sábado, 11 de maio de 2013

Carta aberta ao Cardeal Jorge Bergoglio - por Nuno Serras Pereira



11. 05. 2013

Eminentíssimo Cardeal Jorge Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires, escrevo-lhe esta missiva na esperança de que o Deus eterno, para o qual não há tempo e que todos os tempos Senhoreia, providencie, se assim for do Seu agrado, que dela tome conhecimento, ainda na sua condição cardinalícia.

Soube ontem, por um texto do vaticanista Sandro Magister, que vossa Eminência em circunstâncias várias se recusava a distribuir a Sagrada Comunhão, deixando esse ministério aos seus assistentes, em virtude do aproveitamento, ou manipulação, que pecadores públicos, de vida dupla, podiam fazer da publicitação da recepção do Santíssimo Sacramento, por suas augustas mãos de Pastor.

Em primeiro lugar, é com imensa alegria que agradeço a Vossa Eminência o desmascaramento desassombrado que faz, contraditando liminarmente aqueles, escassíssimos, seus confrades que aberrantemente advogam exactamente o contrário, a saber, que a recusa da Sagrada Comunhão aos pecadores públicos, tais como, por exemplo, políticos abortófilos e eutanazis, seria uma manipulação política da Eucaristia! É extraordinário até onde pode chegar a cegueira obstinada de “príncipes da Igreja” cuja obrigação e amor os deveria colocar na linha da frente na salvaguarda e defesa da Sacralidade três vezes Santa da Eucaristia, e no cuidado diligente do bem e da Salvação das almas, que, como ensina S. Pedro em uma das suas cartas (1 Pe 1, 9), é o fim da nossa Fé. Também o Código de Direito Canónico o afirma no seu último cânone (n º 1752): “ … a salvação das almas … deve ser sempre a lei suprema na Igreja”.

Será preciso ainda recordar que a proibição de dar a Sagrada Comunhão a pecadores públicos deriva da Lei Divina e que, por isso mesmo, nenhuma, NENHUMA, autoridade eclesiástica a pode ignorar, mudar ou dispensar?

Perdoará, Vossa Eminência, mas a par do contentamento fui assaltado por algumas estranhezas que se transformaram numa perplexidade tamanha que não consigo, por mim próprio, encontrar luz suficiente para dela sair.

Antes, porém, de as expor quero firmissimamente afirmar que tudo quanto escrevo ou digo submeto à autoridade da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, e ao “Doce Cristo na terra”, para usar a expressão bem conhecida de Santa Catarina de Sena, isto é o sucessor de Pedro, o Santo Padre, o Papa Francisco.

Direi agora o que estranho. 

a) Em primeiro lugar, no excerto transcrito por Sandro Magister, Vossa Eminência apresenta dúvidas - “difíceis de comprovar” – quanto à pecaminosidade pública daqueles a quem poderia recusar a Sagrada Comunhão. No final, porém, dá-los como hipócritas e argúi-os de duplicidade. Ora, com o devido respeito, ou se tem uma certeza moral firme ou então impõe-se não lançar suspeitas generalizadas. 

b) No entanto, poder-se-á dar o caso da incerteza de Vossa Eminência se alicerçar na suposição de que se poderão ter arrependido e confessado, com o devido propósito de emenda. Mas Vossa Eminência não ignorará que um pecador público, para além do arrependimento verdadeiro e da confissão bem-feita, não poderá abeirar-se publicamente da Sagrada Comunhão sem uma retractação, por palavras ou/e por obras, que manifeste a todos a sua mudança de vida. Caso assim não seja, provocará escândalo, no sentido em que induzirá os outros em pecado.

c) Perdoará Vossa Eminência, mas embora seja totalmente compreensível o abster-se de dar a Sacratíssima Comunhão, com o propósito de evitar manipulações maquiavélicas (Maquiavel, aconselha este tipo de manobras) deste Augustíssimo Sacramento, creio ser muitíssimo importante recordar que a Personagem principal não é o Cardeal Jorge Bergoglio, mas sim o seu Senhor, Jesus Cristo, Deus humanado, que se faz inteiramente presente, em aparências de humildade, na Hóstia Consagrada. Por isso, o que é gravíssimo não é tanto que a foto mostre Vossa Eminência, mas que ela mostre Jesus a ser “comungado” por quem é publicamente indigno, independentemente de quem administra a Sagrada Comunhão. O facto de Vossa Eminência se abster de a conceder mas de autorizar os seus ministros a fazê-lo, inclusive nas Missas por si Presididas, parece-me, salvo o devido respeito, um grande absurdo e um atropelo grosseiro da Lei Divina, caso se trate, já se sabe, de pecadores públicos.

Peço a Deus que se estou errado no que escrevo, não só neste texto mas em todos os demais, seja condenado como irresponsável e tudo seja arrojado nos fétidos esgotos nauseabundos; mas principalmente que seja esclarecido, admoestado e corrigido, não só para meu proveito mas também para o de todos a quem possa ter desencaminhado.