sábado, 25 de agosto de 2012

Grande descaridade de Deus Nosso Senhor? - por Nuno Serras Pereira


Depois de ter mostrado a Santa Brígida da Suécia algumas imagens proféticas, Nosso Senhor Jesus Cristo explica-as assim: “ O castelo de que te falei é a Santa Igreja, construída com o Meu sangue e o dos meus Santos, cimentado com o cimento da Minha Caridade; nela coloquei os meus eleitos e amigos. O seu fundamento é a Fé, isto é crer que Eu sou um Juiz Justo e Misericordioso. Mas agora está minado o fundamento, porque todos crêem e pregam que sou Misericordioso, mas quase ninguém prega nem crê que Eu seja Justo Juiz. Esses acham-me quase um Juiz iníquo. De facto, seria iníquo o Juiz, que por misericórdia despedisse sem castigo algum os iníquos, os quais por conseguinte oprimiriam ainda mais os justos. Mas eu Sou um Juiz Justo e Misericordioso, de modo que não deixarei sem castigo nem sequer o mínimo pecado, nem sem recompensa o mínimo bem. Esses pregadores malvados “ … que pecam sem temor, que negam a Minha Justiça, atormentam os meus amigos … ” dando-lhes “opróbrio e toda a espécie de dor … como se fossem demónios” “experimentarão a Minha Justiça, serão como ladrões confundidos publicamente diante dos Anjos e dos homens … . De facto, como os enforcados são devorados pelos corvos, assim estes serão devorados dos demónios e não consumidos.” Dirigindo-Se à Sua Igreja, continua o Senhor: Não escondas nenhum pecado, não deixes nenhum por punir, nem consideres nenhum ligeiro. Tudo aquilo que tiveres descuidado, Eu recordá-lo-ei e julgar-te-ei. E mais adiante “não há homem algum que seja tão pecador que o seu pecado não seja perdoado, se o pedir com o propósito de se emendar e com contrição.”

E noutro passo “Ouvi, vós todos meus inimigos, viventes no mundo, pois que não falo aos meus amigos que fazem a minha vontade. Ouvi, vós todos, Clérigos, Arcebispos e Bispos … Ouvi, vós todos, Religiosos de todas as Ordens. Ouvi, ó Reis e Príncipes e Juízes da Terra … escutai estas palavras , que Eu mesmo, vosso Criador, agora vos dirijo.

Eis, eu lamento que vos tenhais afastado de Mim e entregado ao diabo meu inimigo, abandonastes os meus mandamentos e seguis a vontade do diabo e obedeceis às suas sugestões, não pensais que Eu sou o imutável e eterno Deus, vosso Criador.” Encarnei e padeci os tormentos da Paixão para vossa Salvação mas “a tudo isto, ó meus inimigos, não prestais atenção alguma, porque fostes enganados. Por isso carregais o jugo e o peso do diabo com falsa alegria e não sabeis nem ouvis estas palavras, antes que chega a dor desmesurada. Nem isto vos basta, mas é tanta a vossa soberba que se pudésseis alçar-vos acima de mim, o faríeis de bom grado. E tanta é em vós a volúpia da carne que de bom grado preferiríeis passar sem mim a deixar a desordem da vossa volúpia. E acresce que a vossa cobiça é insaciável, como um saco sem fundo, porque não há nada que vos possa saciar.
Juro por isso – pela minha Divindade – que se morrerdes no estado em que vos encontrais, nunca vereis o meu rosto. Mas, pela vossa soberba mergulhareis no inferno, e todos os diabos se precipitarão para vos atormentarem desoladamente. … Ó meus inimigos, abomináveis e ingratos e degenerados, Eu pareço-vos como um verme morto no Inverno, por isso fazeis o que quereis e prosperais. Por isso erguer-me-ei contra vós no Verão e então chorareis e não escapareis à minha mão. Todavia, ó inimigos, uma vez que vos redimi com o meu sangue e nada mais peço senão as vossas almas, voltai de novo humildemente e de bom grado vos acolherei como filhinhos. Sacudi de vós o pesado jugo do diabo e recordai-vos do meu amor e na vossa consciência vereis que sou suave e manso.”

Santa Catarina de Sena - Padroeira da Europa, juntamente com Santa Brígida e Santa Benedita da Cruz (Edith Stein) - recebeu, também ela, as inspirações de Deus, que constam principalmente no escrito Dialogo della Divina Providenza. Nesta obra, Deus fala pela boca de Catarina chamando aos maus Sacerdotes e Prelados “desventurados”, “devoradores de almas”, “bestas”, “templos do diabo”, “animais ferozes”, “brutos animais”, “demónios incarnados”.

