domingo, 22 de janeiro de 2012

O Ateísmo Existe? (E Deus?) - por Professor José Maria C. S. André

In «Deus na Universidade – O que pensam os universitários portugueses», iniciativa de um Fórum Interdisciplinar de Professores (FIP) da Pastoral Universitária de Braga; Editora Fronteira do Caos, 2011.
ISBN 9789898070685


Para surpresa (ou alívio) dos ateus, José Miguel Pero-Sanz (1) demonstra cuidadosamente que o ateísmo não existe. Terá razão? Prefiro deixar a minha opinião para o fim.

Um motivo para suspeitar que o ateísmo é um pecado impossível é a Bíblia praticamente não falar dele, quando nela encontramos um elenco completíssimo de faltas e desvios de toda a ordem. Como explicar tal lacuna, se o ateísmo existisse? Porque, de facto, quase toda a Bíblia ignora o ateísmo, à excepção de umas notas, surpreendentemente concisas e moderadas: «diz o insensato no seu coração: Deus não existe!» (2).

A nossa sociedade confundiu-se, a ponto de alguns defenderem uma impossibilidade? Ou estamos perante uma clamorosa omissão bíblica? Os contrastes extremados têm habitualmente origem num paradoxo ou num equívoco. Na minha opinião é isso que acontece, mas prefiro que cada um julgue por si.

Primeira pista: enquanto o ateísmo propriamente dito é sistematicamente ignorado pela Bíblia, a idolatria está presente em toda a parte (3). Que quer dizer isto?

Supondo que Deus exista, Ele é (por definição) o Valor supremo. Ora, nenhum ser humano pode prescindir de ter um Norte, de estabelecer uma Preferência acima de todas as outras, em função da qual organiza todas as decisões. Para que o exercício da liberdade não seja totalmente privado de significado não bastam os objectivos de segunda ordem, que remetem para uma opção mais fundamental, é preciso que essa finalidade essencial, que orienta toda a vida, tenha um valor absoluto. Por outras palavras, se alguém estiver convencido de que a sua vida não tem um farol validamente absoluto, pode tirar a conclusão em termos existenciais: «todas as minhas decisões são arbitrárias, sou irrelevante, nada tem sentido; corro para nada». Em contrapartida, quem reconhecer um Valor absoluto, afirma (por definição) que Deus existe.

Não se trata agora de saber se aquilo a que se atribui um valor absoluto é digno de tão grande apreço, ou é um falso absoluto. O ponto é que não é possível rejeitar a própria noção de absoluto sem comprometer radicalmente o homem (4). O lugar máximo dos valores humanos pode ser Deus ou qualquer «deus», mas não pode estar vazio, porque é esse cume que preside e dá significado a todas as escolhas.

Quando o objectivo máximo de uma pessoa é um deus, com minúscula, não temos o ateísmo mas a idolatria. Portanto, a alternativa a Deus não é o ateísmo, a alternativa situa-se entre o verdadeiro Deus e um falso deus ― entre Deus e a idolatria: por isso a Bíblia ignora o ateísmo e critica longamente a idolatria.

O ateísmo propriamente dito, que acarreta a confissão do vazio da própria liberdade, pode chegar a dar-se? Alguém pode, com sinceridade, declarar-se tão desorientado que não reconheça nenhum valor absoluto? Haverá algum marxista tão convicto que declare sinceramente que nada distingue a justiça da injustiça, a não ser um fatalismo ideológico que manipula a consciência das pessoas (5)? É que, ainda que a convicção de reconhecer a verdade fosse o produto irracional das circunstâncias externas, tal convicção não deixaria de se dar. Que sentido tem, então, afirmar o ateísmo e, ao mesmo tempo, estar intimamente convencido de que há um valor absoluto?

