1. O mínimo insignificante rejeitado, que é tido praticamente como inexistente, transformou-se na pedra de toque da Fé. Na atitude e comportamento para com ele e para com o modo como os outros o tratam verifica-se a verdade ou a falsidade, a pureza ou a corrupção da Fé em Jesus Cristo: “… qualquer ameaça à dignidade e à vida do homem não pode deixar de se repercutir no próprio coração da Igreja, é impossível não a tocar no centro da sua fé na encarnação redentora do Filho de Deus …” (João Paulo II, Evangelium Vitae, 3).
2. O que se passou na Universidade de Notre-Dame, nos EUA, é um exemplo eloquente disso mesmo. Contrariando a decisão, tomada por todo o Episcopado, de não conceder “púlpito” e não honrar personalidades, em particular políticas, que advoguem e promovam o aborto e a sua liberalização, o reitor, um sacerdote católico, convidou o presidente Obama, que inaugurou o seu “pontificado” presidencial declarando guerra às crianças nascituras, para palestrar e receber o doutoramento honoris causa em Direito! A condição da possibilidade da concessão deste grau académico a um personagem que renega e atropela os fundamentos do mesmo Direito, a saber, a tutela da igual dignidade de todo o ser humano, consiste na cegueira provocada pela conspurcação da própria Fé: “Como podeis acreditar vós que buscais a glória uns dos outros e não procurais a glória que é só de Deus?” (Jo 5, 44). Esta alienação, na sua demência, vira-se contra os verdadeiros crentes, como se viu na prisão do Padre Norman Weslin (http://www.youtube.com/watch?v=iiz4tfjSuPc) e de muitos outros. Recorrendo ao pretexto de invasão de propriedade privada – o campus da universidade católica (?) - a polícia prendeu grupos de pessoas que pacificamente rezavam o rosário pelas crianças nascituras. O corpo policial é uma das expressões do poder de coação do estado. A sua legitimidade consiste na protecção dos inocentes, dos fracos e dos indefesos contra os malvados, isto é, na justiça, e nunca no respaldo dos agressores prendendo os defensores dos inocentes.
3. Dar, consciente e livremente, a Sagrada Comunhão a quem publicamente através do seu voto, de campanhas ou das suas políticas coopera formalmente com o mal intrínseco do aborto provocado é imensamente mais grave do que transgredir uma regra canónica. É pôr-se no lugar de Deus, rejeitando formalmente a Sua lei. É substituir-se a Ele, ter a veleidade de O emendar. É ter a pretensão presunçosa de que quem faz a Igreja e ultimamente decide das coisas Santas e Divinas são os homens, mesmo que hierarcas. É a inversão demoníaca da ordem estabelecida por Deus. É a soberba luciferina do não obedecerei. É a afirmação arrogante do consequencialismo e do proporcionalismo sobre a Lei Moral Natural e sobre a Revelação. É a obediência da Fé substituída pela mais perversa das ideologias. É a negação total da Caridade para com Deus e para com o próximo. É o grande escândalo que conduz multidões ao pecado e à corrupção da sua Fé. É a banalização do sacrilégio.
Deus não tem ouvidos para grandiloquentes consagrações palavrosas quando são assim contraditadas em directo pela comunicação social.
Os nossos irmãos, mínimos, tidos como insignificantes, sistematicamente rejeitados, dados como inexistentes, não-pessoas, transformaram-se na pedra de toque da Fé.
À honra de Cristo e de seu servo João Paulo II. Amen.
Nuno Serras Pereira