Alguns trechos: “Vê como a minha Esposa (a Igreja) tem conspurcada a sua face, é leprosa pela imundície, o amor-próprio, a inchada soberba e a avareza daqueles que se pastam ao seu peito … ” “para onde quer que te vires, para seculares e religiosos, clérigos e prelados … todos me lançam o fedor dos seus pecados mortais … ” “Ó templos do diabo, Eu levantei-vos às dignidades para que sejais anjos terrestres nesta vida; mas sois demónios, e arrebatastes o ofício dos demónios … e estes miseráveis, indignos de ser chamados ministros (da Igreja), são demónios incarnados, porque por seus defeitos conformaram-se à vontade dos demónios, e por isso tomaram o seu ofício, quando me dispensam, a mim verdadeiro Sol, nas trevas do pecado mortal, e administram as trevas da sua vida desordenada e celerada aos súbditos (os fiéis leigos) e às outras criaturas dotadas de razão. Induzem em confusão … as mentes das criaturas que os vêem viver desordenadamente; pior, são causa de pena e confusão de consciência naqueles que frequentemente subtraem ao estado de graça e ao caminho da verdade: conduzindo-os à culpa, fazem-nos caminhar pela via da mentira.” “Vê com quanta ignorância, com quantas trevas, com quanta ingratidão, e com que mãos imundas, é administrado o glorioso leite e sangue desta Esposa (a Igreja).” “Esta Esposa está cheia de espinhos diversos, de muitos e vários pecados, Não que ela possa receber em si o fedor do pecado, como se a virtude dos Santos Sacramentos pudesse receber alguma lesão; mas aqueles que se apascentam a si mesmos aos peitos desta Esposa, recebem o fedor nas suas almas, tirando-se a dignidade a que os elevei. No entanto não diminui a dignidade em si, mas neles mesmos. Deste modo pelos seus defeitos é envilecido o Sangue; uma vez que os seculares (os fiéis leigos) perdem a reverência que lhes é devida pelo Sangue.” “Todavia estes não deveriam proceder deste modo: se a perdem não se torna menor a culpa pelos defeitos dos pastores. Mas estes miseráveis são espelho de miséria, tendo-os eu posto como espelho de virtudes.” “ Oh homem desventurado! … Foi este o ofício (eclesiástico) que te concedi, isto é que invistas sobre mim com os cornos da tua soberba injuriando-me a mim e ao próximo … ? Tu és como um animal feroz sem temor algum de mim … tu desprezas os humildes, os virtuosos, os pobrezinhos.” Chega mesmo a invectivar o Papa por não castigar os pecados e abusos: “Se o não faz, não ficará sem castigo esse pecado quando tiver de prestar contas das suas ovelhas diante de mim”.

Regressando a Santa Brígida da Suécia, que precedeu Santa Catarina de Sena -uma das filhas de Santa Brígida, Santa Catarina da Suécia, será contemporânea e grande amiga da de Sena -, importará referir que as suas Revelações foram motivo de desconfiança, quer durante a sua vida quer depois de morta. Uma das razões era o desassombro, a crueza, a “falta de reverência e de caridade” daquilo que era atribuído a Nosso Senhor. Ao princípio, a própria Santa Brígida tinha receio de estar a ser iludida pelo demónio, pelo que quis sempre ter varões, sacerdotes e bispos, de virtude experimentada e de ciência teológica eminente que a assegurassem e garantissem a origem sobrenatural e Divina das mesmas. Aquando do processo de Canonização, que durou 18 anos, mais do que um Papa instituiu várias comissões de teólogos e Cardeais que depois de minuciosos e extensos estudos concluíram, sempre, serem as Revelações dignas de toda a credibilidade, não hesitando em atribuí-las a Deus Nosso Senhor. 

Vejamos agora, a título de exemplo, uma das Revelações que Santa Brígida recebe para um dos Pontífices: “Queixo-me de ti, oh cabeça da minha Igreja, tu que te sentas sobre a cátedra que eu dei a Pedro e aos seus sucessores para que tenham uma tripla dignidade … Mas tu, que deves libertar as almas do pecado e apresentar-mas, tu és o seu verdugo; porque eu nomeei a Pedro pastor e guardião do meu rebanho, e tu dissipa-lo e fere-lo. Tu és pior que Lúcifer … Eu ganhei as almas como o meu sangue e confiei-tas como a um fiel amigo, mas tu abandona-las ao inimigo das quais eu as havia libertado. Tu és mais injusto que Pilatos … Tu és mais meu inimigo do que Judas … Tu és mais abominável do que os que crucificaram o meu corpo … ”.

Pelos poucos exemplos que deixo, podia trazer à colação muito mais Santos, parece-me claro que o próprio Deus, que Nosso Senhor Jesus Cristo, seria, nos dias de hoje, de novo condenado, mas desta vez no tribunal daquilo que muitos católicos entendem ser a Caridade.

Eu, pobre de mim, não me atrevo a emitir sentença alguma, Deus me livre de tal, contra Nosso Senhor. Pelo contrário, procuro, tanto quanto o consente a minha miséria, agarrar-me ao dizer de S. João, numa das suas cartas: "Quem diz acreditar n’ Ele deve proceder como Ele procedeu”.

24. 08. 2012