Marx afirma que «a crítica da religião (...) faz com que o homem se torne para o próprio homem o Sol real» (6). Admitamos que sim, que o Ser Supremo é o homem (pelo menos para o próprio homem, como diz Marx ironicamente). Mas nesse caso haveria Deus ― pelo menos na opinião do próprio homem. O drama é que, depois de afirmar que o homem é o ser supremo, negar que Ele existe é cair no grau mínimo de consideração por si próprio. O problema do ateu é ter um deus que não passa de uma completa ilusão: tão completa que, por exemplo, segundo Marx, nem o sujeito que se auto-ilude é real! Em primeiro lugar, não é o indivíduo real que pensa que constitui o espírito absoluto (7), aliás o indivíduo isolado, que «é apenas um átomo social», não é nada, a tal ponto que a «vida individual e a vida social não são distintas» (8). Em segundo lugar a humanidade, no seu conjunto, não passa de interacções sociais (9), algo fortuito e sem personalidade, porque «a essência humana não possui nenhuma realidade verdadeira» (10). O homem que se julga o ser supremo está supinamente iludido, defrauda-se a si próprio numa fanfarronada desesperada: «Eu não sou nada e teria de ser tudo» (11).

Julgando arrancar ao homem a sua máxima ilusão, o ateísmo oferece-lhe a máxima desilusão. Em nome da verdade? Nem isso, porque justamente se trata de negar que alguma verdade real possa dar sentido à vida. A proclamação do ateísmo entende-se a si própria como um clamor inútil de infelicidade ―de uma infelicidade extrema e inultrapassável―, grito de quem toma consciência de que tudo é horrível e que não há opiáceo que chegue para diluir o fel da tristeza. É neste contexto que Marx explica a religião como tentativa de fuga: «a religião é um protesto contra a infelicidade. (...) A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, pois é a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo» (12).

A mágoa do ateísmo é demasiado séria para se curar apenas com argumentos de lógica, mas não deixa de ser um mistério que a angústia de pensar que o Absoluto não existe se possa apresentar como tão absoluta. Porque o ateu não conseguiu afinal eliminar de si a convicção do absoluto, apenas trocou o verdadeiro Deus por um absoluto falso e terrivelmente misterioso, que é a completa antinomia do Absoluto Bem.

Encontramos muitos tipos de idolatria, conforme o ídolo que se tenha erigido no lugar do Deus verdadeiro. Para alguns, deus é o ventre, para outros o dinheiro ou o sexo, para outros o poder ou a imagem (13), a raça ou o país, e há ainda fetiches vários e muitas modalidades de idolatrias novas.

O que não está nas mãos do homem é prescindir de uma referência suprema, absoluta (e por isso mesmo única), que justifica todos os outros bens, por definição relativos, função daquele que é a referência. Podemos fugir a consciencializar a nossa escala de valores, mas só até ao dia em que não houver outro remédio que estabelecer a preferência máxima. Nem é preciso que nos perguntem «a bolsa ou a vida?». O sonho de querer ao mesmo tempo «Deus e o dinheiro», ou quaisquer dois máximos ex æquo não resiste à prova do tempo. Mais tarde ou mais cedo, as duas escolhas apresentam-se em alternativa e tem de se dar o primeiro lugar a uma delas.

Para citar um conhecido ateu de inspiração marxista: «Cada um tem de escolher a sua moral [o seu absoluto, diria eu] e a pressão das circunstâncias é tal que não pode deixar de escolher uma» (14).

O problema é que, dizendo que não há realmente nenhum absoluto digno de confiança, os ateus caem nos desesperos mais patéticos. O homem seria uma «paixão inútil», segundo Sartre; ou um «absurdo», segundo Albert Camus; ou «um ser feito para a morte, um ser destinado ao nada», se quisermos interpretar esta frase de Martin Heidegger em sentido ateu.

Claro que estas declarações não se entendem a si próprias como igualmente absurdas ou inúteis: quem as escreve revê as gralhas com todo o cuidado e esforça-se para que a mensagem produza o máximo efeito no público. No fundo, talvez as palavras não afirmem o que parecem. Talvez estes gritos angustiados, lançados à toa, sejam ―a seu modo― a demonstração de que todo o homem anseia por encontrar o verdadeiro Absoluto, que valha todos os sacrifícios e que, uma vez alcançado, seja a felicidade autêntica e sem mancha.

