Um homem tinha
três filhos. O mais novo disse ao pai: "Pai, dá-me a parte dos bens que
me corresponde." E o pai repartiu os bens entre os três. Poucos dias
depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra
longínqua.
Quando o pai viu isso entrou em casa muito pesaroso. O
segundo irmão, ao vê-lo tão triste, e sabendo o que tinha acontecido,
disse-lhe: "Pai, aquele teu filho sempre foi má rês. Por isso te roubou.
O que temos a fazer é esquecê-lo o mais depressa possível.
Continuaremos felizes os três com o que ele cá deixou."
Mas o
filho mais velho, que nascera de um primeiro casamento, estava tão
triste quanto o pai. Ele tinha ajudado na educação dos mais novos, e
muitas vezes os tivera a seu cargo quando eram crianças. Foi ter com o
pai e disse-lhe que iria abandonar tudo para acompanhar o irmão que
partira. Ele bem sabia que o jovem não o quereria por perto, mas haveria
de o vigiar à distância, protegendo-o se fosse preciso e mandando
regularmente notícias ao pai. Nesse mesmo dia, o filho mais velho encheu
um pequeno saco com o essencial e partiu atrás do irmão.
O mais
novo andou por várias terras esbanjando tudo quanto possuía, numa vida
desregrada. O irmão nunca se deu a conhecer, mas várias vezes, sem o
outro dar por isso, o conseguiu livrar de alguns sarilhos graves. A
primeira vez que o jovem notou a presença do mais velho foi no Egipto,
quando estava preso por dívidas. O irmão pagou-lhe a fiança e conseguiu
libertá-lo daquela terra de escravidão, levando-o para uma outra onde
corria leite e mel. O rapaz, um pouco surpreendido pela súbita e
oportuna aparição do irmão, agradeceu a libertação, e prometeu portar-se
melhor no futuro, cumprindo os mandamentos que vinham numa carta do
pai, que o outro então lhe entregou.
Depois de libertado, e
durante algum tempo, o filho mais novo comportou-se mais razoavelmente
na nova terra. Mas em breve retomou a vida de estróina. Depois de gastar
tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações.
Então foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o
qual o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele
encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém
lhas dava. E, caindo em si, disse: "Quantos jornaleiros de meu pai têm
pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Levantar-me-ei, irei ter
com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já
não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus
jornaleiros." E, levantando-se, foi ter com o pai.
O filho mais
velho, que nunca o tinha abandonado e andava ali por perto, ficou feliz
perante a decisão do irmão, e mandou imediatamente a notícia ao pai,
para que este o esperasse e o pudesse abraçar assim que chegasse.
Entretanto,
o dono dos porcos, patrão do filho mais novo, ficou furioso quando
percebeu que o seu escravo abandonara a tarefa. Mandou imediatamente
vários servos atrás dele para que o prendessem, prometendo que lhe
haveria de dar morte. O mais velho, que também regressava a casa, a uma
certa distância atrás do irmão, quando viu aquele grupo apressado de
homens armados, percebeu imediatamente o que tinha acontecido e
interpelou-os. Ao tomar consciência da situação, ofereceu-se para voltar
como seu prisioneiro em vez do irmão. Os servos hesitaram, sem saber se
o patrão aceitaria a troca, mas, convencidos com os argumentos do
homem, tomaram-no como prisioneiro e regressaram à fazenda dos porcos.
O
patrão, ao ver regressar os seus servos com o irmão do escravo fugitivo
ficou furioso. O preso explicou que de boa vontade substituiria o jovem
no seu trabalho, se o senhor permitisse ao irmão voltar para junto do
pai que tanto o amava. Mas este respondeu que um escravo fugitivo tinha
de sofrer uma pena dura, para servir de exemplo a todos os outros. Se
ele quisesse substituir o irmão, tinha de ser no cadafalso.
Então o
irmão mais velho entregou-se à morte para redimir a dívida do mais
novo. Foi sacrificado no patíbulo, apesar de inocente.