In - Diário de Notícias - 07. 01. 2009
Não foi objecto de grande destaque recapitulativo, nos habituais balanços de fim de ano, o gravíssimo atentado contra a nossa língua que representou a ratificação do chamado Acordo Ortográfico, uma barbaridade cozinhada há 20 anos entre Portugal e o Brasil, nas costas dos PALOP. E, todavia, ainda a Assembleia da República não se pronunciou sobre a petição que lhe foi apresentada e já se aproxima das 100 000 (cem mil) o número de assinaturas nela recolhidas...
Alguns órgãos de comunicação social entraram em alvoroço moderado com a notícia de que no Brasil se estaria já a aplicar o Acordo Ortográfico a partir deste ano de 2009. Não vejo razão para esse alvoroço. As modificações que as bases do acordo introduzem na grafia brasileira são poucas ou nenhumas. Provavelmente nem os próprios brasileiros darão por elas. Ainda há dias uma personalidade brasileira declarava nunca ter usado o trema naquilo que escrevia...
Acontece que os mesmos órgãos de comunicação social não se interrogam suficientemente sobre as consequências de não ter havido entretanto qualquer ratificação do Acordo Ortográfico em Angola, ou em Moçambique ou na Guiné-Bissau. Nem consta que se tenham preocupado em esclarecer junto das autoridades respectivas quais são as intenções oficiais.
Quanto ao vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, que deveria anteceder a entrada em vigor do Acordo no espaço da língua, ninguém se questiona quanto à dimensão científica e técnica de um vocabulário que continua por elaborar e é duvidoso que alguma vez venha a sê-lo. E parece que ninguém sabe com clareza quem é que intervém na sua feitura.
Há poucos meses, também tinha sido alardeado com grande pompa que a grafia das actas das reuniões da CPLP e de outras manifestações oficiais luso- -brasileiras já iria ter lugar segundo as normas do famigerado documento, o que, entre nós, seria para já manifestamente ilegal. Mas do facto de, posteriormente, nenhum jornal ter noticiado que assim tenha sido, talvez possa deduzir-se terem ocorrido dificuldades diplomáticas, protocolares ou outras na gestão de tão confrangedores desígnios transatlânticos.
Ora o que é importante, de momento, e isto enquanto os responsáveis governamentais não vão fazer outra coisa na vida (o que se espera ocorra com a possível brevidade), é que Angola, Moçambique e a Guiné-Bissau continuem sem se prestar à ratificação e ao projecto de "unidade" ortográfica tão grotescamente confeccionado entre o Brasil e Portugal.
Agora que Portugal se demitiu vergonhosamente de defender a sua língua, esta, a língua portuguesa, tal como a escrevemos e falamos e tal como nos PALOP se escreve e fala, está dependente de estes países manterem essa sua posição de conservação da grafia oficial não alterada pelo Acordo Ortográfico. E disso depende também que não se cave um fosso trágico entre o nosso país e eles, afectando para cima de 50 milhões de seres humanos que falam e escrevem a língua portuguesa na sua dimensão luso-afro-asiática.
Por outro lado, pode ser que a crise, que deveria levar a que o Governo e muito em especial o Ministério da Cultura se abstivessem de fazer mais asneiras do que aquelas que têm feito em profusão imbatível, ajude a bloquear de vez a aplicação do Acordo Ortográfico. Mas com esta gente obstinada, nunca se sabe. Há quem apeteça o título de coveiro da língua e há quem não tenha a mínima consideração pelos problemas das famílias.
Simplesmente, numa época de escassez e de dificuldades financeiras e económicas de toda a ordem, que se fazem sentir cada vez com mais força em todas as áreas da vida, e se vão agravar ao longo de 2009 como toda a gente prevê, é de advertir que a adopção pelas editoras, quer de livros, manuais e dicionários escolares, quer de livros em geral, das regras do Acordo Ortográfico virá a contribuir ainda mais para a ruína do sector, para a perda de postos de trabalho e para a degradação das exportações. Isto, mesmo com os miríficos milhões, que nunca chegarão, que seriam destinados a apoiar a promoção das políticas da língua...