Verdade seja dita, nem sempre a posição dos ateus contemporâneos é tão dolorosa como a clareza consciente do ateísmo teórico, a tal ponto que muitos ateus têm dificuldade em explicar realmente a opinião que defendem.

Por outro lado, parece-me que Deus sofre de um grave problema de imagem. Quando digo que, na nossa sociedade mediática, Deus tem um problema de imagem não estou a atribuir-Lhe a culpa, nem sequer procuro saber quem seja o culpado, limito-me a constatar. Nos dias que correm, a imagem de Deus tem aspectos positivos e, digamos assim, aspectos menos bons.

Comecemos, como é hábito, por referir as facetas favoráveis. Deus tem uma imagem de competência, de extraordinária eficiência e de inteligência insuperável. Nenhum cientista imagina um Deus distraído, esquecido por uns instantes de um pequenino electrão, perdido nos confins do Universo. Nem põe a hipótese de que, por causa de uma certa modorra divina, os astros se atrasem ou se desviem, por pouco que seja, das suas órbitas perfeitas. A capacidade intelectual e a eficiência de Deus gozam, hoje em dia, de um prestígio tão generalizado que ninguém se assusta por haver milhões e milhões de átomos que constituem milhões e milhões de moléculas, que formam milhões e milhões de estruturas inorgânicas e de células vivas, que formam milhões e milhões de seres vivos, que habitam milhões e milhões de habitats ecológicos... Deus tem uma reputação de competência à prova de qualquer desafio. Inclusivamente, todos sabemos que «milhões de milhões» é apenas uma maneira de falar: trata-se de milhões de milhões, de milhões... de muitos mais milhões de milhões, ...muito para além de qualquer número digerível pela mente humana.

Infelizmente, a imagem de Deus também tem um ponto fraco. Muitos pensam que tamanha perfeição é insuportável. Reconhecem porventura que Deus tem sempre razão, mas nem os povos germânicos suportam o rigor de tão exasperante rectidão moral. O conto de Eça de Queiroz sobre a perfeição (15) descreve como, ao fim de pouco tempo, um paraíso de Primavera e ninfas perfeitas se torna mais inaguentável que a violência de uma batalha campal ou o pânico de um naufrágio, a ponto de já nem o heróico Ulisses suportar a beleza ideal e inexcedível das perfeitíssimas deusas.

Deixando a literatura e voltando ao verdadeiro Deus, o problema é que a conversa com Ele é demasiado desigual: nada temos a apontar-Lhe, mas Ele, por mais compreensão e eufemismos que empregue connosco, só encontra incongruência e mal. Tinha-te dito... (pois). A tua atitude tem lógica?... (o ponto de interrogação não transforma a frase numa pergunta). Outra vez!... (para onde fugir?). Ainda?!... (...). É assim que respondes à minha simpatia irrepreensível?... (socorro!).

Talvez faça justiça à posição dos meus amigos ateus afirmando que eles não rejeitam propriamente o Absoluto, nem têm dificuldade em compreender que a definição de Absoluto inclui os atributos de Único, Omnipotente e Perfeito. A dificuldade é conviverem com Ele. Por outras palavras, esperariam que o conceito de Deus incluísse os atributos de Simpático e Divertido. Chegados a este ponto, estou em condições de dar a notícia: o receio não se confirma, não há razão para ter medo da frieza de Deus!

