sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O homem que não perdoou aos mais vulneráveis e desencadeou uma atroz guerra injusta e violenta genocidando multidões incontáveis - por Nuno Serras Pereira



06. 12. 2013

Infelizmente tem existido em muitos membros da Igreja uma óbvia obsessão obstinada - que parece ter-se acentuado intensa e inesperadamente, ao mais alto nível, ao longo deste último ano -, em desconsiderar objectivamente, apesar de raras e inócuas declarações sobre o assunto, com uma apatia gélida, que estende sinistramente a sua indiferença globalmente, a pessoa humana (e sua concomitante dignidade sublime, eminente e transcendente) nas suas fases ou etapas, unicelular, embrionária e fetal.  


Não obstante, o Papa S. João Paulo II ter ensinado insistentemente (em particular na Encíclica Evangelium vitae, a Magna Carta da defesa da vida, que o então Cardeal Ratzinger considerou um dos 4 pilares da Igreja no terceiro milénio), sendo seguido com o mesmo vigor por Bento XVI, que não há crime contra a vida humana tão perverso e abominável como o do aborto provocado; que se trata de uma guerra dos poderosos contra os fracos; que não há paz, nem democracia (mas sim tirania e totalitarismo) nem liberdade quando os estados o legalizam; quase todos continuamos a pensar e proceder como nada disso contasse, como se não fora verdade, mas tão só uma retórica barroca que no fundo não é para levar a sério, e muito menos para dela tirar as devidas consequências – não passam, na nossa vida, de palavras cristãs sem Cristo, para citar o Papa Francisco I.  


Se Madiba fosse responsável, em virtude de uma lei injusta por ele firmada, da matança de cem adultos inocentes ou de mil ou de dezenas de milhares quem é que o celebraria como um modelo e exemplo a seguir, tecendo elogios e lisonjas tais que branqueassem, lembrando tácticas leninistas e estalinistas, esses factos irrefutáveis? Não seria certo que isso nos assombraria como um negrume demoníaco que pairasse sobre nós, provocando um justíssimo movimento de indignação que nos empuxasse a denunciar a farsa e a repor a verdade?


Nelson Mandela que foi capaz de gestos admiráveis na sua vida teve, no entanto, também as mais altas responsabilidades na deflagração de uma guerra absolutamente injusta e tétrica, que implantou um estado tirano e totalitário, posto ao serviço da eliminação da liberdade e do trucidamento da vida de um milhão de inocentes (também aqui). Mas como se trata de crianças concebidas ainda não nascidas, ninguém, mas mesmo ninguém, as tem verdadeiramente em conta, sendo totalmente ignoradas, na “canonização” imediata de Madiba.


Independentemente da culpabilidade e responsabilidade subjectivas de Mandela, que ultimamente só Deus pode julgar, objectivamente esses actos criminosos que referi são desumanos, feros e cruéis. E deles terá de responder perante Deus, não podendo, para usar uma expressão de Bento XVI, simplesmente, sem mais, sentar-se à mesa do Banquete no Reino com as suas vítimas.


Todos devemos rezar por alma de Madiba implorando a sua Salvação; é também natural que o Santo Padre, como chefe de estado, envie as suas condolências, e como Pastor Supremo, na terra, eleve as suas orações pelo passamento de Mandela. No entanto, a falta de recato, a bajulação, a louvaminhice equivalem na prática a um desmentido, a uma descredibilização do que se tem doutrinado em relação ao giga-genocídio das pessoas nascituras. À honra e glória de Cristo. Ámen.