O semanário sol traz hoje a primeira parte de uma reportagem-entrevista com o estripador de mulheres de má-vida. Nela podemos ler horrorizados a descrição pormenorizada e macabra que o mesmo faz, de “consciência tranquila”, dos crimes cometidos, a que ele chama limpezas da sujeira, “culpabilizando” simultaneamente, numa flagrante racionalização, a sua mãe. Não se compreende que assassínios tão hediondos, perpetrados por um homicida confesso, cujas declarações são em tudo coincidentes com as investigações da polícia, possa prescrever…
Mas o que mais espanta não é isso. A estupefacção maior advém de que os relatos de matadores de crianças nascituras, tão ou mais tenebrosos do que este, realizados com frieza e distância psicopáticas muito semelhantes (facilmente se encontra na Inter-rede relatos de médicos abortadores que testemunharam perante tribunais, nos U. S., os “procedimentos” dessa “arte”), nunca, mas mesmo nunca, sejam notícia ou objecto de reportagem e de escândalo. Pelo contrário, esses homicidas péssimos e os seus fautores são entrevistados - não na qualidade de criminosos mas como pessoas credíveis e merecedoras de atenção e seguimento -, por tudo quanto é comunicação social inclusive católica, e promovidos a lugares de destaque. É totalmente absurdo, por exemplo, que um estripador confesso de crianças nascituras, isto é, um assassino violento de pessoas, no seu estado de maior vulnerabilidade e de total inocência, como Miguel Oliveira da Silva tenha sido nomeado presidente do conselho nacional de ética para as ciências da vida (CNECV) e seja convidado da Rádio Renascença perorar sobre a defesa da vida. Propiciador desta besta-fera (a expressão é do P. António Vieira, para designar pessoas cruéis, bárbaras ou selvagens) é, entre outros, o presidente da república que ao promulgar a “lei” iníqua e injusta proporcionou os meios para que mais de sessenta mil crianças tenham sido “legalmente” esquartejadas com o patrocínio do estado, desde 2007. Pelo que não me admiraria nada que um dia um estripador prescrito venha a ser nomeado presidente do CNECV ou mesmo eleito presidente da república, que já foi Portugal.
Creio que foi no mesmo jornal que vi uma adversão contra a violência doméstica com a fotografia, a toda a página, de um mulher ferozmente espancada e ferida até à morte. Fomos nos últimos tempos avisados de que viria aí uma campanha chocante para ajudar a pôr um ponto final, de vez, na violência doméstica de modo a que não mais aconteça a morte matada de 14 mulheres, como sucedeu no ano transacto. Muito bem. Mas é caso para perguntar, se é tão eficaz e necessária uma publicitação desse género porque não se faz o mesmo para proteger as, não já 14, mas vinte mil crianças nascentes, a maioria delas do sexo feminino, que são raivosamente escangalhadas e despedaçadas todos os anos. Esta fereza doméstica é bem mais intensa e furibunda.
Acresce que a iracúndia doméstica sobre crianças, já nascidas, por parte das mulheres, e também a exercida sobre os anciãos é mais vasta e grave, bem como o furor “doméstico” entre pessoas do mesmo sexo, que vivem sodomiticamente juntos. Mas destas coisas, é claro, o melhor é ignorar, não se venha a conhecer a essa coisa horrível que é a verdade…
NOTA BENE: No texto anterior, intitulado “Mas que Inferno!” houve quem, para minha grande surpresa, supusesse que eu advogava que quem não gostasse de Bach iria para o Inferno. Ora o ponto não era evidentemente esse, mas sim que uma mesma causa pode provocar efeitos opostos, dependendo estes das disposições sobre quem é exercida. Santa Catarina de Génova é muito clara quando diz que o Amor ardente de Deus, ou o Amor ardente que Deus é, para uns é Céu, para outros Purgatório e para outros Inferno.
Nuno Serras Pereira
02. 12. 2011