O Papa João Paulo II iniciou o seu pontificado com essa série de gritos que ficou célebre: Não tenhais medo! Não tenhais medo de escancarar as portas a Cristo, ...de Lhe abrir os vossos corações, ...as portas dos ambientes sociais e profissionais, ...a porta das vossas famílias! (16)... Escreveram-se livros sobre aqueles não tenhais medo! e ele próprio se citou muitas vezes, reconhecendo que anunciava ao mundo contemporâneo o que este precisava de ouvir (17). Julgo que uma das preocupações do actual Papa, Bento XVI, é reforçar a mensagem. Pouco antes de chegar a Portugal, desafiou-nos com aquela passagem de S. João, «quem tem medo não ama plenamente» (I Jo 4, 18): «S. João diz-
-nos que este amor perfeito afasta o medo. E por isso digo a todos vós: Não tenhais medo! Quantas vezes ouvimos estas palavras nas Escrituras! Elas foram dirigidas pelo Anjo a Maria na Anunciação, por Jesus a Pedro, quando o chamou a ser um discípulo, e pelo Anjo a Paulo na vigília do seu naufrágio. A quantos de vós desejam seguir Cristo (...) digo: não tenhais medo! (...) Não tenhais medo, mas alegrai-vos com o seu amor por vós; confiai nEle, respondei ao seu convite a ser discípulos, encontrai alimento e ajuda espiritual nos Sacramentos da Igreja. (...) Não tenhais medo de ser amigos íntimos de Cristo» (18). No Santuário de Fátima voltou a insistir no «não tenhais medo!» (19).

A primeira Encíclica de Bento XVI, intitulada «Deus é Amor», é todo um programa (a primeira Encíclica de um Papa chama-se «programática» porque estabelece o rumo do pontificado) centrado em proclamar que Deus é um amante apaixonado, com toda a beleza e a loucura de um verdadeiro amante. O Papa descreve as duas facetas do amor ―o amor como atracção (gostar do outro) e o amor como entrega (capacidade de sacrificar-se pelo outro)―, para concluir que um amor autêntico tem ambas as dimensões e que o amor de Deus por nós é o mais completo que pode haver. Ou seja, Ele não apenas Se entrega por nós e nos perdoa, mas gosta mesmo de nós. Sente-Se atraído por nós, acha-nos interessantes, divertidos, encantadores, originais, gosta de nos ouvir, aprecia-nos tal como somos... Não é para menos, o entusiasmo com que o Papa define o eixo da vida cristã com aquela expressão da primeira carta de S. João: «nós conhecemos e acreditámos no amor que Deus nos tem». É essa a nossa fé. Sabemos que Deus não é o rigor frio e inatingível de uma norma, mas o Amor Absoluto, arrebatado, surpreendente, feliz, delicadíssimo. E ainda Omnipotente, Único, Sabedoria suprema, Beleza infinita, Plenitude. Bento XVI sublinha: não está a falar de um Deus que nos «tem» amor, mas de um Deus que «é» Amor.

Não vale a pena ter medo, ainda que amar seja pouco seguro. Uma história de amor é necessariamente uma viagem imprevisível e sem cautelas. Acolher o outro e ligarmo-nos definitivamente a ele é rumar ao desconhecido, embarcar numa aventura sem plano. Em certo sentido, é uma loucura. Digo isto sobretudo por Nosso Senhor, porque Ele é demasiado imprudente. Alguma vez estive a ponto de O avisar lealmente, na oração. Desisti, porque não é por falta de informação que Deus Se comporta assim connosco, mas confesso uma imensa admiração pela sua Coragem.

Também admiro a ousadia dos Santos, que todos os cristãos se esforçam por imitar, porque aproximar-se do Amor tem os seus perigos. «(...) viver com Deus: esta é a arriscada segurança do cristão. (...) Deus ouve-nos, está pendente de nós (...). Mas viver com Deus é indubitavelmente correr um risco, porque o Senhor não se contenta com partilhar: quer tudo. E acercar-se um pouco mais a Ele é estar dispostos a uma nova conversão, a uma nova rectificação, a escutar mais atentamente as suas inspirações, os santos desejos que faz brotar na nossa alma, e a pô-los em prática» (20). Mas vale a pena.

Este meu testemunho faz lembrar Santo Anselmo de Canterbury (1033-1109). Em rigor, o seu célebre argumento (hoje conhecido como «argumento ontológico») não demonstra propriamente a existência de Deus, mas demonstra que o ateísmo é impossível, isto é, que um homem sincero tem de reconhecer abertamente que Deus existe (21). Se o número de palavras deste ensaio não estivesse limitado, completaria agora o trabalho de Santo Anselmo, porque compreendo que falar a alguém de Deus é o maior serviço que podemos prestar aos nossos semelhantes. No entanto, ao acabar a palavra escrita não se esgota a palavra oral, mais concretamente a oração, para que o próprio Deus Se apresente diante daqueles que estimo. Quem me dera que ―talvez partindo deste raciocínio de Santo Anselmo― todos descobrissem que afinal o ateísmo não existe em sentido estrito e que nenhuma idolatria se compara à Alegria sem fim, maior que a qual nada pode ser pensado (22).



