, ou sentenciava, “Eu tenho mais medo da Misericórdia de Deus do que da Sua Justiça. A Justiça de Deus é conhecida: sabe-se por que leis ela se governa e, se alguém peca e ofende a Justiça Divina, pode apelar à Misericórdia, mas se abusa da Misericórdia a quem poderá recorrer?”.

Se os Santos, como sempre ensinou o Papa Bento XVI, são os melhores intérpretes da Palavra de Deus, de Jesus Cristo, o Verbo de Deus feito carne, para nos Salvar, então será de toda a conveniência levar a sério esta sentença do Santo Padre Pio.

Uma medicina eficaz a que podemos recorrer é a de memorizarmos, meditarmos e rezarmos um Acto de Contrição bem feito. Há muitos anos encontrei um nas obras do P. Manuel Bernardes que me pareceu, como é, excelente. Mais tarde, porém, deparei com um outro, usado em outros países, que pela sua completude e concisão se me afigura que talvez seja ainda de maior proveito para as almas. É o seguinte: “Meu Deus, dói-me de todo o coração ter-Vos ofendido, e detesto todos os meus pecados, porque temo a perda do Céu, e os sofrimentos do Inferno; mas principalmente porque Vos amo, Meu Deus, que sois infinitamente bom e merecedor de todo o meu amor. Com o auxílio da Vossa Graça proponho-me firmemente confessar os meus pecados, fazer penitencia, e emendar a minha vida. Amen.”.

Um Santo Natal, na Graça de Deus, para todos.