domingo, 18 de outubro de 2009

Um Povo Educado e Mobilizado


1. Ontem às cinco horas da tarde o noticiário da Rádio Difusão Portuguesa (RDP) um correspondente reportava em directo uma manifestação contra o aborto em Madrid; à mesma hora o noticiário da Rádio Renascença (RR) limitava-se a fazer uma breve referência a uma manifestação contra a “interrupção voluntária da gravidez”[1] na capital espanhola e de uma outra em frente à embaixada do mesmo país em Lisboa, repetindo de novo “interrupção voluntária da gravidez”.

Querendo saber mais, consultei o ABC online que estimava, por essa altura, o número de manifestantes em um milhão e quinhentas mil pessoas enquanto as autoridades de Madrid adiantavam o número de um milhão e duzentas mil. Mais tarde, às 18h e 40m recebi de Madrid um telefonema eufórico da Sofia e da Joana, que tinham ido tomara parte nesse acontecimento, comunicando-me que tinha sido confirmada a presença de dois milhões de participantes. Estavam maravilhadas não só com quantidade de pessoas amantes e defensoras da vida, com o numerosíssimo clero e religiosos, mas também com as intervenções e discursos que tinham sido proferidos, para usar a expressão delas, sem papas na língua.

2. a) É verdade que a Igreja em Espanha tem nalguns sectores não poucos problemas, mas em contrapartida tem uma série de Bispos excelentes. Esses Pastores têm, sistematicamente, quer pela palavra preparada, competente, clara, incisiva, rigorosa, continuada, insistente quer pelo exemplo corajoso, constante, audaz, magnânimo, despojado de respeitos humanos, humanitário, caridoso.

b) Os documentos da Conferência Episcopal e em geral as Pastorais de inumeráveis Bispos são muitíssimo bem preparados, apresentando a verdade integral, esclarecendo e formando as consciências sem ambiguidades. Lê-los é uma lufada de ar fresco, uma nutrição substancial e uma alegria jubilosa para a alma. As homilias, conferências e discursos não evitam os temas difíceis, politicamente incorrectos, contrários à mentalidade reinante que repugna ouvi-los; pelo contrário abordam-nos com perseverança.

c) Não temendo descer à rua, como generais que dão o exemplo para encorajar e arrastar as tropas, Cardeais e Bispos manifestaram-se publicamente por diversas vezes refazendo e consolidando assim um “exército” que se encontrava desagregado e desanimado. Os frutos estão à vista com a marcha em defesa da vida que ontem saiu à rua em Madrid. Contrariamente ao que o jornal Público de hoje noticiou, os Bispos estiveram presentes, eles que através de Notas Pastorais tinham convocado os fiéis para este evento deram de novo o exemplo, pois quando os Generais querem vencer batalhas não ficam nos palácios mas saiem a alentar e a comandar as tropas.

d) De uma coisa podemos estar certos, no país vizinho quer os católicos quer os não católicos sabem exactamente o que a Igreja ensina, e as razões dessa doutrina, e os fiéis conhecem o que devem fazer para testemunhar a sua Fé.

Nuno Serras Pereira

18. 10. 2009


[1] No número 58 da encíclica Evangelium vitae o Papa João Paulo II ensina: Diante de tão grave situação, impõe-se mais que nunca a coragem de olhar frontalmente a verdade e chamar as coisas pelo seu nome, sem ceder a compromissos com o que nos é mais cómodo, nem à tentação de auto-engano. A propósito disto, ressoa categórica a censura do Profeta: «Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que têm as trevas por luz e a luz por trevas» (Is 5, 20). Precisamente no caso do aborto, verifica-se a difusão de uma terminologia ambígua, como «interrupção da gravidez», que tende a esconder a verdadeira natureza dele e a atenuar a sua gravidade na opinião pública. Talvez este fenómeno linguístico seja já, em si mesmo, sintoma de um mal-estar das consciências.”