José Maria C. S. André

NOTAS

(1) JOSÉ MIGUEL PERO-SANZ, El Ateísmo Hoy, Editorial Magisterio, Madrid, 1975.
(2) Ps 14 [Vg 13], 1; Ps 53 [Vg 52], 1 (cf. também Ps 10 [Vg 9], 4) e sobretudo Sap 13, 1 e Rom 1, 20 e ss.
(3) Contabilizei 155 referências explícitas à idolatria, no conjunto do Antigo e do Novo Testamento. A palavra «ateísmo» não aparece uma única vez em toda a Bíblia, nem qualquer palavra que se possa considerar sinónima. As referências directas à negação de Deus são as que se enumeraram na nota anterior.
(4) Também porque «a noção de dignidade humana encontra a sua fundamentação teórica e a sua inviolabilidade numa ontologia metafísica, isto é, numa filosofia do absoluto» (ROBERT SPAEMANN, Das Natürliche und das Vernünftiche, Piper and Co., Munique, 1987, p. 122).
(5) «Ninguém está mais longe que eu, que concebo o desenvolvimento da formação económica da sociedade como um processo histórico-natural, de atribuir ao indivíduo a responsabilidade de relações de que ele é socialmente uma criatura, ainda que subjectivamente se considere muito acima delas» (Karl Marx, Das Kapital, vol. I, prefácio à 1ª edição, in Karl Marx - Friedrich Engels - Werke, vol. 23, Dietz Verlag, Berlim, 1968, p. 16; em formato electrónico em www.mlwerke.de/me/me23/me23_011.htm.
(6) Karl Marx, Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie. Einleitung, in Karl Marx - Friedrich Engels - Werke, vol. 1, Berlim, 1976, p. 379; em formato electrónico em www.mlwerke.de/me/me01/me01_378.htm; parece que Marx tomou esta frase de Feuerbach.
(7) Cf. Karl Marx, Die heilige Familie oder Kritik der kritischen Kritik ― gegen Bruno Bauer und Kunsorten, in Karl Marx - Friedrich Engels - Werke, vol. 2, Dietz Verlag, Berlim, 1972, p. 90; em formato electrónico em www.mlwerke.de/me/me02/me02_082.htm.
(8) Karl Marx, Ökonomisch-philosophische Manuskripte ― Manuskripte aus dem Jahre 1844, in Karl Marx - Friedrich Engels - Werke, vol. 1 do Suplemento, Dietz Verlag Berlim, 1968, p.539; em formato electrónico em www.mlwerke.de/me/me40/me40_533.htm. No original, a palavra «sind nicht verschieden» está sublinhada.
(9) Cf., Karl Marx, Thesen über Feuerbach (6ª tese), in Karl Marx - Friedrich Engels - Werke, vol. 3, Dietz Verlag Berlim, 1969, p. 533, n. 6; em formato electrónico em www.mlwerke.de/me/me03/me03_533.htm.
(10) Karl Marx, Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie, op. cit., p. 378.
(11) Em itálico no original: Ich bin nichts, und Ich müßte alles sein. Karl Marx, Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie, op. cit., p. 389.
(12) Karl Marx, Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie, op. cit., p. 379.
(13) Cf. Eph 5, 5; Rom 16, 18; Phil 3, 19; etc.
(14) JEAN PAUL SARTRE, L'Existentialisme est un Humanisme, (conferência fundacional do existencialismo de Sartre, pronunciada na Salle des Centraux, Paris, a 29 de Outubro de 1945), publicada pela primeira vez por Nagel, Paris, 1946.
(15) JOSÉ MARIA EÇA DE QUEIROZ, A Perfeição (reunido postumamente na colectânea Prosas Bárbaras, 1903; o texto está actualmente disponível em virtualbooks.com.br).
(16) JOÃO PAULO II, Homilia na Missa de Início do Pontificado, Praça de S. Pedro, 22 de Outubro de 1978.
