sábado, 23 de março de 2013

Dia do pai? É ir para a cama às nove e meia - por Henrique Raposo

In Expresso  

Pré-pais confirmados e pais wannabe têm feito a pergunta fatal, "então, o que muda na vida de um gajo depois de ser pai?". Quando era eu a fazer a pergunta, a maioria prometia-me uma revolução caseira, uma reviravolta absoluta que deixaria tudo de pantanas, ui, ui, pá, deixas de ter tempo, nem o Benfica vais conseguir ver. Tenho a dizer que este apocalipse doméstico não se concretizou. É verdade que a relação com o tempo é a grande afectada, mas é afectada num bom sentido. Sim, parece que tenho mais tempo desde que a minha filha nasceu. Sim, meu caro leitor, não vale a pena adiar a paternidade por causa do "medo de ficar sem tempo". Isso é um mito urbano.

Como é que tenho mais tempo apesar das fraldas decoradas com instalações pós-modernas, dos choros que perfuram tímpanos, das matinés de carinho, das noites mal dormidas, das idas diárias à creche, das festinhas da creche, da presença reforçada dos avós, das idas à pediatra, das idas à urgência e, claro, das idas ao supermercado para sacar todas as fraldas Dodot em promoção? É simples: o tempo rende mais. Usando a linguagem do economês, diria que a minha produtividade subiu. Um filho, meu caro leitor, é a coisa mais disciplinadora do mundo. Um filho é o melhor antídoto contra a dispersão. Agora não pode haver distracções, não há tempo para bater um papinho, porque o horário de trabalho (o tempo em que Ela está na creche) tem mesmo de render. Resultado? Faço mais coisas do que antigamente, e nem preciso de trabalhar à noite. Portanto, meu caro leitor, se anda angustiado com a sua tendência para a dispersão, faça lá o favor de ter um filho. A sua carreira, a segurança social e a produtividade da nação agradecem. 

E a mudança temporal não se fica por aqui. Por artes mágicas, o dia recua várias horas, tudo começa e acaba mais cedo. Às nove da noite sinto o cansaço que sentia às onze, ou seja, a meia-noite chega às nove e meia. Porquê? O jantar da criança é às sete, o banho às sete e meia e o Vitinho aterra às oito, porque é preciso dormir bem e acordar cedo. "E depois?", pergunta o meu caro leitor. Ora, depois das oito voltamos a estar livres para a vidinha de antigamente. Continuamos a fazer as mesmas coisas mas com duas ou três horas de antecipação. Moral da história? Se conseguir uma adaptação ao horário do bebé, se consumar este acto de renúncia, vá, cronológica, você não terá de fazer aquelas grandes renúncias que colocam a paternidade em conflito com a vidinha boa. Afinal de contas, atrasar o relógio um par de horas não é um drama. Drama é ver bebés adaptados ao velho horário dos pais. Aliás, agora percebo porque é que há tanta criança a viver numa espécie de birra perpétua.