segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Lágrimas - por Nuno Serras Pereira

Não cuido aqui tratar do que são lágrimas, mas tão só interrogar-me sobre algumas, de há pouco, publicamente vertidas. 

Sabemos como Jesus Cristo as derramou quando chegou ao túmulo de Seu amigo Lázaro. No entanto, nem todos conhecerão que as interpretações acerca da causa das mesmas divergem, sem necessariamente se excluir, entre si. Consideremos duas. Dizem alguns que Jesus Se comoveu perante o horror da morte que vitimou aquele a quem O uniam laços de grande amizade. Outros, porém, afirmam que o Senhor chorava porque, ao ressuscita-lo (para consolação de suas irmãs e anúncio da Sua Ressurreição, não já de torna-a-viver-neste vale-de-lágrimas mas de vitória definitiva sobre a morte) o iria trazer de novo a esta vida, tão miserável em comparação com a futura.


Mas não é necessário recorrer à Misteriosa profundidade insondável de Deus humanado para confessar a nossa ignorância ou perplexidade tão frequentes diante das lágrimas de meras criaturas humanas. 


É verdade que quando conhecemos bem uma pessoa percebemos o que um estranho ou um alienígena poderia estranhar. Quando a minha avó chorava quando íamos a férias todos sabíamos que aquele pranto era de genuína alegria. No entanto, muitas vezes a causa daquele pode constituir um enorme enigma, principalmente quando se trata de especialistas em representação, tais como os actores e, em geral, os políticos.


Obama, lacrimou diante das televisões ao iniciar uma declaração sobre a execrável matança de 20 crianças e 6 adultos numa escola no seu país. 


Por que chorou Obama? Confesso que não sei. Suponho, todavia, que a multidão dos telespectadores não terá nenhuma dúvida que ele se comoveu perante a tragédia. Mas, não obstante, essa esmagadora maioria, eu continuo sem saber. E surgem-me as mais díspares interrogações. Houve ali um movimento de verdadeira piedade para com as vítimas inocentes e inermes? Uma empatia com o sofrimento dos familiares? Ou, pelo contrário, uma mera actuação de modo a cativar o coração do povo norte-americano? Ou não terá sido um momento de imenso regozijo, nele expresso em lágrimas de alegria, por verificar que os seus propósitos estão progredindo conforme as suas expectativas?


Já estou adivinhando, com esta última pergunta, os pensamentos dos meus amigos: Definitivamente o P. Nuno enlouqueceu; e dos que me são estranhos: O Padre é doido varrido! Não serei eu que refutarei tais arguições. Peço somente que se recordem que Obama votou contra a abolição do abortamento por nascimento parcial, que descrevi em breves pinceladas aqui, bem como a favor do infanticídio daquelas crianças viáveis sobreviventes a abortamentos falhados, e que obstinadamente quer forçar as instituições de saúde da Igreja e de outras confissões religiosas a induzirem abortamentos químicos e mecânicos. Claro que quem quer ser cego não vê nem a abominação destas decisões, nem a relação entre as chacinas, nem os objectivos perseguidos. Por outro lado, crendo erroneamente, com uma fezada alucinada, que a natureza humana, com o progresso técnico e científico, se transmutou qualitativamente, considera não só improvável mas mesmo impossível que políticos actuais, na aparência tão simpáticos e sedutores, possam ter comportamentos semelhantes ou idênticos aos de Herodes, de Nero, de Ivan, o terrível, de Hitler, de Estaline, de Mao, de Pol Pot.


Por que se mostrou emocionado e chorão Obama? Não sei. Talvez só Deus saiba.


Sucede que também me interrogo sobre o “choro” e o destaque concedidos pelos nossos meios de comunicação social, incluindo a irresponsável RR, ao terrível evento quando todos os dias úteis, somente no abortadouro dos arcos, em Lisboa, são degoladas, esquartejadas e trituradas 24 crianças. Cuidarão que há uma diferença substancial ou qualitativa entre crianças nascituras e as nascidas. Em verdade, em verdade vos digo, ou melhor, Deus vo-lo diz: Não há!

17. 12. 2012