Todos nós, pelo menos os mais velhos, estudámos a sua vida e em especial a batalha de Aljubarrota. Soubemos assim que se opôs firmemente à vontade do rei e que num ímpeto se decidiu a guerrear o inimigo em solo pátrio com aqueles que o quisessem seguir. Não obstante a desproporção, cerca de trinta mil castelhanos contra seis mil portugueses, a batalha em Aljubarrota foi por nós vencida, não somente devido à genialidade e bravura de D. Nuno, mas principalmente em virtude da confiança que ele depositava nos auxílios e socorros Divinos.
Hoje, com excepção da “clínica” dos Arcos, (abortadouro castelhano que mata portugueses em plena capital nacional), não corremos, assim se afigura a muitos, o risco de vermos usurpada a independência. Mas nem tudo o que se representa no nosso pensamento se torna, por isso mesmo, verdadeiro. E a realidade é que estamos sendo, desde há muito, salteados por inimigos subtis, insidiosos, lisonjeiros, sedutores que nos têm sugado a alma, invadido o pensamento, manipulado as emoções, tresvariado a afectividade. Não serão os exércitos castelhanos mas são as ainda mais poderosas e imensas forças armadas, da mentira e propaganda pérfida, utilizadas por partidos políticos, órgãos e instituições de estado, grandes meios de comunicação social, sectores da cultura dominante. As nossas derrotas e catástrofes têm nome. Chamam-se divórcio, contracepção, “educação” sexual nas escolas, fecundação artificial, aborto, experimentação letal em pessoas humanas, na sua fase embrionária, “casamento” entre pessoas do mesmo sexo, eutanásia.
Perante estas forças ingentes podemos ter a atitude de muitos contemporâneos de D. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável (não, Santo e Condestável, mas Santo enquanto Condestável e Condestável que era Santo). Uns compactuaram, como grande parte da nobreza, com as leis injustas de então, esquecendo o direito natural, procurando garantir a salvaguarda de alguns bens. Outros, como o rei D. João, eram de parecer que se recorresse à manha através de manobras de diversão, no campo adversário. Porém, para D. Nuno era evidente que tudo isso estava destinado ao fracasso e à derrota. Por isso, teve a bravura de avançar sozinho. E o seu exemplo arrastou a muitos, que em lugar de se submeterem a mandos que embora viessem do alto não vinham do Altíssimo, tiveram a audácia do impossível humano colocando-se nas mãos da Omnipotência Divina. E como os impossíveis dos homens são os possíveis de Deus, alcançaram o que importava.
Actualmente, tem-se a impressão de que a generalidade dos membros da Igreja em Portugal, mesmo da Hierarquia, somos caguinchas, cagarolas, parecendo agir mais de acordo com a nobreza e realeza de então do que com São Nuno. Por isso, a sua canonização é providencial. Nele encontramos um modelo a contemplar e a seguir e um amigo intercessor que implora a Deus para que nos conceda o discernimento verdadeiro, a virtude da fortaleza e o amor dos mais pobres de entre os pobres – as crianças nascituras.
Nuno Serras Pereira
25. O4. 2009