(17) Inspirado pelos não tenhais medo! com que João Paulo II abriu o pontificado, André Frossard intitulou o célebre livro «N'Ayez pas Peur!»: Dialogue avec Jean Paul II (Éditions Robert Laffont, Paris, 1982; existe uma tradução portuguesa da Livraria Bertrand). Este apelo do Papa, aparentemente dirigido para fora, também ressoou de muitos modos no interior da Igreja. Num recente livro de memórias, o porta-voz do Opus Dei em Itália descreve a emoção que aquelas palavras suscitaram: naquele momento, os católicos «tinham muitas razões para se sentirem como que acossados por uma cultura hostil. Nessas circunstâncias, ouvir o chefe dos sitiados dizer aos atacantes não tenham medo!, mudava completamente a perspectiva» (Pippo Corigliano, Un Lavoro Soprannaturale. La mia vita nell'Opus Dei, Mondadori, Milão, 2008, p. 56).
(18) BENTO XVI, Discurso aos Jovens, Cais do Porto Grande, La Valletta ―Malta, 18 de Abril de 2010 em formato electrónico: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2010/april/documents/hf_ben-xvi_spe_20100418_incontro-giovani_po.html.
(19) BENTO XVI, Bênção das velas e oração do Santo Rosário, Santuário de Fátima, 12 de Maio de 2010; em formato electrónico: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2010/may/documents/hf_ben-xvi_spe_20100512_benedizione-fiaccole_po.html.
Na última audiência, à data em que escrevo, o Papa falou sobre o caminho intelectual de Santo Agostinho até chegar a Deus, «uma experiência (...) actual também para a nossa época, em que o relativismo aparece paradoxalmente como a “verdade” que deve guiar o pensamento, as escolhas, e os comportamentos». «Gostaria de dizer a todos, (...) também a quem vive “como se Deus não existisse”, que não tenhais medo da Verdade, que nunca interrompais o caminho para ela, que nunca cesseis de procurar, com o olhar interior do coração, a verdade profunda sobre vós próprios e sobre as coisas. Deus não há-de faltar com Luz para ver e Calor para o coração sentir que Ele nos ama e deseja ser amado» (audiência em Castel Gandolfo, 25 de Agosto de 2010; em formato electrónico: www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20100825_po.html).
(20) S. JOSEMARIA ESCRIVÁ, Cristo que passa, 58 (a edição original é Es Cristo que pasa, Rialp, Madrid, 1973; a tradução portuguesa mais recente é de Edições Prumo – Rei dos Livros, Lisboa, 1997, disponível em formato electrónico: http://pt.escrivaworks.org/book/cristo_que_passa-ponto-58.htm).
(21) SANTO ANSELMO DE CANTERBURY, Proslogion, 2 a 4. Este argumento já se encontrava esboçado no seu Monologion. O ponto de partida é a definição de Deus que invocámos acima (id quo maius cogitari non potest) e o ponto central do argumento é que há algo que cada homem considera realmente como absoluto, acima de tudo. Daqui não se pode inferir directamente que Deus existe (a não ser com uma argumentação suplementar do tipo da de Étienne Gilson, The Spirit of Mediaeval Philosophy, Gifford Lectures 1931-1932. (trad. A. H. C. Downes), Charles Scribner’s Sons, New York, 1940, p. 59 e La Philosophie au Moyen Age, Des Origines Patristiques a la Fin du XIVe Siècle, 2ª ed., Payot, Paris, 1947, p. 246), nem se pode concluir que aquilo que cada um considera absoluto o seja efectivamente, mas pode afirmar-se que o ateísmo, enquanto exclusão de uma máxima referência pessoal, é impossível ao homem, sob pena de cair em insanável contradição vital.
(22) Cf. SANTO ANSELMO DE CANTERBURY, ibidem.