segunda-feira, 21 de junho de 2010

No que dão exemplos

Durante 24 anos morei ao lado, a uns 15 metros, da Igreja Paroquial de S. João de Brito, no bairro de Alvalade. Por dentro a Igreja estava pejada de imagens de Anjos da autoria da Carvalheira. Um enorme Sagrado Coração de Jesus, bem como uma não menos grande imagem do Coração Imaculado de Maria, Senhora Nossa de Fátima, da mesma escultora, comunicavam uma bondade imensa e uma extraordinária sensação de amor e protecção.

A fachada do Templo, que no dizer do Conde Canto e Castro parecia um ferro de engomar levantado, tinha umas grandes escadarias que serviam de acesso ao mesmo. Segundo os sacristães, elas eram umas das razões porque havia ali tantos casamentos, cabiam todos na fotografia sem taparem os rostos alheios. Diante e ao redor delas um largo passeio onde jogávamos futebol, ao “matas”, ao lenço, etc. Nas noites de Verão ali se chegavam a reunir 120 jovens. Sentados nas escadarias cantava-se. Uns tocavam violino outros violoncelo, estes flauta, aqueles viola. Chamávamos a este grupo família porque a amizade, a união e a alegria eram muitas.

Mas enfim, como não há bela sem senão, naquelas escadarias também se fizeram algumas asneiras. Infelizmente, como seria de esperar, creio que fui o primeiro a subi-las e a descê-las com uma mota - Honda 90 -, estando a Igreja fechada.

Algum tempo depois um amigo de um dos meus irmãos mais novos, um não crente, que não tinha tido educação religiosa, adquiriu uma Gilera. Ele era um excelente condutor, dado a tropelias velozes e acrobáticas, de modo que resolveu “imitar-me”. Era bem mais novo do que eu e não possuía sequer aquele resto de consciência do Sagrado que mesmo um apóstata, como eu era, ainda conserva. Por isso, fê-lo à hora da Missa; e não se limitou a trepar mas, entrando pelo largo portão aberto, prorrompeu pela porta esquerda do guarda-vento, acelerou, ao fundo, paralelo ao altar, e saiu pela porta oposta, provocando grande escândalo e indignação nos fiéis presentes à celebração, e enorme gáudio nos seus admiradores. Hoje é um administrador de muito sucesso e grandemente invejado.

A memória deste evento tem-me servido de advertência para as consequências possíveis e inesperadas, mesmo que improváveis, dos nossos actos públicos, quer para o bem quer para o mal.

Todas estas recordações afloraram ao ler a notícia de que mais de oitocentos Rabis, nos EUA, pediram perdão ao povo norte-americano porque dois senadores judeus, Liberman e Levin estão envolvidos na legislação, que classificam de abominável, que pretende possibilitar a homossexualidade assumida publicamente no serviço militar.

Ora aqui temos uma consequência positiva do exemplo que a Igreja Católica tem dado com os seus pedidos de perdão. Aqui, como no relato anterior, os nossos irmãos mais velhos, os judeus, vão mais longe, mas desta vez no sentido positivo, do que uma grande parte dos membros da hierarquia da Igreja. Afinal, ainda não ouvimos os senhores Bispos pedindo perdão ao povo português pelos políticos católicos que se cumpliciaram com as “leis” iníquas, injustas e detestáveis do aborto, do pseudo-casamento de sodomitas, do divórcio sem culpa, da procriação artificial, da experimentação assassina em pessoas humanas no seu estado embrionário, etc.


Nuno Serras Pereira

21. 06. 2010