Só um governo de loucos, entregue à alegre inconsciência da sua própria retórica eleitoralista, é que persistirá na aplicação desta trapalhada trapalhona.
Alguns órgãos de comunicação social entraram em alvoroço moderado com a notícia de que no Brasil se estaria já a aplicar o Acordo Ortográfico a partir deste ano de 2009. Não vejo razão para esse alvoroço. As modificações que as bases do acordo introduzem na grafia brasileira são poucas ou nenhumas. Provavelmente nem os próprios brasileiros darão por elas. Ainda há dias uma personalidade brasileira declarava nunca ter usado o trema naquilo que escrevia...
Acontece que os mesmos órgãos de comunicação social não se interrogam suficientemente sobre as consequências de não ter havido entretanto qualquer ratificação do Acordo Ortográfico em Angola, ou em Moçambique ou na Guiné-Bissau. Nem consta que se tenham preocupado em esclarecer junto das autoridades respectivas quais são as intenções oficiais.
Quanto ao vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, que deveria anteceder a entrada em vigor do Acordo no espaço da língua, ninguém se questiona quanto à dimensão científica e técnica de um vocabulário que continua por elaborar e é duvidoso que alguma vez venha a sê-lo. E parece que ninguém sabe com clareza quem é que intervém na sua feitura.
Há poucos meses, também tinha sido alardeado com grande pompa que a grafia das actas das reuniões da CPLP e de outras manifestações oficiais luso- -brasileiras já iria ter lugar segundo as normas do famigerado documento, o que, entre nós, seria para já manifestamente ilegal. Mas do facto de, posteriormente, nenhum jornal ter noticiado que assim tenha sido, talvez possa deduzir-se terem ocorrido dificuldades diplomáticas, protocolares ou outras na gestão de tão confrangedores desígnios transatlânticos.
Ora o que é importante, de momento, e isto enquanto os responsáveis governamentais não vão fazer outra coisa na vida (o que se espera ocorra com a possível brevidade), é que Angola, Moçambique e a Guiné-Bissau continuem sem se prestar à ratificação e ao projecto de "unidade" ortográfica tão grotescamente confeccionado entre o Brasil e Portugal.
Agora que Portugal se demitiu vergonhosamente de defender a sua língua, esta, a língua portuguesa, tal como a escrevemos e falamos e tal como nos PALOP se escreve e fala, está dependente de estes países manterem essa sua posição de conservação da grafia oficial não alterada pelo Acordo Ortográfico. E disso depende também que não se cave um fosso trágico entre o nosso país e eles, afectando para cima de 50 milhões de seres humanos que falam e escrevem a língua portuguesa na sua dimensão luso-afro-asiática.
Por outro lado, pode ser que a crise, que deveria levar a que o Governo e muito em especial o Ministério da Cultura se abstivessem de fazer mais asneiras do que aquelas que têm feito em profusão imbatível, ajude a bloquear de vez a aplicação do Acordo Ortográfico. Mas com esta gente obstinada, nunca se sabe. Há quem apeteça o título de coveiro da língua e há quem não tenha a mínima consideração pelos problemas das famílias.
Simplesmente, numa época de escassez e de dificuldades financeiras e económicas de toda a ordem, que se fazem sentir cada vez com mais força em todas as áreas da vida, e se vão agravar ao longo de 2009 como toda a gente prevê, é de advertir que a adopção pelas editoras, quer de livros, manuais e dicionários escolares, quer de livros em geral, das regras do Acordo Ortográfico virá a contribuir ainda mais para a ruína do sector, para a perda de postos de trabalho e para a degradação das exportações. Isto, mesmo com os miríficos milhões, que nunca chegarão, que seriam destinados a apoiar a promoção das políticas da língua...
Só um governo de loucos, entregue à alegre inconsciência da sua própria retórica eleitoralista, é que persistirá na aplicação desta trapalhada trapalhona.